I. fogo
o poema incendeia
mas o poeta já não sabe arder.
onde te escondes, auto-de-fé?...
II. memória
ouvi dizer
que perder a memória
é morrer duas vezes.
morri-me.
morri-te.
III. colagens
porque o corvo
me ensina o grito da loucura
e me empurra para dentro
dispo os braços secos
e atolo-me na tua imagem muda.
IV. A morte do verbo
gaguejo
balbucio
sussurro
murmuro
falo
grito
brado
vocifero
as palavras gastam-se
em bocas sem saliva
e definham
nos submersos degraus da morte.
red apples, cat power
o poema incendeia
mas o poeta já não sabe arder.
onde te escondes, auto-de-fé?...
II. memória
ouvi dizer
que perder a memória
é morrer duas vezes.
morri-me.
morri-te.
III. colagens
porque o corvo
me ensina o grito da loucura
e me empurra para dentro
dispo os braços secos
e atolo-me na tua imagem muda.
IV. A morte do verbo
gaguejo
balbucio
sussurro
murmuro
falo
grito
brado
vocifero
as palavras gastam-se
em bocas sem saliva
e definham
nos submersos degraus da morte.
red apples, cat power
Sempre muito intensos teus poemas, Jorge, emobra estes apresentem certo pessimismo, algo Allan Poe. Na poesia, há o que se diz e o que não se diz. E o que não dizes, simplesmente vibra..
ResponderEliminarum beijo, amigo
ana, para que os não ditos - seiva da poesia - possam vibrar, carecem de um olhar vivo, como o teu.
ResponderEliminarum beijinho!
na brevidade do poema, o longo silêncio de tantas perguntas. Fico com Bob Dylan quando diz "a resposta meu amigo está no vento",
ResponderEliminarabração
assis, de novo a sintonia: acabo de vir do "mil e um poemas" :)
ResponderEliminarsabes, estou em esposende, zona costeira de encantos múltiplos, e hoje, curiosamente, não consegui agarrar os braços do sol: o vento expulsou-me da praia... sem me ter dado respostas... amanhã volto lá e cobro :)
um abraço, amigo!
Caro Jorge, aqui no Rio o tempo está meio encoberto, mas a leitura desse(s) seu(s) poema(s)é invenção de céu poético aberto nesta manhã.
ResponderEliminarEsse fogo é muito belo, no dorso das chamas a poesia transpira em fagulhas inesperadas.
E essa imagem! Uma espécie de latas-de-sopa-campbell geográfico-turística, não é? Muito bom.
Grande abraço.
Não existem horizontes para poetar...
ResponderEliminarAmei ler-te! Com a alma nua, aqui cheguei...
Visto-me de suas palavras, no sonho da sua poesia.
Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas.
(Frederico Garcia Lorca)
Um beijo, Jorge!
Jorge, é interessante ir conhecendo as "estações de um poeta" e observando como ele busca colocar-se inteiro no poema, ainda que ensombreado, ainda que impossibilitado. Você tem intensidade sempre. Acho eu que o poeta ARDE, sim...Chamas ou brasas, ele deixa a sua marca.
ResponderEliminarBeijos,
Tânia
Uauauaua que delícia este seu canto... Gostei de verdade. Viajei nas suas escritas na forma contundente, clara e mega hiper big sensível que vc. brilhantemente o faz. Me identifico com pessoas q. se expõe, não somente fisicamente, mais com o coração e alma. Bato palmas de pé... Voltarei de novo posso? Parabéns.
ResponderEliminarvc definiu bem a musica dos corvos...
ResponderEliminaros corvos me atormentam, sabia?
e voce, ta virando uma usina de poetar....
beijao, jorgíssimo, bardo minhoto.
Jorge, querido amigo e grande poeta
ResponderEliminarFogo
Memória
Colagens
A morte do verbo...
Por mais que me pedissem, jamais poderia escolher só um deles... Faria injustiça, posto que são, os quatro, obras de arte...
Deus conserve sempre esse seu talento ímpar!
Enorme abraço!!!
caro marcantónio, este josé figueira sabe captar a intensidade máxima a partir de coisas mínimas. este bordado turístico é uma espécie de mosaico da cidade de lisboa que, na objectiva do fotógrafo, se metamorfoseia em lenço dos namorados; já ali não estão apenas postais ilustrados, mas, porque despidos dos demais órgãos a si contíguos, o próprio coração - inteiro - da cidade.
ResponderEliminarum abraço, amigo!
má, a nudez das palavras, para uns; o agasalho, para outros. que a poesia sempre nos aqueça o coração, estejamos desnudos ou vestidos.
ResponderEliminara citação de lorca com que me presenteias é imortal. figurará para lá da humanidade (como a poesia, afinal).
um beijinho!
tânia, querida amiga, este poeta, empurrado para dentro pelo corvo, deixou o poema arder, mas dentro de si as nuvens continuam a povoar a existência. talvez nem o mais inquisitorial dos autos-de-fé saiba como reacender um inverno sem fogo ou um estio sem chuva...
ResponderEliminarum beijinho, desnudadora da escrita :)!
riff, sou eu que aplaudo de pé a possibilidade de poder ter-te por cá de novo e muitas vezes. um agradecimento especial pela espontaneidade e pelo carinho do testemunho!
ResponderEliminarUm abraço!
robertílimo, acreditas que os corvos exercem sobre mim um fascínio inexplicável? desde o "vicente", conto do torga, em "bichos", que venero as criaturas sinistras, mas determinadas, ousadas e justiceiras. aquele duelo tête-à-tête com o próprio deus é um hino ao inconformismo e à autodeterminação. diz-me que já leste... (caso não o tenhas feito, tenho de to enviar).
ResponderEliminarum abraço, amigão!
naty e carlos, sejam bem-vindos!
ResponderEliminarum abraço a ambos!
zélia, doce amiga, as palavras que sempre escorrem desse teu gigante coração tornam-me liliputiano diante de gulliver... sabe que o verbo jamais morrerá ou perderá a memória, enquanto sentir a chama da tua amizade!
ResponderEliminarum beijinho!
como se andando
ResponderEliminarcansasse o corpo
(morresse até alma)
mas não se ausentasse
o fogo mesmo desprotegido
(o maior encanto dos poetas:
a desproteção do tempo)
A labareda dos seus versos
sobe e sobe bem alta.
Versos dourados.
Forte abraço,
meu camarada.
caro domingos, as tuas palavras ajudam-me a arder. acabo de dispensar o auto-de-fé! :)
ResponderEliminarum abraço, poeta!
Bem, fiquei (e ainda estou) com aquela sensação de quem diz "fogooooooo!!!! :)
ResponderEliminarTenho os sentidos alerta, o desejo de absorver a nudez ou a indumentária de todo o poema!
Poderia dizer que o seu poema é fogo a arder na minha memória pois fiz demasiadas colagens na descoberta das entrelinhas ... só sei que imortalizou o verbo "poetizar", que é digno da sua forma de escrever!
Os meus parabéns!!!
Beijo
jb, esse deambular pelas palavras-chave dos textos são reedificações do próprio edifício poético. permite-me a interjeição: fogoooooo! :)
ResponderEliminarum beijinho e um sorriso!
E ainda não deambulei pelos postais (espectacularmente etiquetados), ao som da música!!! :)
ResponderEliminarApenas lhe vim devolver o sorriso que ainda mes espreita e felicitá-lo mais uma vez!
Gosto muito de ler o seu espaço!
beijinho
Jorge, estava aqui a ler e encantar-me com as etiquetas...mas não posso deixar de dizer, se são assim as etiquetas tão belas e apenas pincelam o que há na totalidade, quero abrir os frascos...por detrás das etiquetas mora a imensidão
ResponderEliminarbeijo, querido amigo!
Se poema não arranca pedaço, para que serve?
ResponderEliminarEstou fragmentada aqui, uau! Muito, muito bons!
"o poema incendeia
ResponderEliminarmas o poeta já não sabe arder..."
intensos versos, amigo!
e Cat Power adoro para todo o sempre.
Beijinho!
jb, o melhor sorriso não é o que se recebe ou se oferece, morrendo logo ali, nas faces do outro; o melhor sorriso é aquele que saltita de rosto em rosto como as palavras que só alguns sabem fazer bailar ao vento. agradeço-te por isso!
ResponderEliminarum beijinho!
ai, a caixinha de pandora, querida amiga andrea :)...
ResponderEliminaras etiquetas são invocativas, como a poesia, e remetem para o que está dentro, fora, em, sem, aqui e em lado nenhum. talvez prefira a segurança imensa das etiquetas à (in)definição (des)conhecida dos frascos.
desculpa a efabulação, amiga; sei bem qual a tua intenção com o comentário e agradeço-te o carinho das palavras.
um beijinho enorme!
arranca, sim, lara, oh se arranca. e o impacto torna-se ainda maior quando rebola nos olhos de quem o lê. torna-se grande, maior... ainda que para sempre incompleto.
ResponderEliminarum abraço!
cat power desta vez por aqui; sigur rós do teu lado. a selecção musical não anda má, nada má, mesmo, hihihi!
ResponderEliminarum beijinho, amiga andy!
Fragmentos vibrantes, viscerais, verborrágicos !
ResponderEliminar(O corvo é tão familiar...)
Beijos, amado-amigo.
oi puxa escreves bem
ResponderEliminarque vou dizer?
nem sei...perder a memoria
é viver duas vezes
é nascer duas vezes também porque se perdes o que ja vivestes
para morres nasces para te lembrares
boa semana na paz de Deus beijos
cris, a tua aliteração causa mossa neste blogue - vertiginosa, voraz, vociferante!
ResponderEliminarum beijinho, amiga-parceira!
anita, é bom rever-te por aqui.
ResponderEliminarum abraço!
Jorge que intensa vida que intenso amor.
ResponderEliminarbjs
Insana
olá, insana!
ResponderEliminara poesia é o barómetro dos limites do ser, logo vive do amor e da vida in-tensa-mente.
um beijinho!
Jorge, em primeira instância, agradeço-te pelas gentis e degustativas palavras ofertadas no jardim, que conduz em saboreio permanente. Agora, nado oscular ao fogo que percorre no escrito que exprimes com veemência e luxo letral.
ResponderEliminarPoema[s], resgate[m] o poeta que perdeu o trilho da ardência [!?] A caverna apregoe em suas entranhas que é habitat temporário, para repouso de guerras internas e navalhas externas. A memória grita aos quatro cantos por ouvir o canto das aves raras, um silêncio falante absurdo na maçaneta... RESSURREIÇÃO! O nortear da colagem ativa, em que o corvo forja o caráter, como mestre em falas repetitivas de que dentrear é chave para abrir calabouços microscopicos. Este atolar vival de muda, desmuda, afinal, é papel de observação. O desfalecer do verbo desumano, subumano, ação do eu, egocentrismo, fazendo 'a navegação dificultada pelos baixios lodosos que a ilha formou quando se afundou'.
Abraços.
Priscila Cáliga
Olá Jorge,
ResponderEliminarchego aqui e vejo e leio e gosto
'viagens de luz e sombra'
um fundo negro onde brilham outras cores
de palavras e imagens
muito bom
abraço
Fragmentos de desassossego e inquietação ecoam após a leitura. ;)
ResponderEliminarComo sempre, excelentes construções!
Beijos
Triste de doer o coração...
ResponderEliminarBj
Rossana
Jorge,
ResponderEliminarTantos comentários e mt já foi dito, mas há um encantamento, que é meu e que se chama COMOÇÃO.
Sua poesia é pro mundo.
Bjs e bom restinho de semana
"ouvi dizer
ResponderEliminarque perder a memória
é morrer duas vezes."
muitooo lindo!
Parabéns...
beiijo,
*.*
priscila, fico absolutamente rendido a esta espécie de narrativa psicológica onde os quatro textos se articulam sob um mesmo fio: o da sensibilidade humana. um agradecimento especial por este teu comentário-poema!
ResponderEliminarum abraço!
olá, vais, sente-te como emcasa. este espaço
ResponderEliminaré de todos os que acreditam na luz, nas sombras, mas, sobretudo, em todo o amplo espectro cromático que se situa montante e a juzante delas - a paleta da vida na poesia e da poesia na vida!
um beijinho!
lou, são apenas fragmentos :). a essência há-de ser serena (assim espero).
ResponderEliminarum beijinho!
disse-o, certa ocasião, à lou: manic street preachers têm uma faixa musical em cujo refrão se diz "i'm happy being sad". por vezes a mágoa e a tristeza são apenas projecções débeis da completude, mas, ainda assim, vitais nessa construção.
ResponderEliminarum beijinho com encarnado nos lábios, rossana!
ira, fazes-me sentir bem pequeno na imensidão do teu comentário. agradeço-te as palavras, mas, sobretudo, fico feliz por saber que tens desfrutado deste espaço.
ResponderEliminarum beijinho!
obrigado, grafite!
ResponderEliminarum beijinho!
E novamente, versas aqui o amor, o desamor e suas dores, o desencanto e a desrazão.
ResponderEliminarEu sempre acho que a tua poesia, mais que as dores de um homem, retrata, em grande angular, a loucura do mundo moderno e o dilema humano de querer amar e não mais saber como ou onde encontrar...
O homem, o humano e seus defectíveis sentires...
Gosto muito, muito.
abraços, Jorge.
QUERIDO JORGE AMADO
ResponderEliminarSaudades.
Só tu querido poeta-amigo, pode descrever coisas tao grandes em palavras tao pequenas.
Quisera eu ser um pronome das tuas poesias: um te,um me,um contigo...