pela manhã,
o calor humedecia-nos a boca
com o leite de figos
enquanto ao redor
o campo e a cidade ardiam nas mãos.
à tarde,
enfiámos a cabeça na boca do leão,
como se as janelas
abrissem sempre para a foz do medo
(o insecto ainda foge do químico?).
à noite,
desprendemos a língua
e erguemos a nossa babel.
os lábios para sempre encostados
ao lusco-fusco da pedra anónima
algures entre o grito e o silêncio
de todos os beijos que não soubemos dar.
nem a noite chorou...
Fotografia de José Figueira [Feira de Avis]
terça-feira, 8 de junho de 2010
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Medos, desejos, toques e olhares..
ResponderEliminaré certo de que dá medo, mas é natural ter um fio de esperança no meio do caminho !
jorgíssimo,
ResponderEliminartenho em minha casa, presente de minha cunhada portuguesa (meu irmão é casado com uma ribatejana) uma garrafa do genuíno "licor de merda de cantanhede"...
segundo rótulo, feito com matéria prima das melhores procedências...
este sim, dá medo...rs
sabores e licores dos mais variados, bocas que urgem e beijos que surgem entre os roubados instantes,
ResponderEliminarabraço
Por todo arfã pecado é imã.
ResponderEliminaro fio de esperança jamais morrerá, sarah. daí o título: "à espera do milagre".
ResponderEliminarum beijinho! é sempre bom sentir-te por aqui.
robertílimo, conheço muito bem o "licor de merda", mas não exactamente a sua composição :-). quero acreditar que o nome é apenas marketing, hihihi!
ResponderEliminarcá em braga há uma casa centenária - o bananeiro - que vende todo o tipo de licores. é um regalo para os sentidos. no dia 24 de dezembro, ceia de natal, centenas de pessoas concentram-se na rua do souto à sua porta para comprarem garrafas de ginjinha, beberem e confraternizarem antes do bacalhau abençoado. uma delícia!
um abraço, amigo!
licores, sabores, bocas, beijos... de que mais precisa o ser humano, assis? de quê?
ResponderEliminarum abraço!
será que também se arranja a mezinha para o pecado cris? :). onde? eu quero!...
ResponderEliminarum beijinho!
Poesia simplesmente encantadora, meu querido Jorge!
ResponderEliminarLeio, releio e leio outra vez, mas ainda é pouco...
..."como se as janelas abrissem sempre para a foz do medo"...
É para onde se abrem as janelas: para a foz do medo... Todas as minhas janelas se abrem nessa direção. Ai!
Fico sempre muito impressionada com o domínio que você exerce sobre as palavras! E neste lindíssimo "À espera do milagre" não é diferente: hipnotiza todas elas que, rendidas ao seu poder, vão, uma a uma, procurando o lugar mais adequado, mais exato, mais indiscutível e ali permanecem, prestando-lhe obediência absoluta!
Você é um mago, amigo!
Beijinhos
ai, querida amiga, que me fazes sentir tão pequenino com a imensidão das tuas palavras... obrigado pelo teu carinho sempre presente!
ResponderEliminarJorge, tens realmente uma habilidade especial e encantadora com as palavras, talvez por isso eu as sinta tecendo rendas...
ResponderEliminarfiquei aqui pensando sobre as janelas abertas para a foz do medo...(sempre será?)
parece-me que sim, que os horizontes que nos esperam (ou pelos quais ansiamos), estão sempre ao fundo, na parte distante da paisagem da janela, alcançá-los ou ao menos buscá-los, requer a coragem de sair da caverna e enfrentar a foz do medo que se pulveriza sobre nós...inda bem que não somos insetos
lindeza de poema!
um beijo com muito carinho pra ti
jorgim,
ResponderEliminarviu que turma bonita estamos reunindo...
fico com vontade de abraçar todo mundo... e sair cantando por aí...
um dia nos encontramos, todos.
e vai ser lindo.
"Nem a noite chorou...", mas certamente se encantou com esse belo poema...:)
ResponderEliminarPena são "os beijos que não soubemos dar".
Será que ainda conseguimos recuperar o tempo perdido?...Nem sempre, não é amigo?
Parabéns Jorge, é sempre um grande prazer te ler.
Um beijo afetuoso
Cid@
Meu caro como sempre você dançando em versos com as palavras...
ResponderEliminarBelíssimo poema
Bela foto
abraço
querida amiga andrea, tantas são as janelas, infinitos os horizontes e a sua diversidade paisagística. por que razão tendemos, então, a fixar-nos apenas naqueles que se abrem, com e sem vidros, para a foz do medo, para o interior da gruta ou para o fundo do mar?... é que nem a noite consegue, num laivo de compaixão e no maior sintoma de incompreensão, soltar uma lágrima...
ResponderEliminarum beijinho! é sempre especial sentir-te por aqui.
robertílimo, a turma é fantástica!
ResponderEliminarhá tanto que nos aproxima... já só falta mesmo fazê-lo com o poema em pele... e churrasco! :) tu, como guru e guia espiritual, tens a responsabilidade de dar o primeiro passo; eu, como acólito, segui-te-ei (hehe).
um abraço!
cid@, senhora das palavras meigas, nem sempre o tempo perdido é recuperado. o tempo é um ser enganador. chega mesmo a ser cínico ao ponto de permitir, por vezes, a ilusão de ser recuperado por aqueles que o perderam; nenhum presente é mais envenenado, porque raramente as coisas se projectam da mesma forma em tempos diferentes. o tempo em que tudo é mais próximo da perfeição? o da memória!
ResponderEliminarbeijinho, querida (apare)cid@!
caro juan, como sempre, as borboletas bailam no dorso das tuas palavras. obrigado, mesmo!
ResponderEliminarum abraço!
jorge, sê bem-vindo! já tive a oportunidade de retribuir tão simpática visita.
ResponderEliminarum abraço!
Os três ultimos versos são fantásticos... Apetece "Roubar-te"... :)
ResponderEliminarBj
Tens alguma coisa da Ana Salomè ?
de todos os beijos que não soubemos dar.
ResponderEliminarpara onde será que vão os beijos não dados? :)
magnólia, ao sorriso franco de uma amiga acena-se com outro: :-)
ResponderEliminarse tenho algum acoisa da ana salomé? ela é uma das pessoas que mais admiro na vida da escrita mas também na escrita da vida. apesar da grandiosidade da sua poética, é alguém de uma simpreza arrebatadora. tive a oportunidade de a conhecer há cerca de seis anos quando com ela privei na universidade do minho e desde aí estabelecemos uma relação de amizade que permanece. tive o privilégio de apresentar os seus dois livros de poesia e a honra de que apresentasse o meu primeiro, de resto prefaciado por si. daí para cá, fui seguindo a sua construção em blogues e noutras publicações em que participou (uma antologia de poesia com outros autores, da fnac, em 2009, por exemplo). basicamente, tenho muita coisa dela, e se mais houvesse... caso precises, diz-me que faço-to chegar.
um beijinho, flor do blogue!
"de todos os beijos que não soubemos dar.
ResponderEliminarpara onde será que vão os beijos não dados? :)"
soubesse eu, vanessa, e seguramente não estaria aqui sentado diante do monitor a esta hora... :-)
um beijinho!
Gosto muito de tudo o que ela escreve...leio o blog dela....mas não tenho nada... nenhum livro para tocar... e cheirar...depois ler
ResponderEliminarBj
Rapaz, bebi de vários de seus licores, me embriago em seus versos, que tentação o que escreves! Perfeito! ;)
ResponderEliminarBeijo.
Eu leio esse poema como a descrição de um ciclo que certamente não tem só vinte e quatro horas. A apreensão diante de algo que se sabe desmaiando, fugindo das mãos por ter multiplicado o seu peso. Estou errado em supor a última estrofe como o reduto da incomunicabilidade, a pena diante de algo que não era necessário, mas se faz inevitável? A aurora fará arder em retorno o campo e a cidade? Ah, a minha mania de buscar o sentido! Seja como for, as palavras e as sensações esplendem em sons e texturas no seio da melancolia.
ResponderEliminarGrande abraço!
mas julgo que consegues arranjar, magnólia. "anáfora" é da pena perfeita e "odes" da canto escuro. tens ainda a antologia de que te falei da fnac. se precisares que te arranje diz.
ResponderEliminarbeijinho!
o melhor dos licores é justamente o que é servido na garrafa da partilha. para mim, aqui neste blogue, nenhum outro se compara à presença dos amigos. obrigado, lara!
ResponderEliminarum abraço!
pois, se não tens visão raio-x, caro marcantónio... desnudas, com palavras, o que o poeta procura ocultar com palavras, acabando por elas ser traído. num momento tratei-te por "arquitecto verbal". não me engano, de todo.
ResponderEliminarum abraço!
"algures entre o grito e o silêncio
ResponderEliminarde todos os beijos que não soubemos dar." *-*
a saudade,
e a esperança de que um dia seja diferente *--*
Traz o vinho(do porto)que a gente se ajeita no sopro...
ResponderEliminarAté breve.
essa esperança está sempre viva, verdade, sylvia? é, afinal, a esperança de que um dia seja esse dia... mesmo que saibamos que o sol brilha sempre com uma intensidade diferente...
ResponderEliminarum beijinho!
levo o vinho do porto, sim (por acaso disse ao amigo roberto que levaria o alentejano :)); o sopro surgirá com a naturalidade com que o vinho endeusa os homens.
ResponderEliminarum beijo, cris!
Bela construção, Jorge! Seus textos surpreendem.
ResponderEliminarBeijos
triste são os beijos jamais dados...
ResponderEliminarPecado mortal
obrigado, lou! a capacidade de nos surpreendermos é uma das que desejo jamais se venham a perder...
ResponderEliminarum beijinho!
tristes são os beijos jamais dados... e alguns arrancados.
ResponderEliminarum abraço, aryane!
"Nem a noite chorou..."
ResponderEliminarPorque ela dorme, intacta!
Ps: Tomei posse ontem de um pedaço de vc, o qual tocou-me profundamente...
Obrigada pelo livro, em tempo, vou lê-lo cuidadosamente... e a dedicatória, 10/02 data especial, coincidência?
beijos querido amigo poeta!
Vês? Em algum lugar há sem dúvida, um cais de porto...
que bom que recebeste, amiga márcia! como te disse, é um livro que marca um período da vida da minha escrita; talvez não vejas aquele que hoje sou nesse livro, inteiramente. boa leitura!
ResponderEliminarum beijinho!
Adorei a foto!!!
ResponderEliminarE o texto também!!!
ResponderEliminar:@!
Beijo