quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ventre líquido

à cidade de Brugges
aos meus amigos


subtis passos vão percorrendo o corpo.
sobre a pele branca
cristais de luz obliquam
numa dança sem ventre
num aroma sem voz

o olhar fixa-se nos contornos finos
que abrem em espelhos
como diamantes em cascata

escuto o gemido das águas
e o esbracejar de aves sem ninho
enquanto o algodão se desprende,
lentamente,
dos braços esguios que seguram o vento
outrora verde
outrora sonhado
já-por-abraçar

refugio-me nas entranhas da cidade
para sorver o seu calor doce,
perfume exótico e negro
que entumece nas pedras
e se amplifica no ar
numa suspensão sensorial

schiu...
os lábios de pedra
segredam-me o teu nome...
mas, por mais que procure,
são apenas arcos líquidos
deslizando sob convés
de sorrisos e olhares em frémito
onde a tua imagem indefinida
se desfaz naquela lágrima
que não conseguiste suster

e assim,
no contacto frio da tua ausência,
as mãos repousam em silêncio.
Lille, 15 de Fevereiro de 2010

3 comentários:

  1. Vejo que a viagem te fez bem ao corpo e alma. Como os antigos narradores clássicos a novidade se fez prece e deu-se a esparramar em versos. Abraço.

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