Fotografia de José Figueira
as manhãs são tristes.
aprendi-o com os homens
e entendê-lo levou tempo.
durante meses choveu nas minhas mãos
e agora
que o sol dispara cedilhas de fogo
ao som de rosas surdas
queimei a sombra onde queria abrigar a tua pele...
- raios!
durante anos escrevi livros redondos
onde os poemas eram bocas amarelas
com o hálito do bolor
enterrados em castiçais sem cera
logo agora
que te queria escrever
que és tão minha como as más recordações...
- bolas!
as manhãs são tristes
como os círculos de um peixe dourado
no sono do aquário.
morre no abandono dos rios
que deixaram silenciar a voz
nas cordas do violino.
e agora?
jé nem os pássaros cantam o peito da terra
(atravessaram o inverno para outras sinfonias).
e agora?
aprendi o silêncio com os homens
(deles apenas quero a loucura do sangue).
segunda-feira, 31 de maio de 2010
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Não basta. Mas uma parte de mim ainda deseja acreditar em um burro e bobo happy end :)
ResponderEliminarChove lá fora e aqui faz tanto frio - música do Lobão.
ResponderEliminarE agora, José? O baú não tem fundo.
Triste e bonito.
Mas o que seria dos poetas não existissem as manhãs tristes?
ResponderEliminarEu diria que manhãs tristes, noites acessas, ausência de sono, suspiros tântricos, amores não correspondidas, buscas ao desconhecido, entre outros são "o mal" necessário para essa tripulação de loucos sonhadores que somos.
Beijinhos
Aryane Pinheiro.:
Jorge, li tantas vezes esse poema...aqui impressionada com a linguagem poética com que, a nós, apresentas essas imagens
ResponderEliminarsabe, tenho dessas coisas...de, às vezes ao ler um poema, perder-me num dos versos e dentro dele girar um mundo e então demorar a encontrar novamente a sequencia toda
pois hoje, ao ler-te aqui, aconteceu de eu me perder para dentro de cada verso que iniciava, em cada um deles encontrei jardins e labirintos e difícil foi encontrar distância para, cá de fora, poder olhar o todo e dizer-te:
Bravo, poeta!!
um beijo, querido amigo!
Jorge,
ResponderEliminarSempre que te venho ler, preparo-me para deparar lindas paisagens poéticas, mas toda preparação no caminho, é pouca, se comparar ao que vejouço:
"e agora?
jé nem os pássaros cantam o peito da terra
(atravessaram o inverno para outras sinfonias)."
Mas posso assegurar-te que te entender não levou tempo...
Abraço poético,
Pedro Ramúcio.
pêésse: Kledir, poeta de lindas canções e crônicas: ao teu gosto, amigo.
Também eu, às vezes, consigo enxergar tristeza nas manhãs, principalmente quando não consigo ouvir os pássaros...
ResponderEliminarAmigo, quando tiver um tempinho (sei que deve ser bem difícil, mas enfim, não custa pedir, não é?...rs), gostaria muito que fosse ao mosaicos ler um poema meu, e, se possível, dizer o que achou dele.
Postei-o em 21 de junho de 2009, então é só você clicar no mês de Junho (no lado direito do blog, você encontra todos os meses...)
O poema se chama: "Eu".
Te garanto que esse é o primeiro e último favor que lhe peço...:)
Desde já, fico-lhe muito grata.
Paz e Luz prá você
Cid@
Ufa, que apertozinho no músculo cá do peito...
ResponderEliminarbeijinho
e é essa parte de nós que diz que vale a pena continuar a escrever, a sorrir, a acreditar em manhãs de sol, a desejar um gelado no dia mais quente do verão, a querer deixar as primeiras chuvas molharem o cabelo, a enrolar os dedos na espuma... mesmo sabendo que não chega...
ResponderEliminarum beijinho, vanessa!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarpois, se não é dramaticamente verdade, aryane... a tinta escorre no caudal das decepções. triste sina a dos poetas. ao conceber a "nave dos loucos", den bosch não estaria a pensar apenas neles, mas seguramente que também neles...
ResponderEliminarainda assim, e lavando-se nas águas do desalento, importa que saibam olhar por cima do ombro das lágrimas, na certeza de que, nem que seja pela poesia, as manhãs hão-de tornar-se poderosas!
um abraço!
andrea, creio bem poder ser essa uma das maiores valências da poesia: se explicada, se analisada, se filtrada, se esquartejada pelo cutelo académico, perde toda a essência - a das sensações que brotam de dentro de si e que escorrem até aos olhos de quem as lê/sente. nessa medida, não há uma forma unívoca para a ler. recordando-me de daniel penac, os direitos inalienáveis do leitor permitem-lhe ler de cima para baixo, de trás para a frente, um só parágrafo/verso, todos de uma só vez, toda a composição, apenas metade ou...- no limite, nada.
ResponderEliminarum beijinho!
p.s. a descrição que fazes do teu processo de leitura é absolutamente irresistível... até em termos poéticos! uma inconfidência: quando leio poesia, tendo a fixar-me num ou noutro verso que, em espiral, me conduz(em) ao sentido geral de todo o texto :-).
beijinho, querida amiga!
"vejouço"! não há ninguém capaz de brincar com as palavras, recriando novos universos linguísticos e referenciais, como os brasileiros e os africanos. nós, os portugueses, somos tendencialmente mais conservadores.
ResponderEliminarpedro, delicioso esse neologismo! por cá, o povo diz, com frequência, "ouvisto" (ex.: eu nunca tinha ouvisto isso), o que sendo reconhecidamente uma falácia linguística, não deixa de ser expressivamente fantástico: é a conjugação de dois sentidos num só, ainda para mais dois que funcionam tantas vezes emparelhados: ver e ouvir.
vou propor uma petição: a introdução formal do verbo "ouver" na língua portuguesa :).
um abraço!
cid@, ler poesia é sempre um prazer e um gosto, para mim. ainda mais em se tratando da poesia de alguém com a sensibilidade que exibes no modo como tratas dos teus/nossos mosaicos. vou já lá :). um beijinho!
ResponderEliminaraperto no músculo do peito... querida sombra, é a loucura do sangue, esse néctar que os homens bebem e dão a beber saciando os intervalos da infelicidade na ilusão carmim da taça que se esvazia... e o músculo do peito ali, sem reagir, sem lacrimejar, sem sorrir, sem pensar... depois... depois chega a poesia e descobrimos que, afinal, o músculo resiste. afinal, ele é a própria poesia!
ResponderEliminarum beijinho e sê sempre bem-vinda!
Muito obrigada, de coração, Jorge, por tão prontamente ter atendido ao meu pedido.
ResponderEliminarQue bom que você gostou! Fiquei muito feliz!!!...:))
Me encantou também, o presente que você me deixou durante a visita ao mosaicos: a poesia do magistral Fernando Pessoa. Amei!
Foi, com certeza, uma visita em dose dupla, que alegrou, e muito, o meu dia.
Tudo de ótimo prá você amigo.
Beijinhos de além mar
Cid@
O borbulhar no sangue que a poesia permite é o que nos faz enfrentar e adentrar na realidade e suas brechas...
ResponderEliminarIntenso escrito meu caro
abraço
muitos dos versos já são um poema inteiro, querem se despregar do poema e ganhar vida própria. a tua poesia sempre rica de imagens perdura no instante e em seu pós, e faz viço nos olhos. grande abraço
ResponderEliminarfernando pessoa não é um poeta, querida amiga cida; ele é uma literatura inteira (esta afirmação é abusiva não pela sua dimensão, mas por ter sido aplicada por schlegell ao grande camões!!!).
ResponderEliminarum beijinho e uma excelente semana para ti, querida (apare)cida!
e nós cá estaremos, nos nossos postos, a lutar, caro juan!
ResponderEliminarum abraço e um agradecimento especial pelas tuas palavras sempre tão estimulantes!
oh, amigo assis, enquanto houver dentro de cada um de nós um coração a rufar, a poesia perdurará. inevitavelmente!
ResponderEliminarum abraço viçoso, poeta!
Belo post, belo texto!
ResponderEliminarobrigado, pauleth! fico contente por teres gostado.
ResponderEliminarum abraço!
"logo agora
ResponderEliminarque te queria escrever
que és tão minha como as más recordações..."
mandou superbem . !
rapaz,
ResponderEliminarnem falaarei dos versos lindos... falarei do azul...
jorgíssimo, o azul me derrete por inteiro. e o azul desta fotografia tem qualquer coisa de especial. nunca vi igual.
e olha que o azul é a cor mais azul que existe.
beijão do
roberto.
ps: belo poema.
roberto amigo, centras a tua atenção no azul e nem sei bem porquê (hehe)...
ResponderEliminara objectiva do josé figueira é excelente; se quiseres comprová-lo, passa no photoscriptos dele. muito bom!
um abraço, cruzeirense :-) (não sei se é exactamente esse o adjectivo para a tua filiação clubística).
fico feliz por te rever por cá, sara.
ResponderEliminarum beijo!
Boa tarde, Jorge.
ResponderEliminarComeçam a faltar-me as palavras para a tua poesia. Dizer que é sempre um prazer vir aqui é pouco e redundante, dizer que a metáfora aterrou na tua escrita e nela fez morada é pouco e redundante, dizer que o mundo e a vida habitam as metáforas que moram na tua escrita é pouco e redundante, dizer que eros e thanatos são a luz e a sombra do humano caminhar e do poeta que neles se alimentar (se assim não fizer, vai certamente morrer ou, pior, nem chega a nascer) é ainda pouco e redundante. Todos os teus leitores o dizem. Resta-me congratular-me por poder ler a herança que escreves.
Abraço.
Damas
caro amigo jad,
ResponderEliminardizer-te que as tuas palavras são, em si mesmas, a verdadeira poesia e a razão para ainda nela acreditar, é pouco... muito pouco.
resta-me congratular-me por ter a companhia e a amizade de tantos de vós que ajuais a dar sentido ao curso da escrita.
um abraço!
Obrigado, Jorge.
ResponderEliminarReceio não ser merecedor do teu apreço pelas minhas palavras. "O poeta é filho do poema", escrevi um dia num "Talvez poema". É este "talvez" que receia as tuas palavras.
Grato.
Abraço.
Damas
caro jad, são os advérbios de dúvida as verdadeiras certezas na língua portuguesa. são necessárias milhares de dúvidas e erros para se construir uma (in)certeza e uma (quase)verdade.
ResponderEliminarpara mim, as tuas palavras tocam-me no coração, assim se tornando mais que verdades!
um abraço, amigo!
De presente...
ResponderEliminarDe que vale tentar reconstruir com palavras
O que o verão levou
Entre nuvens e risos
Junto com o jornal velho pelos ares
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo da noite
Agora são apenas esta
contração (este clarão)
do maxilar dentro do rosto.
A poesia é o presente.
Ferreira Gullar
Beijo
de presente... a memória do passado... que recusa reabrir o livro onde se escreveria no futuro...
ResponderEliminarobrigado por este carinho, flor da blogosfera.
um beijo!
Acho que todas as pessoas já tiveram uma ou muitas manhãs tristes... Mas apenas os poetas sabem interpretá-las. :)
ResponderEliminarAmei seu blog, você escreve muito bem. Estou seguindo.
Bjs, e um ótimo restinho de semana!
sê bem-vinda, poeta :)! com a voz de todos nós, o poema será ainda mais plural!
ResponderEliminarum beijo e um óptimo resto de semana para ti também, faith!
"durante anos escrevi livros redondos
ResponderEliminaronde os poemas eram bocas amarelas
com o hálito do bolor..."
perfeito perfeito como sempre!
beiijo
tenho passado lá no teu blogue e aí, sim, encontro magia nas palavras que retratam os sentimentos.
ResponderEliminarum beijinho, grafite!
AMIGO, parece que finalemte o Sol chegou, não importa, continuam a existir manhãs e o sangue circula nas veias!
ResponderEliminarBeijos
e nós estamos aqui, sempre. com chuva ou sol, de manhã ou à noite, com olhares tristes ou de sorriso nos lábios...
ResponderEliminarbeijinho grande!
De encher os olhos...
ResponderEliminarMeu beijo, poeta*