dentro,
suspende o seu movimento
privado da nudez
que embriagou o umbigo do medo.
está fria
devoluta
e até as metáforas
encardem na sujidade do passado.
fora,
pássaros de veludo
e cães embalsamados
afogam a ilusão
de um deus presente nos versos.
a meio caminho
tu e eu
perdidos no endereço e na chave
acabámos por envelhecer fora do tempo
(e este temporal que não cessa…).
sexta-feira, 11 de junho de 2010
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A casa somos nós.
ResponderEliminar"perdidos no endereço e na chave"
ResponderEliminarLindo poema! Vejo uma casa que guarda mistérios, e lá fora o horizonte não parece ser tão mais claro, nem menos desafiador. Além de tudo, ainda há o meio do caminho.
Obrigada pelos comentários, o último me fez sorrir =).
Beijos.
Hoje, escrevi sobre o que nos abocanha e alonga... - Seu poema é um desses casos. ;)
ResponderEliminarBeijos
Os números também não são o meu forte, amigo.
ResponderEliminarEntão, você vai ter que voltar lá no mosaicos prá ver que não tem nada de número naquele desafio...:)
Quanto ao seu poema, Jorge, achei belíssimo.
Parece mesmo que estamos sempre a "meio caminho" de tudo, e é por isso que às vezes nos perdemos.
Afinal, o que é o tempo???
Como é na verdade a passagem do tempo???
Acho, que nós passamos por ele, mas ele na verdade, está sempre fixo, para todo o sempre.
Já parei de me preocupar com ele (assim, quem sabe, ele me esquece...rs)
Tenha um excelente final de semana, meu amigo.
E que este temporal cesse finalmente...;)
Cid@
e esse temporal que não cessa, poeta?
ResponderEliminarenvelhecemos com a chuva, a casa às escuras... envelhecemos apesar do poema bonito e dos dias de sol que ainda hão de vir.
abraço deste que tanto te admira,
o
roberto.
envelhecer fora do tempo,
ResponderEliminarfico criando a imagem dentro de um vácuo, e é como se houvesse um hiato entre as sensações, um gesto paralisado, e uma chuva que sempre se renova,
abração
Algo mudou aqui...
ResponderEliminarJorge,
ResponderEliminar"Metáforas encardem na sujidade do passado."
Gosto das tuas metáforas, oras.
Abraço metafísico,
Pedro Ramúcio.
Que beleza isso! O interior, o exterior e entre eles uma outra face onde prossegue o temporal. Envelhecer fora do tempo? Sina da maioridade.
ResponderEliminarEu diria, Jorge, que você é um tradutor de atmosferas densas, que se pretendem refratárias às palavras, mas que acabam por se render.
Abraço!
Essas casas que nos habitam e não que habitamos. Havemos de tocá-las, reconhecê-las, quem sabe, redimi-las. A música é especial, abre-nos os poros da alma para a leitura.
ResponderEliminarUm beijo..
sem dúvida, vanessa: a casa somos nós. por isso tem interior, exterior e trilho de comunicação entre ambos os espaços. apenas falta o reconhecimento do endereço e ter a chave... torna-se inútil, assim...
ResponderEliminarum beijinho!
estive lá, li e confirmo, lou. nas pulgas do concreto que abocanham e alongam bem para além da pele. eis a única certeza: nem sempre estamos completos nem somos só metades (inteiros ou desertos, no teu dizer); nem sempre somos a casa nem só o caminho. feliz ou infelizmente (sei lá...).
ResponderEliminarum beijo, lou!
olá, cais de poeta! :-)
ResponderEliminarnão há casa nenhuma que não guarde segredos, porque ora está desabitada (e nada mais misterioso que o vazio...), ora acolhe o maior mistério da existência: o ser humano. tantas vezes é no caminho que estes são desvendados (mesmo que na ausência da chave e da morada...).
um beijinho, lara!
tens razão, cid@: talvez o tempo seja uma montanha estática e nós a caravana que a atravessa... pelo menos na poesia podemos iludi-lo...
ResponderEliminarum abraço!
entre a chuva e os dias de sol, entre a casa às escuras e o poema, uma só certeza: a de que há caminho e pernas para iluminar!
ResponderEliminaras tuas palavras são sempre tónicos de vida e luz, querido amigo roberto!
um abraço desde braga (onde o temporal já deu tréguas e o sol espreita, tímido, por detrás do bom jesus).
fora do tempo... lá onde tudo se torna possível e desejável, verdade assis?
ResponderEliminarum abraço, amigo!
e eu da tua presença (sobre a tua poesia nem vale a pena falar; grande, como tu, pedro!).
ResponderEliminarum abraço (meta)físico!
tudo muda, aryane... aqui e aí, agora e fora do tempo...
ResponderEliminarum abraço!
marcantónio, as atmosferas densas são cabos eléctricos que mergulham nas águas que lavam o ser... esta é a epilepsia que nos fita, toca, agarra, contorce e apenas não destrói porque a poesia vive para lá desta trincheira. um abraço, poeta!
ResponderEliminarcreio bem teres tocado na chave do texto, ana: a inversão das lógicas que atinge o seu paroxismo nesta casa que perde o seu sentido genesíaco deixando de ser habitada e passando a habitar. habita-nos, mesmo que apenas desejemos o céu como tecto e o sol como luz...
ResponderEliminarum beijinho!
ah, esta música... stuart staples... tindersticks... são, para mim, bálsamo único!
"...acabámos por envelhecer fora do tempo"
ResponderEliminarpalavras tecidas a fio de veludo... como sempre belas, amigo!
A música não conhecia, adorei, e as imagens são lindas.
Beijinho!
que bom ter-te por aqui, andy! este blogue é teu, também, e sei que o sentes assim.
ResponderEliminarum beijinho!
Gosto das metáforas que constróis,
ResponderEliminare o verso final foi de mestre.
beijinho
Jorge, fiquei aqui pensando no que te dizer sobre a casa, o envelhecer fora do tempo, o temporal que não cessa...
ResponderEliminaressa casa que é nossa e não habitamos, a casa que nos habita...
como pode ser assim? encontrar um lar que mora dentro de nós e onde não conseguimos morar?
não entendo. não acho que tenha que entender.
e esse temporal que assola os sentidos...
mas há momentos em que ele acalma, e sabemos que o sol ainda está lá...vai sempre estar, e cedo ou tarde, há de fazer céu azul
teus versos são belos e me tocam como se os tivesses dito olhando para o que me há por dentro
(estes dias tenho estado deveras cansada, fragilizada, nem sei bem por que motivo...tudo me toca com muito mais intensidade)
um beijo pra ti, querido amigo poeta!
olá, em@!
ResponderEliminara metáfora carrega todos os mundos vividos, sentidos, ditos, sugeridos, suspirados, desejados, exorcizados... a minha relação com a metáfora é justamente essa: a de tornar possível o que de outra forma o não seria.
obrigado pelo carinho das tuas palavras.
um beijinho!
querida andrea,
ResponderEliminartantas são as casas que nos habitam sem serem habitadas... é a velha relação conteúdo/continente que, em si mesma, se torna injusta e desequilibrada. por que tem de haver sempre esta relação desproporcionada entre um que faz e outro que se deixa fazer, entre um que vê e outro que é visto, entre um que escreve e o outro que lê, entre um que ama e o outro que se deixa (ou não) amar...
talvez a casa esteja a rebelar-se contra séculos de uma tradição em que foi habitada sem que nos deixássemos por ela habitar...
ainda assim, e como bem dizes, quero acreditar que há vida para lá das suas paredes e que entre o lado de dentro e o de fora ainda é possível estendermo-nos na relva ou caminharmos a passos soltos no caminho que se estende entre a montanha e a foz, sem que uma pretenda ser mais valiosa que a outra.
um beijinho, doce amiga-poeta!
Dentro, fora, no meio; teus poemas são um prato cheio pro anseios...
ResponderEliminarBeijo-te!
e as tuas palavras, cris, o sorpo que percorre os pulmões, impregnando os poemas de vida.
ResponderEliminarum beijo!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO que há por dentro... Um mundo, um abismo, uma "casa"... Que nos prende , e nos afasta de todo externo !
ResponderEliminar*-*
e neste balanço de proximidade/afastamento, a casa penetra dentro de nós, alastrando-se nas veias cada vez mais hirtas e rígidas, incapazes de suster o vulcão de pedra que as injecta... o sangue? há muito seco nas paredes...
ResponderEliminarum beijinho, sara!
lindo texto!
ResponderEliminarobrigado, grafite!
ResponderEliminarum beijinho!
Jorge, meu querido
ResponderEliminarOntem saí a passeio, empunhando câmera fotográfica. O que mais queria mesmo, era imagens de casas. Fui, então, ao campo, onde proliferam construções antigas. A cada foto, eu fazia uma reflexão acerca da vida já transcorrida ali...
Casa é um tema fascinante para mim, e você, expert, com pinceladas precisas e harmoniosas, desenha um quadro mais do que instigante neste teu maravilhoso poema...
Jorge Pimenta, num de seus melhores momentos!!!
Parabéns, meu especial amigo!
Beijinhos...
zélia, a tua doçura é sentida por mim de modo sempre muito especial. obrigado, querida amiga e poeta!
ResponderEliminarum beijinho enorme!
p.s. poderei ver algumas dessas fotos? :-)
obrigado, alexandre! seja bem-vindo!
ResponderEliminarum abraço!
Jorge, nãoi te tinha dito que o album de Tindersticks é espetacular?? :D!!!
ResponderEliminarQuanto à casa, coloca-lhe o letreiro VENDE-SE ou então DÁ-SE!!! :D!
Beijos
Laura