Minotauro no labirinto (mosaico romano, Conímbriga)
é cá dentro
que os nossos jardins
morrem como labirintos.
são ramos escondidos
água quebrada
e flores desligadas
assistindo à erupção vulcânica
enquanto os poemas nos anoitecem nas mãos
(nas nossas mãos).
toda a escrita espera um minotauro
e nem a raiz que respira dentro de nós
sustenta a tempestade de areia.
é vento. é frio. é noite. é a tábua cruzada.
e o álcool louco envenenando a língua
como brincos de cereja nas tuas orelhas.
e as palavras ébrias entumecendo na boca
como versos corcundas de não saber-dizer.
olha,
eu queria descobrir
em que parte do labirinto estendeste o cordel
para não ter de esperar
por outra vida inteira...
segunda-feira, 14 de junho de 2010
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá... estive lendo o que escreveu nesta ultima postagem. E, mesmo que não comente, estou acompanhando o que escreve. Vá ao meu www.queriaserselvagem.blogspot.com e procure, no mês de Fevereiro, "A minha luta". Deixe lá o seu comentário.
ResponderEliminarVá tambem até ao www.congulolundo.blogspot.com
Leia, comente e divulgue.
Um grande abraço, siga-me que eu o seguirei.
Lindo...
ResponderEliminarBeijinho, amigo.
São por coisas desvendadas em palavras assim que os nossos jardins não se cobrem de lava.
ResponderEliminarBeijos.
maravilha Jorge, muito belo, labiríntico,
ResponderEliminarabraço
Primeiramente amigo, devo lhe dizer que amei a imagem do "mosaico" romano... posso levar prá mim?...;)
ResponderEliminarO problema, Jorge, é que às vezes, nem que se viva uma vida inteira, nos deparamos com o tal cordel. Damos voltas, voltas, e mais voltas... que no final das contas são mais do que necessárias, pois, penso eu, é só percebendo o erro, voltando e indo em frente novamente, com esperanças renovadas no coração, que a gente vai "tirando a vida de letra".
Boa copa do mundo prá você, e que vença o melhor!...rs
Cid@
Jorge querido
ResponderEliminar"É cá dentro que nossos jardins morrem como labirintos."
Ai, amigo, quantos jardins mortos!
Zé Ramalho escreveu;" Há tantas violetas velhas sem um colobrí"...
A imagem de um jardim morto é de uma profundide enorme, pois é, já , uma tragédia, a morte de uma só flor...
E tudo acontece enquanto "os poemas nos anoitecem nas mãos"...
E Minotauro, que não chega logo, que se faz esperar, só para nos ver mergulhados na agonia!
E é vento, é frio, é noite, e é tábua cruzada fechando tudo...
Meu querido: como forjaste tanta coisa linda? Como forjaste tudo isso?
Beijinhos
Estámos metidos em labirintos, que nem sei se fomos nós que os construímos.
ResponderEliminarEsquece o cordel, segue por onde te apetece!
Beijo
Laura
Jorge, a escrita diante de nossos labirintos e minotauros. Seria o fio de Ariadne? Ou o contrário, quanto mais escrevemos mais nos perdemos. Em que parte do labirinto estendes o cordel? A palavra talvez saiba. Querido poeta, tua poesia cheia de enigmas é uma peróla.
ResponderEliminarbjs!
lou, o pior dos enigmas é aquele que nós mesmos erguemos... conhecemos a sua matriz mas não a sua solução...
ResponderEliminarum beijinho!
olá, josé, tenho acopanhado a sua produção em ambos os blogues. parabéns! agradeço-lhe a simpatia da visita e das palavras!
ResponderEliminarquerida amiga andy, desta vfez deu-me para os labirintos que tantas vezes deixamos urdir galerias dentro de nós...
ResponderEliminarum beijinho!
nada labiríntica, porque luminosa e sempre especial, a tua presença por aqui, assis. sempre.
ResponderEliminarum abraço!
este "mosaico" é uma reprodução de conímbriga, as ruínas romanas da cidade de coimbra, uma das mais charmosas de portugal. é mais fácil lidar com os labirintos gravados na pedra do que nos escondidos no coração, verdade, cid@?
ResponderEliminarestamos quase a dar o pontapé de saída. daqui a uma hora, portugal; daqui a cinco o brasil. como disse ao ramúcio, há tempos, no derradeiro jogo, quando se encontrarem, talvez as duas selecções já nem precisem do resultado. desejavelmente...
um beijinho!
lara, e as tuas palavras, então, são o mais perfeito dos jardins... sempre em suspensão... numa nova babilónia.
ResponderEliminarum beijinho!
querida amiga zélia, qual é o labirinto que não tem um minotauro? qual o minotauro que não devora as flores? quais as flores que não se amarrotam nos jardins? quais os jardins que encontram o seu cordel?... qual o cordel que se deixa achar pela mão do ser agonizante que, num qualquer momento, se desperdiça dentro de nós?...
ResponderEliminarum beijinho!
sigo, sim, laura! fecho os olhos e rompo a direito, na certeza de que por detrás desta tempestade de betão se estende o mar que espera por mim, por ti, por todos os que ainda procuram...
ResponderEliminarum beijo sentido!
"Em que parte do labirinto estendes o cordel?"
ResponderEliminarsoubesse eu, ana... soubesse, e talvez não lhe conseguisse tocar, em todo o caso. é que o labirinto é de vidro e o cordel apenas reflexo do lado de fora...
também, que importa? como diz valter hugo mãe, "não sossegues o homem"...
beijinho!
Caro Jorge,
ResponderEliminarVim reler o poema e, creia, acho que excluí o comentário indevidamente. (:o
Enfim, o que importa é que já havia sido lida e atenciosamente respondida. rsrs
Abraços
queria também eu saber onde está o cordel deste labirinto, mas penso se o saberia seguir...
ResponderEliminarentanhamo-nos sempre na busca de um minotauro, mas depois de perdidos, já não sei se importa se o encontramos, se ele nos devora...só queremos um sentido
lindo esse teu poema, e tenho certeza, há em ti jardins em imensos terraços para o mundo
beijo imenso, poeta!
(Fico com essa frase na cabeça: "toda a escrita espera um minotauro")
rapaz,
ResponderEliminaressa imagem dos brincos de cereja ficou gravada...
o poemav quando tatua no leitor uma imagem ou um sentimento, veio pra ficar.
como a nossa amizade, bardo de braga!
abração deste
lá das montanhas, o
r.
Original, ondulado, onírico...
ResponderEliminarBeijos do mar!
Adoro o frio, adoro o vento, adoro a noite,
ResponderEliminarfunciono melhor com eles!
li o comentário, sim, lou, e mesmo tendo desaparecido do blogue, está bem presente no meu coração. um beijinho e um agradecimento muito especial!
ResponderEliminarandrea, em toda a escrita há um minotauro, mas também o mais puro dos anjos. como convivem? (soubesse eu a resposta...).
ResponderEliminarassim é o ser humano: uma onda hertziana que se propaga no vácuo, ora subindo, ora descendo, sem nunca, todavia, parar.
"jardins em imensos terraços para o mundo" (imagem incrivelmente bela) tens tu, que pareces tocar as palavras com dedos sobrenaturais!
um abraço!
as cerejas, não sendo dos meus frutos predilectos, são, sem dúvida, dos que mais povoam o meu imaginário: pela cor, pela forma, mas, sobretudo, por os associar a tardes em que eu, quando garoto, trepava às árvores da aldeia dos meus avós com a aventura das cerejas a bailar nos olhos. ainda hoje não resisto a tocar-lhes, a pendurá-las nas orelhas da minha pequena Maggie, ou simplesmente a sentir a sua textura quase tão aveludada quanto a da pele da mulher que nos sabe sorrir.
ResponderEliminarum abraço com cerejas nas pontas dos dedos, amigo roberto!
o poema desfalece no colo dos sentidos com as palavras que sobre ele pousas, querida cris!
ResponderEliminarum beijo de aquém-mar!
adoro o frio, mas não passo sem o calor. adoro o vento, mas procuro o sol. adoro a noite, mas sei que também irradia luz. como os poemas, afinal: ditos e não ditos, mas, num e noutro caso, plenos sentidos.
ResponderEliminarum beijinho, sarah!
olha,
ResponderEliminareu queria descobrir
em que parte do labirinto estendeste o cordel
para não ter de esperar
por outra vida inteira...
Sempre gosto dos teus finais sem final.
Jorge, o fio do sentido é um guia supérfluo para sair desse labirinto de magníficas imagens que você criou. Afinal para que sair? Tão satisfeitos ficam os olhos e os ouvidos perdidos nele!
ResponderEliminarQuem não gostaria de ter escrito versos como "toda a escrita espera um minotauro" ou "como versos corcundas de não saber-dizer"? Fora os brincos de cereja que o Roberto mencionou.
Adiemos a fuga pelas asas.
Grande!
Abração!
Bom dia, Jorge.
ResponderEliminarCada vez mais deslumbrado com as palavras que vais pendurando como cerejas e que vamos a preciando e comendo. Lembras-te da "poesia é para comer" da Natália Correia? E não dizemos que as palavras são como as cerejas"?Pois, cá está! Comamos, saciemo-nos com as palavras que dizem o silêncio: a poesia.
Abraço
Belo post ! Adorei a imagem, fiquei a pensar...
ResponderEliminarbeiijo
*.*
no dia em que a poesia fechar portas e não as abrir perde toda a sua magia e auto-destruir-se-á, verdade, vanessa? nenhum final de poema poder ter final; antes recomeços.
ResponderEliminarobrigado pelo carinho das tuas palavras!
um beijo!
adiemos a fuga pelas asas, sim, marcantónio. afinal, se a vida também não é uma linha recta, por que razão haveríamos de renunciar aos labirintos que escorrem pelos vidros onde encostamos o rosto naquelas manhãs macilentas de outono?... no dia em que o fio de ariadne desaparecer, as asas levar-nos-ão para lá do horizonte. como com ícaro, filho de dédalo. e todos os regressos serão possíveis.
ResponderEliminarum abraço, caro amigo e poeta!
Meu caro minhas desculpas pela minha ausência em seu espaço nos últimos dias...
ResponderEliminarÉ que tive uns problemas e nõa conseguir ter acesso à internet!
abraço
caro jad, se me lembro da natália correia... aquele seu estilo inconfundível, quer no hemiciclo, quer declamando poesia, vivendo apaixonadamente as palavras como se nelas estivesse a sua própria vida. há dias, na livraria centésima página, tive a sua antologia poética nas mãos e bem me senti tentado a levá-la para casa... não foi nesse dia, mas tê-la é seguramente uma questão de tempo.
ResponderEliminarum abraço e cerejas!
obrigado, grafite!
ResponderEliminarum beijo!
caro juan,
ResponderEliminarpercebi que tens andado ausente, pois sempre que te visitava, percebia que não havias movimentado o teu blogue. que esteja tudo bem é o que desejo. um abraço e bom regresso!
Jorge, cá estava eu lendo um livro de poesias e deparo-me com Al Berto, num poema que instantaneamente me remeteu a este teu labirinto
ResponderEliminarpor isso deixo-o aqui:
"de labirinto em labirinto
construí o tempo de imperceptíveis gestos
no ouro da memória tecia o minotauro
tatuado a néon sobre o ombro
depois
por entre fumos de haxixe cresceram as cabeças
das leoas de Delos hirtas
nenhum sofrimento nos atingia
quando apertei a mão de meu amigo
e o levei pelo sono do mar
onde se levanta um corpo
capaz de paralisar de alegria o coração
parámos de nos contar histórias antigas
mas a sedução do minotauro permanecia
e falámos tanto que me esqueci de te dizer
uma ave sangra sob os passos
onde a cinza rubra de fogueira extinta
reacende um desejo que nos murmura
quando morrerdes o amor dispersar-se-á
e flor nenhuma como Narciso Adónis ou Jacinto
vos recordará
fomos em silêncio pelas ruínas da ilha
não encontrámos água
bebemos os poemas e a paixão
bebemos sôfregos o vento ardente
até perdemos o sentido das palavras
e cada vez mais sós debruçados para a noite
dos oráculos insones entre crepúsculo e alba
nenhuma saída se vislumbrava"
(preciso dizer-te que acho o teu ainda mais belo)
beijo pra ti
querida amiga andrea, al berto deixa-me sempre sem fôlego... sei o quão gentil és, mas comparar o meu "dédalo" a esta obra-prima é pôr a torre dos clérigos ao lado da torre de pisa :-). registo o carinho, em todo o caso.
ResponderEliminarum beijinho grande para ti! é sempre especial a tua presença!
Jorge, al berto é sem dúvida um gigante da poesia, desses que nos tiram o ar.
ResponderEliminarmas não seja modesto, teu poema é excelente e, se digo preferí-lo não é apenas por carinho a ti (que na verdade nem sou pessoa de rasgar seda), mas porque foste tu a escrever palavras assim:
"toda a escrita espera um minotauro
e nem a raiz que respira dentro de nós
sustenta a tempestade de areia" e "os brincos de cereja" e os "versos corcundas de não saber-dizer"
e estas palavras tatuaram-se em mim
é imenso teu dom com as palavras, poeta! nunca duvide ou negue isso.
beijinho
obrigado, andrea. permite-me que me comova em silêncio...
ResponderEliminarum beijinho com todo o carinho!
"versos corcundas de não saber-dizer."
ResponderEliminarAi, Jorge, esses quando me vêm me sangram tanto...
Eu vi tudo desenhado aqui, dançando bem na minha frente. E te juro que não queria ter visto: cortou-me as heras do labirinto - e olhando assim, limpo-limpo, ele me parece enorme. E agora, José?
Beijo, poeta!
Querido Jorge,
ResponderEliminarAo percorrer teus poemas antigos, numa incrível descoberta de achados-e-perdidos, uma sensação arrebata, repercute e instiga: em que parte destas entrelinhas escondeste tênue cotão. E a procura parece não ter fim... envolves cada brecha na ambiguação e explicitação, na possibilidade do confronto com o minotauro.
Muitíssimo obrigado pela grandeza destes poemas "entre a ampulheta e a areia".
:)beijo:)