domingo, 20 de junho de 2010

intermitência

todo o homem foi um dia
todo o mundo.

no corpo o mel e os jasmins
ordenados num compasso
traçando as linhas do instante.
a cabeça tocava o sol
o coração o eclipse
e todo ele foi nave de seda
e cidade transparente.

todo o mundo foi um dia
todo o homem.

sei que o peixe de fogo
ainda guarda o enigma da felicidade
no fundo do teu olhar
breu líquido
onde só o homem desassossegado sabe chegar.



Interpol, Pioneer to the Falls

refrão:
"And oh you try..
You tried.. straight into my heart
You fly.. straight into my heart
Girl, I know you try...
You fly.. straight into my heart
You fly.. straight into my heart
But here comes the fault (fall)."


45 comentários:

  1. Lindo demais, querido Jorge! Se traz o teu selo de qualidade, amigo, eu não vacilo: compro!
    Hoje estou martelando uns versinhos que envolvem naves e astros e brilhos... Vibramos sempre na mesma frequência e isto, para mim, é motivo de orgulho...
    Grande abraço!

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  2. já estou a programar uma ronda aos blogues logo mais (depois do jogo do brasil no mundial) e, adivinha qual é o primeiro a visitar? :-)
    agradeço-te a invariável simpatia das palavras, amiga!
    um beijinho, querida zélia, e até logo!

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  3. "no fundo do teu olhar
    breu líquido
    onde só o homem desassossegado sabe chegar.."

    Todo mundo seja um dia um só coração...

    Palavras líquidas que só sabem ser escritas
    pela pena de um coração menino...

    Abraços amigo Jorge...

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  4. Somos poeiras de estrela.

    Belo e tocante poema.

    Beijo.

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  5. Lindo lindo!
    essas palavras me fizeram pensar...

    beiijo,
    *.*

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  6. márcia, de novo tu a completares as minhas palavras, fazendo-as ganhar maior amplitude: "todo mundo seja um dia um só coração".
    john lennon, em "imagine", desejou-o. martin luther king defendeu-o. gahdi sonhou-o. a nós, resta suspirar com os pulmões da ilusão.
    um beijinho, querida amiga!

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  7. "somos poeiras de estrela"
    intermitências de acasos sem nome...
    um beijo, lara!

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  8. Parece uma homenagem a Saramago, talvez pelo título, Intermitências. Ou talvez porque, como um dos maiores literatos de língua portuguesa, ele era um desassossegado.

    bjs.

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  9. também saramago foi todo o mundo... porque todo o mundo lhe coube (e continua a caber) na voz, ana.
    um beijinho!

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  10. e que nunca nos falte o desassossego que nos permite mergulhar no breu(apesar do medo), buscando a luz. Ainda que intermitente...

    vou buscar um dicionário para encontrar adjetivos outros para te deixar, porque acho que já repeti demais os belos, os lindos, os maravilhosos (e todos os seus derivados)

    por agora deixo-te este: Encantador! como a tua nave de seda

    beijinho,poeta querido!

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  11. andrea, encantado fico eu com a maciez das tuas palavras e do teu afecto.
    obrigado, querida amiga poeta!
    um beijinho!

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  12. O desassossego é mola de tudo, penso eu, por experiência própria.
    "(...)no fundo do teu olhar
    breu líquido
    onde só o homem desassossegado sabe chegar."
    perfeito.
    beijo

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  13. também assim penso, em@. é pelo desassossego que nos tornamos maiores... ainda que o preço seja alto...
    um beijinho!

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  14. Realmente, hoje meu dia fechou com chave de ouro!

    Primeiro, assisto meu Brasil fazer bonito em campo... Bom demais!...

    Depois, venho até aqui me deslumbrar com as palavras desse amigo poeta Jorge.

    Acho que hoje vou sonhar com mel, jasmins, naves de seda e cidades transparentes... e a culpa vai ser só tua amigo, que desperta minha alma para tais belezas.

    Um grande abraço, e tenha uma ótima semana.

    Cid@

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  15. também estive a assistir do cadeirão a vitória da canarinha, mas confesso que torci pela vitória verde e amarela pensando que quanto mais depressa o brasil se qualificasse, menos concentrados estariam os jogadores no derradeiro jogo... contra portugal :-). daqui a pouco entra em campo a minha selecção, mas... não estou assim tão seguro de que venha a fazer bem...
    um beijinho, cid@!

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  16. Hilda Hist: (cito de memória, com alguma imprecisão) "Quem é está mulher que anda comigo?"

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  17. Amigo e só o homem desassossegado é que bebe o breu amargo!
    Ainda há coisas que valem a pena, acredita!
    Beijo
    Laura

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  18. tudo que vai e volta como uma febre a rondar os sentidos, poema de bela feitura,

    abração

    p.s. Portugal massacrou a Coréia, aqui no Brasil dizemos que sete é conta de mentiroso, rs,rs

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  19. Poema admirável, Jorge, admirável mesmo, com imagens que só você consegue evocar. Uma verdadeira goleada de 7 x 0 no campo da poesia! Fico aqui comemorando esse "intermitência".

    Grande abraço!

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  20. Não sei se és sobrenatural ou divino...

    Beijo-te, poeta de mão cheia !

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  21. vanessa, soubesse eu quem é essa mulher que anda contigo ou este homem que anda comigo... apenas sei que o seu nome é este destemperado desassossego...
    um beijinho!

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  22. pois há, laura. a tua amizade, por exemplo...
    um beijo!

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  23. também me parece, assis. estes 7 são mentirosos, enganam o mais céptico dos adeptos. a prova dos 9 virá sexta-feira contra o grande brasil. aí se verá (embora me convença antecipadamenbte que esse vai ser um jogo de empatas, hihi).
    um abraço!

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  24. marcantónio, mestre nos golos de belo efeito com palavras és tu mesmo. e a tua sequência de poemas é a verdadeira goleada. inspira-me, aliás, mais confiança que a minha selecção. sabes que quando a esmola é grande, o pobre desconfia (assim diz o povo)...
    um abraço, poeta!

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  25. sobrenatural? divino? apenas o homem que um dia tocou o mundo e sabe bem onde ele fica. o pior de tudo... não deixou que ele o habitasse...
    um beijinho, poeta amiga. a sinfonia a duas mãos parece-me que resultou bastante bem. posta-la-êmos em seguida, verdade?
    um beijinho com ternura, cris!

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  26. Estou com a Andrea e repito-me: escasseiam-me os adjectivos para as tuas palavras, Jorge. De deslumbramento em deslumbramento regresso aqui e encanto-me com a tua poesia.

    Mas hoje, a esta hora tardia, assoma-se o meu questionamento de aprendiz de filósofo e debruço-me sobre o teu último verso
    "sei que o peixe de fogo
    ainda guarda o enigma da felicidade
    no fundo do teu olhar
    breu líquido
    onde só o homem desassossegado sabe chegar" e pergunto-me em que medida o atormentado desassossego pode aceder à felicidade? Ou, em que medida o acesso ao enigma da felicidade a que só o questionamento desassossegado, isto é, aquele que "sabe que não sabe" e, por isso, pergunta, questiona, procura, é portador de felicidade? É dúvida ou certeza? É feliz o inquieto que pergunta ou o ignorante satisfeito na sua certeza? É a felicidade um desejo ou a posse? Ou será, pelo contrário, a ausência do desejo e, como tal, a negação da busca, da inquietação, do desassossego? A felicidade é a "praxis" ou a "ataraxia"? E a vida? E o saber? E a verdade? Tantas perguntas e todas filhas da questão primeira que nos faz correr atrás do "breu" do "olhar" "onde só o homem desassossegado sabe chegar" e que Kant retomou da esfinge e fez dela a síntese de todas as pergunta: "o que é o homem?"

    É nela e por ela que aqui andamos neste desassossego e que os poetas como tu nos vão ajudando a alimentar.

    Abraço.
    Ps: desculpa o alongamento do comentário.

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  27. Belissimo poema meu caro...

    Interpol é uma das bandas que mais curto, fui no show deles ano passado...

    Imenso abraço!

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  28. juan, interpol é também das minhas bandas preferidas. anseio pela sua vinda a portugal há tanto tempo... recordam-me os acordes melancólicos de joy division, a imortal banda de ian curtis...
    um abraço, caro amigo!

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  29. jad, ainda estou a recuperar o fôlego depois da tua intervenção.
    certezas? se eu as tivesse, caro amigo... se nós as tivéssemos...
    ainda assim, a última estrofe desejei-a assertiva (que não definitiva), porque fundada no principal barómetro de aferição da realidade: a experiência.
    não procuro absolutos, nada sei sobre as verdades, mas nesta (des)construção daquilo a que se pode chamar de projecto individual, procuro manter uma atitude desassossegada e até céptica relativamente àquilo com que me deparo. apenas articulando o que de melhor e pior tenho com o percepcionado poderei chegar a conclusões. se este processo é o mais válido e conducente à felicidade? talvez não... creio mesmo que a felicidade se mede em função das expectativas de cada um e quanto menos desassossegados formos, mais facilmente aceitamos o que é como certo, como arquétipo de felicidade.
    eu, pessoalmente, julgo ter estado já muito perto desse conceito, mas por tanto o questionar e procurar avaliar, acabei por o deixar fugir... ou não... quem sabe está apenas escondido atrás da porta e amanhã, quando me levantar, o reencontre... sei lá... continuo a aguaradr, em todo o caso...
    um abraço!

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  30. Dando uma passadinha para conhecer vc.
    Adorei teu blog! Belíssimo! Assim como o dono! Gatão rsssss.
    Adoro conhecer o lado masculino da vida.
    Se puder visita meu cantinho tb!
    Vou te seguir ... Adoro pessoas inteligentes, observadoras, guerreiras e sensíveis!
    Bjs doces!

    *´¨)
    ¸.·´¸.·*´¨) ¸.·*¨)
    (¸.·´ (¸.·` *♥ Jussara Christina ♥*♥*♥*♥*♥*♥*♥*♥*♥

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  31. naty e carlos, sejam bem-vindos!
    um abraço a ambos!

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  32. jussara, usando um registo próprio de desse lado do oceano: "assim fico meio sem jeito, né? :-)".
    obrigado pela tua visita e pelas palavras-carinho com que me distinguiste. já passei pelo teu blogue; exala bom gosto, é muito feminino e tem grande personalidade.
    um beijo!

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  33. Amo ler você,
    me causa uma ...
    paz !

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  34. Jorgíssimo,
    Saramago e Pessoa sim intermitentes aqui: breu líquido e desassossego...

    Abraço ininterruptante,
    Pedro Ramúcio.

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  35. sarah, o teu "escondido" é ponto de paragem obrigatória nas minhas deambulações pela net. devolvo a sensação: adoro as emoções que transpiram da tua escrita!
    um beijo!

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  36. pedro, saramago e pessoa presentes, ininterruptos e sempre água escorrendo no peito daqueles que amam a escrita das palavras e a que sabem viver bem para lá delas!
    um abraço!

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  37. Duas palavras são soltas...
    e quando lemos, parecem que elas fluem naturalmente.
    Cada um tira para si o que lhe convém..
    isso é um dom!
    Fico maravilhada.

    E gostei da música tb, me deixou melancolica, mais eu adoro isso!
    Beeijos!!!

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  38. rízia, oxalá alguma coisa nelas te convenham... as tuas, agarro-as, sempre, por inteiro.
    um beijinho!
    p.s. a música é de uma banda que filtra as cores do espectro cromático e as passa por um crivo cinzento e urbano, onde a melancolia é o pincel e os olhos molhados o artista. interpol, à boa maneira dos inesquecíveis joy division.

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  39. Olá, Jorge P.

    Magnífico este esta poesia. Um dia, o Mundo foi apenas um Homem, antes de ser muitos... não é curioso?? Um Homem apenas na abóbada desta Terra! Teria ele, a chave da felicidade? Mas alguma coisa ele deve ter errado, que ao criar tantos homens, acabaram ficando longe da Felicidade.
    - isto não quer dizer que a felicidade, está apenas e só dentro de um homem no meio de uma ilha... quer dizer, que a quantidade de homens, afasta-os da noção da real felicidade. Ouvi dizer, que muitos séculos depois, quando os homens já nem sabiam o real sentido da felicidade, que qualquer papel caído no chão, já era felicidade... mas os peixes de fogo, que tu mencionaste, queimava-os instantaneamente, porque eles não percebiam nada... -
    Bem, já dei asas à imaginação... e teus poemas são cheios de imaginação que permitem sonhar sobre a imaginação... - risos -

    Boa Música!!


    Abrç

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  40. acho especialmente interessante o modo como agarras em partículas esparsas dos textos e os coses às tuas tecituras, bordando tu própria um texto. magnífico. obrigado por experimentares esse exercício aqui. lisonjeias-me com isso.
    um abraço, nãosoueuéaoutra!

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  41. Belissimo poema e música inspiradora. =)

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  42. olá, kenia! obrigado pela visita e pelas palavras!
    um abraço!

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  43. Jorge, querido,
    Te escrevi uns quatro comentários, que só no "dédalo" percebi que precisavam de confirmação das letras lá embaixo, bem no final da página. Agora nem sei o que chegou aí ou não. :( Vou esperar as suas aprovações pra poder reescrever o que porventura tenha sido engolido pelo vácuo.
    Resolvido o problema cibernético aqui, estou inteira e de volta.
    Um beijo pra você

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  44. ainda bem que está resolvido, sylvia. é bom ter-te pela blogosfera a tempo inteiro :-).
    um beijinho!

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