as flores cobrem-lhe o rosto.
já não respira o bolor do cemitério
e deixou de plantar sonhos brancos no altar
(consta que esqueceu como tudo se faz).
as flores cobrem-lhe as mãos.
os seus ossos foram as rosas
onde abelhas em fúria semearam mel
com os olhos redondos de sal.
as flores cobrem-lhe os dedos.
a serpente lambeu-lhe as pétalas
e confundiu-lhe a chama do corpo.
as flores cobrem-lhe a boca.
a lágrima e o grito
lavam-lhe a urna
regando as sementes de magnólia
que hão-de estourar no vento
e mirrar nas raízes da memória.
as flores cobrem-lhe o corpo
e a luz extinguiu-se.
eu não vi
mas sei.
The devil wears prada, louder than thunder
quinta-feira, 13 de maio de 2010
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Meu caro...uma das coisas que mais admiro em seus escritos é a maneira que você consegue ser "livre" nos versos mas sem perder uma estética de muita qualidade...
ResponderEliminarAcredito que isso só com o tempo seja adquirido...
abraço
Que lindo, Jorge! Tão profundo...a dor de um poeta se abre em flor...
ResponderEliminartrouxe-me à memória um período que vivi há alguns meses...só que, a mim, o que cobria era uma grande nevasca, rigoroso cobertor de gelo, que me abrigava no meu inverno interno. Tudo o que me habitava eram sementes hibernadas, aguardando a primavera.
Achei mais bonita a cobertura por flores...cores, perfumes...um jardim parece-me mais vivo, num constante renascer.
beijo, querido poeta!
O diabo veste prada e há paradoxos em teu poema. As flores são tão delicadas quanto o amor e o viver, mas há quem lembre da morte ao vê-las. Teu poema tem Imagens fortes, mas não percebo fúnebre. Antes é pleno de memórias da pele.
ResponderEliminarDorido, belo todavia.
Também percebo, nestas flores, o sentido da morte...mas é desta morte que se renasce, por isso achei tão belo.
ResponderEliminarEu, quando morri, cobri-me de branco e cinza...mas renasci na primavera, e tornei-me azul.
Que o teu renascer seja pleno, como o voo de uma águia.
mais um beijinho
caro juan, a estética é, na minha opinião, um conceito intersubjectivo que, necessariamente, reclama não apenas a liberdade, a individualidade, ou a pessoalidade de quem cria (para poder ser autêntico), mas também uma repsosta nos mesmos termos por parte de quem lhe dá sentido - os que a tocam. as tuas são-no indiscutivelmente. agradeço-te por isso.
ResponderEliminarum abraço!
aquilo que se abre em flor diante dos meus olhos são as tuas palavras, andrea. :)
ResponderEliminara ascensão e a queda individuais fazem-se a cada instante, num ciclo que apenas se encerra quando as flores descerem sobre cada um de nós. procuro, por isso, o seu perfume antes que seja tarde de mais.
um beijinho!
mai, já viste maior ironia do que a própria florista, parteira dos sonhos e corvo das despedidas, na hora em que se confronte com a sua própria finitude? ela que esbanjou sorrisos e lágrimas em corolas vivas e olorosas, de repente, apenas tem o hálito quente da terra... sem flores... sem sorrisos ou lágrimas... está só... apenas ela e a sua memória...
ResponderEliminarafinal, o diabo veste mesmo prada e a vida constrói-se na palma dos paradoxos.
um beijinho!
Ah, Jorge, e eu que tinha prometido a mim não chorar!!!
ResponderEliminarLindo!!!!
Beijos
as lágrimas são o desinfectante da alma, amiga! sempre!
ResponderEliminarum abraço longo!
Jorge querido
ResponderEliminarCurvo-me diante de ti e deste poema... Lindíssimo! E tratando de um tema tão delicado, difícil... Imagino o muito que trabalhaste até o resultado final, pois nada faltou e nada sobrou: nem clima, nem flores, nem metáforas, nem sensibilidade... Tudo na medida mais exata! Leva o seu selo de qualidade!
Parabéns, meu amigo, meu grande poeta!
Grande abraço!
zélia, como as tuas palavras são, para mim, um estímulo. curiosa a observação a propósito do trabalho de construção poética... como tu, também eu acredito que os versos são talhados a martelo e escopo (torga) e com o suor do rosto (cassiano ricardo). ainda assim, sinto este texto como um mero suspiro, bem aquém do elogio que me dispensaste. agradeço-te com o coração!
ResponderEliminarum beijinho!
Belas palavras, tocante!
ResponderEliminarbeiijo
")
oi confesso que não li pois estou com pressa mas passei para te dar um beijo e desejar um bom fim de semana xauu volto depois
ResponderEliminarobrigado pela visita, grafite e ana!
ResponderEliminarum beijinho paea ambas!
Lendo tua réplica pensei que ao final tudo é nada, pois, afinal quando finda o xadrez, o peão e o Rei seguem juntos à caixinha.
ResponderEliminarCada comentário teu é um novo texto.
grande abraço e bom final de semana
é, na verdade, como dizes, mai: no final, o peão e o rei seguem juntos para a mesma caixinha! (belíssima imagem, mai!).
ResponderEliminarum beijinho e continuação de um óptimo fim-de-semana!
Jorge,
ResponderEliminarPor uma triste coincidência, hoje foi a missa de sétimo dia de uma amiga dos meus filhos (Gabriela - de 22 anos - morta em um acidente de trânsito), e o apelido dela era "Florista", pois ela amava dar flores para as pessoas.
Digo "triste coincidência", pois foi bem hoje que ao passear por teu blog, me deparei com esse lindo poema...
Coisas da vida!
Abraços
Cid@