sexta-feira, 23 de julho de 2010

no quarto IV

Fotografia de Jorge Molder

cambaleio pelo quarto
nauseado de escuridão.

a tua pele de âmbar
e as carícias de violino
agonizam agora pelo chão
como vestuário gasto ou perdido.

atravesso-o
perante a indiferença dos deuses
e o sarcasmo dos homens.

chovo-me persigo-me escrevo-me
mas o vento continua a bater na tinta
antes de secar a mão.

liberto a memória dos dias
como um peixe percorre o corpo menstruado
de vénus sem olimpo.
falhei a previsão na meteorologia do amor
e todavia
foi o tempo
é o vento
(será o momento)
eu sei-o...

resigno-me a acreditar
que as maçãs amadurecem fora da árvore...
ainda assim, inteiras.

45 comentários:

  1. Resignar-se pode ser digno...

    Tantas vezes insistimos em buscas masoquistas.

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  2. verdade, vanessa, todavia tenho o mau hábito de jamais capitular. a resignação de que falo é o feixe luminoso que atravessa a escuridão... por mais ténue que seja. é dela que retiro a força para continuar a acreditar.
    um beijo!

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  3. fico sem palavras perante mais uma beleza da escrita...
    há pouco que se possa dizer perante a falha da da previsão da meteorologia do amor...contudo, é o tempo, o vento e o momento que fazem acreditar que as maças não apodrecem!..

    bjinho

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  4. sombra, eu acredito!
    um beijinho e um agradecimento especial pelo voo rasante sobre este singelo cais.

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  5. "liberto a memória dos dias
    como um peixe percorre o corpo menstruado
    de vénus sem olimpo".

    vou ficar ruminando essa imagem até os olhos se dissolverem, a tua poesia ferve,


    abração

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  6. amigo poeta assis, quase em tempo real este teu comentário. é que acabo de viajar desde o "mil e um poemas", onde deixei a minha marca, e, no regresso, dou de caras contigo aqui :)
    um abraço!

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  7. Olá amigo Jorge Pimenta, cá estou eu na leitura de sua escrito.
    passo sempre por cá, pois gosto do que escreve.

    Saudações amigas

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  8. Apeguei-me aos mesmos versos que o Assis citou, proeminência imagética desse poema in quarto crescente, pródigo em imagens incomuns.

    Abraço grande, Jorge.

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  9. Um dia disseste me que não me querias no quarto. Entrei lá, mas agora digo-te que é possível sair de lá: "(será o momento)"!
    Excelente escolha de fotografia!
    Beijos
    Laura

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  10. Aff que hoje fez bonito hem

    bjs
    Insana

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  11. Jorgíssimo,
    Entre a indiferença dos deuses (que vendem quando dão) e o sarcasmo dos homens (que vêm de não darem nunca), ficarei-me sempre com tuas imensas imagens poéticas, proféticas contagens progressivas...
    Bom rever-me aqui, amigo do Minho...

    Abraço regressivo,
    Pedro Ramúcio.

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  12. "Carícias de violino"... fui tocado do lado de dentro (e ainda um arrepio do lado de fora), como sempre sou aqui. Perfeito!

    Beijo.

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  13. Importante é que desta escuridão, cambaleias para a réstia de luz que ainda persegues...
    "chovo-me persigo-me escrevo-me"...e assim eu te leio e te acolho em mim

    beijo, querido amigo!

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  14. "...atravesso-o perante a indiferença dos deuses e o sarcasmo dos homens."
    Lindo isso, aliás tudo lindo por aqui...
    Voltarei mais vezes.
    Tô te seguindo, tá?!
    Bjão e um fds super iluminado.

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  15. Encanto-me com a capacidade dde movimento da tua poesia disfarçada de pouso, quando na verdade voa em sutilezas de continuidade...Grande abraço.

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  16. caro amigo josé sousa, pois saiba que é sempre bem-vindo!
    um forte abraço!

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  17. marcantónio, quisera eu ser capaz de garatujar para além das imagens... na sua im-possibilidade, contento-me com os traços de carvão que invocam a carne e o sangue.
    um grande abraço, poeta amigo!

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  18. laurita, por vezes o quarto entumece, enrijece e estende os braços para fora da sua jurisdição territorial. e nós, que somos feitos de versos, sendo por ele tocados, não sabemos como resistir-lhe... é, afinal, o quarto, a essência da intimidade e do "eu"; renunciar-lhe seria rejeitar-nos a nós mesmos... difícil, não?...
    quanto à foto, há aqui uma quota-parte de responsabilidade tua na sua escolha :)
    um beijinho, amiga!

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  19. feliz por teres gostado, insana.
    um beijinho!

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  20. pedro, contra a indiferença dos deuses e o sarcasmo dos homens, apenas o abraço dos amigos; o teu! é o tónico da boa esperança :)
    um abraço, amigo! já tinha saudades de te reencontrar por aqui.

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  21. aos acordes de violino, larinha, este blogue pode contar com a delicadeza da tua voz e da tua presença. como diria o roberto, "um luxo"!
    um abraço com notas de violino na ponta dos dedos!

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  22. luíza, encantado por te ter por aqui e ainda mais por saber sentires-te bem aqui. é esta a magia da poesia: aproxima quando quase tudo na existência humana marca diferenças..
    um beijo!

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  23. não pode haver sombra sem luz, querida amiga andrea, mesmo que difusa e débil... os versos, por mais sombrios que pareçam, carregam nas suas entrelinhas a magia da redenção. mesmo que nas palavras e pelas palavras, apenas...
    um beijinho oceânico!

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  24. grasi, não estou em braga e apenas consegui dar um pulinho a um ponto wireless para acenar aos meus amigos. assim que me seja possível, retribuirei a gentileza da visita e procurar-te-ei.
    um beijinho!

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  25. olá, rita!
    o meu pouso é o blogue; já a poesia gira, procura, encontra, suspira, chora, ri, volta as costas, reencontra, agride, perdoa, corre, solta-se, cai, levanta-se... no mais perfeito dos movimentos: o batimenbto do coração.
    um beijinho!

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  26. Sem sombra de dúvida seus escritos são uns dos mais completos que alimentam esta nossa "realidade" virtual...

    imenso abraço meu caro!

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  27. e que dizer dos teus escritos, pois, caro juan? permite-me que transfira para aqui o último comentário deixado no teu post de sábado, 24.07: "imagens com a força de locomitivas engolindo corpos que se avespinham sobre os trilhos, numa orgia sanguínea".
    admirável a tua escrita, juan, e um prazer imenso ter-te por aqui.
    um abraço!

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  28. jorgíssimo,
    recuso-me a acreditar que as maçãs amadurecem fora das árvoras... rapaz... que belo!
    amanheço em suas maçãs, poeta.
    é tão bom ler suas coisas, lê-lo ativo, inquieto, sensível.
    destilando poemas.

    sombras?
    que nada, jorgíssimo.
    por onde você anda, anda a luz.

    abração do seu amigo,
    r.

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  29. robertílimo, amigo, bastaria a tua presença e a tua amizade para que todas as palavras mesmo que no mais enviesado dos versos valessem a pena. essa, sim, a verdadeira luz!
    um forte abraço!

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  30. Muito boa descrição...deu para ver e sentir todo o cenário e atmosfera...mandou muito bem!!

    []ss

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  31. que o vento nunca seque a mão; que as maçãs não apodreçam antes de serem devoradas.

    Beijos

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  32. Que lindo...
    Jorge...
    adorei passear...
    pelo seu quarto...
    repleto de...
    indiferença...
    a indeferença dos deuses...
    quando tudo acaba...

    Beijos
    Leca

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  33. Descobrir o seu cantinho foi como ver no seu poema a luz que ilumina a escuridão desse quarto.
    Um poema cheio de vitalidade tão suave nos aromas que se insinuam e tão intenso na recusa a uma resignação humana.

    Lindíssimo!

    Gostei de conhecer o seu blog e voltarei.

    Abraço.

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  34. Meus traços se rendem ao magnetismo de tuas linhas...

    Reverencio-te, és um poeta incomum!

    Beijos cris(tais), amado-amigo.

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  35. rafael, fico grato pela visita e pelas palavras que aqui deixa pousar.
    um abraço!

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  36. bem preciso da mão para colher as maçãs, para as sentir num afago de pele, para as enrolar sob o palato dérmico e amadurecer nos lábios ao sabor do suco que as hipnotiza.
    um beijinho, lou!

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  37. leca, no quarto, à indiferença dos deuses saibamos contrapor o carinho daqueles que nos visitam e nos querem bem. e o quarto entumece, agiganta-se e torna-se no mundo, ele próprio. e tudo se torna menos denso e mais respirável.
    um beijinho!

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  38. jb, já passei pelo teu blogue. vejo que a poesia ocupa um lugar-charneira em ti, também.
    um beijinho!

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  39. cris(tal), de incomum só mesmo o carinho que dispensas à minha escrita.
    um abraço, amiga poeta!

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  40. oi, jorge
    sou novo aqui e de muito gostei...

    sues escritos soam singeleza
    e maestria!

    abraços,
    voltarei...

    do homem-mais-menino

    fique com Deus!

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  41. viva, menino-que-é-homem, sê bem-vindo!
    um abraço!

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  42. o impulso para a liberdade, pergunto-me que Lua é essa que navega pelo mapa astrológico, o teu. um Libra forte... se soubesse a hora da noite ou dia que veio ao mundo, descobriria essa lua, que provavelmente estará no signo de Aquário ou de Peixes, porque Vénus está em Virgem, e faz oposição à Lua!!

    Curiosidade mesmo, visito a intensidade do que escreve!

    abrç

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  43. Ja vi que vou ter muito que passear por aqaui pra conhecer
    tua criação na integra que a net permite.
    Encantada prossigo.
    Texto novo la em casa, passa la pra um copo dagua fresca.Não repaara que a cama ainda ta desarrumada.
    Flores e Cores

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  44. fragmentos de ser (oh, se este não é o nome mais autêntico com que alguma vez me cruzei pela blogosfera...),
    fico contente que continues a visitar-me e que sintas valer a pena fazê-lo.
    vou só tomar um banho (apesar das 14h, estou vendido ao ócio deste domingo :)) e passo, já em seguida, no teu/nosso espaço.
    um beijinho!

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