terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

gumes

fotografia de pedro polónio,
http://club-silencio.blogspot.com

vou fingir que não te ouço
para não ter mais os pés frios.
quiseste tudo,
até as varandas da morte
por achares que uma só vida
[esta]
te não chegava.

deitei o corpo em telas brancas
onde pintavas estranhas paisagens,
esperei ao relento
que os teus olhos se abrissem,
rocei ervas daninhas
jurando que bebia as tuas mãos.

tive frio, fome, calor, sede
gritei ao silêncio
[não sou eu]

afiei as lâminas, desinfectei os punhais
rasguei as entranhas
e esperei que o sangue
[não o meu]
corresse

não guardei os lençóis,
não consegui adormecer a tua escova-de-dentes
e não estourei com os teus discos de vinil.
nem os livros que escondi
no teu ventre se fizeram biblioteca,
quanto mais os rabiscos
que ousei arrancar-me enquanto a carpete
já só exibia o pó dos teus pés.

parti os vidros, os espelhos, os cristais
bebi do suor da testa,
esqueci o sal da tua boca
e lavei os dentes até que os pulsos se partissem

depois?
desci as calças
e emprenhei a vergonha
[que nunca reparti contigo]:
comprei romagens,
assinei promessas
e assisti às missas
[mesmo não sendo domingo].
já só me falta beijar o demónio na boca
[nem ele suportaria o hálito do meu corpo].

laura alberto & jorge pimenta


interpol, hands away

71 comentários:

  1. Belíssimo.

    Palavras intensas, à flor da pele, ritmadas, perfeitas...

    Beijo.Ótima semana.

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  2. E como são afiados!Imagens passionais que vão da desolação, passam pelo ressentimento e chegam à "adequação", à aceitação conflitante e repulsiva.

    Lembra Atrás da Porta do Chico Buarque. No caso uma porta final. Expressionista.

    Perfeita parceria.

    Abraço, Jorge.

    Em tempo: a bela foto me parece perfeita em termos de simbolismo.

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  3. Jorge, meu querido
    Escreveste um poema forte, denso, profundo, feito de ais, de estilhaços, de estertores, de dores ( ainda mais ).
    Lâminas e punhais tão afiados não bastaram para exterminar o sofrimento.
    Ah, amigo, versos lindo demais...
    Abraço apertado da
    Zélia

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  4. Sempre supremo, Jorge...

    Beijinho de Luz!

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  5. é um caminho vasto
    esse teu e sou conduzido
    com os olhos em febre
    atento às paisagens
    e aos sobressaltos
    das nuvens
    ...

    Forte abraço,
    irmão.

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  6. Composição para duas vozes!!! O poema veio-me melódico, uma canção belíssima, e os dois afinadíssimos, parabéns, pra variar, né?
    Beijos,

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  7. Ótimo.
    Vou fingir que 'você' morreu.
    :)
    Beijos!

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  8. Olá Jorge!!
    Os Duetos estão maravilhosos!!
    O que a gente esconde dentro da gente??
    os gumes são os medos lançados e escondidos, talvez a raiva seria uma solução...
    Beijos na sua Alma

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  9. Jorge,
    palavras despedaçadas à boca de dores em letras e afiadas palvras..
    forte e intenso..
    sempre a bela parceria a "cantar" baixo aos nossos ouvidos (sim! os leio em em voz alta para melhor "sentir"...)
    beijos...

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  10. afiadíssimo! esse entrosamento é fantástico...

    beijos cristais.

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  11. Oh, perdão, que não percebera a
    parceria: parabéns à Laura, grande poesia!Parabéns aos dois...
    Abraço.

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  12. rapaz, quem empunhou o cutelo? versos des-afiadores: balada sangrenta em dueto


    beijo e abraço

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  13. Brilhante! e brilhantes são vocês!

    "já só me falta beijar o demónio na boca
    [nem ele suportaria o hálito do meu corpo..."

    tomara eu saber escrever sobre os meus demónios e olhá-los de frente com todas as letras!

    raios e beijos!

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  14. Cortante

    Visceral

    Pungente

    Hoje, realmente, vocês se deram por inteiro.

    Parabéns ao que restou dos dois :)

    Jinhos meus

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  15. Uma só vida nunca chegará para beber as tuas (vossas)palavras repletas de poesia e impregnadas de magia.
    Beijos

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  16. arti os vidros, os espelhos, os cristais
    bebi do suor da testa,
    esqueci o sal da tua boca
    e lavei os dentes até que os pulsos se partissem

    Tudo isto talvez para esquecer-se dos beijos...

    Que poema maravilhoso.
    Muito bom!!!
    Abraço

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  17. Mas que grande dupla...:)
    "afiei as lâminas, desinfectei os punhais
    rasguei as entranhas
    e esperei que o sangue
    [não o meu]
    corresse"...ADOREI
    Beijo d'anjo

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  18. Um corpo se sacrifica por outro corpo que apodrece da mesma forma.

    Grande abraço, Jorge!

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  19. fazer adormecer a escova de dentes...que imagem vcs conseguiram... como o prosaico consegue ser tão dolorido?

    maravilhoso poema! parabéns, Laura e Jorge.

    bj

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  20. parole,
    apenas o que respira à flor da pele queima!
    um abraço!

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  21. marcantónio,
    a foto é de um amigo-fotógrafo da laura - pedro polónio - que sabe captar com maestria as sensações silenciosas, aquelas que por vezes não queremos em silêncio.
    um abraço!

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  22. querida amiga zélia,
    forte é a poesia. sabes que me lembro a toda a hora daquele poema do eugénio de andrade que tem na primeira estrofe
    "São como um cristal,
    as palavras.
    Algumas, um punhal,
    um incêndio.
    Outras,
    orvalho apenas."
    um beijo e um obrigado pelo teu carinho de sempre!

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  23. é por haver sobressaltos de nuvens que aprendemos como fomos feitos para saltos-sobre: sobre a decepção, sobre o desencanto, sobre as frustrações, sobre os adiamentos... e todas as berlins, e todos os muros, serão apenas ténue recordação daquilo que não ousareamos repetir.
    um abraço, poeta-irmão domingos!

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  24. taninha,
    a laura tem uma voz bem mais fina que a minha, que sou assim uma espécie de contrabaixo, hehehe!
    beijos, poeta amiga!

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  25. podes fingir que alguém vive; não que morreu.
    um beijo, vanessa!

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  26. querida amiga lidi,
    o que a gente esconde dentro de si? nem me atrevo sequer a pensar, quanto mais a responder :)
    beijos!
    p.s. a raiva é a voz, são as palavras, é o poema.

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  27. ingrid,
    uma curiosidade partilhada: tendencialmente, também leio os textos em voz alta. mesmo que os sentidos se amotinem, jamais conseguirei enganar os ouvidos :)
    um beijinho!

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  28. cris, amiga,
    há vozes que funcionam bem em parceria. tu que o digas, que cantas - a solo ou em dueto com tantos poetas desta nossa blogosfera - com o mais (a)fino cristal!
    um beijinho, poeta-prceira

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  29. zelita, é verdade, a laura também participou na chacina poética, hehehe!
    um beijo renovado!

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  30. assis,
    nick cave talvez ousasse dizer "murder ballads"!?
    um abraço, poeta!

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  31. os demónios: nomeá-los é enfrentá-los, querida amiga andy; é não temê-los, é desafiá-los, é vencê-los...
    um beijo desassombrado!

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  32. "parabéns aos que restou dos dois"
    cid@, cortante este teu comentário, hein? e depois nós é que fomos viscerais!? (hihihi)
    beijos, amig@!

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  33. malu,
    "parti os vidros, os espelhos, os cristais
    bebi do suor da testa,
    esqueci o sal da tua boca
    e lavei os dentes até que os pulsos se partissem"
    só não sei se tudo isto foi para que se esquecessem dos beijos, ou porque se esquecram dos beijos...
    um abraço!

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  34. Vocês dois escrevem muito bem. A música é ótima.

    gritei ao silêncio
    [não sou eu]

    Parece Pessoa olhando pela janela.

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  35. amiga-de-sonho,
    citas justamente a parte mais egocêntrica do texto, hehe!
    um beijo e um agradecimento sentido pelo teu carinho!

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  36. "Um corpo se sacrifica por outro corpo que apodrece da mesma forma."
    larinha,
    talvez porque o castigo nunca se contente com as entrenhas de um só ser; é sempre plural.
    um beijinho!

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  37. "não consegui adormecer a tua escova-de-dentes"
    ana,
    há coisas em que falhamos invariavelmente, verdade?
    um abraço!

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  38. querida andressa,
    as janelas de pessoa tinham os vidros voltados para dentro. todo o horizonte se cumpria no interior.
    um beijo!
    p.s. adoro tudo o que interpol já compôs; não há banda mais melancólica e próxima dos imortais joy division do que esta. quando é que decidem vir a portugal? raios... estou á espera há tanto...

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  39. Boba da Corte! Coloquei-me como boba da corte, o que eu sinto mesmo a distância nestes 30? e você...? anos, são vértices ungidos, espeta e aguça os sentidos, cada movimento vai roendo os ossos... Suicidar,até pensei, mas não te daria esta vitória! O que comove nestes poemas contidos são verdades amargas e doces mentiras! Vou pegar o tambor e chamarei isso de vísceras... Passei a te amar, mesmo de longe mais e mais...

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  40. Amigo dos meus encantos,

    quisera eu já ter ressuscitado da morte que me deste, e de cada vez que aqui parei,
    ter-te-ia soprado um cantar novo, que o vento gira sempre em vendaval dentro e fora do meu peito…
    ...e ao ler-vos podia até ouvir o silvo arrepiante do fio do punhal a rasgar a carne e o grito das entranhas enraivecidas a escrever este poema...
    és de facto o dono da palavra...
    ... desde então que ando em guerra com elas (as palavras) sem previsão de rendição de parte a parte...
    adorei esse poema, vasculhei-o minuciosamente para tentar adivinhar quem escreveu o quê...
    parabéns!
    beijooooos
    Laura
    e
    Jorge

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  41. Jorgito, querido meu,

    A mão que segura o punhal é a mesma que guarda a libélula e nenhuma se satisfaz em apenas tirar de si o próprio sangue. Há de se cortar os pés das a-sombra-ações.
    Parabéns, as duas mãos que sangraram, Laura e Jorgito.
    Bjs afiados e bom fds

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  42. não sei preparar um comentário à altura da poesia de vocês - espetacular digo! E porque será que essas partidas, essas saudades conseguem se tornar em poesias tão tocantes - imagino que seja a necessidade da saudade no homem - do encontro. Ou não sei, diante de tal obra me calo que é melhor não estragar com palavras...

    Beijos aos dois poetas!

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  43. Meu querido Poeta

    Estou em silêncio...completamente perdida neste belo emaranhado de sentimentos...que gritam...que amam...que são luz e sombra...cinzas e chama...inferno e paraíso.
    E principalmente dois grandes poetas...que em perfeita sintonia pintam uma tela soberba.

    Deixo o meu beijinho carinhoso
    Sonhadora

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  44. a todos:
    sim estamos vivos!
    estamos e vivos e continuamos, com nódoas, com cicatrizes, seguimos, em frente, paramos para seguir!

    É sempre um prazer escrever contigo, querido amigo!
    Beijos para ti e para todos que comentam os nossos poemas, a eles um sincero obrigada!

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  45. querida michelle,
    há tambores que rufam como violinos nos meus ouvidos. porque nem tudo o que fere mata; porque quase tudo o que não mata cura.
    falas-me do tempo? pois, tenho andado a escrever sobre fevereiros... no plural... os que passam e ferem, mas não matam e curam.
    beijos, amiga!

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  46. amiga-dos-encantos,
    as relações com as palavras são tão tensas (eufemismo) como as dos homens: tão depressa beijam, afagam e juram fidelidade eterna como, no momento seguinte, cospem veneno na cara e batem nos olhos da ausência. é verdade que as portas foram feitas para serem abertas e ainda mais verdade que tudo o que abre também fecha. agora, por que razão tem o corpo de sofrer o auto-de-fé que começa na fogueira de silêncios e dizeres que iludem verdades de língua bífida? a vida - denunciam eles - a vida é a responsável; nós - silêncios e dizeres - somos apenas os bodes expiatórios...
    subitamente perco os tímpanos e recuso a ideia de saber ouvir... para deixar de saber fal[h]ar.

    oh, como o vendaval das palavras que aqui depões sabe a brisa que agita a roupa sobre o mar!
    um beijo e maresia!

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  47. haverá libélulas sem sombras ou facas sem sol, querida amiga ira?...
    que as raízes definhem no veneno que as alimenta.
    um beijo!

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  48. amiga-do-sonho,
    só as tuas palavras sabem harmonizar todo o universo de contrários.
    obrigado!
    um beijo e uma rosa!

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  49. laura,
    as cicatrizes e as nódoas negras são as flores que tatuamos no corpo. hão-de, como ele, emagrecer, envelhecer, mirrar e morrer.
    nenhum desvio do cume significa a perda da montanha...
    um abraço!

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  50. luíza,
    agradeço-te o silêncio da tua presença por aqui. como o vento que não fala, mas diz. e tudo em sua volta se torna eloquente.
    um beijinho!

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  51. Querido Jorge,

    Antes de voar junto à Luíza e fazer companhia ao vento como uma brisa, digo que desejei ter livros escondidos em meu ventre...

    Beijinhos e carinhos para você e para Laura!

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  52. ...felizes os que conseguem
    beijar os demônios, trazê-los
    à intimidade de maneira que
    jamais nos incomodarão!

    bjbj, querido poeta!

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  53. querida lívia,
    de brisas e silêncios todos sabemos um pouco, verdade? a mim cumpre-me agradecê-los e acrescentar que os nossos livros - os verdadeiros - escondem a sua imaterialidade no ventre e em todas as demais bolsas que cabem no interior da nossa pele.
    um beijinho!

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  54. vivian,
    felizes esses, mesmo.
    quantas vezes damos cambalhotas, saltamos muros e cercas, escavamos buracos, nadamos em pauis com a firme convicção de que não vendo os demónios eles nos não vêem. típico, verdade? mas, mesmo sabendo que assim é, quem ousa enfrentá-los. tivéssemos nós a sua força, ou aquela que ganha corpo e forma nos contornos da poesia.
    um beijinho!

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  55. Jorge, Marcantonjio tem razão, me lembrou Atrás da Porta. esse final degradante de tanto amar, de tanto dar.... violentas palavras, violentas emoções, e tào humanas....muito bom!

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  56. Jorge,

    Sempre que aqui venho, oiço nitidamente em todos os sons, graves e agudos, a voz da poesia que bebo das vossas/tuas mãos e experimento todas as sensações que sinto no silêncio… De imediato me escorrem dos dedos emoções que teimam em ficar marcadas, ainda que simplesmente vos possa retribuir nas palavras que nunca serão suficientes para exibir o prazer destas viagens…
    Nunca conseguiria desenhar as paisagens que me invadem os olhos...
    Saio de pés e alma quentes e deixo a promessa de sempre regressar :)

    Mais uma vez, parabéns a ambos!

    Deixo beijinhos azuis em telas brancas!

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  57. Intenso...

    Numa sede de versos bebo as suas palavras com um conta gotas saboreando cada vírgula!

    Abraços

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  58. Olá não esqueço de vir !!
    Hoje venho desejar um feliz domindo para você beijos carinhosos,Evanir.
    http://aviagem1.blogspot.com/

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  59. walkiria,
    e quanto se esconde por detrás das portas, verdade?...
    um beijo!

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  60. amiga jb,
    parece que acabámos de descobrir uma nova combinação cromática: o azul da tua presença sobre telas brancas aponta ao arco-íris. já to disse em tempos e mantenho: as telas ganham novos contornos, novos tons e novas definições, assim se reeditando.
    um beijo e um agradeciemento especial.

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  61. querida suzana,
    se há palavras que pontuam a escrita com açúcar, outras há que escondem veneno. nunca as sei distinguir até ao instante em que fazem morada nas entranhas. e é sempre tarde de mais.
    um agradecimento sem pontuação!

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  62. evanir,
    a tua chegada é já um bom prenúncio dominical :)
    um beijo e um óptimo domingo para ti também.

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  63. Jorge,

    e, portanto, na cobertura do indiferente que emprenha bochecha vermelha, abre-se o arco-íris, e no que aborta os lençóis se visualiza a escova de dente selada promessas. Da biblioteca o que exibe pó, quanto mais os rabiscos desembocam do ouça-se formam o branco do suor; do gélido desaloja-se da neurose contida. Do tudo em análise se anuncia novo patamar, e as varandas do sepulcro se resgata abertura das interpretações; desvenda esta chegada por intitular vida sem integração de criar harmônico. Nas horas deitadas em que o corpo se derrama Alice no país das maravilhas, o peculiar confere confetes, onde se reinstala o pincel das estranhas paisagens, que de relento assim indaga razão das ervas daninhas – o escafandro e a borboleta. Os olhos do primeiro compasso roçam-se reabrir, com certeza o escondido desabrocha-se as vestimentas. As juras dos goles das mãos gritam-se em silêncio soletrado – viver por dentro às missas das semanas da existência o que não há. O não és que porventura menti e parti os vidros, os espelhos e os cristais, até o ruído de ressaca que dura o tempo da introdução. Do frio da fome, do calor e sede, com precisão de todas as notas, estrofes, os detalhes do acompanhamento vocal e orquestral que afia as lâminas, por que não reparti o contigo? Os punhais da boca desinfetados borboleteiam a capa do disco. O sangue que escorre nas entranhas corridas no dia em que pedido rasgo – o tal trem de insuportar o hálito tornado.

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  64. priscila,
    o escafandro mergulha nas profundezas das asas onde a borboleta esconde a lição de voo. escafandro ou borboleta? desejo de voar ou brevet?
    a esperança sempre se construiu com mar e céu; é sempre no azul que se borda a bandeira da esperança. hoje, é o encarnado do sangue em esquife que clama pela coroa de louros, onde os vencedores são os eternos vencidos. e assobiamos. e sorrimos.
    e estendemos os braços ao ar. e respiramos o ar fétido como se fora perfume de lavanda. e assistimos ao cair da tarde como se se ao cair da morte. onde estão os outros? onde ficámos nós? que musgo é este que me lava a boca e arranca os dentes, na voragem da fome que será sempre isso e nada mais: desejo-por-saciar, fome, privação, ausência e morte.
    e tu? onde ficaste tu?
    [provavelmente a amolar os cadáveres que bailam nos gumes metálicos dos cutelos; talvez a afiar túmulos sem gente, onde cabem todos os relinchos da humanidade; talvez a lamber os restos pútridos que relâmpagos transvestidos de arco-íris que não param de apascentar os pelos vermelhos que te enfeitam o peito e o sexo. e, no seu sangue, talvez aprender a nadar].
    um beijo!

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  65. Jorge, nas profundezas embrenha-se a museologia, que de escafandrista as asas sobrepõe ondas. O esconderijo labirinteado por do sol do chamado. Em nascente o desejo inlacônico de voejo se faz pincel. Verde construído amenidade; compromissado mar e céu, que de atuante papel por relembrar simples tom azulado que cola o solado.

    [Pausa]

    As notas observadas dos vendedores de sonhos, e pelas migalhas o paladar dos outros, nós dentro do pacote-outros. A matéria encarna tal proposta da falácia, a sublimar prepotência. Ao pódio os vencedores eternos - desumanos, alimentados pelos aplausos, assobios e sorrisos, que penetra a essência da minoria e destroem-se por serem crianças na emoção, mas abatidos desumanos, pois vencedores egocêntricos, não levaram o brilho, o real sentido do prêmio para o território psíquico. Ao breu, num canto pensamentos falam verdades, enquanto se atolam na lama da angústia, e a abstração dos braços, com notáveis títulos mortais, aguçam sentidos, mareja-se o ar. Mas, os gases impregnados, o que se inspira e expira, ante as imposições e máscaras à postos, fragranceiam-se sem vermelhidão às maçãs do rosto. Do alimento a ficar entre os dentes, desse martelar que faz ao longo da vida, sob o manto da intelectualidade para adentrar no torvelinho das ideias e ter bordado liberdade de partir. E a boca lavada à percepção das pequenas e bravas andorinhas de voraz fome regida no globo. Mas, a sequestrar: Será sempre isso e nada? Arrebentar-se saltando do topo do edifício? Fica-se dentro do insight, metamorfoseando a tela dos conflitos alojados no inconsciente. Combalido? Mas, não morto; da clara do ovo despreocupar-se com a paranóia da imagem social que pesa, é rígido, controlado pela ansiedade. - Provavelmente - sobreviver defronte à arte infernal, e pela sensibilidade, se há - conquistar? sugar a gota de energia cerebral, e de flecha certeira abalar alguns pilares da teoria marxista e do questionamento, auto-crítica no cemitério com túmulos sem gente com neurônios sem estado de choque, passivos - parasitas às ruas. E de raios, relâmpagos e trovões, tempestade suja e com a graça do arco-íris desbancar o caldeirão das indiferenças - marca de sintomas, síndromes, e assim, o sangue goticular nos lugares improváveis para gerar inconformidade e assinar a imprefeição com incrível acuidade.

    Abraços, e agradecida pelas notas que me apresenta, é sempre um descortinar que faz com que minhas entranhas cheguem à mesa.

    Priscila Cáliga

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  66. Jorge, às vezes penso que m eu coração é feito apenas de portas!

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