Fotografia de José Figueira
cortei os pulsos para percorrer a estrada do sangue
plantei uma árvore para perder a esperança
inaugurei o sol para dançar na sombra
mordi os frutos para deixar escorrer a noite
esventrei o céu para morrer de espanto.
hoje
o meu arco-íris não é mais
que uma vaga recordação.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
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poemaço, o final então. maravilha
ResponderEliminargrande abraço
O tempo é um juiz inexorável; o arco-íris, repleto de nuanças. ;)
ResponderEliminarFeliz por ter conseguido vir aqui hoje.
Beijos
querido amigo, escrevi este texto com uma insegurança atroz... não o sentia enquadrado nos trilhos de escrita que venho calcorreando. achei-o demasiado dicotómico, com braços que se estendiam demasiadamente sobre tudos e nadas que nem eu estava capaz de suportar dentro de mim... mas saiu.
ResponderEliminarum abraço, assis poeta!
lou, estamos no blogue quase em tempo real. que maravilha! mas, mais feliz, ainda, pela tua presença aqui, sempre notada com um carinho verdadeiramente especial!
ResponderEliminarquanto ao arco-íris... oxalá não tenha perdido a capacidade de ver o que se estende, subtilmente, por detrás das suas cores. e acredita que não procuro potes de ouro :-)
um abraço sentido!
Obrigada pelas palavras deixadas ao meu último comentário, Jorge!
ResponderEliminarEste arco-íris é fantástico de tão dicotómico... o tudo e o nada... o cinzento e o colorido... a luz e a sombra...a vida e a morte...
bjinho!
sombra, eu é que agradeço a distinção com que a tua presença e as tuas sempre tão dicotomicamente luminosas palavras (a sombra do nome vs luz das palavras) me distingues. dizia há instantes ao assis que não me sentia seguro relativamente aos matizes que poderiam reverberar deste arco-íris; demasiadamente oblíquo para poder projectar as luzes que quis ser capaz de pintar. de tudo isto uma única certeza: a tela completa-se nos dorso das tua/vossas pinceladas. obrigado!
ResponderEliminarum beijinho!
Esperança (vida?) destonalizada? a dicotomia - se houve - foi além das palavras. Poema = sentir, certo? este, a mim incandesceu sobremaneira - exaltado foi o pesar...confusa?...rs
ResponderEliminarBeijos, poeta!
Jorge, que maravilha esse poema! Maravilhoso!!
ResponderEliminarDe uma força intrínseca, visceral, numa torrente de palavras que, impacientes, pularam por sobre o filtro.
pura beleza:
"mordi os frutos para deixar escorrer a noite
esventrei o céu para morrer de espanto."
meu querido, de espanto é que se vive, é o espanto do vento na pluma das asas que nos faz voar.
beijo com carinho, muito!
:)) fica o sorriso, pois faltam-me as palavras.
ResponderEliminarO feixe de luz na umidade cria uma imagem incrível, nem parece verdadeira; e são essas projeções de cores, quase ilusões, que fincam na memória.
ResponderEliminarBeijos.
Espantado fico eu. Você cria imagens convulsas unindo substantivos que se repelem ou afastando substantivos afins para figurar esse tenso sentido de perda ou desistência abrigado sob o arco da memória.
ResponderEliminarE você ainda diz que lhe falta estro!
Mas, mesmo os arco-íris que vemos no céu do presente são diáfanos e breves como se fossem recordados.
Grande abraço, poeta.
"...inaugurei o sol para dançar na sombra
ResponderEliminarmordi os frutos para deixar escorrer a noite
esventrei o céu para morrer de espanto."
adorei amigo! bebi dos frutos, dancei com o sol e fiquei embevecida com o céu... as sensações por onde as tuas palavras nos fazem viajar! :-)
beijinho
Tudo se torna tão efêmero aos olhos da alma quando a transitoriedade das coisas são tão certas como a luz é para dia e a sombra é para a noite.
ResponderEliminarPalavras que me fazem refletir...
Grande abraço, Jorge!
no fim ?
ResponderEliminarsó recordações ...
Belo e forte...
ResponderEliminarUm escrito que ao mesmo tempo nos leva aos mais variados sentimentos...
abraço meu caro e agradecido pelas visitas ao Rembrandt
Jorge, a foto é linda demais. Isso de cortar os pulsos me assustou. Mas, o poema é tão rico que perdôo. Fechas com chave de ouro. E, afinal, na poesia vale tudo..
ResponderEliminarbjs.
Esse final, tão lindo, me fez recordar de outro arco-íris.
ResponderEliminarInfelizmente desconheço a autoria:
"Salto de risca em risca
num novo arco-íris
Perco-me no azul,
Solto as minhas lágrimas salgadas
e encho o mar.
Abraço o violeta,
perco a esperança,
não chego ao verde...
Deixo a angustia do amarelo
Sufocar-me
Perco o sonho
quando fico pelo roxo.
Sigo a tristeza do anil...
Lembro-me de ti
no vermelho... e choro..."
Abraço forte, poeta amigo
Cid@
denise, sem querer ser rotundo ou definitivo, invoco o arco-íris que perdeu matizes cromáticos mas que, ainda assim, mantém os contornos no céu. por outras palavras, a destonalização existe; a daltonização é aquilo de que se foge. ainda assim...
ResponderEliminarum beijo!
querida andrea, uma das minhas obras de referência na juventude foi "as aventuras de joão-se-medo", do josé gomes ferreira. foi aí, pela primeira vez, que percebi a inevitabilidade de, para nos sentirmos vivos, termos de ser capazes de nos deixarmos surpreender pelo que o mundo nos oferece. mais tarde percebi, em toda a sua extensão, o sentido da metáfora. mesmo que isso custe ter de esventrar o céu e todo aquele rosário de ilusões vãs que são adiadas desta terra para um paraíso que nunca ninguém veio contar existir...
ResponderEliminarum beijinho!
lou, um sorriso sem palavras para ti, também... desta feita já não em tempo real :-)
ResponderEliminarum beijinho!
lara, se o teu comentário não é, em si mesmo, o mais perfeito dos arcos com íris que se possa desvendar por palavras... grandioso, sem dúvida.
ResponderEliminarum abraço!
marcantónio, o arco permanece... a íris esconde-se por detrás da retina, embalada pelo berço da timidez que acabou por morrer naquele dia em que as árvores deixaram de ser a esperança, o suco dos frutos passou a ser a noite ou o sol dançou na sombra.
ResponderEliminarde resto, tudo possível, apenas, na generosidade vadia da memória; como o arco, também esta vacila entre querer e poder...
um grande abraço (com um renovado e inabalável espanto sobre tudo o que escreves...)!
vê lá por onde andei neste poema, querida amiga andy (hihihi). pelas estradas do sol, no suco dos frutos, nos galhos mais ermos das árvores, pelas estradas do sangue. raios, continuo sem entender, afinal, por que razão o arco-íris não regressa...
ResponderEliminarum beijinho muito terno!
liene, tudo é transitório... já aqui citei, de modo impreciso mas agarrado ao teor essencial, jordi villalonga a esse propósito:
ResponderEliminar"nada te pertence; tudo é de tudo o que passa".
arrepiante, não? mas absolutamente verdadadeiro. acrescentaria que apenas a poesia permanece.
um beijinho!
estou em crer, sara, que as recordações são o que remanesce no fim... mas até mesmo antes do fim...
ResponderEliminarum beijinho!
juan, que bom ter-te por aqui, alguém que sempre engrandece este espaço com a agudeza do seu espírito e palavras.
ResponderEliminarquanto a visitar o rembrandt... vai-se sempre, e repetidamente, aonde se gosta, verdade?
um abração!
ana, poeta de palavras mil, apenas corto os pulsos para saber se o sangue ainda corre na estrada que se agita sob a pele, ana. nada mais que metafórico (a vida é ela mesma o arco-íris; saibamos dotá-la da cor que os nossos olhos sejam capazes de tolerar) :-)
ResponderEliminarum beijinho!
cid@, acabo de me levantar e de erguer os olhos para este arco-íris que pousaste diante da minha janela, onde as cores são, elas mesmas, a paisagem que entra dentro de mim, acendendo os lugares escuros que dormem, ainda, fora da noite...
ResponderEliminarum agradecimento especial, amiga!
Jorge, antes de ler o poema vejo a imagem (Linda!), que a mim parece um olhar de dentro pra fora. Uma perspectiva íntima. E então vem o poema, que parece nos tirar da trilha do previsível, a fazer caminhos contrários, ao buscar o outro lado do óbvio. Antes de encontrar as sombras é preciso encarar a luz. O poema, não raras vezes, faz-nos inaugurar compartimentos fechados, esquecidos. E supreende-nos e surpreende.
ResponderEliminarGosto muito da sua expressão.
Abraços,
Tânia
Essas nuances me deixaram em transe...
ResponderEliminarInfindas são as lembranças, bordadas a sete cores.
Beijos em folha.
(Sempre que você pinta no trem, se desenha um sorriso em minha face)
as cores do arco-íris...
ResponderEliminarentrar no teu trem é motivo bastante para querer viajar!
beijinho!
Ai, Jorge, meu amigo tão querido!
ResponderEliminarQuisera eu ter palavras à altura de seus versos... Não as tenho, mas tenho sim , para contar-lhe, a emoção que eles me provocam: imensa!!!
Você tem, realmente, a alma do poeta: não falha em uma só sílaba...
Enorme abraço!!!
oh, zélia amiga, a grandeza no verso e modéstia na voz, sempre. como os maiores. eu sim, poderei dizer que as tuas palavras produzem um efeito encantatório em tantos (como eu) que não passam sem te ler.
ResponderEliminarum beijinho terno!
Chegou a Laura Alberto da poesia e a Raquel da ciências. Uma não vê o arco-iris mergulhada nos dias sombrios. A outra sabe que o arco-íris é apenas a decomposição da luz branca devido ao fenomeno de refracção da luz numa gota de água.
ResponderEliminarHaja o equilibrio entre o eu poeta e o eu individuo. (Mas o individuo é o ser poeta, raios!)
Beijo
Laura/Raquel
Vagas recordações também alimentam - parcialmente.
ResponderEliminarLindo Lindo ... Seguindo
ResponderEliminarlaurita, é entre a palavra que nomeia e o objecto que nomeamos que reside aquilo que mais se aproxima do que entendemos por "harmonia".
ResponderEliminarum abraço, amiga!
verdade, vanessa... vagas recordações alimentam, mas lembram, também, com que sensações se constrói a fome...
ResponderEliminarum beijinho!
alessandra, sê bem-vinda!
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge, cheguei aqui através do Assis, esse grande poeta...fiquei encantada com os teus poemas, tão lcarregados de imagens! Sigo-te agora, feliz por esse encontro.
ResponderEliminarAbração
Olá Jorge Pimenta,
ResponderEliminarTenho uma fotografia que tirei muito semelhante a essa da Fortaleza de Santa Cruz, Rio de Janeiro.
beijos
olá, carolina!
ResponderEliminaresta foi tirada junto ao tejo, na região de lisboa, pelo fotógrafo josé figueira.
um abraço!