Tantos são os anátemas sociais acerca da relação que os portugueses mantêm com o livro e a leitura que é recorrente, hoje, escutar-se declarações, nos mais diversos contextos, que apontam ao mais fundo pessimismo.
Os portugueses não lêem; Os livros são caros; Os jovens não gostam de ler… são frases (mais ou menos) feitas em que vamos tropeçando a toda a hora. E, se é verdade que, dados de estudos internacionais sugerem que, comparativamente com cidadãos de alguns países (sobretudo da Europa do norte), os portugueses apresentam défice de frequência e competência de leitura, não o será menos que, no terreno, haja sensibilidades que nos levem a adoptar uma postura de menor cinzentismo.
O exemplo maior desta realidade é a II edição da Semana da Leitura que o Grupo Disciplinar de Língua Portuguesa da minha escola acaba de dinamizar.
Os portugueses não lêem; Os livros são caros; Os jovens não gostam de ler… são frases (mais ou menos) feitas em que vamos tropeçando a toda a hora. E, se é verdade que, dados de estudos internacionais sugerem que, comparativamente com cidadãos de alguns países (sobretudo da Europa do norte), os portugueses apresentam défice de frequência e competência de leitura, não o será menos que, no terreno, haja sensibilidades que nos levem a adoptar uma postura de menor cinzentismo.
O exemplo maior desta realidade é a II edição da Semana da Leitura que o Grupo Disciplinar de Língua Portuguesa da minha escola acaba de dinamizar.
E tudo começou com a monção da poesia no espaço exterior da escola. Celebrando a Primavera e o final das chuvas que fustigaram os ossos e os sorrisos, em Abril choveram não águas, mas poemas mil; nas árvores, nas portas, nas janelas, nos bancos de jardim, nas papeleiras… foram afixados poemas de autores nacionais e estrangeiros, sagrados, consagrados e experimentais, numa exaltação viva do que de mais sensível a poesia tem para oferecer. E ninguém se encharcou; ninguém vociferou aos deuses.
Já no espaço interior, montámos uma Feira do Livro, com o apoio da Inovação à Leitura, que funcionou em permanência durante três dias. Recebemos a visita de leitores de todas as idades que iam denunciando o frenesim do manuseamento, da leitura e da aquisição de centenas de livros.
Simultaneamente, pendiam das paredes fitas de papel de cenário emolduradas por poemas e imagens criteriosamente seleccionadas para que os visitantes do certame deixassem o seu depoimento. E tantos foram os que não quiseram deixar as emoções amarradas ao coração… tantos foram os que quiseram partilhar as deambulações mudas em torno de lugares, tempos, personagens e sensações que respiram pelos poros das páginas mágicas que se espreguiçam diante de nós...
De viagem em viagem, entrámos no vagão das conversas com escritores e ilustradores. Foram vários e com tão arrebatadoras histórias aqueles que nos visitaram!
Começámos com o ilustrador e caricaturista Onofre Varela que leu parte da obra “O Sobe Montanhas”, ilustrada por si, e que conversou com os alunos sobre a sua actividade enquanto ilustrador. Terminou oferecendo-lhes desenhos muito variados, elaborados a partir de um risco feito por eles.
Começámos com o ilustrador e caricaturista Onofre Varela que leu parte da obra “O Sobe Montanhas”, ilustrada por si, e que conversou com os alunos sobre a sua actividade enquanto ilustrador. Terminou oferecendo-lhes desenhos muito variados, elaborados a partir de um risco feito por eles.
Visitou-nos, também, José Fanha, poeta e escritor de obras infantis que, despedindo simpatia, nos levou pelas entrelinhas das histórias dos livros e das histórias da vida. Prosseguimos com o também poeta e romancista barcelense José Torres que fez uma incursão pelo seu percurso na vida dos homens e na vida da escrita. A escritora Maria Clara Miguel esteve à conversa com alunos de 5.º ano que a presentearam com um conjunto de trabalhos realizados sobre os contos da sua obra “Histórias para Lermos Juntos”, ao som do piano enfeitiçado pelos dedos do professor Zé Manel e do seu pupilo, Tiago Martins. Terminámos com duas jovens escritoras que rasgam o futuro na escrita já hoje: a Maria Esteves (para quem o amor é a mola impulsionadora de todas as vontades – e verdades) e a Ana Andrade (conhecedora de alguns dos recantos mais profundos da alma humana).
O evento terminou com uma sentida homenagem à poesia, num sarau intimista que viria a juntar alunos, familiares e professores.
Afinal, mesmo que os arautos da desgraça apregoem a morte do livro e da leitura, são iniciativas como esta que nos levam a acreditar que vale a pena porfiar. Até porque o livro não morreu nem está, sequer, moribundo; o livro está vivo e vive no meio de nós. Que o digam os alunos.
ainda bem que a realidade abocanha o mito, mesmo que ainda a mordidas pequenas...
ResponderEliminarfico sempre feliz quando vejo iniciativas assim, e apesar de tudo o que digam sobre os jovens de hoje, dentro deles há terreno fértil a espera de plantio.
admiro o teu trabalho, jorge (e de outros como tu) que acreditam e tornam o "educar" não é só necessário, mas possível.
beijo imenso pra ti
era justamente o que dizia, querida andrea, os dados recolhidos são meramente impressivos, mas acredita que é impossível desvalorizar a mobilização humana a que assisti ao longo daquela semana. mais importante que terem comprado ou terem lido alguns livros, registo o lastro que alguns dos alunos podem ter assegurado enquanto leitores (e até escreventes) para o futuro.
ResponderEliminarum beijinho e um agradecimento muito especial pelo carinho com que as tuas palavras sempre me distinguem!
bravo ao teu ofício de encantar almas e dar-lhes palavras e risos. o livro vivo, aberto, exposto às entranhas, e não mumificado na solidão. dou-te mais vivas e abraços.
ResponderEliminarJorge
ResponderEliminarTua postagem de hoje mexe demais comigo. Fico numa satisfação enorme porque, embora os pessimistas de mau agouro digam que o livro morrerá, nós outros sabemos que não, e você tão bem coloca isso.
Como já lhe disse, dediquei quarenta anos à Educação e, se tivesse de começar de novo, de novo seria educadora.
Então, quando encontro alguém como você, que faz do trabalho educacional algo tão vivo, tão louvável, tão sublime, só me resta emocionar-me demais e agradecer a Deus.
O relato que você faz dessa semana maravilhosa que envolveu professores, alunos, comunidade, escritores, me faz orgulhar-me demais de ser sua amiga. Não fosse , já, o orgulho imenso que sinto pelo Jorge-poeta...
Um fortíssimo abraço, meu querido
é disso que se trata, amigos assis e zélia! quando se trata de educar/formar para a leitura, melhor do que dizer o muito (ou o pouco) que se saiba sobre os livros, importa pôr os livros e quem os escreve a falar, num diálogo aberto, sem muros ou trincheiras, e em que o professor seja apenas o mediador das vozes e dos silêncios que livro e leitor suscitem. foi justamente isso que procurámos fazer: levar à escola o livro, o seu cheiro, os seus mil e um mundos, as suas estórias, os seus amores e desamores, os seus ódios, as suas vinganças, as suas intrigas, os seus crimes, as suas injustiças, afinados pela boca de tinta que enfeitiça com bailados negros sobre o linho frágil do papel.
ResponderEliminarum abraço a ambos e obrigado pelas palavras-bondade! Tenho um orgulho imenso em considerar-vos companheiros nesta luta contra!
de facto não poderia ter existido melhor forma de celebrar a Primavera, quanto esta...
ResponderEliminare tenho a certeza que são estes momentos de prazer aliados à aprendizagem que ficam para sempre na memória de um aluno.
belíssima iniciativa!
Beijinho
Meu caro tomo à liberdade de olhar este post como um conselho...
ResponderEliminarabraço
querida amiga andy, estas iniciativas são aprendizagem para os alunos, mas crê-me que ainda o são mais para os professores/educadores. nesta semana senti que há coisas por que ainda vale a pena lutar.
ResponderEliminarum beijinho com sabor a verão!
caro juan,
ResponderEliminara intenção deste post é a da partilha com todos aqueles que valorizam a leitura e a escrita. tenho a certeza de que todos nós sentimos que ganhar um só leitor, que seja, significa ganhar uma batalha desigual.
um abraço forte!
jorgíssimo,
ResponderEliminarnão tive um professor como você.
nenhuma palavra mais se faz necessária.
teria sido muito perigoso. rs
cara, te admiro.
de imenso.
abraçõa,
roberto.
Como disse acima a Andréa, o terreno é fértil e são projetos como esse que fazem a diferença. Encantada!
ResponderEliminarBeijos
p.s.: no desejo de incentivar a leitura, venho, aos poucos, construindo um trabalho para o público infantojuvenil. O projeto, a princípio, foi desenvolvido em um blog. Caso queira conhecer, o endereço é: http://ritmoserimas.blogspot.com/
é muito legal ver o icentivo à poesia e a leitura na escola...é ali onde nasce o leitor, fico emocinada qdo vejo professores com gana de ensinar.
ResponderEliminarrobertílimo, se tivesse tido um aluno como tu, os papéis teriam sofrido reversão; tu o mestre e eu o pupilo...
ResponderEliminar[lá se foram os trovante :); vamos ter mesmo de esperar pela final da liga dos campeões :)]
vou espreitar, sim, lou, com o maior gosto, interesse e curiosidade. continuo a acreditar que da partilha de experiências nascem práticas mais consolidadas e efectivas.
ResponderEliminarum abraço e obrigado pela luz!
agradeço-te a visita, adriana. sê sempre bem-vinda!
ResponderEliminarum beijo!
Muito bacana :)
ResponderEliminarfoi marcante, sim, vanessa.
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge
ResponderEliminarImpressionante estava lendo seu post e era como se você estivesse falando do Brasil, aqui tudo ocorre do mesmo padrão que aí. Mas de miglha em migalha vamos conquistando o coração dos pequenos leitores.
Gostei muito do teu blog e estou te seguindo, ficarei muito feliz se você me visitar por lá.
Abs
gilson, acredito que haja pontos de contacto em ambas as realidades. sei que, ao nível da investigação, começa a haver parcerias luso-brasileiras bem interessantes que têm vindo gerar produtos de altíssimo valor ao nível da definição e da intervenção no problema.
ResponderEliminaragradeço-te a visita; vou agora mesmo passar pelo teu para retribuir tão simpático gesto!
um abraço!
Beleza de iniciativa Jorge amigo!
ResponderEliminarPena ver pouco delas por aqui...
Se os jovens fossem mais incentivados à leitura desde a tenra idade (como eu fui na infância por meu pai), haveríam mais poetas do que loucos no mundo...
A palavra é o alimento da alma, em sua plenitude!
Abraços amigo...
márcia, que bom reencontrar-te, de novo, por aqui. presença sempre acolhida com um carinho especialíssimo, ou os nossos horizontes poéticos não se cruzasse há já tantos meses (desde os tempos do encerrado circum-viagem).
ResponderEliminara propósito desta iniciativa, como sabes, houve um poema teu afixado na escola e, para lá disso, eu próprio o registei com uma legenda nas fitas que pendiam das paredes da sala onde funcionou a feira do livro. está fotografado. prometo enviar-te a foto a breve trecho.
um beijinho!
Envie-me a foto, quero guardar de lembrança... coisas assim, são eternas!
ResponderEliminarFiquei lisonjeada com o gesto...
Carinhoso abraço!
Eis a espécie humana, eis a humanidade no ser. Agora sei: não devia estar iludida quando te vi maior, quando te vi ideia. Existem luzes e sombras que dizem muito. Imenso prazer em ir te conhecendo, Pimenta.
ResponderEliminar