deixei de acreditar em bosques de primavera.
a terra ensinou-me
que uma só árvore é toda a floresta
sem estação ou meteorologia
porque atravessa o tempo e gasta-o
na insanidade dos simples.
os seus olhos ardem no sonho febril
e as alfazemas campestres
remexem o sexo húmido dos frutos,
enquanto respiram do lado de dentro
como se a loucura
se estendesse sobre o corpo de uma mulher
que soubesse amar em silêncio.
ao longe
um som sibila nos ouvidos.
é a voz?
é a palavra?
é o verso?
(ou apenas o silvo seco
de um deus sandeu e cego
perseguindo o seu altar?)
os ramos continuam a bater no exterior da janela.
as folhas carbonizaram
no derradeiro incêndio.
pink floyd, comfortably numb
a terra ensinou-me
que uma só árvore é toda a floresta
sem estação ou meteorologia
porque atravessa o tempo e gasta-o
na insanidade dos simples.
os seus olhos ardem no sonho febril
e as alfazemas campestres
remexem o sexo húmido dos frutos,
enquanto respiram do lado de dentro
como se a loucura
se estendesse sobre o corpo de uma mulher
que soubesse amar em silêncio.
ao longe
um som sibila nos ouvidos.
é a voz?
é a palavra?
é o verso?
(ou apenas o silvo seco
de um deus sandeu e cego
perseguindo o seu altar?)
os ramos continuam a bater no exterior da janela.
as folhas carbonizaram
no derradeiro incêndio.
pink floyd, comfortably numb
Caro poeta que canção iluminada, tu me lembraste Vinícius de Moraes ou Pablo Neruda quando falas em corpo de mulher. Mesmo que seja loucura, que seja incêncio, incensa-os. Em meio a insanidade do simples és contemplação.
ResponderEliminargrande abraço
p.s. a imagem me remeteu a Magritte logo que a vi, o autor, Gustavo, domina a técnica e a expressividade. Do Pink Floyd a lembrança do The Wall, maravilha.
caro assis, neste verão quente e seco, não há como fugir do fogo. e em se tratando de fogo poético, sejamos pirómanos, todos. quanto ao corpo da mulher... nele reside a essência da poesia.
ResponderEliminarum abraço!
p.s. the wall é, para mim, a referência maior da música rock. o filme, então, é uma lenda.
Jorge,
ResponderEliminarLoucura é não vir vez em quando aqui, poeta. Pink Floyd explica-me (escrevo enquanto ouço essa lenda da música, e se não piro não é por falta de fogo...) e eu envieso-me por seus versos e se não pego fogo é porque aguardo o derradeiro incêndio, amigo...
Poesia e música formaram par perfeito aqui...
Abraço incendiado,
Pedro Ramúcio.
De incêndios, loucuras, primaveras, árvores, poema com tua marca, teu crivo enigmático e metafórico. É ler e reler para "entrar".
ResponderEliminarbj.
Basta uma só árvore, uma só semente, uma centelha...e o Poeta faz fogo, incendeia: maravilhoso, Jorge!
ResponderEliminaros seus olhos ardem no sonho febril
e as alfazemas campestres
remexem o sexo húmido dos frutos,
enquanto respiram do lado de dentro...
És um dos meus Poetas preferidos por aqui,Jorge. Ler-te me aviva...sempre!
Abraços,
Sua poesia é instigante, reflexiva e exige concentração.
ResponderEliminarNão vejo efeitos e nem denúncias. Gostaria de ler mais versos belos e oportunos assim. Demonstram um amor puro, docemente desnecessário, de entregar e oferecer sem esperar nenhuma retribuição em troca. De fato, uma LOUCURA que nos habilita a pisar nas nuvens, ainda que aconteça "derradeiro incêndio"!
Um beijo!
Meu Deus!!!
ResponderEliminarJorge querido... Que coisa mais linda: a terra, esta grande mestra, a ensinar... Que uma só árvore é toda a floresta... E não é?
O tempo a ser gasto na insanidade do simples...
[Ou seria sanidade elevada à pontência maior que existisse?]
E os ramos se debatendo, carbonizados, sofridos...
Muito me emocionou este seu lindo poema, meu amigo...Muito!!!
Enorme abraço!!!
PS- Brevemente publicarei, aliás, republicarei "Terra em chamas". Penso que você poderá gostar...
caro pedro, as tuas palavras-labareda acabam de consumir o derradeiro chão-terra que aguarda a purificação. comentário-emblema o teu, onde até o jogo de palavras com "piro" (forma verbal de "pirar" - e que no brasil está conotado com a loucura - ou nome comum como sinónimo de incêncio - afinal, os dois motes deste texto) indicia a grandeza das tuas leituras. loucura é receber amigos assim por aqui.
ResponderEliminarum abraço!
ardo nas tuas palavras, ana. não há primavera, floresta ou árvore que lhes resista. rendo-me às chamas.
ResponderEliminarum beijinho!
oh, tânia, que palavras-arrepio estas que aqui me deixas. ainda para mais forradas com o papel que delimita a fronteira entre o poeta-fazedor-de-poemas e o poeta leitor. é recíproco, querida amiga! as paragens no teu porto de abrigo são romagem obrigatória nesta caminhada poética.
ResponderEliminarum beijinho!
lívia, o derradeiro incêncio é sempre o que está por vir. por mais terra ardida que haja, contemos sempre com as chamas que balouçam nos olhos dos homens e que são o tema maior do incêndio poético que todos, a uma só voz, vamos ateando. apagá-las é tarefa desmedida.
ResponderEliminarobrigado pela tua paragem verbal por aqui.
um beijinho!
zélia, a tua presença é única. as palavras, na tua voz, são árvore, ramos, folhagem e frutos num único suspiro.
ResponderEliminarardo em impaciência pela postagem deste teu "terra em chamas".
um beijinho!
Iniciar minha tarde ouvindo Pink Floyd e lendo o seu poema, foi uma experiência e tanto!...:)
ResponderEliminar"A terra ensinou-me
que uma só árvore é toda a floresta..."
Estou levando essa frase comigo, Jorge.
Pelo menos essa árvore, salvarei do incêndio que porventura vier.
Nas entrelinhas do seu poema, também enxerguei coisas tão lindas, que de repente, como num passe de mágica, ele se duplicou aos meus olhos.
Obrigada por existir.
Cid@
Jorge,
ResponderEliminarAguardo ansiosa por mais uma obra sua, quando sou surpreendida sempre, mas ”A Loucura”, não só me arrebatou como me Pirou (no Brasil, pirado = louco), em chamas poéticas, em insanidade de mulher que ama em silêncio (meu silêncio), em derradeiro êxtase.
As metáforas compõem, junto à música de Pink Floyd (que amo!), uma viagem alucinante de luz e sombra.
Bravo, meu queridíssimo!
Bjinho
(apare)cid@, querida amiga, uma só árvore é toda a floresta, porque cada árvore é um todo em si mesma. assim é com o homem e o que de essencial o mundo nos oferece. quando conseguirmos olhar a humanidade desse modo, a floresta será definitivamente melhor.
ResponderEliminarum beijinho com infinita ternura!
Ai, que loucura!
ResponderEliminarA imagem salta, o poema vibra junto ao som que está na veia.
Nessa eu danço, deito e rolo...
Beijos, precioso.
ira, palavras como "a loucura” pirou-me em chamas poéticas, em insanidade de mulher que ama em silêncio (meu silêncio), em derradeiro êxtase" são, elas mesmas, o poema. agradeço-tas.
ResponderEliminarum beijinho, poeta!
a imagem vibra, o poema salta, junto ao som que me enleia. são estes os acordes da loucura.
ResponderEliminarbeijos (de) cris.tal!
Acho que quero viver na poesia! :)
ResponderEliminarSinto que a tua poesia (sempre que empreendo uma das tuas viagens), me ensina que uma só palavra é toda uma vida-poema, porque atravessa o passado (na insanidade dos sonhos), cresce no presente (faça chuva ou faça sol:) e projecta-se no futuro, semeando novas árvores, novas poesias. É como se a poesia fosse toda uma floresta que ramifica sentires e dizeres em todas as direcções...
Os meus olhos respiram esse silêncio e, sem dúvida, fico cega nessa loucura!
O derradeiro desejo é sentir eternamente esta "chama poética" que manténs sempre acesa na escrita da tua alma!
Com toda a certeza, com ou sem PinK Floyd (que adoro!) admiro este sibilar da tua poesia!
Parabéns!!!
Beijinho
jb,
ResponderEliminartambém eu quero viver na poesia, onde os impossíveis são apenas desenhos de crianças sobre superfícies de papel colorido e onde as mágoas são confeti e algodão doce. é no enigma da poesia que os ditos e os não ditos sobrevoam paisagens de aquém-céu e além-mar, conjugando os "fragmentos cristalinos da alma" na mais completa criação de um sistema generativo que cria raízes escarnecentes do tempo e do espaço, por serem elas mesmas o tempo e o espaço.
obrigado por ajudares a dar sentido(s) às loucuras que escorrem daqui...
um beijinho!
"que 'loucura' é esta de responder ...[ao meu comentário]... com poesia? Mais poesia !!! :)
ResponderEliminarBeijinho :)
tinhas dito que querias viver na poesia. confessei-te que esse era também o meu desejo maior. por que te surpreendes, então?! :)
ResponderEliminarum beijinho, jb!
"que uma só árvore é toda a floresta..."
ResponderEliminarLindíssimo! Só tu para escrever isto!
Teu livro segue via Correios esta semana, a demora jaz certamente, pois que o oceano é grande, mas as palavras sabem voar...
Obrigada pelo coments no meu blog, o teu como sempre, mar e fúria, luz e sombra, Ulisses e Penélopes, sempre!
querida amiga, escutei nas notícias, no fim-de-semana que passou, informações acerca da bienal de são paulo. sabia que por lá estarias com o teu/nosso "poetar é preciso". entretanto, confirmei, já, no teu blogue, que o evento foi especial e inesquecível, como todos sabíamos que seria. regozijei com isso e agora resta-me aguardar com a paciência possível o envio do tesouro de que espero poder desfrutar em leituras sucessivas. obraigado, querida amiga!
ResponderEliminardaqui te envio um beijo, com serenidade e tempestade, ulisses e penélopes, luzes e sombras. sempre e invariavelmente :)
um beijinho!
A desmesura do amor insandece, e amar em silêncio é uma tortura, é conjugar o verbo ser nos ilimites entre o eu e o outro. É alucinar um corpo como quem quer morrer. É querer domar o tempo, rasgar a alma e arrancar do peito - o coração. É incendiar o mundo, para viver o amor. Amar em silêncio é isto, é pura desrazão - um mar profundo dentro da cabeça. Mergulho de onde se pode nunca mais emergir. O mundo está louco e os poetas - sãos.
ResponderEliminarUm imenso abraço.
Grata pelas palavras, sempre generosas.
"como se a loucura
ResponderEliminarse estendesse sobre o corpo de uma mulher
que soubesse amar em silêncio".
voce arrasa nas palavras!!!
beiijo,
*.*
querido poeta, uma só árvore é toda a floresta, assim como um só poeta traz em si toda a poesia, toda a loucura, todo o amor, todo o dissabor de remexer suas entranhas, seus silêncios, seus gritos, suas chagas, seus sulcos, expor seus frutos suculentos ou enegrecidos...
ResponderEliminarenfim, um só poeta - tu - traz em si toda a chama capaz de incendiar minha alma, até minha pele virar toda arrepio.
lindo poema!
beijo, querido amigo Jorge!
Pude ver aqui uma árvore fecunda, galhos com olhos de lince, e um farfalhar de folhas a roçar o vento, o que dizem os gravetos secos?
ResponderEliminarBeijos!
=)
mai, cada vez me convenço mais que o amor é sempre a expressão mais silenciosa do ser. seja ele o silêncio da ausência, seja o da presença de verbo, de tacto, de referência física, de mar e rocha... são estes gritos mudos e surdos que des.mancham o jardim labiríntico que entre muros deixamos que se erga dentro de nós.
ResponderEliminaracabo de ler "um história de desamor contada treze vezes", de antónio gregório e, crê-me, nunca li nada mais irónico e bem-humorado acerca de como as relações são vividas e... morridas :). fabuloso!
um beijinho e grato pela tua presença. sempre!
e tu arrasas na simpatia e generosidade dos comentários, grafite. :)
ResponderEliminarum beijinho!
a pluralidade no "eu" singular atinge a sua expressão maior em pessoas como tu, querida amiga andrea, alguém que esbanja sensibilidade e carinho pelo universo bloguer e que consegue estar sempre uns passos adiante na(s) leitura(s) de quanto por aqui é lavrado.
ResponderEliminarum beijinho com afecto e imensa admiração!
a árvore, as ramagens e as raízes estão aqui, querida lara - sinto-as bem por debaixo da pele queimada do sol;
ResponderEliminaros olhos de lince são... os teus (os meus são de peixe pardo que não sabe como perder o aquário que insite em exibir fendas por onde a água turva se escoa a cada movimento circular de cauda e escama);
os galhos secos... carbonizados no derradeiro incêndio.
um beijinho com amizade!
como se as fibras do peito se arrebentassem...
ResponderEliminaroh, e se não rebentam tantas vezes... por isso o peito deixou de ser um tecido e apenas respira pelos dedos das fibras...
ResponderEliminarum beijo, aryane!
Adorei, mas isso não é nenhuma novidade,né?!
ResponderEliminarSempre bom, parabéns.
Beijos de chocolate.
Teca Eickmann
Os incêndios me impressionam, Jorge. Os reais e os metafóricos. :) Tua poesia também me impressiona. Árvores que queimam sob a pele, olhos em chamas... O poema crepta. E quando chegam as chuvas, o poema líquido, como um rio, corre nas veias. Que no poeta tudo é dentro e fora. Tudo "é". beijoS.
ResponderEliminartecka, a tua presença traz sempre consigo a doçura do chocolate :)
ResponderEliminarum beijinho!
nydia, de incêndios sub e sobrecutâneos ou de inundações sub e sobreoculares ninguém mais que os poetas sabe. e nisso sei que és absolutamente expert, poeta!
ResponderEliminarobrigado pelas tuas palavras!
um beijinho!
acreditamos sempre em algo, mesmo que seja apenas um nada
ResponderEliminarJorge,
ResponderEliminarHá um selo (desafio) no meu blogue à tua espera.
Beijinho
Ao longe sibilam :)
ResponderEliminarTens algo à espera no Em@.
ResponderEliminarpensei ter deixado aqui o aviso ontem...mas a minha net anda marada e deve ter ido abaixo na altura do comentário e não ficou.
sobre o poema , comento depois, cuase I'm in a hurry.
beijo
Perfeito e magico.
ResponderEliminarbjs
Insana
acreditar em nada é, apesar de tudo, melhor que em nada acreditar, querida amiga laura.
ResponderEliminarrespondo-te uns segundos depois de nova derrota com o benfica; a segunda consecutiva e um começo de campeonato desastroso. que cachola a minha... será que no campo desportivo ainda posso acreditar? :)
um beijinho!
jb,
ResponderEliminaragradeço a distinção; sinto-me lisonjeado por te teres lembrado do meu/nosso viagens de luz e sombra. oprtunamente replicarei :)
um beijinho!
tantas são as vezes em que até ao perto sibilam... bem perto... até perto de mais...
ResponderEliminarum beijinho, vanessa!
olá, em@!
ResponderEliminarobrigado pelo carinho. vou passar no teu blogue. prometo replicar dentro em breve.
um beijinho!
:)
ResponderEliminarobrigado, insana! um beijinho!
Saudações Jorge,
ResponderEliminarimpressionante toda a composição que você fez
a imagem, de uma mulher com cabeça de aquário com água, e em volta a secura
todo seu poema, e a impotência diante das folhas que carbonizam, no derradeiro incêndio.
e Pink Floyd/The Wall, doido.
Parabéns
beijo
vais, que bom que gostaste. o conjunto apenas faz sentido depois de ser tocado pelos olhos daqueles que connosco interagem e cuja presença consideramos, já, insispensável.
ResponderEliminarum beijinho!
Simplesmente maravilhoso...
ResponderEliminarAdentrei aqui antes e não consesgui comentar de forma com que mostra-se tamanha que foi minha satisfação em ler estes versos...
imenso abraço meu caro!
juan, um abraço para ti. tens uma forma de estar nos blogues com que me identifico profundamente.
ResponderEliminaraté breve, caríssimo!
Jorge Pimenta,
ResponderEliminarpoema grandioso
faz-se sobretudo
ao se findar a leitura dos lábios
fincarem-se raízes na alma
(e em algo ainda mais silencioso).
Este que escreveste
é um deles.
forte abraço,
camarada e amigo.
tantas vezes o maior diálogo se constrói sobre o verbo em silêncio... obrigado por mo recordares neste teu comentário, amigo domingos!
ResponderEliminarum forte abraço!
Muito bom, Jorge..inclusive, não podia ter escolhido música melhor..
ResponderEliminar[]s
Que loucura...
ResponderEliminarRealmente esta árvore
vale por toda uma floresta.
Ouço o galho batendo na janela
Vejo- por uma fresta.
Que música linda...
Que linda festa!
Com carinho
Fátima
rafael, grato pela visita. fico satisfeitíssimo por teres gostado do que aqui viste. quanto a pink floyd e the wall... master piece, verdade?
ResponderEliminarum forte abraço!
fátima, a tua sensibilidade escorre pelas frestas das palavras. engrandeces este espaço com a tua presença.
ResponderEliminarum beijinho!
"Comfortably Numb" é muito do caralho,
ResponderEliminarpoesia e loucura sob medida.
caro amigo, se é, oh se é...
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