perdida a mulher
que desperta a serenidade do dia
perde-se o corpo
na estreiteza filosófica do amor
como se apenas a morte
extinguisse o incêndio do ser.
o sangue acelera a rigidez do órgão
e os mortos tremem com a solidão
de cidades transparentes
onde a temperatura desce à noite
e a poesia gela
abandonada no tapete da entrada.
estendo os braços
rodo a chave
enfio a cabeça
(a porta está já entreaberta)
e espreito:
ninguém do lado esquerdo da treva;
apenas o vazio que o bolor corrompeu.
do poema
versos uivam na superfície da fala
num frémito de lábios e bocas
que se agitam num tango invisível;
que desperta a serenidade do dia
perde-se o corpo
na estreiteza filosófica do amor
como se apenas a morte
extinguisse o incêndio do ser.
o sangue acelera a rigidez do órgão
e os mortos tremem com a solidão
de cidades transparentes
onde a temperatura desce à noite
e a poesia gela
abandonada no tapete da entrada.
estendo os braços
rodo a chave
enfio a cabeça
(a porta está já entreaberta)
e espreito:
ninguém do lado esquerdo da treva;
apenas o vazio que o bolor corrompeu.
do poema
versos uivam na superfície da fala
num frémito de lábios e bocas
que se agitam num tango invisível;
do homem
estilhaços de palavras agonizam
sobre o pó da estrofe
com um ritmo lento, cansado
… quase mudo.
lisa germano, the darkest night of all
Jorge...
ResponderEliminaramei a voz da Lisa Germano...
Picasso...é um sempre um deleite...
Suas palavras...serenas...e quase tristes...
Beijos
Leca
leca, em 2006 tive a oportunidade de assistir a um concerto de lisa germano em braga, a minha cidade. encontro intimista com uma ninfa da música pós-moderna (nunca sei muito bem como defini-la :)), que viajou sem um único músico a acompanhá-la até ao theatro circo. cantou e tocou diversos instrumentos sozinha. belo e inesquecível! até porque... serena e... quase triste...
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge...
ResponderEliminaresse concerto deve ter sido uma experência e tanto...grande talento e musicista...a Lisa...gostei dela...
Enquanto escrevo...escuto...a música de novo...
é linda...mas...achei a melodia...triste...
repleta de coisas que causam dor...
Parece música de despedida...
mas...pode acreditar...coisas assim me emocionam...adorei...
Beijos
Leca
a música de lisa é melancólica, quase triste, mas tremendamente inspiradora e apaziguadora.
ResponderEliminarum beijinho, leca!
veja que coincidência, agora neste exato momento que escrevo, estou ouvindo o Libertango de Astor Piazzolla e mais exatamente a faixa Verano Porteno, e vc fala desse tango invisível que persegue os amantes estejam eles sob ou sobre os estrados da existência, maravilha
ResponderEliminarabração
Jorge, meu querido
ResponderEliminarDeslumbrante o teu poema! Simplesmente deslumbrante...
Picasso: que dizer? Com que palavras comentar?
Lisa Germano... O título da música... A música...
Inspiração é isso, meu amigo...
Parabéns pelo post como um todo!
Grande abraço...
Posso ouvir os uivos e o crepitar da sua pena aqui na tela, leio e sinto num fascínio.
ResponderEliminarBeijo.
Jorgíssimo,
ResponderEliminarExtinguir-se o incêndio de ser (do ser), talvez nem a morte: tal vez...
Abraço aceso,
Pedro Ramúcio.
...versos uivam na superfície da fala/ num frémito de lábios e bocas/ que se agitam num tango invisível...
ResponderEliminarA expressão de tua poesia, Jorge, traduz anseios meus e vibro ao lê-los. Parabéns pelo talento, mais uma vez.
Abraços
maravilha, assis! esta não é a primeira coincidência, hehe!
ResponderEliminarum abraço, poeta!
zélia, querida, sempre pródiga em elogios e loas. agradeço-te o carinho com que sempre abres, em meu rosto, rasgado sorriso.
ResponderEliminarum beijinho, gentil amiga!
larinha, esta tela é mais que um barco; através dela, percorremos quilómetros sem nunca nos cansarmos: é a tela do coração.
ResponderEliminarum beijo e um uivo!
curioso que no teu comentário te tenhas fixado no verbo "extinguir", amigo pedro. sabes que inicialmente tinha pensado/sentido o verbo "atear", nesse mesmo verso, mas que, depois, e num acto mais intuitivo que reflexivo, alterei-o... talvez por essa mesma razão: num poema do im.possível, o fogo só poderia estancar... mesmo que o ser crepite bem acima das chamas.
ResponderEliminarum abraço, amigo pedro!
tânia, o que de melhor a poesia consegue é aproximar anseios, expectativas, mágoas, sonhos, decepções... comuns. não imaginas como me tocas com as tuas palavras...
ResponderEliminarum beijinho!
Um olhar no espelho... e tanta emoção reflectida, numa mulher perdida [d]ela!
ResponderEliminarAnseios que nos desassossegam levados ao expoente máximo! Sonhos que resistem e insistem em espreitar (e ainda bem!)...
"a poesia gela
abandonada no tapete da entrada." Mesmo gelada, a tua poesia aquece-me a alma, porque me aconchega, ainda que num "tango invisível" e é aí que oiço e sinto o uivar desses versos!
E não será numa linguagem quase muda que o silêncio nos traz a verdadeira essência das palavras?!?
É delicioso ler-te, porque a porta dos teus poemas está sempre "entreaberta"!
Beijinho, quase mudo :)
Serei categórica: sua arte é catedrática!
ResponderEliminarUm beijo de fã.
"estreiteza filosófica do amor
ResponderEliminarcomo se apenas a morte
extinguisse o incêndio do ser"
jorgíssimo, cê anda bebendo o que?
me dá o endereço da fonte... que rastejo até lá.
rapaz, vejo-o crescer bem diante de mim. e admiro. admiro. admiro.
olhos de contemplação.
belo, belísismo, bardo minhoto.
seu amigo, todo dia,
o
roberto.
jb,
ResponderEliminaro teu comentário é metapoesia: agarras em linhas textuais que reconstróis para lá da sensibilidade original, reinventando-a, fundindo-a, refundindo-a, atirando-a ao ar e voltando-a de costas, assim (re)criando mundos outros que só a arte permite. um uivo de veneração pelo trabalho (re)construído.
um beijo (ainda mais silente)!
ai, cris, a verdadeira categoria é a do carinho das tuas palavras e da tua amizade. quanto ao resto... aprendiz de poeta é o que sou. as palavras ainda me entaramelam na boca e nos dedos tantas vezes...
ResponderEliminarum beijinho enorme!
robertílimo e primeiríssimo amigo, de bebidas pouco sei e de fontes ainda menos. em tempos procurei parnaso, mas a água tinha secado. o vinho sei que adoece, lento, no fundo da garrafa... as palavras esquecem o coração que as pariu e eu, órfão de verve, para aqui rasuro as minhas linhas que a grandeza do coração dos meus amigos - tua - torna maior do que realmente é.
ResponderEliminarum abraço, amigo cruzeirista!
p.s. enquanto a substituição do ramires não se efectiva, chovem nomes de possíveis "craques" para o benfica: do elias ao wesley, passando agora por um tal fernandão... ai, que fartura esta. ah, o david luiz estreia-se hoje na canarinha. craque é o que ele é :)
Revi, com gosto, "Mulher em frente ao espelho", de Picasso.
ResponderEliminarConheci Lisa Germano... e gostei!
Mas, principalmente, adentrei por uma porta entreaberta, ignorei a treva e me deslumbrei com a LUZ de um poema.
Uma vez você disse: "A poesia, se explicada, perde toda a sua essência".
Realmente! A beleza não se explica, ou se ve ou não. E às vezes, encontramos coisas lindas e ternas, também na tristeza.
Hoje estou triste, tentando retomar a rotina, e lidando com saudades de pessoas tão queridas, que ontem estavam próximas, e agora novamente estão distantes...
Como "SAUDADE" é uma palavra que só existe na nossa língua, será que nós também a sentimos de uma forma mais forte e avassaladora?
Pode ser!...
Obrigada, amigo, por todo o carinho que deixas no meu espaço.
Grande beijo
Cid@
jorgíssimo,
ResponderEliminardez wesleys não valem um elias. dois elias não valem um ramires. esta conta é fácil de fazer.
num esquema parecido ao que tinha ramires no cruzeiro, e que o fez, elias vai deslanchar no corinthians com adilson batista, treinador que trocou de lado.
a hoa de levar elias é agora.
ô,
será que voce nao fugiria uma semana em outubro pra tertulia do pão de queijo?
hospedagem na humilde (mas acolhedora) casa de meus pais.
comigo, cê não paga um fino.
promete que pensa?
beijao,
roberto.
Olá Jorge,
ResponderEliminaruma postagem muito bonita, a pintura, o vídeo e um poema/uma poesia no meio,
"do homem
estilhaços de palavras agonizam
sobre o pó da estrofe
com um ritmo lento, cansado
… quase mudo. "
e eu quase muda
...
abraço prati
querida amiga cid@, como é bom sentir-te de volta, tu que esparges delicadeza e ternura por toda a blogosfera.
ResponderEliminaros regressos são sempre acções intrincadas, porque exigem o desprendimento e o reatamento, duas lógicas, em abstracto, antagónicas que, necessariamente, conduzem a conflitos interiores. vive a saudade como mera semi-ausência (ou semi-presença) e alvo primeiro da flecha dos afectos.
um beijinho e um excelente regresso!
primeiríssima pessoa, pois confio na sagacidade de jesus (o de carne e osso - treinador do glorioso) e na capacidade negocial do presidente vieira(homem esperto que está de visita ao santos, ao que parece), sendo certo que substituir ramires se nos afigura como tarefa quase impossível (ao que parece, o jogo de ontem contra os e.u.a. veio a confirmá-lo verdade?).
ResponderEliminarquanto a outubro... eh, pá, eu adoro pão com queijo :), mas afigura-se-me como muito difícil poder desprender-me dos afazeres profissionais que, nessa altura, estarão a rolar a um ritmo diabólico. ainda assim, vou tentar esgotar todas as possibilidades, porque ninguém mais que eu gostaria de poder dar um salto a belo horizonte para poder estar com "a turma" :). agradeço-te a hospitalidade e a amizade! indo ou não, esse é um gesto de verdadeira amizade!
um abraço, robertílimo!
vais, entre silêncios e palavras cambaleantes, o verso vai-se (des)alinhando num fio que nem sempre temos noção se cumpre ou não o desígnio de quem o escreve. a reacção de quem lê (o poeta maior, na minha opinião) é vital para essa aferição.
ResponderEliminarum agradecimento especial pelo carinho aqui depositado!
um abraço!
jorge, se puder (vai achar espalhado pela net e de montão) leia augusto dos anjos, considerado o maior poeta parnasiano brasileiro.
ResponderEliminarseu poema "versos íntimos" é um dos mais importantes de toda a produção poética em meu país.
li, no final da adolescência, e saí escrevinhando minha abobrinhas.
abração,
r.
Magnifico o poema, sentei-me à porta da casa, era tarde... e senti Al Berto aqui a soletrar as entranhas... ou será que al berto acede à memória dos homens poetas sem eles saberem?
ResponderEliminarQuedo muda numa outra rua, outra esquina onde certos estivais são a ponta desta unha do verão...
um abraço
Obrigada amigo.
ResponderEliminarGostei muito do teu conselho, e inclusive, coloquei-o no meu post (Vovó Cida e Bruna).
Quando passar por lá, confira...:)
Tudo de ótimo prá você
Cid@
(estilhaços de palavras agonizam
ResponderEliminarsobre o pó da estrofe).
Então é isso que nos acontece.
Eu gostaria de ter escrito esse poema...
Bj
Rossana
Os sons, os tons e todas as nuances de tua obra são sempre tão intensas. Grafas com força e coração, como os grandes guerreiros. Arte pura onde esprais tuas paixões.
ResponderEliminarabraço, carinho e imensa admiração
"Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
ResponderEliminarO beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja."
aí está augusto dos anjos em toda a sua fúria existencial. adorei a referência, amigo roberto. li diagonalmente uns quantos textos mas tenciono enriquecer a minha biblioteca com papel. curioso seja parnasiano, pois o culto da forma e da arte pela arte normalmente desvalorizava dimensões temáticas - o que nele até nem é assim tão notado.
um abraço, robertílimo!
olá, nãosoueuéaoutra. al berto está presente em todas as estações; ele e herberto helder (como referências primeiras) e um sem fim de autores outros que necessariamente convergem para darem forma aos esquissos de escrita menores que desta mão vão brotando.
ResponderEliminarum beijinho!
vou agora mesmo conferir, amiga cid@! :)
ResponderEliminarum beijinho!
olá, rossana!
ResponderEliminarse é o que nos acontece, não sei; que é o que me aconteceu, disso não duvido. a grande questão é a de sempre: por que razão apenas parecemos fazer sentido naquilo que escrevemos? agrh, maldita sina, esta...
um beijo!
mai, os teus comentários têm sobre mim um efeito absolutamente único... um pouco como sucede com os guerreiros de que falavas, no momeno em que depõem as armas e se reencontram com a espiritualidade.
ResponderEliminarum beijo com admiração recíproca!
... e se a alguém causa inda pena a tua chaga
ResponderEliminarapedreja esta mão vil que te afaga
e escarra nesta boca que te beija...
antes dos punks existiu augusto, de poucos anjos.
uns o dizem parnasiano, outros, simbolista...
eu o sinto poeta.
e eles às vezes deixa a gente bem dolorido, é um punhado de sal sobre nossas chagas.
abração, bracarense...
r.
ps: wesley ta indo pra outro clube... agardeça... e fala com seu presidente pra contratar o elias... este sim, o substituto ideal pro ramires.
Solidão!! solidão do velho que roda a chave da porta de casa e lá dentro não há nada, apenas solidão. bonito poema. e picaso? um solitário também. kis :)
ResponderEliminargrande poema, robertílimo! sabes que quando o li o senti, também, como mais simbolista que parnasiano? a obsessão pelo eu e o seu lado mais profundo estão ali bem presentes...
ResponderEliminarum abraço, amigo!
p.s. os jornais continuam a dar o wesley como quase fechado pelo benfica. esse e um tal de mailson, creio, miúdo internacional de sub-20.
avogi, por vezes a solidão ajuda-nos a ver e a reconhercer um pouco melhor o nosso lado humano. sem fundamentalismos; com parcimónia.
ResponderEliminarum beijinho terno!
Jorge, quando li este teu poema, não tive medo, não tive frio, não tive e tive.
ResponderEliminarQuebre-se a treva, baptize-se o silêncio!
Beijo
Querido Jorge, saudades imensas dessas palavras tuas, capazez de me roubarem (ou me devolverem) o ar.
ResponderEliminarDeste tango de lábios e bocas, teus versos são o maior espetáculo, aquele que faz agitar minhas entranhas, que pela mão puxa minha alma para a dança.
Quando cheguei aqui para ler-te, senti como se estivesse chegando em casa. Gosto disso ;)
beijo imenso pra matar a saudade, querido amigo!