terça-feira, 6 de julho de 2010

m(ot)im

caros amigos, julgo que o meu blogue se amotinou. tenho recebido comentários que aceito e desaparecem, outros que eu próprio faço e que nunca apareceram... pode haver um qualquer conflito com os mecanismos de funcionamento do próprio blogue. justamente para precaver a situação (e, já agora, para despistar qualquer outra avaria mais séria), republico aqui o texto.
um abraço e um agradecimento a todos quantos por cá passaram e deixaram a sua marca... em tinta transparente, mas com o coração sempre presente.
jorge

vénus de willendorf

a vida abre-se como botões de rosa
em jardins alinhados
em látex e formol.
coxas femininas anunciam o destino
no v desenhado sobre marquesas,
enquanto o deus nomeado pelos homens
converte planos de felicidade
numa criação exclusiva das suas mãos.
tudo é luz, milagre, constelação… à espera da noite.
e o sangue que rega os corpos sem vida
acende também o relâmpago da existência
naquele rectângulo asséptico
de uma ilusão transparente.

os dias correm
sob patas rutilantes
que latejam nas têmporas do quotidiano:
são tentáculos a irromper pelas paredes húmidas
sobre a cal que o artífice da vida
jurou envolver no meu corpo.
do estio prometido
sobra o calor do inferno;
da brisa anunciada
apenas as trevas do inverno.

e no vaivém dos dias
a pele arde na fornalha da locomotiva
que cospe os derradeiros bagos de céu.

pergunto-me por ele,
o guardador de rebanhos
que engana as reses brancas
e abandona as negras
umas e outras antes de saberem morrer.

a resposta?
...

deixei de saber esperar;
inicio a descida
ao lado do pássaro
que me despiu as asas.

34 comentários:

  1. Emocionou-me!
    Também ando perguntando pelo guardador de rebanhos há um longo tempo...
    Espero que tenha fim essa estrada.


    Escreves incrivelmente bem.
    Deixo-te um abraço.

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  2. com ou sem motim tecnológico, a verdadeira rebelião das palavras em teu poema converge como o rio de Heráclito, do qual somos cativos e exasperantes coadjuvantes diante do demiurgo universal,


    abraço

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  3. também o meu, Jorge. E de umas tantas outras pessoas. Menos mal, assim terão que resolver o problema mais rápido. (assim espero...)

    beijinho

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  4. Estou com o mesmo problema, meu caro! Retorno posteriormente para comentar, já que, provavelmente, você não receberá esta consideração. rs

    Beijos

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  5. esse desaparecimento está a acontecer a muito (boa)gente. mim tb. deve ser férias que o google está a precisar só pode ser isso!!!

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  6. Amigo, o mosaicos também está amotinado!...rsrsrs

    Vamos unir forças para acabar com isso?...:)

    De um pulinho lá, pois citei seu blog como o incitador do motim...hehehehehe

    Beijos no coração

    Cida

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  7. Idem, Jorge.
    Parece que está aos poucos normalizando. Já vi comentários que só apareciam no e-mail, surgirem no blog para serem moderados. Optei por esperar todos aparecerem, evitando o risco de perdê-los (espero sucesso nessa direção!...rs)

    Bjos

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  8. muito lindo!
    "e no vaivém dos dias
    a pele arde na fornalha da locomotiva
    que cospe os derradeiros bagos de céu."

    beiijo,
    *.*

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  9. Olá, que é isso no Blog? Vou aguardar, depois volto a comentar.bjssssss

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  10. Pois então, não foi comigo só que aconteceu: sumiram alguns comentários e não pude evitar. Mas eis que estamos de volta, Jorge, relendo o motim, muito bom, vale reler. Tomara que agora vá o comentário...será???
    Abraços,
    Tãnia

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  11. finalmente parece resolvido o crash tecnológico só que agora tenho os comentários dispersos por dois posts duplicados. nunca tal me acontecera, mas, ao que vejo, todos foram generlizadamente afectados. oxalá o problema esteja definitivamente resolvido.
    um abraço a todos!

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  12. e é deste desarranjo de forças que o homem se faz cada vez mais homem, ou seja, cada vez mais incompleto.
    um abraço, assis!

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  13. as eternas perguntas... as respostas de sempre... ou seja, nenhumas.
    a estrada há-de ter fim, sim, angélica: quando pararmos de caminhar.
    um beijinho!

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  14. Amigo, parece que agora é a vez de o motim passar para mim!!!
    Acho que já sabes o que vou escrever:
    não consigo comentar!

    Volto, munida das palavras que ficaram entaladas!

    Beijos
    Laura

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  15. Jorge, descobri o vírus que estava comendo os nossos comentários, e fiz questão de postar sua foto lá no mosaicos!...:)))

    Beijos

    Cid@

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  16. Que gentil da sua parte me deixar um poema lá no Teatro referindo-se ao comentário que te fiz. Vc sempre responde aqui atenciosamente aos comentários e sempre deixa luz e carinho nos blogs por onde passa. Fiquei com sorriso de orelha a orelha. Obrigada, poeta, vc é dos grandes e sua sensibilidade me toca.

    Beijo!

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  17. "deixei de saber esperar;
    inicio a descida
    ao lado do pássaro
    que me despiu as asas."
    não digo mais nada... lindooo

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  18. amiga cid@, já lá estive de novo.
    bicho feio, esse, hein? ainda bem que já o extinguimos :-)
    um beijinho!

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  19. larinha, sabia que ias gostar! é um poemaço!
    um beijo!

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  20. enfim 40 (eu posso dizer de mim "já 40"!?...), acabo de passar no teu espaço e deixar a minha marca. parabéns e obrigado pelo carinho com que aqui me distinguiste!

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  21. "os dias correm
    sob patas rutilantes
    que latejam nas têmporas do quotidiano"
    Uiii..!! Tenso isso... uma imagem tão verdadeira que senti dentro de mim...
    Gostei do blog, dos posts e acho vc inteligente e sensível, o que para mim é uma combinação perfeita.
    Beijos, já cativos...

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  22. Chi!!! gostei mesmo! Mais um artigo para enriquecer minha sabedoria. Gostei... passe em meu novo blog só de poesia.

    www.minhaalmaempoemas.blogspot.com

    Um grande abraço.

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  23. Suas palavras dançam em meio a qualquer caos tecnológico


    abraço meu caro!

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  24. obrigado, josé. passo lá em seguida.
    um abraço!

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  25. juan... as minhas palavras dançam no meio do caos? hum, quer-me parecer que é o caos quem semeia palavras por aqui :-)
    um abraço, caro amigo!

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  26. laurita, não digas nada. a tua voz vive para lá dos teus silêncios. tenho passado lá no im.possibilidade para uma banhada de boa poesia e bom gosto!
    beijinhos e até logo!

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  27. Grata Jorge,por ter deixado em meu blog os teus carinhosos comentários...E me brinde sempre com tua visita.

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  28. Jorge és divino, esplendido, eu diria um mágico das palavras, que parecem sair da alma e são escritas com calma por você.
    beijos
    Sua admiradora
    Aryane Pinheiro

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  29. Esta semana foi mesmo de conflitos no blog
    muitos comentarios não aparecia apesar de terem ido..

    bjs
    Insana

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  30. aryane, agradeço-te a visita e a doçura das palavras.
    quanto a ser-se mago das palavras... crê-me, aquele que julga ser capaz de as domar, vive plenamente enganado. são elas que nos manipulam...
    um beijinho muito especial!

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  31. julgo estar tudo normalizado, já, insana. vejo-te por aqui :). obrigado pela visita, sempre notada com especial ternura.
    um beijo!

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  32. Inspiradíssimo!

    Não há como ficar imune, diante às suas deixas dos queixumes.

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  33. "deixei de saber esperar;
    inicio a descida
    ao lado do pássaro
    que me despiu as asas."

    Ê, coisa bonita, poeta...

    Beijo enorme, meu querido!

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