segunda-feira, 12 de julho de 2010

cassandra

as ondas descem sobre o olhar.

se o iodo e o sargaço
se juntarem em redor do teu nome,
alguma vez serei apenas a água
com que inventes novos rios
e correntes sem foz?

e se as veias estremecerem
num bailado sanguíneo
acendendo rostos do passado
(continuo a achar que a morte
é apenas as palavras que não se esquecem)
recordar-te-ás que já fui o fogo
que queimava, lentamente,
o lençol de espinhos onde dormias todas as noites?

entre as dúvidas e as nunca certezas,
o corpo inclina-se para a sombra
perscrutando a profecia órfã:
na vaga do olhar
a vida executada.


air, cherry blossom girl

44 comentários:

  1. "...recordar-te-ás que já fui o fogo
    que queimava, lentamente,
    o lençol de espinhos onde dormias todas as noites?"

    Isso foi explêndido!
    Parabéns Jorge

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  2. ainda me ardem os dedos, angélica :)
    um beijinho grande!

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  3. as palavras surgem como revelações, sussurradas pelos deuses, lentamente escrevemos na barra do dia os signos do nosso caos,

    abraço poeta

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  4. Jorge..

    maravilha de poema. Inclino-me diante de tuas metáforas fantásticas, delicio-me. E a música, ah, escolhes com sensibilidade única.

    bjs.

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  5. Só no amor, para a água e o fogo conviverem em perfeita harmonia, se intercalando como em um bailado onde cada um tem a sua vez e a sua importância.

    Belíssimo, Jorge!

    Obrigada pelo presente deixado lá no meu mosaicos! Começar a segunda feira com versinho de Manuel da Fonseca, não é prá qualquer um!...:)

    Paz e Bem prá você.

    Cid@

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  6. Amigo, deixa chegar o carrasco, com a sua lâmina de aço.
    As duvidas, são apenas duvidas. As certezas, são apenas certezas. O sangue derramado tudo limpa!
    Beijo
    Laura

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  7. Acabo de me dar conta de que as cassandras parem profecias como se filhos fossem, esperança de algum arrimo. Profecia órfã é a vida mesma,não filiada a qualquer certeza?

    'Veias estremecidas num bailado sanguíneo' é imagem valiosa guardada no cofre desse poema!

    Grande abraço, Jorge.

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  8. assis, e para lá das profecias anunciadas, apenas o sopro da palavas, aquelas que morrem, inevitavelmente, mas que não queremos deixar morrer. e o caos passa a ser o verbo onde construímos a nossa arca... mesmo sem dilúvio, garantidamente com catigo.
    um abraço, poeta!

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  9. ana, a escolha da música não foi aleatória. para lá da melodia, procurei um assomo de eperança que o texto não deixa antever. daí "air"; daí "cherry blossom girl". que bom que gotaste!
    um beijinho sem metáforas!

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  10. verdade, amiga cid@... só no amor. o pior é quando a água e o fogo se harmonizam exteriormente aos sentidos e aos sentimentos que os germinam. resta o caos, nesse entretanto...
    sabes, manuel da foneca, como outros neorrealitas portugueses, são sobretudo conhecidos pela sua prosa, mas a sua poesia, menos divulgada, é de uma riqueza atroz.
    um beijinho imenso!

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  11. que sangue, amiga? aquele que evaporou nos contornos das palavras que não esquecemos?...
    tão mais simples se, em lugar do sangue, nos corresse nas veias o néctar da eperança...
    um beijo!

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  12. absolutamente verdade, marcantónio: as profecias órfãs de verdade ou prenhes de ilusão são apenas a projecção sombria que se inclina sobre a vida executada...
    um abraço!

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  13. " se as veias estremecerem
    num bailado sanguíneo" adorei esses versos que me lembraram luz e ao mesmotempo trevas

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  14. ediney, bem-vindo às viagens de luz e sombra :)
    um abraço!

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  15. Todos os textos escritos são de uma profundidade incrível! Adoro ler-te!

    Beijinho

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  16. Jorge querido!
    Sugeres tantas coisas com seus versos... Só tu sabes lidar com as palavras, assim, com tamanha maestria...
    Lindíssimo poema!!!
    Enorme abraço, meu amigo poeta...

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  17. zélia, as palavras escondem-se, brincam connosco, são travessas e insanas, mas há momentos em que as apanhamos desatentas e invertemos os papéis. eis quando a poesia acontece...
    um beijinho, querida amiga!

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  18. sombra, e como tu és necessária neste ocaso poético para que a viagem ganhe alguma luz... não sei viajar sem ela...
    um beijinho!

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  19. Ai...

    Há palavras que não se esquece, que nos enterram um pouco a cada dia. E há aquelas que precisam ser lembradas, como as que vc nos inscreve. Uau!

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  20. larinha, perante ti, os teus textos e a tua gentileza, quais são as palavras que sobram?...
    obrigado!
    um beijo!

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  21. sem palavras...lindoooooo!
    e a junção da música, adorei.
    Beijinho!

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  22. andy, amiga, obrigado por este feixe cintilante que deixas reverberar neste espaço de mais sombras que luz...
    um beijinho!

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  23. Jorge, repetirei aqui o que deixei de resposta ao seu comentário no Roxo-violeta: a blogosfera tem me trazido gratas surpresas. Sua escrita e sua escuta são algo de absolutamente surpreendente mesmo. Às vezes o tempo encurta e me dou conta do que me faz falta no dia: alguns versos, metáforas arrebatadoras, reflexões que vêm de lampejo - ah, é preciso que leiamos sempre e logo coisas como essas que você escreveu aqui:

    "...recordar-te-ás que já fui o fogo
    que queimava, lentamente,
    o lençol de espinhos onde dormias todas as noites?"
    Beijo,

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  24. Jorge, querido, diante dos teus versos, tuas metáforas requintadas, há tão pouco que eu possa dizer. Preciso mesmo forçar o pensamento, para que volte e releia, enlevado que estava pela sinfonia da palavras. Percebo as imagens e penso: que serão das correntes sem foz? que sina as levam de cá para lá, sem nunca misturarem-se à imensidão? Ah, e se a morte não é as palavras que não se esquecem...essas, malvadas, incrustadas, tatuadas em nós, que espantam a vida feito guerreiros de barro.
    E entre as dúvidas e as nunca certezas é que se vê parir a profecia verdadeira, a da vida incerta.

    beijos, amigo poeta!!

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  25. Jorge, magnifico...
    "(continuo a achar que a morte
    é apenas as palavras que não se esquecem)", realmente, morremos todos os dias com nossas amarguras e rancores, mas espero um dia resurgir com a força e sabedoria de uma fênix.

    Thabata Freitas

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  26. "as ondas descem sobre o olhar.

    se o iodo e o sargaço
    se juntarem em redor do teu nome,
    alguma vez serei apenas a água
    com que inventes novos rios
    e correntes sem foz?"

    Por momentos fez-me lembrar do circum-viagem...

    E como já disse em algum dos meus versos:

    "Guardai as alegrias numa caixinha de prata,
    deixai as lágrimas na correnteza do rio..."

    Belíssimo poema amigo Jorge!
    A vida assim como o amor, é fogo, água, ceia e paz! Pois que as palavras não sabem morrer...

    Abraço amigo!

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  27. Lendo seus texto vejo que o amor ainda existe.

    bjs
    Insana

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  28. tânia, até há apenas 30 anos o mundo era a nossa aldeia e apenas o conhecimento canónico vingava e se espalhava.
    presentemente, tudo gira a uma velocidade estonteante e as comunidades pensantes e, em certo sentido, capazes de legitimar a sua esfera de conhecimento, proliferam. sinto o universo dos blogues e, particularmente, o nosso círculo o melhor exemplo do que acabo de dizer. para isso contribuímos todos nós. e pensar que de outro modo não nos conheceríamos, não saberíamos o que cada um faria, escreveria, pensaria... como me congratulo com isso...
    um beijinho, tânia!

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  29. querida andrea, nenhuns olhos como os teus desnudam a indumentária dos meus textos como os teus... é caso para dizer que quanto mais escondo sentidos e sentires por detrás das palavras, mais depressa tu os chamas a ti, desnudando-os sob os teus olhos sagazes e de perspicácia única... (o arrepio na pele ainda não passou :-))
    um beijinho!

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  30. thabata, quem escreve poesia, quem lê poesia, quem respira poesia não tem braços; tem asas. e não te espantes que quando menos se espera elas se agitam no imenso céu azul e nos teletransportam para um espaço a que só os privilegiados podem ascender, assim como que um éden primordial. estejamos atentos e sintamos o momento...
    um beijinho!

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  31. sabes, querida márcia, há muito que as imagens líquidas, transparentes e salgadas do mar não entravam nos meus textos... desde o circum-viagem, provavelmente. por momentos também senti a mão a escorrer o mar, mas logo os precipícios e os fantasmas marinhos me travaram esta ascese... fiquei atolado na intenção...
    um beijinho!

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  32. insana, jamais me fizeram um elogio como este... ainda procuro os estilhaços do coração sob o efeito das tuas palavras... não os encontro...
    um beijinho terno!

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  33. Oi amigo, distante geograficamente, porém próximo do coração!...:)

    Você me perguntou, hoje, no mosaicos, se devemos acreditar nas asas...

    Te respondo citando uma frase sua: "Quem escreve poesia, quem lê poesia, quem respira poesia, não tem braços; tem asas"...

    Sendo assim...

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  34. Nossa! Tocou-me às entranhas ondulantes...
    É o tipo de visão, que inunda às cegas.

    Beijos de quem te quer bem.

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  35. cid@, amiga, apanhado nas minhas próprias palavras! :)
    sabes, doce amiga, por vezes há momentos em que tocamos o firmamento e outros em que descemos bem perto de hades. percebes agora a vulnerabilidade das asas? haja poesia, que nessa, sim, jamais deixamos de tocar os céus!
    um beijinho!

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  36. cris, olá! que bom ter-te de novo por aqui e, sobretudo, por sentir que continuamos em sintonia poética. para quando novo exercício conjunto? :)
    um abraço!

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  37. '(continuo a achar que a morte
    é apenas as palavras que não se esquecem)'
    Muito bom, de verdade.

    Beijos,
    Teca Eickmann

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  38. teca, obrigado pela visita. fico imensamente feliz que tenhas gostado.
    um beijo embalado pela poesia!

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  39. Obrigada pelo comentário lá no meu blog.
    Tem post novo.

    Beijoos,
    Teca Eickmann

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  40. "entre as dúvidas e as nunca certezas,
    o corpo inclina-se para a sombra
    perscrutando a profecia órfã:
    na vaga do olhar
    a vida executada."

    belo jogo de palavras...

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  41. Você sempre nos brinda com imagens instigantes. Normalmente, encontro em seus versos o que denomino silêncios de metáforas - o dito x o produto das exegeses.

    Beijos

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  42. teca, obrigatório passar lá :)
    um beijinho!

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  43. obrigado, grafite, maga dos afectos e das sensações.
    um beijinho!

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  44. lou, o silêncio das metáforas e a exegese no próprio poema... deixas-me sem reacção, definitivamente.
    um beijinho imenso!

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