dedicado a todos quantos não sabem morrer...
aos anacoretas da árvore do sangue naquele bosque de silêncios...
talvez não saiba
escrever a palavra adeus...
ao traço frágil
sobrepõem-se
matizes coloridos
que compelem
o aparo e a memória
para a doçura dos frutos
que mordemos
talvez não saiba
escrever a palavra adeus...
temo
o sol sem luz
e o luar sem pausa
que se escondem por detrás dos caracteres
talvez não saiba
escrever a palavra adeus...
ainda que seja cedo para o mundo
e talvez tarde para nós...
escrever a palavra adeus...
ao traço frágil
sobrepõem-se
matizes coloridos
que compelem
o aparo e a memória
para a doçura dos frutos
que mordemos
talvez não saiba
escrever a palavra adeus...
temo
o sol sem luz
e o luar sem pausa
que se escondem por detrás dos caracteres
talvez não saiba
escrever a palavra adeus...
ainda que seja cedo para o mundo
e talvez tarde para nós...
[01 de Março de 2009]
beth gibbons, mysteries
Escrever a palavra adeus, muitas vezes, é um exercício hercúleo.
ResponderEliminarLindo poema, meu caro!
Abraços
Há de se usar uma máscara para esconder toda dor que é fruto da ruptura e não da solidão.
ResponderEliminarA única garantia que temos é viver e sermos nossa melhor companhia.
Gostei de seu estilo.
Abraço!
tem um poema de Ferreira Gullar em que o cantor implora à musa que não lhe diga adeus por vários motivos, porém quando se esgotam os motivos ele simplemente pede que seja levado no esquecimento, "me leve no esquecimento, mas me leve". Temer "o sol sem luz e a lua sem pausa" é quase um incêndio poético,
ResponderEliminarabração
Jorge, que tão belo e expressivo poema! Eis aí a primeira doação de versos que solicitei aos blogueiros Poetas! É sobre o adeus que falas,meu amigo, e de uma forma tão bonita. A imagem de um luar sem pausa, sobretudo, me arrebatou, meu amigo... Um sol apagado e um interminável luar suscita em minha alma insólitas sensações... Parabéns pelo poema, de março de 2009 e que me chega na hora certa!
ResponderEliminarAbraços,
Venho de uma família em que se evitava o uso da palavra ADEUS, como se fosse um signo carregado de presságios, endereçando à uma ausência definitiva. "Diga: até logo!" me recomendavam. Ainda me parece inquietante um adeus soando como um "até breve!"
ResponderEliminarPertencerei ao grupo dos que não sabem morrer, dos que viram o rosto à cicuta?
Belo poema, Jorge. Dessas coisas densas que a melancolia produz. Acompanhado da imagem surpreendente desse incrível Alessandro Bavari, ao qual desconhecia e fui procurar.
E o vídeo arremata com perfeição.
Grande abraço!
Dizer ou escrever a palavra Adeus talvez seja uma de nossas facetas mais difíceis.
ResponderEliminarAbs
tantas são as vezes que não somos nós quem escreve a palavra "adeus"; é ela que nos escrvee a nós, verdade?
ResponderEliminarum beijinho, lou!
livia, obrigado pela presença e pelas palavras amigas.
ResponderEliminarum beijo!
verdade, assis. ainda assim, josé jorge letria diz que esquecer é morrer duas vezes. o filtro ora tem malha estreita, ora é feito com malha larga. avaliar a sua extensão é sempre um desafio renovado, verdade?
ResponderEliminarum abraço, poeta amigo!
tânia, estive lá no teu roxo-violeta e percebi a grandeza do que tens em mãos, neste momento. daqui segue um estímulo com imensa admiração pela tua coragem. este e outros "adeus" possam ter alguma validade naquilo que te move.
ResponderEliminarum beijinho!
Nesse bosque de silêncios, soou a palavra "adeus" e sussurei:
ResponderEliminar-Vais embora?
- Talvez!
Talvez não!
Talvez não saiba!
Talvez saiba (mas nunca queira)
sentir a palavra "adeus"
é que nesse instante o passado silencioso regressa como flecha atingindo a alma,o coração, o corpo e rouba-lhes os doces momentos que ficarão eternamente guardados nas noites sem dias, num rosto mascarado...
De novo soou a palavra "adeus" e agora mais alto pergunto:
- Vais embora?
- Tavez não saiba
dizer-te que não,
porque sabes que sim...
Jorge,
definiste um trio perfeito em que a sensibilidade poética de cada palavra é árvore plantada naquele bosque cúmplice dos acordes de "todos os que não sabem morrer..."
Talvez não saiba
dizer-te o quanto gostei deste adeus!
(que ironia... eu... gostar do adeus...! :))
Beijinho, sem adeus!:)
marcantónio, também nunca fui muito bom com palavras definitivas; todas elas têm a lâmina das (dec)cisões. sabes, eu não tenho dúvidas: pertenço ao grupo dos que não sabem morrer; terá de ser a morte a escrever o seu nome no meu peito...
ResponderEliminarbavari tem trabalhos incríveis; gibbons e os portishead são referências musicais da actualidade (ela tem um dueto com o gigante rodrigo leão, também, sabias? muito bom, mesmo).
um abraço, amigo!
gilson, se é verdade... como todas as palavras definitivas...
ResponderEliminarum abraço! é um gosto reencontrar-te por aqui.
Que bom amigo, que você teve a tal "crise de nostalgia" e resgatou essa pérola.
ResponderEliminarLucramos nós!...:)
Desde sempre, tive problema com essa palavra (adeus), escrita ou falada.
Será que é só por causa da letrinha "a", porque se a tirarmos, fica somente deus...
Palavras, palavras, palavras... elas mexem com a gente de uma forma visceral, não é mesmo, Jorge?
A última vez que falei essa palavra, eu estava com 15 anos, e me despedi assim de um professor muito querido. Quanto retornei após as férias, fiquei sabendo que ele havia falecido... Fiz um propósito, de nunca mais usá-la em despedidas, e realmente, nunca mais a usei.
Os "adeus" de verdade que já dei em minha vida, foram completamente mudos, pois nessa hora a garganta trava, e por mais que eu tente a voz não sai...
Obrigada pela presença amiga e carinhosa no mosaicos.
Sinta-se abraçado
Maria [Apare]cid@
Talvez não saibamos dizer o adeus, apenas saibamos sofrer com ele... há muito que não conseguia ouvir esta música, mas ao ler este belo texto não resisti...
ResponderEliminarbeijinho!
jb,
ResponderEliminarno "adeus" vivemos de "nãos" que tantas vezes são apenas "nins"... entre as decisões e as convicções há oceanos de acenos que parecem não mais ter fim... e, de novo, o ser se adia nas águas da anulação... é este o polaroid dos "a.deus".
um beijinho!
olá, amiga cid@,
ResponderEliminarhá palavras que, como cesariny descrevia, carregam o peso do mundo. nelas estão inscritas todas as despedidas e não regressos:
"E há palavras nocturnas
palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes
palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever".
depois das vivências, as palavras endurecem, ganham rugas e tomam conta das pessoas, definindo-lhes as vontades...
um beijinho, querida amig@!
olá, sombra! há adeus que não se dizem, mas que se vivem nas entranhas da dor... porque os dizentes nem sempre sabem/podem morrer.
ResponderEliminaraos que não sabem morrer dediquei este poema! se for o caso, aceita-o; é teu, também.
um beijinho! é bom ter-te de volta aqui.
Jorge, ao som da música do vídeo, dá vontade de ficar e não dizer adeus. Ficar e ler e reler teus poemas.
ResponderEliminarbj.
ana, este espaço é teu. não precisas de sair, pois.
ResponderEliminarum beijinho!
Não sei por quais caminhos eu vim...
ResponderEliminarCheguei aqui!
Mal cheguei, não direi adeus.
Uma palavra tão triste.
Nem sei porque ela existe.
Tal qual SAUDADE.
Palavra que invade a alma
e gera outro sentimento:
Tristeza.
Beleza o seu "cantinho".
Posso aqui fazer um ninho?
Vou voltar!
Com carinho
Fátima
E mesmo assim, a gente vive amando e se despedindo, amando e morrendo a cada dia. Mas sabe, Jorge, antes assim que jamais ter provado da polpa do fruto.
ResponderEliminarFez-me sentir o tal adeus.
imenso abraço
Jorge querido, que profundo é esse poema. Confesso-te que não sei escrever a palavra adeus, mas há vezes em que ela se escreve sozinha, a revelia da vontade da nossa mão. Há vezes em que a escutamos dentro de nós e nos fazemos de surdos, tentamos de todas as formas achar palavras que a confrontem, que a soterrem, que a desmitam...
ResponderEliminarmas há partidas que são como algumas chegadas, indecifráveis, inadmissíveis e ainda assim, inevitáveis.
e a nós resta o embate com a palavra adeus...
lindo poema!
beijo, querido poeta!
fátima, que importam os caminhos, se nos levam aonde queremos estar? sê bem-vinda e nidifica, sim. estas viagens fazem-se por mar, mas também pelo ar :)
ResponderEliminarum beijinho!
mai, dizes que te fiz sentir o aroma do "adeus", mas crê-me que se há coisa que mais desejo é que fiques. a tua presença por aqui é sempre um tónico que revigora o espírito e o intelecto.
ResponderEliminarum beijinho afectuoso!
querida amiga andrea,
ResponderEliminaré como dizes: mesmo não sabendo/querendo escrever a despedida, por vezes é ela que nos escreve a nós. e, nesses casos, não há volta a dar.
um beijinho e um até sempre!
Prefiro ficar no silencio e esperar o retorno.
ResponderEliminarbjs
Insana
as tuas palavras brilham muito para além do cinza de um adeus...
ResponderEliminarbeijinho amigo
esta música, sabe a vida! :-)
Belíssimo poema. A palavra "adeus" sempre me soou bastante forte, triste...
ResponderEliminarBelíssima imagem também.
Uma ótima semana pra ti, amo teu blog! :)
Beijos
Escrever seja adeus ou amor, seja amora ou flor sempre pressupõe uma dor. Ai, na hora de dizer/escrever os desejos se configuram, o mosaico se forma, o espelho reflete, um rosto se mostra. Vemo-nos em reflexos de sonhos e ilusões, o chão e o céu, desejos, devires... uma beleza haverá de se mostrar.
ResponderEliminarO blog revela um cuidado de amor com as palavras. Parabéns!
Pelo blog da Mai caí aqui.
Abraço.
a palavra adeus e a sua vastidão...
ResponderEliminarum poema silencioso.
Forte abraço, meu camarada.
Arrepia, adeus é como acenar pro definitivo.
ResponderEliminarQualquer gesto pode ser transitório...
A ti e aos teus poemas supremos, dou no máximo um até breve.
Beijos, meu parceiro!
jorgíssimo,
ResponderEliminarseu povo (que também é o meu), estes lusitanos, inventaram o adeus. inventaram o cais.
inventaram a saudade. inventaram o deserto e o mar.
toda mulher portuguesa tem um olhar de cais.
de estação de comboio.
o sorriso da mulher portuguesa é um lenço acenando.
alguém sempre partiu.
e eu vou escrever uma crônica após ler o seu poema.
dedicarei a você.
beijão,
r.
Jorge, o que extermina o dragão, a força, meu caríssimo poeta,
ResponderEliminarQue temor há na palavra adeus, qual tempo infinito a guarda. Eis o temor: A - Deus!
A - Deus - o interminável
A - Deus - o inatingível
A - Deus - o inacessível
A - Deus - a morte
Morte do amor tangível.
Não há dúvidas... vc me faz poeta!
Bjinhos
"prefiro ficar no silêncio e esperar o retorno".
ResponderEliminarmas, insana, e se é o não retorno que nos grita o não caminho?...
um beijinho!
obrigado, querida amiga andy! esta música sabe a vida, oh, se sabe... é uma referência para mim, daquelas para as quais nem o mais lívido adeus arranca o sentido...
ResponderEliminarum beijinho sem cinzas!
dauri, que melhor referência que teres vindo cá parar por via do blogue da mai. pessoa singular e escrevente/escritora de méritos incontestados. sê bem-vindo, pois.
ResponderEliminaragradeço as palavras que aqui deixas, bem assim como os tons vivos das flores que semeias pelo ar, neste céu carregado de nuvens das chamas que devastam as florestas de mil dizeres.
um abraço!
de silêncios se fazem as despedidas e os mais profundos reencontros, verdade, camarada e amigo domingos? o pior de tudo é saber permanecer em silêncio... como é duro...
ResponderEliminarum abraço, poeta!
sempre com a lira do elogio alinhada com os carris do trem que comandas com sábia maestria, cris(tal) amiga e companheira de poesia.
ResponderEliminarum forte abraço desde esta estação (com o lenço no ar acenando um até breve!)
oh, querido amigo roberto, se não é verdade o que dizes. a saudade faz-se com a cor dos olhos da mulher portuguesa, quer quando ela mesma (a menina dos rouxinóis, de bernardim ribeiro, a joaninha de garrett e as viagens, entre tantas outras), quer se transvestida (como sucedia com o lirisno peninsular, quando os trovadores se trajavam de mulher que chorava a partida do amigo). é uma sina, é um destino, é uma maldição, mas é também uma forma de estar na vida (se não mesmo a própria vida).
ResponderEliminarum abração, homem dos mil instrumentos de tinta e dos milhões de afectos de pele!
ira, é bem verdade... o adeus podia escrever-se com todos os prefixos de negação que não chegaria a traduzir, ainda assim, a violência do vendaval que arranca as árvores do corpo que parte e mirra o sangue da mão que acena... e em cada "adeus", cada vez menos homem e mais... deus. enfim, desígnios...
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge, não posso deixar de registrar...lido o poema magnífico, fui para os comentários - dos teus amigos e das respostas a eles. Não sei dizer o que mais encantou-me, visto que vc foi acrescendo mais e mais ao teu próprio poema - fez-me reler e deixou-me na dúvida...entreguei-me às valiosas observações dos "complementários" depois de refém da beleza pura e nua exposta do 'Adeus'...
ResponderEliminarDiante de tanta maravilha, vou-me, saciada e leve, para outra etapa de trabalho.
Lindo de viver...grata por tantos tesouros!
Bjos
Amigo Jorge Pimenta, depois de 20 dias de férias cá estou novamente para trabalhar os meus blog's e comentár em meus seguidores e comentaristas. Gostei deste "Adeus".
ResponderEliminarUm abraço e boa continuação
"o sol sem luz
ResponderEliminare o luar sem pausa
que se escondem por detrás dos caracteres"
Quantas metáforas fortes, que arrancam o adeus de dentro de nós, e nos provoca o mais sincero saudosismo.
Beijo, poeta.
denise, uma das maravilhas dos blogues é a dinâmica interactiva que suscitam. o post é um ponto de partida para um infindável número de considerações que acabam, em si mesmas, por funcionar quase como outros textos sobre o texto, reafirmando-o ou infirmando-o, mas, num e noutro caso, sempre complementando-o. não posso deixar de registar o belíssimo neologismo que aqui deixaste a esse propósito: "complementários". oh, e como o teu contributo o foi também. um agradecimento especial!
ResponderEliminarum beijinho!
josé, um excelente regresso é o que desejo.
ResponderEliminarum abraço e até já!
a saudade, a nostalgia, o medo, a euforia, a disforia, a loucura... todos eles estados que vivem nas palavras, mas que, à esquina do dizer, escondem muito mais do que exibem... filtros, meros filtros, é o que são e, todavia, quem consegue viver sem elas?
ResponderEliminarum beijinho, lara!
vou já lá passar, pirussas :)
ResponderEliminaragradeço a simpatia da visita e das palavras.
um abraço!
custa, não custa?
ResponderEliminartambém a mim, mas espero descobrir a tinta mágica, o aparo destemido.
depois partilho contigo!
até!
Beijos
fico a aguardar, querida amiga laura.
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge...vejo que vou perder
ResponderEliminarnesses seus
escritos.
Bjins entre sonhos e delírios
"de silêncios se fazem as despedidas e os mais profundos reencontros..."
ResponderEliminar"...o pior de tudo é saber permanecer em silêncio... como é duro..."
como é duro, encanto.
Beijinho meu.