salvador dali, la esfinge de azúcar
sei-te num retrato
que inaugura pores-do-sol,
pequeno, gasto
como os olhos de um gato adormecido
na moldura chovem refúgios e castigos:
calafrios sustêm o andar
num esquecimento musical,
pedaços de vidro engolem a voz
numa sinfonia despovoada.
sei-te num retrato
que imatura pores-do-sol,
perdido, bardo
como os olhos de um gato amanhecido
na mensura trovem respingos e perigos:
arrepios sorvem o andar
num espaçamento musical,
pedaços de vela encobrem a voz
numa sintonia desnorteada.
e enquanto sorris,
com olhos negros e dentes brancos
e todos os encantos de lume e terra,
roubas-me os passos tortos
com que despia as flores.
algures entre a saudade e o lábio
aprendemos a morrer
na distância um do outro.
e enquanto sentis,
com olhos negros e dentes bastos
e todos os recantos de lira e esfera,
roubas-me os passos tolos
com que desvio as flores.
algures entre a saudade e o astrolábio
aprendemos a morar
na distância um do outro.
(Cris de Souza & Jorge Pimenta)
smog, rock bottom reiser