quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

fevereiros

                                   jorge pimenta [espigueiros do soajo - p.n. peneda-gerês]

não deixes que este fevereiro
faça morada em ti.
para que queres o vento
se levanta a pele,
para que procuras o frio
se rebenta os músculos 
ou a chuva
se lava os ossos?
[há tantos náufragos
sem madeira ou braços
com que gritar].

és apenas um banco de jardim,
onde o gelo trespassa a sola dos sapatos.
é frio, frio que te vem cortar os dedos
turvar o olhar, cerrar os lábios.
apertas a gola do casaco,
enquanto rolos de ar se libertam da boca
semiaberta.
ao teu lado, um velho tronco de árvore
adormecido,
gasto por histórias escritas
nas tempestades de inverno.
[ah, que inferno].

não,
não deixes que este fevereiro
renasça contigo,
se faça monstro dentro de ti,
te morda o pescoço
e te roube a as cidades transparentes
que avistas por detrás da retina.

sabes caminhar mas não há caminho
a lama cobriu o que o tempo esqueceu,
queres ir mas não sabes onde
não vislumbras a pedra com que te cobrir.
é:
os meses são como a roupa da cama:
assobiam rebanhos nocturnos
e no desejo de adormecer camélias
empurram o lençol para o rosto
lambem o sonho
acariciam o desejo
enquanto estendem a mão para a boca
brincam às escondidas na solidão da noite
[não o sabias?]
e não consigo respirar
e falta-me o ar
e procuro os utensílios, desinfectados
e esqueci o frasco de cristal
e bebi do veneno
e não sei do antídoto
e estrebucho em silêncio
e arranho o sangue com pele
e vomito as entranhas que não me pertencem
e as que pertencem
e já não sou eu que choro.

e, ao meu lado,
há sempre alguém que morre primeiro.

laura alberto & jorge pimenta

clint mansell, requiem for a dream

83 comentários:

  1. Ainda temos mais 11 meses. Depois dos meses temos os dias, depois temos as horas, os minutos, os segundos.
    Vou repetir o que já escrevi, mas é um prazer escrever contigo!
    O nosso abraço!
    Beijo
    Laura

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  2. SEGUNDO POST DO DIA:
    Mega manifestação para remover o director do Despertar!!!!
    Cai Salazar, cai Salazar!
    Beijo!

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  3. TERCEIRO POST DO DIA:
    talvez seja melhor não aceitares os meus dois coments!!!!
    :)
    Beijo

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  4. uma voz que insiste na vida, ainda que o cansaço doa na alma, uma voz para escutar ao pé do ouvido. Parceria boa demais!

    Beijos aos dois poetas!

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  5. Meu querido Poeta

    Sabes...é tão dificil comentar-te...as palavras escondem-se...ficam em silêncio perante o teu sentir.

    sabes caminhar mas não há caminho
    a lama cobriu o que o tempo esqueceu,
    queres ir mas não sabes onde
    não vislumbras a pedra com que te cobrir.

    Sinto-me assim...sem caminho...sem mim...
    Sou Fevereiro na alma...sou Outono no corpo e quero encontrar o caminho do verão, mas tenho uma pedra no peito que me esconde a luz.

    Pronto meu poeta maior...comsegui dizer alguma coisa...

    Beijinho com carinho
    Sonhadora

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  6. ...se não houvesse o frio,
    como valorizaría-mos o calor,
    meu doce poeta de além mar?

    te ler sempre leva-me
    a uma certeza:

    não somos nós que dizemos
    as palavras, elas é
    que nos dizem.

    bj

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  7. Ah, comecei a ler o poema e adivinhei que fora escrito pelos dois...acho que já conseguiram criar essa marca de parceria, um poema que já evoca as duas presenças, já arrebata duplamente, já o lemos com duplo-uno olhar...e, claro, traz a beleza que emana dos dois.
    belo!
    Beijos,

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  8. Adentrei-me, senti-me desmoronar... O chão que julgava certo, era incerto!

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  9. viva, flávio,
    coincidência incrível a tua chegada até aqui; há dias estive a ler o barcelos popular e encontrei uma crónica tua deliciosa (a moto como ponto de partida para tantas viagens); lembrei-me, obviamente, de ti e do sarau de poesia fantástico, no ano passado, na escola de viatodos. é sempre bom reencontrar-te.
    um abraço!

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  10. laura
    primeiro post do dia: e se falhar o tempo, há sempre o relógio :);
    segundo post do dia: há dois candidatos a desfilar na mega usurpação: tu e o pedro. mas pergunto-me: o que seria do despertar sem este super director, hihihi?
    terceiro post do dia: aceito-os todos. quantos são? quantos são?... :)
    um beijo!

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  11. há um fado português que reza assim: "cantarei até que a voz me doa" :)
    um beijinho, luíza!

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  12. amiga-do-sonho,
    como o tempo, não há ninguém que não se dispa inverno, que não chova outono, que não desabroche primavera ou que não veleje o verão.
    nenhum ciclo se fecha apenas numa só fase...
    um beijinho!

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  13. "te ler sempre leva-me
    a uma certeza:

    não somos nós que dizemos
    as palavras, elas é
    que nos dizem."

    querida vivian, ainda estou arrepaido com as tuas palavras. e sabes porquê? olha a etiqueta que hoje escrevi para um próximo post:
    "livro em branco

    hoje
    não sei quem escreve o quê:
    se o homem as palavras
    se as palavras o homem."

    impressionante, não?
    beijinho!

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  14. taninha,
    depreendo das tuas palavras um risco inevitável na escrita a uma mão só, como partilhada: viajar nos círculos da previsibilidade. hum... tantas vezes me questiono acerca disso...
    beijinho!

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  15. querida michelle,
    quando não é o chão que está inclinado, são os pés...
    beijinho!

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  16. Nossa, muito bom!

    Parabéns, poetas!

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  17. Bonito e intenso, o poema. Quase deixei de sentir frio... Gostei muito! Os meus parabéns aos dois, Laura e Jorge.
    Beijo.

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  18. Olá, Jorge,
    a foto impressiona.

    E são sempre de extrema profundidade
    queimam pelo gelo e pelo fogo
    a explosão de versos compostos por você e Laura

    fevereiro, por estas bandas de cá, o sol racha a quase derreter miolos

    abraço pra vocês

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  19. Sinto o Fevereiro em mim...mas não o quero deixar habitar...
    Bela dupla meu querido
    Beijo d'anjo

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  20. Jorge e Laura,
    li de um só folego,tal a intensidade e como me tocou..
    me coloquei fevereiro,frio e silencio ..
    aplausos daqui de tão longe mas tão perto..
    Beijos meus queridos..

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  21. larinha,
    a palavra sempre se (con)funde com a tua mão: em qual delas começa a gentileza?
    um abraço!

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  22. cristina,
    e como é difícil, neste nosso inverno português, deixar de sentir frio... mesmo que a alma fosse soalheira, o corpo haveria de tiritar.
    basta de chuva e frio, raios!
    um abraço!

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  23. querida amiga vais,
    o soajo fica no interior do parque nacional da peneda-gerês, o mais importante do país, bem aqui perto de mim. é uma zona rural, com quilómetros de serra agreste onde ainda existem lobos, linces, veados e afins. é impossível ficar indiferente à sua beleza. toca, como o mais belo dos poemas.
    um beijinho desde um país invejosamente molhado até aos ossos e frio sobre a pele!

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  24. amiga-do-sonho,
    já só faltam mais uns dias e entramos em março, o mês da primavera :)
    beijinho!

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  25. querida ingrid,
    leitura rápida, como o próprio mês - fevereiro - breve!
    um beijinho!

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  26. A chuva lava a alma.
    O vento agita as ideias.
    O frio grita por aconchego.
    Nesta tempestade de sensações os caminhos poderão surgir e a certeza de por onde seguir também.
    Beijo

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  27. e mEU outro lado morre em fevereiro.

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  28. o frio sem remédio é o do inferno de dentro...

    muito bom!

    bjs à dupla

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  29. Jorginho, sua poesia nada tem de previsível. Mas a imprevisibilidade tanto pode ser uma "marca" apenas, como pode ser o abismo e o convite para a vertigem, que, aliás é o seu caso. No mais, acho maravilhoso que o poema revele o poeta, que diga algo dele ou sobre ele. E a sua poesia mal passa pelos olhos, pelo olhar: cai direto no sangue e fervilha!
    Beijos,

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  30. E cheguei ao teu cantinho em Fevereiro, não me deixei abocanhar pelos monstros escondidos nas palavras, mas sentei-me no banco de jardim gelado, que foi aquecendo á medida que te lia e que recordava a beleza do Geres
    parabéns pelo espaço

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  31. Querido Jorge,

    Como é que você e a Laura sabem o que se passa neste fevereiro tão intenso assim? Como um ano inteiro e não acaba...

    O calor não me basta, quero mais... Todas as mortes do inverno que venci (re)voltam em outros corpos...

    Belíssima parceria!!

    Beijinhos...

    Ps. Outra música gélida e enigmática.

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  32. sandra,
    a minha concordância contigo é absoluta. thomas payne dizia "these are the times that try men's souls".
    beijinho!

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  33. ana,
    há sempre invernos e infernos dentro de cada homem, verdade?
    um abraço!

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  34. taninha,
    julgo reconhecer a escrita daqueles que sei como escrevem, mesmo que o façam escondendo a identidade. a isso chama-se estilo, talvez maturidade ou identidade de escrita. e confesso que o sinto como mais-valia no processo geracional e criativo. todavia, e no meu caso pessoal, há momentos em que me questiono sobre se estarei a ver a marca-d'água ou antes uma escrita perdida em círculos? e isso atormenta a mão, o homem e o escrevente...
    um beijinho com as inevitáveis (e sempre necessárias) inquietações! :)

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  35. amiga-de-olhares-caleidoscópicos,
    de ventos gélidos e sensações quentes nos construimos por dentro e por fora, assim no tempo como fora dele. então, se o contacto se faz por via da poesia, tais reacções se tornam ainda mais naturais e até mesmo expectáveis. um pouco como o gerês: quem lá vá, sente todos os contrários; não apenas aqueles que nos definem homens, mas também os que confundiram os deuses na hora da definição do projecto humano.
    um beijinho!|
    p.s. a tua nazaré também me enche as medidas. estive aí em outubro e deliciei-me com as praias entregues às pegadas das gaivotas. a polvoeira é irresistível!

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  36. querida lívia,
    sentir os fevereiros não significa conhecer os fevereiros.
    há rolos de ar a agitar o corpo, frios secos a cortar os lábios, blocos de gelo a isolar o coração. quem o entende? nem mesmo quem o sinta...
    um beijinho!

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  37. Acabei de morrer agora.
    Depois renasço.

    Tenho que morrer mais
    até a última sílaba
    e a sombra dela
    dentro da alma.

    De quem a culpa?
    De quem a epifania?

    De vocês dois:
    Laura Alberto
    e Jorge Pimenta

    (beijo o coração
    de cada um)

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  38. ...querido Jorge,
    é sim uma gostosa coincidência
    minhas palavras em sintonia
    com seu próximo post.

    mas não e de todo surpresa
    quando sabemos que na realidade
    somos todos UM.

    certo que alguns sobressaem-se
    em encantos.

    você, por exemplo!

    bjs

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  39. Que as histórias escritas gastem aquelas que não se inscreveram.

    Beijos.

    http://vemcaluisa.blogspot.com/

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  40. Não deixe esse fevereiro movimentar-se em ti a ponto de esquecer os dias e as horas que passam nas nuvens que escorrem do céu....

    Beijos

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  41. fevereiro é o mês mais curto e gelado
    tem horas e dias mais longos que qualquer outro.
    no banco do jardim... uns lábios a gretar do vento agreste que passa [a aguardar o calor salivado de outros lábios...para se sarar]
    ... esquecido que foi o coração no frasco de cristal..., não vá que o gelo de fevereiro o quebre [crital é frágil mas tem um cantar belo] e ele volte a pulsar na mão que se estende gelada... pedinte... carente

    que poema...!
    que imagem... a cruz, os braços suplicantes, o céu cinzento, a morte vomitada na pedra [e desta, prestes a parir (ressuscitar) a terra viva, fecunda]
    o som... fabuloso
    "I reach for the sky and walk away empty handed.
    I walk past the blinding light only to be pulled back by rotten little fingers.

    I pull back my memories. Nostalgic Suicide.
    The rush of a comfortable silence."

    beijo.

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  42. PRIMEIRO POST DO DIA (quarto post):
    ei, essa do andar em círculos é minha. Tu não andas em circulos, tu voas, tu segues, tu flutuas, tu segues!
    Sempre genial!!
    Beijos

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  43. enqanto cá o fevereiro ferve, a lama vira pedra, é tempo de carnaval e os dias não economizam tinta azul.
    é desse universo que contemplo a frieza do teu fevereiro quase fúnebre que a poesia revela.

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  44. Esse ao meu lado sou eu mesmo, porque é espelho, e morre primeiro para que sobreviva. Mas, os Fevereiros, além de curtos, voltam sempre. Nós?? Vamos e nem sabemos da memória do que já foi Fevereiro em nós... e estamos aqui desde o caos!! Será que o existencialismo de Fevereiro salva a alma, ou esta morre da doença de nunca se saber?
    Mas a questão é que esquecemos e na volta do ciclo, ele volta e nós estamos como estamos, e ele sempre estará acima de nós. A Imortalidade lhe pertence, e nós somos uma poeira na Eternidade, agregada a milhares e milhares e fevereiro é apenas uma palavra que o povo lhe dá um sentido, um rito, um mito e Fevereiro já se abeira ao fim!!

    -Prontos, a língua soltou-se e não medi as palavras!!

    Abraços J

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  45. os rolos da língua, Seo Pimenta...
    os rolos das línguas que passam aqui...



    ardilosos rolos com o roto do que resiste ao teu tempero!



    guerra Santa, Pimenta!

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  46. eu repito o meu maravilhamento, cada vez me assombro mais com o que pode essas quatro mãos,

    beijo e abraço, atônitos

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  47. Eis , eu aqui novamente à delirar nas palavras frias e ardentes, que são as tuas..
    Dificilmente leio um texto que me veste bem, e esse poema, me coube bem. rs
    Suas palavras, foram para mim como um conselho bom.
    Escreves muito, muito bem!!
    Ainda quero comprar um livro teu!!
    Parabéns meu amigo!!
    Beijos na sua Alma

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  48. Laura e Jorge,

    Noite de fevereiro da lua-de-mel do nada agradável que se enxuga os olhos no guardanapo. A face da morada explicativa em lágrimas entre aspas; o transbordar da xícara à mesa de café na arte belamente esculpida. O desejável vento a soprar, o que de valioso se perdera? O quarto que está escuro, e da sala de visitas às claras – aproximação da verdade do rasgo. Ao revelar da fotografia que levanta a pele, o tal frio nos músculos por rebentar o agasalho. E da chuva a sujar todo o preparo; há medo! De si em si os naufrágios e a âncora de uma ausência como pretexto. Ser a vista em flor murcha. O dentro da escuridão do banco do jardim, por que não se jardina? Jurar - não! Acreditar, então vivencia a dose onde o gelo corta os pés. Quente-frio dos dedos inalcançados do semi-artístico; do egoísmo que turva o olhar e cerra os lábios. No centro do dificílimo a ideia do real das cidades transparentes a valorizar cópias. As casas criações adormecidas na gola do casaco; histórias tempestuosas como cobertura de bolo deselegante. Das esculturas o sabes caminhar, caminho manuseado do tempo em baú: o dom do clímax. A pedra que cobre os meses alastrados da água que não se fervera. O lençol desconquistado na solidão registrada em catálogos.

    p.s.: A cada embrenho nas vossas partituras, o cume me torna ainda mais acessível; com labirintos e instigante. Na qual perder-me no alto, com adentar profundo nas palavras de forma a [tentar] desvendar traços, manchas na telas, faz com que minha viagem ultrapasse as barreiras do que o ensino português me ensinara, o que deixara-me em desgosto e insatisfeita, e, infelizmente, ainda há muito veneno nas salas de aula.

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  49. querido amigo domingos,
    é na voz da poesia que todas as mortes se fazem o leito desejado.
    um abraço, camarada poeta!

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  50. querida vivian,
    é bem verdade o que dizes. todas as palavras foram já inventadas. todas as combinações sintácticas são potencialmente possíveis e virtualmente já concretizadas. a diferença reside na chama e no gelo que pomos no modo de os dizer. é por isso que a poesia a todos nós apaixona. é por isso que a tua poesia a todos nós apaixona.
    um beijinho imenso!

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  51. "Que as histórias escritas gastem aquelas que não se inscreveram."

    vanessa,
    e que as histórias nunca inscritas se deixem (cor)romper pelas já escritas. [acaso saberemos escrever?...]
    um abraço!

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  52. suzana,
    não sei se por deformação morfológica, tendo a caminhar com a cabeça bem erguida. e como o céu se faz pequeno quando nele reparo...
    é bem verdade o que dizes. ah, e março está já aí :)
    um beijinho!

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  53. anónimo inquietante,
    li-te e reli-te. aprendi, na minha formação/profissão, a escutar e a respeitar com reverência sagrada aqueles que batem à porta do poema e entram, mesmo sem limpar os pés. sentam-se no cadeirão que comunicam com o peuqeno jardim das traseiras e embalam o seu corpo no dos outros, preferencialmente na utopia da noite, fundindo histórias e pulsares.
    e o texto torna-se não de quem o escreve, não apenas de quem o lê, mas, sobretudo, daqueles que o partilham numa experiência vivencial plural.
    um abraço!

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  54. laurita,
    resposta ao primeiro post do dia: tu não escreves em círculos; quem te lê gira, anda em roda e perde-se na voragem da palavra que se cola à pele, arraca esgares e consome os tecidos. mas, essa é a marca da grande poesia.
    um abraço!
    é sempre especial escrever contigo!

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  55. caro ribeiro,
    é assim a bipolaridade deste nosso globo: norte e sul, verão e inverno, inferno e gelo. mas a translação acaba por sempre inverter as polaridades...
    um abraço!

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  56. "e nós somos uma poeira na Eternidade"
    querida não-sou-eu-é-a-outra,
    de que serve ao tempo a eternidade? não sabe o que é o prazer de um beijo, a excitação de um golo, o deslumbramento de uma oferta, a beleza da flor ou a lágrima do desencanto.
    antes a finitude da humanidade, que se eterniza na capacidade de sorver cada um desses momentos.
    um abraço!

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  57. carla,
    não conheço os benefícios da pimenta [acaso os terá?], mas sei bem os seus malefícios. e se há coisa que com ela não combina é a língua (mesmo que em rolo); ufa! :)
    um abraço com armistício santo :)

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  58. amigo assis, poeta singular,
    dois fortes abraços de agradecimento!

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  59. querida lidi,
    tivesse eu o livro e não o comprarias; tê-lo-ias graciosamente e com todo o gosto meu.
    um abraço!
    p.s. em 2007 publiquei um livro de poemas, "a-simetria das formas: o espelho e o reflexo", mas é uma obra que colige tanto de tantos tempos que hoje está muito distante de um padrão de escrita em que me reveja...

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  60. querida priscila,
    em fevereiro, a teia.
    para quê caminharmos sobre as próprias mãos se as juramos entregues a mãos outras?
    no epicentro, uma vespa hermafrodita voraz que se alimenta do ar que já não se respira, do pó que os ossos sacodem, da carne que resgatam ou que lhes oferecem. e são comensais com os estômagos em excitação, e são serventes em pragas e sevícias, e são presas agarradas, sem esperança, ao ruído dos sinos que anunciaram a boda. já nem o jornal anuncia o fim - para quê gastar tinta com o expectável?; já nem os arames farpados os seguram - a pele prendeu-se no anzol que atirámos um ao outro; e as janelas deixaram de isolar.
    de comum? apenas a fome que se sacia com a própria vontade de comer... para poder morrer.
    um beijo, querida amiga!
    p.s. o veneno de que falas na escola é aquele por que todos os que escrevem e partilham a escrita pugnam: erradicar leituras pré-definidas da sala de aula onde o leitor é falso, artificial,e espúrio, pois recolhe apenas as linhas que um leitor pretensamente mais experimentado - o professor - lhe estende. e o eu, e o indivíduo, e as suas experiências e vivências passam a ser meramente figurações em palco vazio.
    é caso para invocar mão morta ["quem mora na minha cabeça?"], ainda que com uma cambiante: quem me deixa morar na minha cabeça?
    um abraço!

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  61. Meu amigo querido, que saudades estava de vir aqui e beber dessa fonte inesgotável de pura poesia. :)

    O que dizer de um poema maravilhoso desses? Só deixando contigo os meus silêncios, pois não consigo dizer mais nada! Apenas fico quietinha, contemplando a beleza dos seus versos.

    Grande abraço! :)

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  62. Teu fevereiro frio, meu fevereiro calor.
    Apesar da disparidade de estações opostas acho que conseguiremos nos encontrar entre elas.
    Um bj querido amigo e sigo-te.

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  63. Em março, florescerão anjos de candura dos nossos peitos e ninguém mais morrerá a priori.

    Bela parceria!

    Abraços...

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  64. Sabe, eu não gosto do frio, mas numa poesia assim ele fica maravilhoso.Adoro tuas palavras.

    Um beijo.

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  65. não há lugar mais frio que o inferno...

    parceria de altos graus!

    beijos nos dois.

    (aqui está mais quente que o sopro do dragão)

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  66. querida amiga-dos-silêncios,
    a tua presença aqui é o som que doura a palavra e a torna verdade, mesmo que sem sair dos lábios.
    um beijinho!

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  67. querida gisa,
    os antípodas geográficos fazem ninho na casa do homem, sempre do lado de fora. já do lado de dentro, a poesia tudo unifica. é essa a sua verdade maior.
    um beijo e sê bem-vinda!

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  68. júlia e vinicius,
    março está já aqui à porta. nesse então, a morte será apenas ténue recordação...
    beijo e abraço!

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  69. amiga das paroles,
    eu prefiro incondicionalmente o calor ao frio. mas nem sempre consigo fazer o sol sorrir no interior da casa. ah, tivéssemos nós as artes de controlar os arrepios e o suor e não seríamos homens, mas deuses disputados pelos mais requintados olimpos celestiais. ainda assim, sabes que gosto de vestir e despir a roupa? ajuda-me a perceber que nada é linear, definitivo ou exemplarmente perfeito.
    um abraço!

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  70. infinitamente amiga de cris.tal,
    é bem verdade: quantas vezes é no fogo que percebemos a verdadeira dimensão do gelo? (e vice-versa)
    um beijinho, querida parceira!
    p.s. aqui, o dragão perdeu a chama no icebergue deste fevereiro...

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  71. Jorge,

    O vento, a chuva, o frio sentem-se na pele, nos ossos, no grito de um a-braço e aí o corpo nesse doce aconchego faz-se jardim onde o gelo é apenas uma sensação exterior… e entre o púrpura dos lábios e os velhos agasalhos escrevem-se histórias cravadas nas memórias do tempo, das estações, ora enlameadas, ora choradas, ora pintadas de pétalas que nos “lambem o sonho/acariciam o desejo”…
    E é verdade que na falta do antídoto para curar a solidão da noite há sempre quem chore mais do que nós, neste e em todos os fevereiros do tempo.
    Percorrendo o caminho do poema, todas as sensações fizeram morada em mim, um oásis no fevereiro que avistei “por detrás da retina”, muito além do sono das camélias, muito além do lençol que às vezes nos cobre o rosto…

    É mesmo o renascer de um fevereiro intemporal, numa dimensão poeticamente eterna!

    Parabéns, a ambos!

    Beijinhos!

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  72. O que é realidade?
    Nem o céu que olho à noite é verdadeiro...

    Ser a estrela que ainda brilha
    mas já explodiu...

    Ser a estrela
    que já existe
    mas ainda não brilha a teus olhos...

    É a lembrança que a ti sussurra
    ou a esperança que a ti grita?

    Lembra-te sempre de fazeres um pedido antes do dormir
    à estrela que se foi
    ou à que irá surgir...

    Jorge, meu amigo alado...

    estes versos nasceram aqui... perdoe se maculei teu espaço com restos de parto... não pude conter a Luz...

    Beijinho iluminado e um esperançoso fim de semana e um belo começo de outra!

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  73. amiga jb,
    rendo-me às sensações que retiras de sensações e que redimensionas em planos outros. do frio, da pele iriçada, do gelo que vitrifica no peito, dos planos cristalizados... todas as certezas: o fevereiro grafa-se no plural e com a tinta encarnada que contorna os lugares que marcam a diferença nas relações de si com os outros e de si consigo mesmo. e todos eles passam; será que conseguimos nós permanecer?
    um beijinho grande!

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  74. aninha-de-luz,
    os teus versos são imaculados como imaculada é a luz que deles brota. no código das estrelas inscrevemos tantos dos mistérios que perseguimos, quase sempre sem termos noção exacta do que sejam: realidade, felicidade, amor, vida. quem ousará apontar um só caminho?
    nessa impossibilidade, formulemos desejos e pintemos sonhos. pelo menos antes de adormecer...
    um beijinho com ternura infinita!

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  75. Lindo poema que adorei. Beijos com carinho


    Fevereiro do esquecimento
    Me lembrar, que vens fazer?
    Tu só vens para recalcar
    O que eu quero esquecer.

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  76. quem assegura que o fevereiro é apenas uma estação do ano? o seu frio faz-se sentir onde haja o sangue queime...
    um beijinho, rosa-branca!

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  77. Um grito em crescendo contra um tempo que se faz estado de alma, tédio nos limites do [nosso] inverno precoce.

    M.G.

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  78. venho tarde, mas...
    respiro do que contam estas palavras, maldito fevereiro(s)!
    admirável a vossa escrita, adoro.
    Beijos

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  79. é esse o tempo que mais custa a vergar: o que vive dentro (e não fora) de cada um de nós.
    um abraço, maria!

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  80. amiga andy,
    há fevereiros que têm os dentes sujos, cheios de cárie e a estourar de mau-hálito. porquê? por invejarem o sol dos seus parceiros de calendário deslocados para o solstício. o pior é que fazem morada nas nossas bocas...
    um beijinho!

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  81. Perfeito! Que bela parceria!
    (aos poucos estou lendo esta maravilha que é o seu blog!)
    bj

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