estendo as pernas, abro os braços, eriço a pele (o sol queima sempre a tristeza e saúda a lassidão, não é?). fumo um cigarro e escrevo o teu nome na cinza que se espalha sobre os pés. bocejo, tropeço no tédio e, sem bolsos nas calças para guardar o cotão dos dias, olho o mar que explode sob a minha varanda. (oh, hoje o mar parece menos líquido que a minha pele ou o teu olhar). remexo-me no cadeirão de veludo (o tecido está gasto, mas exibe o perfume da tua presença e o vazio da tua ausência; não entendo por que persiste em desenrolar o silêncio do meu corpo... afinal também eu sinto a sua falta. SINTO A TUA FALTA!!! como não entendes?...).
a brisa que corre agasalha-me as mãos e deita-se a meu lado. confesso que não suporto o seu olhar misericordioso ou a sua mão compassiva sobre a minha cabeça, como se eu não mais pudesse voltar a beber vinho sorrindo para a chuva que, morna, aqueça a janela. na imobilidade, invento um rosto de orvalho que desliza até mim. é água apenas... água que não soube acender a fogueira ou asfixiar o ar, água que se perdeu, para sempre, nas raízes labirínticas da terra.
sinto-me com menos tédio, agora (é que a melancolia já trepou pela cal agitando as paredes de pedra de onde chegam naves que, aos tropeções, incendeiam o olhar. para quê o fumo que abandona o corpo? porquê a deserção num horizonte sem linha?).
fecho os olhos e espreito para dentro. tudo mexe, tudo pula, tudo se agita no crepúsculo animal (acho que o meu corpo desaprendeu de amadurecer...). extingue-se a luz e apaga-se a lareira; durmo estendido nos lençóis do fim do dia (bolas, o café acabou nos grãos da noite que agora escorre sobre os objectos que foram teus e que nunca quiseram sentir-me seu).
hoje é o momento de ficar só...
hoje é a hora de atravessar a sombra dos corpos...
hoje é o instante de beber a noite... (sabes que é noite já há tanto tempo? o sol talvez tenha sido raptado pela lua e as estrelas devem ter-se escondido no brilho do erro perfeito, sem mácula, intocável).
hoje é o dia (ou a noite?)!
a brisa que corre agasalha-me as mãos e deita-se a meu lado. confesso que não suporto o seu olhar misericordioso ou a sua mão compassiva sobre a minha cabeça, como se eu não mais pudesse voltar a beber vinho sorrindo para a chuva que, morna, aqueça a janela. na imobilidade, invento um rosto de orvalho que desliza até mim. é água apenas... água que não soube acender a fogueira ou asfixiar o ar, água que se perdeu, para sempre, nas raízes labirínticas da terra.
sinto-me com menos tédio, agora (é que a melancolia já trepou pela cal agitando as paredes de pedra de onde chegam naves que, aos tropeções, incendeiam o olhar. para quê o fumo que abandona o corpo? porquê a deserção num horizonte sem linha?).
fecho os olhos e espreito para dentro. tudo mexe, tudo pula, tudo se agita no crepúsculo animal (acho que o meu corpo desaprendeu de amadurecer...). extingue-se a luz e apaga-se a lareira; durmo estendido nos lençóis do fim do dia (bolas, o café acabou nos grãos da noite que agora escorre sobre os objectos que foram teus e que nunca quiseram sentir-me seu).
hoje é o momento de ficar só...
hoje é a hora de atravessar a sombra dos corpos...
hoje é o instante de beber a noite... (sabes que é noite já há tanto tempo? o sol talvez tenha sido raptado pela lua e as estrelas devem ter-se escondido no brilho do erro perfeito, sem mácula, intocável).
hoje é o dia (ou a noite?)!
aguardo a serena metamorfose.
Dói, não dói?
ResponderEliminarMas a metamorfose acontece.
Abraço.
Laura
Magnífico ensaio sobre a ausência, pejado de imagens e palavras faíscantes. abraço
ResponderEliminarLendo e comendo amendoins!! Será que o amendoim tem a capacidade de metamorfosear-se para além da sua forma... ?!?! Mas o seu texto, tem a fórmula...
ResponderEliminarhoje fecho os olhos e consigo ver luz...
ResponderEliminarSombra
Muito belo!
ResponderEliminarE a metamorfose sempre me fascinou... ao ritmo da lentidão dos passos ou no apressado coração, é sempre um desabrochar com reflexos de luz.
o erro perfeito... existirá?
ResponderEliminarjorge, fico pensando na falta, no buraco, o vácuo... o punhado de sal sobre a ferida aberta quando ficamos no caminho...
a dor de quem parte é sempre menor do que a de quem fica. já parou pra pensar?
eu queria, bem no fundinho, a sina de uma estrela do mar... que se regenera...
todas as suas pontas renascem da dor...
abração,
poeta!
Pudesse o ser humano, qual Fernando Pessoa, fingir que é dor a dor que de deveras sente. Mesmo que a não tenha... E neste jogo de ter/mostrar talvez conseguisse... não vencê-la (é que a dor é o meio caminho para a superação; daí que a sua erradicação não me pareça a solução), mas iludi-la subtilmente.
ResponderEliminarUm abraço, Poeta e cronista Roberto! Sempre imensas as tuas palavras!
Não há metamorfose sem dor, Amiga Laura. O pior é quando há dor e a metamorfose nunca chega... não tenho fórmulas, "Nãosoueu,éaoutra"; apenas a vontade férrea de regressar da dor, por mais poéticas que as veredas da ausência se nos possam apresentar, Assis. Nesse então, a luz sobrepor-se-á ao medo de não voltar a acontecer, amigas Andy e Sombra.
ResponderEliminarA todos um abraço!
Excelente...e que metamorfose...é difícil...mas às vezes nos tornamos algo melhor...às vezes!
ResponderEliminar[]s
Onde andarás nessa tarde vazia,
ResponderEliminartao rara e sem fim...?
saudades amigo meu
Deixo-te meus braços.
Cristiana
Pois se não estou aqui, aguardando a tua voz, querida Amiga e sempre bem-vinda Cristiana!
ResponderEliminarDaqui te mando um beijo com a frescura das manhãs lusitanas!
Ah querido amigo, ja te disse a felicidade que é reencontrar-te aqui no novo blogue.
ResponderEliminarAcredito que nos reencontramos todos nas tuas palavras, nos teus pensamentos,nos teus cantos e encantos de poeta-poema.
Cristiana