domingo, 20 de fevereiro de 2011

John Cale & Band - A Voz e o Tempo



Ontem dissiparam-se as dúvidas: há vozes que acabam por vir a morrer sem nunca terem envelhecido.
Quem entrasse no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, ontem à noite, de olhos vendados, e assim escutasse as primeiras faixas do concerto, jamais diria estar perante a voz de um homem de 68 anos. Se, para desmistificar falácias, os abrisse, acabaria por confirmar as suspeitas iniciais: John Cale não é nenhum menino, mas a sua voz, limpa e cristalina, combinada com uma energia non-stop em palco, fazem dos seus concertos experiências musicais de finíssimo recorte.
Confesso que as minhas expectativas atingiram picos para este espectáculo. Não me refiro àquilo que a imprensa vinha anunciando há já vários meses (o jornal Público, por exemplo, considerava-o um dos dez mais aguardados do ano, em Portugal), mas antes ao peso expressivo que Cale tem no panorama musical dos séculos XX e XXI. 40 anos de carreira só podem significar uma coisa: por muito bom que se tenha sido num determinado momento da carreira, caso não exista renovação de fórmula, acaba-se por se morrer. Cale, à semelhança de Bowie, é um desses camaleões musicais que definem e ajudam a marcar musicalmente todas as décadas e um pouco de todos os estilos. Para isso é necessária uma forte formação musical (estudou piano e guitarra em colégios britânicos, na infância e na juventude), autonomia (apesar da sua ligação a monstros como Lou Reed e Andy Warhol, nos Velvet Underground, não enjeitou seguir o seu caminho assim que percebeu que as sensibilidades criativas dos membros daquela banda seguiam trilhos distintos) e muito talento musical. Cale tem-nos em doses ilimitadas. E, a confirmá-lo, o facto de percorrer, ao longo da sua carreira, a música alternativa, experimental, punk, rock alternativo, pop e, mais recentemente, electrónico.
Em palco, este galês não fica a dever nada aos mais novos, pois, apesar da reduzida interacção verbal com o público (foca-se claramente naquilo que tem delineado para que nada falhe), as suas performances são eléctricas, abrasivas e muitíssimo competentes.
Revisitar 40 anos não é tarefa simples, e por mais criterioso que se seja, em 90 minutos há sempre esta ou aquela canção que nos toca de modo mais particular que acaba perdida nas pistas do vinil, acabando por não subir ao palco. Ciente disso, Cale optou por percorrer um pouco de todo o seu mapa musical, começando com títulos mais recentes, e de expressão electrónica, passando, depois, para o rock puro e duro, para o rock mais alternativo e, por fim, para as sonoridades mais calmas de algumas das suas baladas. A fechar, um encore breve, com apenas uma faixa, desta vez em acústico – e que a todos deixou com água na boca por ter sabido a pouco. Apesar de tudo, compreensível: são seis concertos em Portugal em apenas nove dias. E aquela voz tem de ser bem tratada. É que daqui a outros dez anos quero revê-lo aqui ou em qualquer outra parte do mundo.


HEY GEORGE, ROCK ON!
obviously, mr. cale [hehehe]

 
John Cale, Dying on the Vine

17 comentários:

  1. :) fabuloso!
    fiquei invejosa ;) rs..
    Abraço, Jorge.

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  2. Tem Bowie no cabelo dele, haha.
    Linda a voz.

    I was living my life like a Hollywood.
    But I was dying on the vine.

    Parece o outro post, isso.

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  3. e é caso para isso, amiga-de-todos-os-sons :)
    beijos!

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  4. andressa,
    bowie está no cabelo... e na mioridade musical :)
    beijinho!

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  5. ele há gajos que tem cá uma sorte...

    RAIOS! ( :-))

    Laura

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  6. ROCK AND ROLL!!!!
    TSSSSSS!!!!
    MIL VEZES RAIOS E MAIS RAIOS!
    bEIJO
    lAURA

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  7. http://www.youtube.com/watch?v=Td5ggufGakU&feature=BF&list=PL4326FF1B09EDC20A&index=13

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  8. hihihihi!
    como te dizia lá em cima, laurita: estudasses :)

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  9. valha-me Deus.... rsss
    ... é que para além de todos os predicados que aqui nos ensinas e com a experiência presencial, eu digo-te:
    "é lindo de morrer esse velho/jovem"... "nossssa"

    beijos, amigo-dos-encantos-meus!

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  10. que delícia Jorge!
    isso nos mostra que viver é muitoooo bom!
    beijo.

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  11. amiga-de-todos-os-encantos,
    nem que não fosse. a sua voz e a sua música são encantos outros irresistíveis :)

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  12. querida ingrid,
    acabas de tocar num ponto-chave: são justamente momentos como este que nos ajudam a perceber como à nossa volta há tanto que nos ajuda a sentir vivos. a música está lá, ocupando um lugar bem destacado.
    beijinho!

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  13. foi só uma brincadeira que eu fiz, amigo dos meus encantos, que Cail é fantástico sim, e são momentos bons, aqueles de serenidade solitária escutando-o... e não estamos sós.
    imagino a emoção de estar com ele ao vivo.

    :( não fui muito feliz com os meus comentários naquele dia..., so sorry, friend.
    beijos.

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  14. o som desse piano é arrepiante!...

    "I was thinking about my mother
    I was thinking about what's mine
    I was living my life like a Hollywood
    But I was dying, dying on the vine"

    :)

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  15. Jorge,

    Como expressas e bem, há vozes que não envelhecem no tempo e esta é uma delas. Gostei imenso do timbre da sua voz... faz-nos sentir a musicalidade numa pauta da vida que nos incentiva a acreditar que há sons e tons que enfrentam o tempo e o vivem de forma extraordinária!
    As tuas palavras do momento que viveste deixam-nos sim "com água na boca"!

    Beijinho!

    P.S. O tempo insiste em tirar-me o tempo par ler quem mais gosto, mas sou persistente e aqui estou, sempre!

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  16. amiga-de-todos-os-encantos,
    os amigos são sempre felizes e, sobretudo, ficam felizes com o seu sorriso :)
    dying on the vine: como os homens devem. em ascensão. com os olhos para o alto. nos nós que se desenham em qualquer planta... dos dedos.
    beijinho!

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  17. amiga jb,
    é um privilégio ter-te por aqui, mas ainda mais saber que o fazes com gosto. sinto-o exactamente assim relativamente a tudo o que escreves... em tons de azul!
    beijos!

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