eis como a boca é mais lenta
na saliva das palavras
eis como a boca inflama
nesse chicote de puro gozo
eis como a boca entumece
no orgasmo do dizer.
e contudo
fora da boca
os peixes fazem círculos
os frutos saboreiam o verão
e a água lambe o ventre das nuvens.
é verdade
não há como o esconder
mas a boca é o telhado cinzelado
pelas mãos do cio.
houve noites em que sonhei
que a boca incendiava o corpo do poema
mas à luz do dia
com os olhos abertos
o único corpo que ardeu
foi o do poeta
já sem voz
moribundo nas palavras.
inclinando-se sobre o olhar,
a boca inaugurava o silêncio.
na saliva das palavras
eis como a boca inflama
nesse chicote de puro gozo
eis como a boca entumece
no orgasmo do dizer.
e contudo
fora da boca
os peixes fazem círculos
os frutos saboreiam o verão
e a água lambe o ventre das nuvens.
é verdade
não há como o esconder
mas a boca é o telhado cinzelado
pelas mãos do cio.
houve noites em que sonhei
que a boca incendiava o corpo do poema
mas à luz do dia
com os olhos abertos
o único corpo que ardeu
foi o do poeta
já sem voz
moribundo nas palavras.
inclinando-se sobre o olhar,
a boca inaugurava o silêncio.
fechou magistralmente o poema com uma frase genial:
ResponderEliminar"a boca inaugurava o silêncio"
sigo tentando descobrir, por experiência própria como é que pode ser que de repente, "eis como a boca é mais lenta
na saliva das palavras"
belo invento, poeta de braga.
belo invento!
abração do seu amigo
roberto.
O silêncio em prenhez de língua e olhar.
ResponderEliminarPrazer é ler tanto sentir na pele e alma de um poema.
Poema que escorre dos olhos.
A boca pode silenciar o corpo do poema que o olhar não deixa desaparecer! Mais um texto capaz de me prender em várias leituras onde encontro sempre algo novo...
ResponderEliminarBeijinho
Acordar do sonho é sempre assombroso.
ResponderEliminarUm dos mais belos que li por aqui, Jorge - se é que há condições de elencá-los.
ResponderEliminarBeijos
Jorge, fico impressionada com tuas metáforas e simbolismos...cada leitura é um espanto e um encanto
ResponderEliminarlindeza de versos, estes
e profundos...para lê-los me debrucei à beira do poço onde o silêncio haita e dele bebi
beijos, querido amigo poeta!
Lindo Jorge...lindo...
ResponderEliminarBj
Por onde entra o alimento e por onde sai a palavra. Pão e Vocábulo. Sustentação e sustenidos. Ora pro nobis. Abração
ResponderEliminaré essa a magia da poesia, querido amigo roberto: apenas lá, se com o coração aberto, tudo é possível.
ResponderEliminara propósito, já me aconteceu de a boca ficar lenta na saliva das palavras... a saliva é ácida e, no dizer de eugénio de andrade, as palavras são cristais. acreditas que acabaram por se quebrar e morrer?... e a boca, aberta, órfã de sentido...
um abraço!
respondes à poesia sempre com o mais fino poema, mai. que dizer, pois, senão obrigado!
ResponderEliminarum beijinho!
sombra, as leituras são plurais, pois aquilo que nos constrói na ressignificação sígnica é absolutamente único e intransmissível (embora mutável - as pessoas também mudam, verdade?).
ResponderEliminarfico feliz por sentir que a linguagem do texto é a que também tu falas.
um beijinho!
"acordar do sonho é sempre assombroso." deixemo-nos a dormir, então, vanessa... tantas são as vezes em que melhor seria nem acordar...
ResponderEliminarum beijinho!
obrigado, lou! sabes que não tenho sensibilidade para aferir de qual mais gosto?... é a velha história do juiz em causa própria :).
ResponderEliminarum beijinho!
andrea, fico impressionado com o teu carinho. e por falar em metáforas, imagens e simbolismos, have-las-á mais belas que "para lê-los me debrucei à beira do poço onde o silêncio haita e dele bebi" :)
ResponderEliminarum beijinho!
obrigado, magnólia! tivessem os meus textos um pouco da luz daqueles que criteriosamente deixas pousar no teu blogue...
ResponderEliminarum beijinho!
tantas vezes por onde entra o fruto e sai o fel, por onde entram os lábios e saem as decepções... o céu e o inferno no tecto do corpo, o céu e o inferno no palato da existência.
ResponderEliminarum abraço, assis!
jorgíssimo,
ResponderEliminarfiquei tão feliz de ver-te naquele meu bloguete de fotos... que é meu jeito de ver as coisas...
não tenho camera e lentes especiais... é uma maquineta vagabunda, sem maiores de-feitos... mas entrei nessa de fotografar coisas, apenas como um jeito de olhar que é meu...rs
e não tenho outra aspiração que não seja essa... mostrar aos amigos o que vi, num dado momento.
fiquei feliz de te olhar (ver) lá.
saiba disto.
ainda nos veremos em ouro preto.
e cê voltará mais gordinho de lá.
palavra de escoteiro.
robertílimo,
ResponderEliminartenho de admitir: já andei lá a xeretar, sim :). (tu tens "olho lírico" e eu "olho clínico" para detectar preciosidades na blogosfera, hehe).
adoro fotografia e as sensações que me provocam (mesmo que não seja grande fotógrafo...), mas melhor ainda quando a imagem casa com títulos de uma sensibilidade apenas ao alcance de alguns. sem dúvida que tens aí um olho (imagem) lírico (títulos e imagens) extraordinário!
quanto a vermo-nos em ouro preto... tenho de pensar muito bem... parece que aqueles ares provocam enchimento ventral (hihi) e as últimas calças que testei já me magoaram na cinta, hihihi...
um abraço, querido amigo!
daquele silêncio que arde a boca e se desfaz nela, quando a voz se solta em flecha do coração...
ResponderEliminarmuito belo o teu poema e a pintura, perfeita ilustração do silêncio!
Realmente a boca beija é a mesma que escarra como nos dizia o grande Augusto dos Anjos...
ResponderEliminaré interessante como você consegue adentrar nos mais variados temas sem perder a identidade de sua escrita meu caro...
abraço
jorge, habita fica melhor naquela frase, né? (ops...eu enxergo mal com os olhos esses :)
ResponderEliminarquanto ao carinho, digo-te apenas que sou pessoa de sensações, é assim que percebo o mundo, gosto do que me faz sentir bem
e tenho descoberto pessoas preciosíssimas, com o dom de despertar em mim as melhores sensações, e entre elas, tu.
e tenho carinho imenso por tudo que me faz bem...simples assim.
beijinho, caríssimo!
tantas vezes procuro o silêncio, andy, mas tantas... é que, na maior parte das vezes só em silêncio consigo domar a intrepidez suicida da boca...
ResponderEliminarum beijinho!
é incrível, juan, como a contradição é, recorrentemente, a nossa principal companheira. pela boca conquistamos a felicidade... pela boca soletramos a de-si-lu-são... será ela a irmã gémea do coração?
ResponderEliminarum abraço amigo!
sabes que li e reli o teu comentário para perceber aquele "habita"? só mais tarde descobri que te referias à ausência do "t" no teu comentário :).
ResponderEliminarsobre o carinho, apenas dizer-te que a poesia aproxima as pessoas; as pessoas, em convergência de espírito, tornam-se, elas mesmas, poesia.
um beijinho, andrea!
Jorge, amigo, eis-me aqui, retardatária, por culpa do meu ultrapassado pc. Ainda arranjo outro...
ResponderEliminarBelíssimo poema, Jorge! Cada palavra, um peso incalculável para o conceito final.
Você, sempre voando mais alto...
Um grande abraço
zélia, querida, qualquer hora é boa para a receber por aqui.
ResponderEliminarobrogado pelo carinho que sempre deposita nas minhas mãos. é um privilégio conhecer alguém assim.
um beijinho!
Jorgissimo, agora sou eu sem força!
ResponderEliminarMas digo-te que temso que continuar, sempre!!!
Beijo e o nosso abraço de sempre!
Laura
É a partir da boca que expelimos o que o coração tenta dizer, é de onde as mais belas e impuras palavras são exaladas.
ResponderEliminara boca é arma constante!
uma bela quinta meu querido.
a força surge nos ramos da árvore da coragem, e essa sei eu que a tens no teu quintal!
ResponderEliminarum abraço, amiga!
a boca é uma arma, sim, sarah, com a qual podemos matar e quase sempre acabámos por morrer...
ResponderEliminarum beijinho desejando-te um óptimo dia, querida sarah!
Ao visitar-te, não pude deixar de concordar com a Mai: "Poema que escorre dos olhos".
ResponderEliminarSão os teus versos que ilustram a imagem, não o contrário.
beijos
agradeço-te a visita, sarah! guardo com carinho e estima a generosidade das tuas observações. um muito obrigado!
ResponderEliminarAl Berto se atravessou no acaso entre as palavras deste poema. Num verso ouvia-o sussurrar... será que desceu ao mundo por um só poema?? Quem sabe?!!
ResponderEliminaral berto sempre esteve vivo e presente, nãosoueuéaoutra.pelo menos para mim.
ResponderEliminarum abraço!
Teu espaço tem um plus, um bônus que são tuas palavras de sabedoria no espaço interativo.
ResponderEliminarMuito bom.
Ah!
Belo trabalho que desenvolves com teus alunos.
Outro abraço