segunda-feira, 14 de junho de 2010

dédalo

Minotauro no labirinto (mosaico romano, Conímbriga)

é cá dentro
que os nossos jardins
morrem como labirintos.
são ramos escondidos
água quebrada
e flores desligadas
assistindo à erupção vulcânica
enquanto os poemas nos anoitecem nas mãos
(nas nossas mãos).

toda a escrita espera um minotauro
e nem a raiz que respira dentro de nós
sustenta a tempestade de areia.

é vento. é frio. é noite. é a tábua cruzada.

e o álcool louco envenenando a língua
como brincos de cereja nas tuas orelhas.
e as palavras ébrias entumecendo na boca
como versos corcundas de não saber-dizer.

olha,
eu queria descobrir
em que parte do labirinto estendeste o cordel
para não ter de esperar
por outra vida inteira...

44 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá... estive lendo o que escreveu nesta ultima postagem. E, mesmo que não comente, estou acompanhando o que escreve. Vá ao meu www.queriaserselvagem.blogspot.com e procure, no mês de Fevereiro, "A minha luta". Deixe lá o seu comentário.

    Vá tambem até ao www.congulolundo.blogspot.com

    Leia, comente e divulgue.

    Um grande abraço, siga-me que eu o seguirei.

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  3. São por coisas desvendadas em palavras assim que os nossos jardins não se cobrem de lava.

    Beijos.

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  4. maravilha Jorge, muito belo, labiríntico,

    abraço

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  5. Primeiramente amigo, devo lhe dizer que amei a imagem do "mosaico" romano... posso levar prá mim?...;)

    O problema, Jorge, é que às vezes, nem que se viva uma vida inteira, nos deparamos com o tal cordel. Damos voltas, voltas, e mais voltas... que no final das contas são mais do que necessárias, pois, penso eu, é só percebendo o erro, voltando e indo em frente novamente, com esperanças renovadas no coração, que a gente vai "tirando a vida de letra".

    Boa copa do mundo prá você, e que vença o melhor!...rs

    Cid@

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  6. Jorge querido

    "É cá dentro que nossos jardins morrem como labirintos."
    Ai, amigo, quantos jardins mortos!
    Zé Ramalho escreveu;" Há tantas violetas velhas sem um colobrí"...
    A imagem de um jardim morto é de uma profundide enorme, pois é, já , uma tragédia, a morte de uma só flor...
    E tudo acontece enquanto "os poemas nos anoitecem nas mãos"...
    E Minotauro, que não chega logo, que se faz esperar, só para nos ver mergulhados na agonia!
    E é vento, é frio, é noite, e é tábua cruzada fechando tudo...
    Meu querido: como forjaste tanta coisa linda? Como forjaste tudo isso?

    Beijinhos

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  7. Estámos metidos em labirintos, que nem sei se fomos nós que os construímos.
    Esquece o cordel, segue por onde te apetece!
    Beijo
    Laura

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  8. Jorge, a escrita diante de nossos labirintos e minotauros. Seria o fio de Ariadne? Ou o contrário, quanto mais escrevemos mais nos perdemos. Em que parte do labirinto estendes o cordel? A palavra talvez saiba. Querido poeta, tua poesia cheia de enigmas é uma peróla.

    bjs!

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  9. lou, o pior dos enigmas é aquele que nós mesmos erguemos... conhecemos a sua matriz mas não a sua solução...
    um beijinho!

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  10. olá, josé, tenho acopanhado a sua produção em ambos os blogues. parabéns! agradeço-lhe a simpatia da visita e das palavras!

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  11. querida amiga andy, desta vfez deu-me para os labirintos que tantas vezes deixamos urdir galerias dentro de nós...
    um beijinho!

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  12. nada labiríntica, porque luminosa e sempre especial, a tua presença por aqui, assis. sempre.
    um abraço!

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  13. este "mosaico" é uma reprodução de conímbriga, as ruínas romanas da cidade de coimbra, uma das mais charmosas de portugal. é mais fácil lidar com os labirintos gravados na pedra do que nos escondidos no coração, verdade, cid@?
    estamos quase a dar o pontapé de saída. daqui a uma hora, portugal; daqui a cinco o brasil. como disse ao ramúcio, há tempos, no derradeiro jogo, quando se encontrarem, talvez as duas selecções já nem precisem do resultado. desejavelmente...
    um beijinho!

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  14. lara, e as tuas palavras, então, são o mais perfeito dos jardins... sempre em suspensão... numa nova babilónia.
    um beijinho!

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  15. querida amiga zélia, qual é o labirinto que não tem um minotauro? qual o minotauro que não devora as flores? quais as flores que não se amarrotam nos jardins? quais os jardins que encontram o seu cordel?... qual o cordel que se deixa achar pela mão do ser agonizante que, num qualquer momento, se desperdiça dentro de nós?...
    um beijinho!

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  16. sigo, sim, laura! fecho os olhos e rompo a direito, na certeza de que por detrás desta tempestade de betão se estende o mar que espera por mim, por ti, por todos os que ainda procuram...
    um beijo sentido!

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  17. "Em que parte do labirinto estendes o cordel?"
    soubesse eu, ana... soubesse, e talvez não lhe conseguisse tocar, em todo o caso. é que o labirinto é de vidro e o cordel apenas reflexo do lado de fora...
    também, que importa? como diz valter hugo mãe, "não sossegues o homem"...
    beijinho!

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  18. Caro Jorge,

    Vim reler o poema e, creia, acho que excluí o comentário indevidamente. (:o

    Enfim, o que importa é que já havia sido lida e atenciosamente respondida. rsrs

    Abraços

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  19. queria também eu saber onde está o cordel deste labirinto, mas penso se o saberia seguir...
    entanhamo-nos sempre na busca de um minotauro, mas depois de perdidos, já não sei se importa se o encontramos, se ele nos devora...só queremos um sentido

    lindo esse teu poema, e tenho certeza, há em ti jardins em imensos terraços para o mundo

    beijo imenso, poeta!

    (Fico com essa frase na cabeça: "toda a escrita espera um minotauro")

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  20. rapaz,
    essa imagem dos brincos de cereja ficou gravada...
    o poemav quando tatua no leitor uma imagem ou um sentimento, veio pra ficar.

    como a nossa amizade, bardo de braga!

    abração deste
    lá das montanhas, o
    r.

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  21. Original, ondulado, onírico...

    Beijos do mar!

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  22. Adoro o frio, adoro o vento, adoro a noite,
    funciono melhor com eles!

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  23. li o comentário, sim, lou, e mesmo tendo desaparecido do blogue, está bem presente no meu coração. um beijinho e um agradecimento muito especial!

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  24. andrea, em toda a escrita há um minotauro, mas também o mais puro dos anjos. como convivem? (soubesse eu a resposta...).
    assim é o ser humano: uma onda hertziana que se propaga no vácuo, ora subindo, ora descendo, sem nunca, todavia, parar.
    "jardins em imensos terraços para o mundo" (imagem incrivelmente bela) tens tu, que pareces tocar as palavras com dedos sobrenaturais!
    um abraço!

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  25. as cerejas, não sendo dos meus frutos predilectos, são, sem dúvida, dos que mais povoam o meu imaginário: pela cor, pela forma, mas, sobretudo, por os associar a tardes em que eu, quando garoto, trepava às árvores da aldeia dos meus avós com a aventura das cerejas a bailar nos olhos. ainda hoje não resisto a tocar-lhes, a pendurá-las nas orelhas da minha pequena Maggie, ou simplesmente a sentir a sua textura quase tão aveludada quanto a da pele da mulher que nos sabe sorrir.
    um abraço com cerejas nas pontas dos dedos, amigo roberto!

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  26. o poema desfalece no colo dos sentidos com as palavras que sobre ele pousas, querida cris!
    um beijo de aquém-mar!

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  27. adoro o frio, mas não passo sem o calor. adoro o vento, mas procuro o sol. adoro a noite, mas sei que também irradia luz. como os poemas, afinal: ditos e não ditos, mas, num e noutro caso, plenos sentidos.
    um beijinho, sarah!

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  28. olha,
    eu queria descobrir
    em que parte do labirinto estendeste o cordel
    para não ter de esperar
    por outra vida inteira...

    Sempre gosto dos teus finais sem final.

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  29. Jorge, o fio do sentido é um guia supérfluo para sair desse labirinto de magníficas imagens que você criou. Afinal para que sair? Tão satisfeitos ficam os olhos e os ouvidos perdidos nele!
    Quem não gostaria de ter escrito versos como "toda a escrita espera um minotauro" ou "como versos corcundas de não saber-dizer"? Fora os brincos de cereja que o Roberto mencionou.
    Adiemos a fuga pelas asas.

    Grande!

    Abração!

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  30. Bom dia, Jorge.

    Cada vez mais deslumbrado com as palavras que vais pendurando como cerejas e que vamos a preciando e comendo. Lembras-te da "poesia é para comer" da Natália Correia? E não dizemos que as palavras são como as cerejas"?Pois, cá está! Comamos, saciemo-nos com as palavras que dizem o silêncio: a poesia.

    Abraço

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  31. Belo post ! Adorei a imagem, fiquei a pensar...

    beiijo
    *.*

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  32. no dia em que a poesia fechar portas e não as abrir perde toda a sua magia e auto-destruir-se-á, verdade, vanessa? nenhum final de poema poder ter final; antes recomeços.
    obrigado pelo carinho das tuas palavras!
    um beijo!

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  33. adiemos a fuga pelas asas, sim, marcantónio. afinal, se a vida também não é uma linha recta, por que razão haveríamos de renunciar aos labirintos que escorrem pelos vidros onde encostamos o rosto naquelas manhãs macilentas de outono?... no dia em que o fio de ariadne desaparecer, as asas levar-nos-ão para lá do horizonte. como com ícaro, filho de dédalo. e todos os regressos serão possíveis.
    um abraço, caro amigo e poeta!

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  34. Meu caro minhas desculpas pela minha ausência em seu espaço nos últimos dias...

    É que tive uns problemas e nõa conseguir ter acesso à internet!

    abraço

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  35. caro jad, se me lembro da natália correia... aquele seu estilo inconfundível, quer no hemiciclo, quer declamando poesia, vivendo apaixonadamente as palavras como se nelas estivesse a sua própria vida. há dias, na livraria centésima página, tive a sua antologia poética nas mãos e bem me senti tentado a levá-la para casa... não foi nesse dia, mas tê-la é seguramente uma questão de tempo.
    um abraço e cerejas!

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  36. caro juan,
    percebi que tens andado ausente, pois sempre que te visitava, percebia que não havias movimentado o teu blogue. que esteja tudo bem é o que desejo. um abraço e bom regresso!

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  37. Jorge, cá estava eu lendo um livro de poesias e deparo-me com Al Berto, num poema que instantaneamente me remeteu a este teu labirinto
    por isso deixo-o aqui:

    "de labirinto em labirinto
    construí o tempo de imperceptíveis gestos
    no ouro da memória tecia o minotauro
    tatuado a néon sobre o ombro
    depois
    por entre fumos de haxixe cresceram as cabeças
    das leoas de Delos hirtas
    nenhum sofrimento nos atingia
    quando apertei a mão de meu amigo
    e o levei pelo sono do mar
    onde se levanta um corpo
    capaz de paralisar de alegria o coração

    parámos de nos contar histórias antigas
    mas a sedução do minotauro permanecia
    e falámos tanto que me esqueci de te dizer
    uma ave sangra sob os passos
    onde a cinza rubra de fogueira extinta
    reacende um desejo que nos murmura

    quando morrerdes o amor dispersar-se-á
    e flor nenhuma como Narciso Adónis ou Jacinto
    vos recordará

    fomos em silêncio pelas ruínas da ilha
    não encontrámos água
    bebemos os poemas e a paixão
    bebemos sôfregos o vento ardente
    até perdemos o sentido das palavras
    e cada vez mais sós debruçados para a noite
    dos oráculos insones entre crepúsculo e alba
    nenhuma saída se vislumbrava"

    (preciso dizer-te que acho o teu ainda mais belo)
    beijo pra ti

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  38. querida amiga andrea, al berto deixa-me sempre sem fôlego... sei o quão gentil és, mas comparar o meu "dédalo" a esta obra-prima é pôr a torre dos clérigos ao lado da torre de pisa :-). registo o carinho, em todo o caso.
    um beijinho grande para ti! é sempre especial a tua presença!

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  39. Jorge, al berto é sem dúvida um gigante da poesia, desses que nos tiram o ar.
    mas não seja modesto, teu poema é excelente e, se digo preferí-lo não é apenas por carinho a ti (que na verdade nem sou pessoa de rasgar seda), mas porque foste tu a escrever palavras assim:
    "toda a escrita espera um minotauro
    e nem a raiz que respira dentro de nós
    sustenta a tempestade de areia" e "os brincos de cereja" e os "versos corcundas de não saber-dizer"

    e estas palavras tatuaram-se em mim
    é imenso teu dom com as palavras, poeta! nunca duvide ou negue isso.

    beijinho

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  40. obrigado, andrea. permite-me que me comova em silêncio...
    um beijinho com todo o carinho!

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  41. "versos corcundas de não saber-dizer."
    Ai, Jorge, esses quando me vêm me sangram tanto...

    Eu vi tudo desenhado aqui, dançando bem na minha frente. E te juro que não queria ter visto: cortou-me as heras do labirinto - e olhando assim, limpo-limpo, ele me parece enorme. E agora, José?

    Beijo, poeta!

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  42. Querido Jorge,
    Ao percorrer teus poemas antigos, numa incrível descoberta de achados-e-perdidos, uma sensação arrebata, repercute e instiga: em que parte destas entrelinhas escondeste tênue cotão. E a procura parece não ter fim... envolves cada brecha na ambiguação e explicitação, na possibilidade do confronto com o minotauro.
    Muitíssimo obrigado pela grandeza destes poemas "entre a ampulheta e a areia".
    :)beijo:)

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