terça-feira, 8 de junho de 2010

à espera do milagre

pela manhã,
o calor humedecia-nos a boca
com o leite de figos
enquanto ao redor
o campo e a cidade ardiam nas mãos.

à tarde,
enfiámos a cabeça na boca do leão,
como se as janelas
abrissem sempre para a foz do medo
(o insecto ainda foge do químico?).

à noite,
desprendemos a língua
e erguemos a nossa babel.
os lábios para sempre encostados
ao lusco-fusco da pedra anónima
algures entre o grito e o silêncio
de todos os beijos que não soubemos dar.

nem a noite chorou...

Fotografia de José Figueira [Feira de Avis]

41 comentários:

  1. Medos, desejos, toques e olhares..
    é certo de que dá medo, mas é natural ter um fio de esperança no meio do caminho !

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  2. jorgíssimo,
    tenho em minha casa, presente de minha cunhada portuguesa (meu irmão é casado com uma ribatejana) uma garrafa do genuíno "licor de merda de cantanhede"...
    segundo rótulo, feito com matéria prima das melhores procedências...

    este sim, dá medo...rs

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  3. sabores e licores dos mais variados, bocas que urgem e beijos que surgem entre os roubados instantes,

    abraço

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  4. o fio de esperança jamais morrerá, sarah. daí o título: "à espera do milagre".
    um beijinho! é sempre bom sentir-te por aqui.

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  5. robertílimo, conheço muito bem o "licor de merda", mas não exactamente a sua composição :-). quero acreditar que o nome é apenas marketing, hihihi!
    cá em braga há uma casa centenária - o bananeiro - que vende todo o tipo de licores. é um regalo para os sentidos. no dia 24 de dezembro, ceia de natal, centenas de pessoas concentram-se na rua do souto à sua porta para comprarem garrafas de ginjinha, beberem e confraternizarem antes do bacalhau abençoado. uma delícia!
    um abraço, amigo!

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  6. licores, sabores, bocas, beijos... de que mais precisa o ser humano, assis? de quê?
    um abraço!

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  7. será que também se arranja a mezinha para o pecado cris? :). onde? eu quero!...
    um beijinho!

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  8. Poesia simplesmente encantadora, meu querido Jorge!
    Leio, releio e leio outra vez, mas ainda é pouco...

    ..."como se as janelas abrissem sempre para a foz do medo"...
    É para onde se abrem as janelas: para a foz do medo... Todas as minhas janelas se abrem nessa direção. Ai!

    Fico sempre muito impressionada com o domínio que você exerce sobre as palavras! E neste lindíssimo "À espera do milagre" não é diferente: hipnotiza todas elas que, rendidas ao seu poder, vão, uma a uma, procurando o lugar mais adequado, mais exato, mais indiscutível e ali permanecem, prestando-lhe obediência absoluta!
    Você é um mago, amigo!
    Beijinhos

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  9. ai, querida amiga, que me fazes sentir tão pequenino com a imensidão das tuas palavras... obrigado pelo teu carinho sempre presente!

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  10. Jorge, tens realmente uma habilidade especial e encantadora com as palavras, talvez por isso eu as sinta tecendo rendas...
    fiquei aqui pensando sobre as janelas abertas para a foz do medo...(sempre será?)
    parece-me que sim, que os horizontes que nos esperam (ou pelos quais ansiamos), estão sempre ao fundo, na parte distante da paisagem da janela, alcançá-los ou ao menos buscá-los, requer a coragem de sair da caverna e enfrentar a foz do medo que se pulveriza sobre nós...inda bem que não somos insetos

    lindeza de poema!

    um beijo com muito carinho pra ti

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  11. jorgim,
    viu que turma bonita estamos reunindo...
    fico com vontade de abraçar todo mundo... e sair cantando por aí...

    um dia nos encontramos, todos.

    e vai ser lindo.

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  12. "Nem a noite chorou...", mas certamente se encantou com esse belo poema...:)

    Pena são "os beijos que não soubemos dar".
    Será que ainda conseguimos recuperar o tempo perdido?...Nem sempre, não é amigo?

    Parabéns Jorge, é sempre um grande prazer te ler.

    Um beijo afetuoso

    Cid@

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  13. Meu caro como sempre você dançando em versos com as palavras...

    Belíssimo poema

    Bela foto

    abraço

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  14. querida amiga andrea, tantas são as janelas, infinitos os horizontes e a sua diversidade paisagística. por que razão tendemos, então, a fixar-nos apenas naqueles que se abrem, com e sem vidros, para a foz do medo, para o interior da gruta ou para o fundo do mar?... é que nem a noite consegue, num laivo de compaixão e no maior sintoma de incompreensão, soltar uma lágrima...
    um beijinho! é sempre especial sentir-te por aqui.

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  15. robertílimo, a turma é fantástica!
    há tanto que nos aproxima... já só falta mesmo fazê-lo com o poema em pele... e churrasco! :) tu, como guru e guia espiritual, tens a responsabilidade de dar o primeiro passo; eu, como acólito, segui-te-ei (hehe).
    um abraço!

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  16. cid@, senhora das palavras meigas, nem sempre o tempo perdido é recuperado. o tempo é um ser enganador. chega mesmo a ser cínico ao ponto de permitir, por vezes, a ilusão de ser recuperado por aqueles que o perderam; nenhum presente é mais envenenado, porque raramente as coisas se projectam da mesma forma em tempos diferentes. o tempo em que tudo é mais próximo da perfeição? o da memória!
    beijinho, querida (apare)cid@!

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  17. caro juan, como sempre, as borboletas bailam no dorso das tuas palavras. obrigado, mesmo!
    um abraço!

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  18. jorge, sê bem-vindo! já tive a oportunidade de retribuir tão simpática visita.
    um abraço!

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  19. Os três ultimos versos são fantásticos... Apetece "Roubar-te"... :)
    Bj

    Tens alguma coisa da Ana Salomè ?

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  20. de todos os beijos que não soubemos dar.

    para onde será que vão os beijos não dados? :)

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  21. magnólia, ao sorriso franco de uma amiga acena-se com outro: :-)
    se tenho algum acoisa da ana salomé? ela é uma das pessoas que mais admiro na vida da escrita mas também na escrita da vida. apesar da grandiosidade da sua poética, é alguém de uma simpreza arrebatadora. tive a oportunidade de a conhecer há cerca de seis anos quando com ela privei na universidade do minho e desde aí estabelecemos uma relação de amizade que permanece. tive o privilégio de apresentar os seus dois livros de poesia e a honra de que apresentasse o meu primeiro, de resto prefaciado por si. daí para cá, fui seguindo a sua construção em blogues e noutras publicações em que participou (uma antologia de poesia com outros autores, da fnac, em 2009, por exemplo). basicamente, tenho muita coisa dela, e se mais houvesse... caso precises, diz-me que faço-to chegar.
    um beijinho, flor do blogue!

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  22. "de todos os beijos que não soubemos dar.
    para onde será que vão os beijos não dados? :)"

    soubesse eu, vanessa, e seguramente não estaria aqui sentado diante do monitor a esta hora... :-)
    um beijinho!

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  23. Gosto muito de tudo o que ela escreve...leio o blog dela....mas não tenho nada... nenhum livro para tocar... e cheirar...depois ler
    Bj

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  24. Rapaz, bebi de vários de seus licores, me embriago em seus versos, que tentação o que escreves! Perfeito! ;)

    Beijo.

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  25. Eu leio esse poema como a descrição de um ciclo que certamente não tem só vinte e quatro horas. A apreensão diante de algo que se sabe desmaiando, fugindo das mãos por ter multiplicado o seu peso. Estou errado em supor a última estrofe como o reduto da incomunicabilidade, a pena diante de algo que não era necessário, mas se faz inevitável? A aurora fará arder em retorno o campo e a cidade? Ah, a minha mania de buscar o sentido! Seja como for, as palavras e as sensações esplendem em sons e texturas no seio da melancolia.

    Grande abraço!

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  26. mas julgo que consegues arranjar, magnólia. "anáfora" é da pena perfeita e "odes" da canto escuro. tens ainda a antologia de que te falei da fnac. se precisares que te arranje diz.
    beijinho!

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  27. o melhor dos licores é justamente o que é servido na garrafa da partilha. para mim, aqui neste blogue, nenhum outro se compara à presença dos amigos. obrigado, lara!
    um abraço!

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  28. pois, se não tens visão raio-x, caro marcantónio... desnudas, com palavras, o que o poeta procura ocultar com palavras, acabando por elas ser traído. num momento tratei-te por "arquitecto verbal". não me engano, de todo.
    um abraço!

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  29. "algures entre o grito e o silêncio
    de todos os beijos que não soubemos dar." *-*



    a saudade,
    e a esperança de que um dia seja diferente *--*

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  30. Traz o vinho(do porto)que a gente se ajeita no sopro...

    Até breve.

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  31. essa esperança está sempre viva, verdade, sylvia? é, afinal, a esperança de que um dia seja esse dia... mesmo que saibamos que o sol brilha sempre com uma intensidade diferente...
    um beijinho!

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  32. levo o vinho do porto, sim (por acaso disse ao amigo roberto que levaria o alentejano :)); o sopro surgirá com a naturalidade com que o vinho endeusa os homens.
    um beijo, cris!

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  33. Bela construção, Jorge! Seus textos surpreendem.

    Beijos

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  34. triste são os beijos jamais dados...

    Pecado mortal

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  35. obrigado, lou! a capacidade de nos surpreendermos é uma das que desejo jamais se venham a perder...
    um beijinho!

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  36. tristes são os beijos jamais dados... e alguns arrancados.
    um abraço, aryane!

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  37. "Nem a noite chorou..."

    Porque ela dorme, intacta!


    Ps: Tomei posse ontem de um pedaço de vc, o qual tocou-me profundamente...
    Obrigada pelo livro, em tempo, vou lê-lo cuidadosamente... e a dedicatória, 10/02 data especial, coincidência?

    beijos querido amigo poeta!

    Vês? Em algum lugar há sem dúvida, um cais de porto...

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  38. que bom que recebeste, amiga márcia! como te disse, é um livro que marca um período da vida da minha escrita; talvez não vejas aquele que hoje sou nesse livro, inteiramente. boa leitura!
    um beijinho!

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  39. E o texto também!!!
    :@!
    Beijo

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