domingo, 14 de março de 2010

Para[-]Peito

A falta de inspiração assusta-me… a escrita também. Mas, aquilo de que realmente fujo é de um pôr-do-sol a arder sobre o papel derretendo os dedos e a tinta sem me perguntar porquê. Com ele descobri o feitiço que vive nas linhas do poema mas foi também com ele que aprendi como se escreve a seco no papel da vida.
Sabes? Mesmo tendo aprendido pela cartilha da mentira, não compreendo por que me tornaste naquele infeliz a quem a morte nem perguntou se estava preparado. É que há mais tempo para morrer do que para viver, como há mais tempo para brilhar do que para anular. E a luz das tuas lanças solares não se extinguiria, mesmo que por detrás de mim apenas viva uma imagem difusa que perdeu o jeito para beijar naquela afonia sensorial que lhe roubara a voz e os lábios.
Desde esse dia, viro-me e reviro-me à procura do rasto vermelho onde outrora alojei a tua fotografia (recordas-te? Estava naquela prateleira branca, mesmo por cima do coração…), mas em vão. Dos lábios… já nem saliva seca. Da voz… já nem um nome.
Dou por mim a pensar que melhor seria agarrar a boca de quem ama por acaso e de quem chama por mim sem fazer caso. E quando o pôr-do-sol me cortasse os pulsos haveria de rir, mas rir-me em desfaçatez, porque as veias há muito estão secas pelo fogo não dos seus braços, mas da saudade. Haveria de pousar os dedos sobre o parapeito (foi aí, de tanto esperar, que rompi o coração…) e acenar-lhe um adeus, enquanto disfarçasse sonolência sobre a linha já escura do oceano.
Regresso ao medo… Diante de mim, a escrita e a desinspiração. Mas, já sem o espectro do ocaso, prossigo. Apesar dos erros e da má caligrafia, não desisto do poema final.



Bush, Inflatable

7 comentários:

  1. Hoje aqui no Brasil é o dia da poesia, vim te reverenciar poeta. Meu abraço.
    P.s. os melhores textos surgem por falta de inspiração, é quando há a superação.

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  2. Obrigado, Poeta para quem a falta de inspiração nunca foi problema... A resposta maior: 1001 poemas!!! (Um blogue que é já uma referência no meu quotidiano).

    Um abraço, Assis!

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  3. "É que há mais tempo para morrer do que para viver, como há mais tempo para brilhar do que para anular."

    Sempre as palavras-vida...

    Sombra

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  4. Amigo, acredito que nunca irás sofrer de falta de inspiração, mas mesmo que a caneta se cale, aproveita para ver o som que anda em teu redor.
    Eu sei que aqui está um começo, eu sei!
    Beijo!
    Laura

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  5. Sinto-me tantas vezes desinspirada!
    Adoro a música

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  6. poeta,
    mandei mais uns mimos sonoros pra sua caixa...
    abração,
    roberto.

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  7. a mim também, e depois fazer ainda mais!! é um desafio do tamanho de um icebergue, nunca se sabe ao que vai na inspiração!!

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