tem a certeza do bolor
naquele rosto helénico
porque leu que a morte acelera a terra
onde lavram o corpo e a imagem
no engenho do espelho lento
sabe que na boca
apenas vive a espuma das palavras
que sustentam as árvores de pé
(mesmo que as raízes sejam apenas andaimes
na verticalidade dos ossos
expostos à lascívia de bordéis sem sexo)
perdeu a voz
e o hálito da ilusão
com que se soletra a felicidade
algures entre a gramática e o erro
como se os afectos que não conhece
se escrevessem com tinta de água
(os sentidos afogaram-se no mar)
apesar das manchas no céu da boca
e da cinza escondida nos lábios
ainda espera pelo dia
em que a língua renasça
do outro lado do poema
naquele rosto helénico
porque leu que a morte acelera a terra
onde lavram o corpo e a imagem
no engenho do espelho lento
sabe que na boca
apenas vive a espuma das palavras
que sustentam as árvores de pé
(mesmo que as raízes sejam apenas andaimes
na verticalidade dos ossos
expostos à lascívia de bordéis sem sexo)
perdeu a voz
e o hálito da ilusão
com que se soletra a felicidade
algures entre a gramática e o erro
como se os afectos que não conhece
se escrevessem com tinta de água
(os sentidos afogaram-se no mar)
apesar das manchas no céu da boca
e da cinza escondida nos lábios
ainda espera pelo dia
em que a língua renasça
do outro lado do poema
Morremos a cada dia espumando as palavras mal ditas, mas a poesia reencarna a cada alvorecer, a cada crepúsculo.
ResponderEliminarBeijo.
e nós com ela, larinha.
ResponderEliminarum abraço!
Jorge, meu querido
ResponderEliminarNeste ofício de colher [e escolher] palavras, matéria prima para a construção de versos, és expert!
Depois da feliz seleção, labutas com elas: esta aqui, esta acolá, esta ali... Não: melhor assim... Não abandonas a obra enquanto não chegas ao resultado irrepreensível. É isso que faz de ti o imenso poeta...
Orgulho-me demais de ti...
Grande abraço, meu especial amigo!
A decomposição do ser por vezes sabida e forçadamente colocada à prova no dia-a-dia. Outras vezes provocada ou até acelerada, essa "humificação". Resta esperar que se liberte a matéria "benéfica" e nutra as palavras "certas" (sem espuma!) no nascer de um novo ser-poema.
ResponderEliminarProfundo, intenso!
Fico deveras escondida na tua poesia "algures entre a gramática e o erro", tentando embeber-me em letras de felicidade.
É muito bom estar aqui e sentir a força das palavras nesta tua capacidade impressionante de escrever.
Beijinhos
A outra margem
ResponderEliminaralcançamos
com o bote.
Sabe, aquele bote
do qual não escapa carne
tampouco alma.
Somente a Poesia
abate-nos assim.
Forte abraço.
zélia, doce amiga, a escrita de que mais me orgulho é a que, através da tinta, a todos aproxima. congratulo-me com o círculo de amizade poética e parapóetica que aqui emerge. agradeço-te, com todo o meu coração, as palavras e o carinho que sempre me dispensas. tu, alguém muito especial!
ResponderEliminarum beijinho com a espuma dos lábios!
curioso, jb, como usaste uma expressão que me é particularmente cara: a do "ser-poema", propósito último de todas as composições e decomposições que envolvam o homem e o processo criativo. belíssima leitura, a tua! obrigado por te esconderes por aqui, onde nem eu, por vezes, me sei encontrar :)
ResponderEliminarum beijinho!
oh, domingos, o bote e o rio, imagens que a todos são familiares nesta demanda pelas veredas do ser. já desde a antiguidade... e, afinal, os botes são cada vez mais sofisticados, mas alcançar a margem nunca foi tão difícil...
ResponderEliminarum abraço, poeta amigo!
Jorge, te leio agora pensando nos que se fazem - em algum tempo, por esforço e desejo inquebrantável- poetas... e nos que, sem dúvida alguma, têm a sina de fazer o poema cumprir-se, como está escrito no teu perfil. E estes chegam prontos; estes revolvem sentimentos, pensamentos e palavras, irradiam luz sobre as sombras, extasiam, sacolejam, abrem fendas profundas na concretude de nossos momentos. E são originalmente poetas. Assim te leio, assim te vejo nas linhas que escreves. Belíssimo poema, parabéns!
ResponderEliminarAbraços,
tânia, amiga, o poema cumpre-se no encontro de diferentes vozes que têm o mesmo timbre. a tua, a minha e a de quantos vivem a poesia como a sua segunda (quando não mesmo primeira) voz.
ResponderEliminarobrigado pelas palavras (ainda procuro os suspiros que me arrancaram o peito, ao ler-te...).
um beijinho terno!
está fantástico =)
ResponderEliminarobrigado, ti.em.mim :)!
ResponderEliminarum beijo!
esse lugar fica algures, na parte esquerda da caixa toráxica de cada um de nós!
ResponderEliminarabraço (;
Jorge, a poesia também germina nesse nada, vazio, perda, no além ou aquém da língua, que sempre haverá de renascer mais tocante e profunda.
ResponderEliminarbjs.
O húmus auxilia na manutenção do solo. ;)
ResponderEliminarMais uma bela criação, meu caro!
Beijos
por vezes esqueço-me disso... :)
ResponderEliminarum beijinho!
se é verdade, ana... não há completude sem vazio, como não há flores na primavera sem que antes tenha havido devastações diluvianas de inverno. até a rosa tem espinhos ou o alvo a seta...
ResponderEliminarum abraço!
lou, o carinho e as palavras dos amigos (teus) são o verdadeiro fertilizante da minha escrita. um agradecimento sincero.
ResponderEliminarbeijinho!
So depois de muito esforço
ResponderEliminarbjs
Insana
eu sei, insana... todos o sabemos, afinal... o importante é não perder a fé, verdade?
ResponderEliminarum abraço!
caríssimo poeta amigo, fico pensando nas imagens que consegues criar e em toda a polissemia das palavras que semeias neste barro que nós cultivamos. Há o que ceifa e o que aflora, o que apaga e o que alumia, vêde então com que faróis tu nos põe a existência,
ResponderEliminarabraços
Lindo demais...parabéns querido...
ResponderEliminarBeijooo
oh, assis, amigo, as imagens mais não são que projecções débeis de inteirezas que alimentamos interiormente, mas que se balcanizam nas rochas de um mar que é sempre tão difícil de navegar... tivesse/conhecesse eu o farol de alexandria... a luz que ainda diviso é a da poesia e a da tua/vossa amizade.
ResponderEliminarum abraço, poeta!
luíza, obrigado! fico imensamente feliz quando sinto que as palavras ganham eco no coração de alguém.
ResponderEliminarum beijinho!
Deitei meu olhar entre as pétalas...
ResponderEliminarSua lira é fecunda, frêmita, fascinante; ainda que nasça entre espinhos.
Haja aliteração pra suprir essa terra...
Beijos além-mar, meu parceiro!
(E suas incursões no trem, incitam longos sorrisos)
cris, a lira brota da água que se faz geiser, da pedra que se faz catedral, do ar que se faz voo e do fogo que se faz fénix. os espinhos são meros circunstantes da plenitude.
ResponderEliminaré óptimo ler-te aqui e no trem.
um beijo, parceira poética!
"...perdeu a voz
ResponderEliminare o hálito da ilusão
com que se soletra a felicidade..."
o que seria a condenação ao profundo do mais absoluto abismo, não fossem as asas, apaziguadoras, mas expiatórias, que as palavras, volúveis amantes, emprestam ao ser-poeta, que
"...ainda espera pelo dia
em que a língua renasça
do outro lado do poema."
Desculpe... só um delíro lúdico, pois suas palavras criam deliciosos redemoinhos em minha mente.
Um domingo lindo pra vc.
Beijos.
"em que a língua renasça
ResponderEliminardo outro lado do poema"
que lindo, suas palavras são demais!
beiijo
*.*
Mestre Jorge Pimenta, devorando tuas palavras pulsa em mim a certeza de que o amor faz chover...
ResponderEliminarAproveito e agradeço tua amabilidade em visitar-me em tão humilde blog, onde ainda tenho muuuuuiiiittoooo o que aprender. Sinto-me imensamente feliz e honrada com tua presença...mortificada pelos desencontros da vida...cheguei de Portugal há quinze dias, extasiada com as belezas de sua terra! Abraço carinhoso
Meu caro, me desculpe pela minha ausência nos últimos dias, acontence que fiquei sem tempo para absolutamente nada!
ResponderEliminarabraço
jorgíssimo,
ResponderEliminarnão aprendi dissecar um poema... tentaram me ensinar a analisar um poema com precisão de um legista debruçado sobre um cadáver...
mas não deu certo.
analiso poema de uma única forma: gosto ou não gosto.
contigo (juro... mesmo porque li a algures que o poeta é um fingidor) nunca sei se o poema é autobiográfico, ou se é fingido (até porque não te vejo com cara de homem que finge... rs... como pode um homem fingir uma ereção? um orgasmo? ...rs)...
ta vendo? quero me aprofundar e fico pensando (e falando) abobrinha.
então... eu gosto do poema.
doem em mim as cinzas dos lábios, as manchas (núvens dubias) no céu da boca... e este filhadaputamente lindo rosto "elênico" (um dia me povoou e, creia-me, foi um presente de grego...rs)...
gostei, poeta da pedreira.
gostei.
beijão,
r.
ps: o braga acaba de receber um jogador do vasco, que saiu do brasil por ter acusado de ter ameaçado fazer com uma dançarina de funk (fanque, licho auditivo) ainda pior do que o goleiro bruno, do flamengo, teria feito com a atriz pornô eliza samúdio.
eliza teria virado ração de cachorro.
* se o elias for realmente pro benfica, vocês acharam um substituto de verdade pro ramires. joga pra caráleo.
lua nova, não é um delírio poético; é uma extensão das palavras que aqui pousaram à espera de outras mãos que as reerguessem... como as tuas, por exemplo. grato por isso.
ResponderEliminarum beijo!
grafite, que bom sentir-te por aqui...
ResponderEliminarum beijinho!
elisa, não imaginava que tivesses regressado de portugal. pois, imagino que tenhas gostado; este meu país tem muito que conhecer e ainda mais que explorar.
ResponderEliminarestive no teu blogue e crê-me que com imenso gosto e ainda mais proveito, pois tantos e tamanhos são os mundos que ali vais constituindo. é essa uma das maiores riquezas da blogosfera: aproxima-nos acima da própria geografia.
um beijinho!
amigo juan, mesmo que estejas dias sem por aqui passares, este blogue pertence-te e, nessa medida, sente-te sempre presente.
ResponderEliminarum abraço e que o tempo te seja subjugado, a breve trecho! :)
a imortalidade da poesia, a infinitude do poeta...
ResponderEliminarparabéns
Salve, jorge
robertílimo, na minha juventude lia com gosto e fazia-o procurando responder às minhas próprias inquietações. subitamente, dei-me conta de que para poder corresponder às exigências académicas, tinha de fazer uma série de movimentos artificiais que transformavam os textos, em geral, e a poesia, em particular, em objectos quantificáveis, mensuráveis, analiséveis, esquartejáveis e outras coisas mais acabadas em "áveis" (como execráveis :)), que fazia com que todos, na essência, fossem iguais (há uma cena imortal em "o clube dos poetas mortos", quando mr. keating diz aos seus alunos que rasguem toda uma introdução num livro, por sugerir um tipo de abordagens à leitura nesta linha; recordo-me das suas palavras: "não estamos a falar de instalar canos, mas de ler poesia". recordas-te?).
ResponderEliminaracabei por conseguir um compromisso com as exigências académicas e as minhas necessidades como leitor, sem nunca ter perdido o essencial: o gosto pela leitura e pela escrita. muitos perderam-se... outros conseguiram sobreviver... (há um estudo científico, de um investigador português (freitas) que apresenta dados sugerindo que, à medida que as crianças crescem passam a ler menos e com menos prazer - estranho, no mínimo).
quanto a escrever biograficamente. sei lá... não creio que a mão poética possa ter as mesmas imporessões digitais da mão da entidade que vive no poema, ainda que as vivências estejam necessariamente, se não de modo directo, pelo menos implicadas, na escrita. que dizer-te, querido amigo?...
ontem o benfica perdeu a supertaça para o porto por 2-0. já se notaram as ausências de ramires e di maria. ai ai ai... oxalá os substituam a preceito. quanto ao jogador do vasco que vai para o braga, hum, vejo que ir à pedreira passa a ser um exercício arriscado, hihihi.
um abraço, querido amigo!
aloísio, a infinitude da poesia... na mortalidade do poeta...
ResponderEliminarum abraço e grato pela visita!
apenas dizer que te reLi...
ResponderEliminarbeijo gd amigo!
um beijinho, andy!
ResponderEliminarOi, Jorge querido!
ResponderEliminarAmigo, ando sumidinha por conta de viagens a trabalho... mas logo voltarei!
Passei para desejar uma semana recheada de coisas boas!
Um beijo grande!
Má
má, desse ponto de vista, tenho estado com mais sorte que tu: estou de férias e o tempo convida ao dolce far niente :)
ResponderEliminarum beijinho e uma óptima semana para ti também!
assim, essa fotografia parece al berto!! houve alguém que um dia passou por isso, as cinzas cigarro levaram-lhe a voz, a língua e ficaram os poemas... (o pesadelo, foi-lhe tremendo... só um homem que o viveu sabe... creio que teria dado tudo, apenas para esperar uma só vez, apenas dizer: Olá!!)...
ResponderEliminarIntensos estes poemas...
abç
As vezes o cerne da árvore é enegrecido. Ao final tudo se mistura em meio ao humus. Mas há tanta vida que dele irrompe...
ResponderEliminarHá momentos de tristeza e afasia, mas sempre vem o sol, como poesia do dia, aos homens que perseveram.
Ler tua poesia, é como adensar uma floresta ou mergulhar bem fundo num mar. E eu adoro saber que há quem prime pela beleza interior.
abraço e admiração
Hoje, no café, mergulhada num barulho ensurdecedor, começei um texto, ficou apenas o título, lápide!
ResponderEliminarBeijo