as ondas descem sobre o olhar.
se o iodo e o sargaço
se juntarem em redor do teu nome,
alguma vez serei apenas a água
com que inventes novos rios
e correntes sem foz?
e se as veias estremecerem
num bailado sanguíneo
acendendo rostos do passado
(continuo a achar que a morte
é apenas as palavras que não se esquecem)
recordar-te-ás que já fui o fogo
que queimava, lentamente,
o lençol de espinhos onde dormias todas as noites?
entre as dúvidas e as nunca certezas,
o corpo inclina-se para a sombra
perscrutando a profecia órfã:
na vaga do olhar
a vida executada.
air, cherry blossom girl
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
"...recordar-te-ás que já fui o fogo
ResponderEliminarque queimava, lentamente,
o lençol de espinhos onde dormias todas as noites?"
Isso foi explêndido!
Parabéns Jorge
ainda me ardem os dedos, angélica :)
ResponderEliminarum beijinho grande!
as palavras surgem como revelações, sussurradas pelos deuses, lentamente escrevemos na barra do dia os signos do nosso caos,
ResponderEliminarabraço poeta
Jorge..
ResponderEliminarmaravilha de poema. Inclino-me diante de tuas metáforas fantásticas, delicio-me. E a música, ah, escolhes com sensibilidade única.
bjs.
Só no amor, para a água e o fogo conviverem em perfeita harmonia, se intercalando como em um bailado onde cada um tem a sua vez e a sua importância.
ResponderEliminarBelíssimo, Jorge!
Obrigada pelo presente deixado lá no meu mosaicos! Começar a segunda feira com versinho de Manuel da Fonseca, não é prá qualquer um!...:)
Paz e Bem prá você.
Cid@
Amigo, deixa chegar o carrasco, com a sua lâmina de aço.
ResponderEliminarAs duvidas, são apenas duvidas. As certezas, são apenas certezas. O sangue derramado tudo limpa!
Beijo
Laura
Acabo de me dar conta de que as cassandras parem profecias como se filhos fossem, esperança de algum arrimo. Profecia órfã é a vida mesma,não filiada a qualquer certeza?
ResponderEliminar'Veias estremecidas num bailado sanguíneo' é imagem valiosa guardada no cofre desse poema!
Grande abraço, Jorge.
assis, e para lá das profecias anunciadas, apenas o sopro da palavas, aquelas que morrem, inevitavelmente, mas que não queremos deixar morrer. e o caos passa a ser o verbo onde construímos a nossa arca... mesmo sem dilúvio, garantidamente com catigo.
ResponderEliminarum abraço, poeta!
ana, a escolha da música não foi aleatória. para lá da melodia, procurei um assomo de eperança que o texto não deixa antever. daí "air"; daí "cherry blossom girl". que bom que gotaste!
ResponderEliminarum beijinho sem metáforas!
verdade, amiga cid@... só no amor. o pior é quando a água e o fogo se harmonizam exteriormente aos sentidos e aos sentimentos que os germinam. resta o caos, nesse entretanto...
ResponderEliminarsabes, manuel da foneca, como outros neorrealitas portugueses, são sobretudo conhecidos pela sua prosa, mas a sua poesia, menos divulgada, é de uma riqueza atroz.
um beijinho imenso!
que sangue, amiga? aquele que evaporou nos contornos das palavras que não esquecemos?...
ResponderEliminartão mais simples se, em lugar do sangue, nos corresse nas veias o néctar da eperança...
um beijo!
absolutamente verdade, marcantónio: as profecias órfãs de verdade ou prenhes de ilusão são apenas a projecção sombria que se inclina sobre a vida executada...
ResponderEliminarum abraço!
" se as veias estremecerem
ResponderEliminarnum bailado sanguíneo" adorei esses versos que me lembraram luz e ao mesmotempo trevas
ediney, bem-vindo às viagens de luz e sombra :)
ResponderEliminarum abraço!
Todos os textos escritos são de uma profundidade incrível! Adoro ler-te!
ResponderEliminarBeijinho
Jorge querido!
ResponderEliminarSugeres tantas coisas com seus versos... Só tu sabes lidar com as palavras, assim, com tamanha maestria...
Lindíssimo poema!!!
Enorme abraço, meu amigo poeta...
zélia, as palavras escondem-se, brincam connosco, são travessas e insanas, mas há momentos em que as apanhamos desatentas e invertemos os papéis. eis quando a poesia acontece...
ResponderEliminarum beijinho, querida amiga!
sombra, e como tu és necessária neste ocaso poético para que a viagem ganhe alguma luz... não sei viajar sem ela...
ResponderEliminarum beijinho!
Ai...
ResponderEliminarHá palavras que não se esquece, que nos enterram um pouco a cada dia. E há aquelas que precisam ser lembradas, como as que vc nos inscreve. Uau!
larinha, perante ti, os teus textos e a tua gentileza, quais são as palavras que sobram?...
ResponderEliminarobrigado!
um beijo!
sem palavras...lindoooooo!
ResponderEliminare a junção da música, adorei.
Beijinho!
andy, amiga, obrigado por este feixe cintilante que deixas reverberar neste espaço de mais sombras que luz...
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge, repetirei aqui o que deixei de resposta ao seu comentário no Roxo-violeta: a blogosfera tem me trazido gratas surpresas. Sua escrita e sua escuta são algo de absolutamente surpreendente mesmo. Às vezes o tempo encurta e me dou conta do que me faz falta no dia: alguns versos, metáforas arrebatadoras, reflexões que vêm de lampejo - ah, é preciso que leiamos sempre e logo coisas como essas que você escreveu aqui:
ResponderEliminar"...recordar-te-ás que já fui o fogo
que queimava, lentamente,
o lençol de espinhos onde dormias todas as noites?"
Beijo,
Jorge, querido, diante dos teus versos, tuas metáforas requintadas, há tão pouco que eu possa dizer. Preciso mesmo forçar o pensamento, para que volte e releia, enlevado que estava pela sinfonia da palavras. Percebo as imagens e penso: que serão das correntes sem foz? que sina as levam de cá para lá, sem nunca misturarem-se à imensidão? Ah, e se a morte não é as palavras que não se esquecem...essas, malvadas, incrustadas, tatuadas em nós, que espantam a vida feito guerreiros de barro.
ResponderEliminarE entre as dúvidas e as nunca certezas é que se vê parir a profecia verdadeira, a da vida incerta.
beijos, amigo poeta!!
Jorge, magnifico...
ResponderEliminar"(continuo a achar que a morte
é apenas as palavras que não se esquecem)", realmente, morremos todos os dias com nossas amarguras e rancores, mas espero um dia resurgir com a força e sabedoria de uma fênix.
Thabata Freitas
"as ondas descem sobre o olhar.
ResponderEliminarse o iodo e o sargaço
se juntarem em redor do teu nome,
alguma vez serei apenas a água
com que inventes novos rios
e correntes sem foz?"
Por momentos fez-me lembrar do circum-viagem...
E como já disse em algum dos meus versos:
"Guardai as alegrias numa caixinha de prata,
deixai as lágrimas na correnteza do rio..."
Belíssimo poema amigo Jorge!
A vida assim como o amor, é fogo, água, ceia e paz! Pois que as palavras não sabem morrer...
Abraço amigo!
Lendo seus texto vejo que o amor ainda existe.
ResponderEliminarbjs
Insana
tânia, até há apenas 30 anos o mundo era a nossa aldeia e apenas o conhecimento canónico vingava e se espalhava.
ResponderEliminarpresentemente, tudo gira a uma velocidade estonteante e as comunidades pensantes e, em certo sentido, capazes de legitimar a sua esfera de conhecimento, proliferam. sinto o universo dos blogues e, particularmente, o nosso círculo o melhor exemplo do que acabo de dizer. para isso contribuímos todos nós. e pensar que de outro modo não nos conheceríamos, não saberíamos o que cada um faria, escreveria, pensaria... como me congratulo com isso...
um beijinho, tânia!
querida andrea, nenhuns olhos como os teus desnudam a indumentária dos meus textos como os teus... é caso para dizer que quanto mais escondo sentidos e sentires por detrás das palavras, mais depressa tu os chamas a ti, desnudando-os sob os teus olhos sagazes e de perspicácia única... (o arrepio na pele ainda não passou :-))
ResponderEliminarum beijinho!
thabata, quem escreve poesia, quem lê poesia, quem respira poesia não tem braços; tem asas. e não te espantes que quando menos se espera elas se agitam no imenso céu azul e nos teletransportam para um espaço a que só os privilegiados podem ascender, assim como que um éden primordial. estejamos atentos e sintamos o momento...
ResponderEliminarum beijinho!
sabes, querida márcia, há muito que as imagens líquidas, transparentes e salgadas do mar não entravam nos meus textos... desde o circum-viagem, provavelmente. por momentos também senti a mão a escorrer o mar, mas logo os precipícios e os fantasmas marinhos me travaram esta ascese... fiquei atolado na intenção...
ResponderEliminarum beijinho!
insana, jamais me fizeram um elogio como este... ainda procuro os estilhaços do coração sob o efeito das tuas palavras... não os encontro...
ResponderEliminarum beijinho terno!
Oi amigo, distante geograficamente, porém próximo do coração!...:)
ResponderEliminarVocê me perguntou, hoje, no mosaicos, se devemos acreditar nas asas...
Te respondo citando uma frase sua: "Quem escreve poesia, quem lê poesia, quem respira poesia, não tem braços; tem asas"...
Sendo assim...
Nossa! Tocou-me às entranhas ondulantes...
ResponderEliminarÉ o tipo de visão, que inunda às cegas.
Beijos de quem te quer bem.
cid@, amiga, apanhado nas minhas próprias palavras! :)
ResponderEliminarsabes, doce amiga, por vezes há momentos em que tocamos o firmamento e outros em que descemos bem perto de hades. percebes agora a vulnerabilidade das asas? haja poesia, que nessa, sim, jamais deixamos de tocar os céus!
um beijinho!
cris, olá! que bom ter-te de novo por aqui e, sobretudo, por sentir que continuamos em sintonia poética. para quando novo exercício conjunto? :)
ResponderEliminarum abraço!
'(continuo a achar que a morte
ResponderEliminaré apenas as palavras que não se esquecem)'
Muito bom, de verdade.
Beijos,
Teca Eickmann
teca, obrigado pela visita. fico imensamente feliz que tenhas gostado.
ResponderEliminarum beijo embalado pela poesia!
Obrigada pelo comentário lá no meu blog.
ResponderEliminarTem post novo.
Beijoos,
Teca Eickmann
"entre as dúvidas e as nunca certezas,
ResponderEliminaro corpo inclina-se para a sombra
perscrutando a profecia órfã:
na vaga do olhar
a vida executada."
belo jogo de palavras...
Você sempre nos brinda com imagens instigantes. Normalmente, encontro em seus versos o que denomino silêncios de metáforas - o dito x o produto das exegeses.
ResponderEliminarBeijos
teca, obrigatório passar lá :)
ResponderEliminarum beijinho!
obrigado, grafite, maga dos afectos e das sensações.
ResponderEliminarum beijinho!
lou, o silêncio das metáforas e a exegese no próprio poema... deixas-me sem reacção, definitivamente.
ResponderEliminarum beijinho imenso!