domingo, 13 de fevereiro de 2011

alguns dedos da mão

                                  daren borzynski

amanhã vou bater-te à porta.
sei que perdeste os ouvidos
e que a campainha não toca,
mas vou lá, ainda assim.

uma a uma, recolhi as pistas
que espalhaste pelo meu corpo
e ainda que em anacronismo
consigo entrar.
[a propósito, o sangue seca mais depressa
em fevereiro
e as cicatrizes são apenas flores
que fazem jardim na pele.
soubeste-o antes de mim, verdade?].

vejo que não perdeste
os olhos
onde fiz a minha biblioteca
e os lábios
que tornam todas as águas lentas.
mas sei que já tens pouco para dar,
e eu com tanto a estourar
na mão que dá
na mão que recebe
[finalmente entendi em que balança
se pesa o amor].

depois de ti
sei que os beijos podem não abrir versos
que os lençóis são apenas a cama onde te deitas
ou que a terra mais feia do mundo pode ser mesmo isso:
a terra mais feia do mundo

depois de ti
comecei a apertar as veias
e a tentar iluminar a garganta
[maldita boca,
o fogo que outrora a seduziu
queima agora as entranhas
e nem os dentes cabem, já, no sorriso]

depois de ti
o próximo poema
será feio como eu
será sujo como eu
será indecente como eu,
uma imitação
como eu.

mas sei que
mesmo borrado de tinta
jamais o saberás ler
sem alguns dedos da minha mão.

ulver, eos

78 comentários:

  1. Belíssimo - e forte!

    Bom retornar aqui!

    Beijos

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  2. lou,
    há pessoas que nunca deixaram de estar por cá :)
    obrigado!
    um beijo!

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  3. A música combina muito com a imagem, uma mistura de sombra e luz, igual meu fevereiro =/

    As palavras - finais - são encontros de confiança e tristeza.

    O tempo de tudo o que disse é como um rio, está passando.

    Paradoxo sincrônico.

    http://www.youtube.com/watch?v=-X_mGWOHEKY&feature=related

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  4. Ah, Jorge, meu querido, este seu poema incrível, juntamente com a música, neste pacote lindo de presente que nos oferece, com o carinho de sempre...
    Oa versos, ah, que versos!
    A despeito das dificuldades todas, você vai lá...E vai sem medo, pois tem a certeza da importância da sua presença.
    Lindíssimo, como tudo que traça a sua pena...
    Beijinhos, amigo!

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  5. querida andressa,
    começo por dizer-te, e em relação à referência musical que aqui fazes, que adoro interpol, uma das bandas que melhor conseguem tocar as sensações dos corações urbanos e convertê-las em melancolia e nostalgia melódicas. talvez a melhor depois de joy division (escuto a faixa sugerida enquanto te escrevo estas linhas).
    quanto aos fevereiros... há meses em que nem a chávena de café mais quente nos aquece alguns dos dedos da mão ou nos ajuda a sentir menos folha de árvore :)
    paradoxos sincrónicos, afinal.
    um abraço!

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  6. zélia-invariavelmente-querida,
    os gritos são isso mesmo: gritos. pobre de quem não o consiga fazer - as palavras apodrecem na garganta e envenenam todo o dizer.
    grite-se!
    gritemos, pois!
    um abraço-nada-silencioso!

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  7. Haverá sempre um ouvido que escuta e outro que adormece - a audição escolhe um foco, o olhar também, o que se escreve é para quem ler o distorcer a sua própria vontade. O leitor escuta o que quiser é fato. Poesia brutal essa que dedilhas. Beijos!

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  8. há coisas que nos fazem avarias muitas, nos estragam o peito, impõem traços e cicatrizes, travam de cica a voz e até nos condenam pelo verbo. mas que se não provássemos nada saberíamos e por mais findas eternizam-se alguns dedos da mão,


    grande abraço poeta

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  9. luíza,
    por vezes, quem escreve distorce; quem lê... reorganiza.
    [pobres são as palavras que nunca valem o que significam. o mel e o veneno são inoculações nossas]
    beijos!

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  10. Jorgito, que poema é esse? Meu número exato! Vesti! me caiu bem.
    Quer balança melhor que as mãos! Enquanto uma oferta, a outra recebe e o peso do amor se da quando as duas se encontram niveladas.

    depois de ti
    o próximo poema
    será feio como eu
    será sujo como eu
    será indecente como eu,
    uma imitação
    como eu... exatamente como são os poetas!

    Super boa semana,bjs de fevereiros, meu querido

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  11. amigo assis,
    pois, que o palato seja o último dos fios a rasgar-se nesta colcha a que chamamos vida...
    um abraço, poeta!

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  12. querida ira,
    ah, as balanças, foram feitas para pesar, mas nenhuma o faz da mesma forma, verdade? um quilo a mais, outro a menos, nunca nenhuma nos radiografa da mesma maneira. será que são elas em desalinho, ou nós que nunca respiramos duas vezes da mesma maneira?...
    um beijinho-de-fevereiro!

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  13. Esplêndido!

    um poema que arrebata tudo que se tem no corpo
    e a alma vai junto
    ...

    Carpe Diem!

    forte abraço,
    irmão.

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  14. Depois de ler: "e as cicatrizes são apenas flores que fazem jardim na pele" (uau!!!), consigo apenas te deixar um beijo, e ir embora em extase.

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  15. amigo domingos,
    quantas vezes a poesia não é, ela mesma, o auto-de-fé em que o corpo e a alma se limpam incinerando as tais flores tatuadas na pele? é deixar arder.
    carpe diem, poeta maior!
    um forte abraço e um verso!

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  16. "mas sei que
    mesmo borrado de tinta
    jamais o saberás ler"

    Analfabetismo afetal (dos afetos), rs.

    Beijos.

    http://www.vemcaluisa.blogspot.com/

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  17. querid@ amig@ cid@,
    pois, colhe as flores e leva-as contigo. são assim as flores: melhor parecem numa jarra do que na pele :)
    um beijo, doce amig@!

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  18. e como combater este grau de iliteracia avançado?... quem o saiba, que atire a primeira lição!
    um abraço, vanessa!

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  19. Perfeito!
    Uma sinestesia poética que nos envolve completamente.
    E o final???Fantástico.
    Sinto-me pequenina, pequenina a ler os teus poemas( como alguma vez ousei pensar que até tinha algum jeito para escrever????)
    Beijos

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  20. Olá Jorge,
    ..."[maldita boca,
    o fogo que outrora a seduziu
    queima agora as entranhas
    e nem os dentes cabem, já, no sorriso]..."

    Existem sorrisos apertados...

    Gosto de o ler!

    Bjs dos Alpes

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  21. Jorge,
    a essencia da presença mesmo na ausencia..
    teus versos hoje contundentes e apaixonados nessa necessidade,sufoca e grita...
    beijos querido poeta..

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  22. olá, sandra,
    as palavras são apenas isso: palavras. a força que carregam vive do coração que as anima. e como a tua escrita tem palavras e coração!
    um beijinho e um agradecimento pela simpatia do teu comentário!

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  23. flor dos alpes,
    há sorrisos apertadinhos até em bocas gigantes, verdade? :)
    um beijinho!

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  24. Menino quando te leio, é como se lesse teu coração. Escreves desenhando os sentimentos. Como pintar em uma tela. Perfeito! Meus aplausos.Bjos achocolatados

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  25. querida ingrid,
    gritos sufocados nas presenças que sempre prenunciam ausências... semi-presenças? quase-ausências?. eis, talvez, a essência.
    um beijinho!

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  26. obrigado, cristina. palavras gratas ao coração, as tuas.
    beijo!

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  27. sandra,
    que alma ousaria rejeitar beijos? com chocolate, então... :)
    gracias!
    beijinho!

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  28. As flores sabem que, enquanto não houver água, restarão-lhes sobreviver da luz do sol.

    Poema marcante, regado em feixes de luz e enigmática música.

    Beijinho!

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  29. Jorge,

    Um poema que se insinua como uma destemida e desejada viagem… um destino que provámos e nos devora, marcado pelos jardins da pele, pelos saberes dos dedos das mãos, pelo sabor dos beijos que quase secam a fonte numa sedução sempre tentadora... E chegados lá (ou será que se revela a tristeza de nunca termos chegado ao destino...) eis que nos penetra o silêncio das palavras que já não sorriem, e fica o vazio das mãos que um dia nos ensinaram a ler, a ver as pistas onde hoje apenas restam cicatrizes… ainda em flor…
    Acho que os dedos da tua mão são essenciais para me levarem de regresso ao meu azul... :) é que os meus perderam-se nos sentires dos teus versos!

    Beijinho, poeta!

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  30. verdade que esse som me chegava em voz rouca, cava, como violenta dor que atravessa bruma cerrada em noite profunda.
    e depois de ti existe ainda o poema por escrever, feio, sujo, indecente e belo como tu, borrado de tinta e impossível de ler, tão simplesmente porque esse poema feio e belo nunca poderá escrever-se e muito menos ler-se sozinho, mas sempre a duas mãos que se dão e se recebem em simultâneo, duas bocas e olhos cegos, quem sabe eles se terão perdido mesmo a devorar os livros de ti e se quedaram cegos por aflição, assim como os ouvidos se fingiram surdos, bem como a campainha se fez muda. amanhã perseguirás as pistas uma a uma e forçarás a porta surda porque as veias que estrangulas nas tuas mãos estão prestes a explodir. será então a hora de ensinares como se lê o teu poema/belo (feio, sujo, indecente como tu e borrado de tinta) e de colher as flores que ardem e se substituíram às cicatrizes...
    és muito grande a escrever, poeta/amigo-dos-meus-encantos.

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  31. 1.RAIOS!!!
    Dava a minha mão direita para ter escrito este poema.
    2. Não achas que a sombra anda há tempo demais no meio dos vivos?
    3. Se fechar a mão, apertar os dedos que me faltam, não será para bater à tua porta, será para socar o teu fantasma!
    4. Não é do mês, são os Homens!
    5. Beijo
    Laura

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  32. A fotografia está perfeita!!!
    Boa escolha!

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  33. amiga lívia,
    sabem as flores, também, que mesmo com água e sol acabam por envelhecer, perder as pétalas, o viço e... morrer. pode sobrar-lhes tudo; há-de sempre faltar-lhes o tempo.
    um beijo!
    p.s. a música veio-me parar às mãos por mera casualidade. confesso que foi, também ela, agente inspirador na construção deste texto.

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  34. querida jb,
    absolutamente verdade o que dizes: são viagens, são léguas e asfalto de verticalidade quase infinita que se abrem diante dos olhos, olhos que vêem, hoje, pior do que dantes [o pólen dos afectos ataca os brônquios, mas é sobretudo letal para os olhos; tudo o que é belo agita o nervo óptico, envaidece a miopia e acaba por cegar].
    restam-nos alguns dedos, algumas mãos, dessas que se cruzam, se tocam e nos conduzem daqui para aí e daí para o mundo. que, afinal, ainda está lá, escondido nas raízes da melancolia.
    um beijo azul [com conotações poéticas; jamais futebolísticas :)]

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  35. amiga-de-todos-os-encantos,
    quando deixas a tua voz nos blogues que visitas, há quase sempre dois textos: um antes e outro depois da tua impressão vocal. o que parecia fechado reabre-se em dúvidas e interrogações que inquietam as palavras, assim se tornando frágeis, tiritantes de frio e entumecidas pelo medo de não ser tão completas quanto se viam no momento anterior diante do espelho semântico. e a vergonha penetra-lhes o sangue, acelera-lhes o batimento cardíaco, a tensão sobe e o ataque torna-se iminente. provavelmente inócuo, que a morte devem tê-la conhecido antes, na vergonha máxima de terem dito o mínimo, mas que julgavam bastante.
    e com elas... morrem ainda todos os poetas que julgamos respirarem pelos nossos pulmões.
    um beijinho!

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  36. laura amiga:
    1. não dês nenhuma das mãos; como continuar a escrever?
    2. as sombras são assim mesmo: não sabem morrer.
    3. desde que vi "casper" passei a respeitar os fantasmas [ainda que saiba que se alimentam dos sonhos alheios].
    4. é dos homens... e das mulheres... e dos homens e das mulheres :).
    5. abraço!

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  37. "um beijo azul [com conotações poéticas; jamais futebolísticas :)] " E como concordo contigo!!! :)

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  38. Jorge alado...

    O que tu fazes diante de um poema que te aperta a garganta... que paralisa teus dedos... e que planta um jardim de arrepios em tua pele?

    Beijinho de Luz e uma semana sem borrões!

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  39. Meu querido poeta, gostaria de poder comentar mais profundamente, mas acho que sou mesmo de poucas palavras, principalmente quando um poema me arrebata como o teu. Quero apenas repetir um dos teus versos: "o sangue seca mais depressa em fevereiro...". Creio que ele traduz um pouco o tanto que gostaria de dizer e que já não é possível, posto que já faz parte da pele...mil beijos, Jorginho!

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  40. Um triste fim de um amar que se foi.

    Como já disseram, teus poemas não são apenas palavras, mas uma viagem sensorial, onde a poesia corre em tuas veias e nos leva junto...

    Belíssimo.

    Beijinhos e ótima semana.

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  41. Depois de mim, deixo escrito a ti poemas feito pelas mãos de quem escreve com o coração.

    Ah suas palavras que hipnotizam e alegra a alma!!!

    Beijos

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  42. aninha-de-luz,
    que fazer? esperar que o fevereiro passe... e que os dedos voltem a crescer nas mãos.
    um beijinho sem borrões!

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  43. daniela, pior que não saber dizer é já não poder dizer, verdade? o tempo é sempre a mão que devora os dedos, numa antropofagia cínica que não sabe esperar. para quê esperarmos nós, então?
    um beijo com carinho!

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  44. parole,
    há sempre uma água capaz de lavar os dedos. preservemo-los, pois. quantos aos anéis? são apenas isso: jóias rutilantes de adorno impreciso.
    beijos!

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  45. suzana,
    agradeço o teu comentário tão caloroso.
    um beijinho!

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  46. Jorge,

    Amanhã? O amanhã que não é visto no hoje, o que não cabe ao mortal. Do hoje, exatamente, agora, bater à porta dos ouvidos perdidos. Perdidos? Indiferentes! No além da resposta que não cala, que de indagações elevam-se, e de força descomunal silenciara a campainha. A alma cansada, que aguarda o antídoto, para não viver das migalhas que caem no chão. Mas, sim, tempo do já à busca da capacidade de resonhar. E dos arquivos resenhar um ato que recolhe as pedras, e do propósito caminhar ante o que ficara espalhado – o que se faz, assumir uma torre ou um palácio? Do fevereiro, de comunhão, o engano não prevalecer, mesmo que dentro da masmorra ou cova se encontrar. O sangue que seco há, velar as cicatrizes floridas, que as trevas na leitura tentam usurpar a transparência. Ouro, prata, pedras preciosas, sem palhas para não perder o recomeço. Humilhar-se, onde a biblioteca possa se reinaugura, e os lábios se adocem na imensidão das muitas águas. Do que se dá existência, o pouco que se dá torna-se grande no muito dá – simplesmente, pelo enxergar incomum. Das cinzas vindas, a esperança polvilhar o amor numa categoria e espaço que não morre jamais. Os ósculos que estão em morada ao vale, desembocar na correnteza de milagre, o voltar a crer no abrir do leque – versos que derrubam as paredes. O telhado livremente, que diante a dor instalada, pouco a pouco reconsolar os lençóis e a cama refolhar as letras à pele. Beber o que na veia se aperta, e metamorfosear em memorial. Da história os sinais anunciados algodão doce, iluminar a garganta. O próximo poema, mágica suave que canta o brega sentir, e as entranhas em dentes que tocam os ombros. E na importância, os lábios em fogo, para habitat limpo por adentrar na dupla honra. No ter do nós, sem depois; bordar a tinta que de dedos – união de todas as infinitas partes.

    p.s.: Repenso nos meus dias: O óleo jamais faltar e o fogo jamais apagar, com isso, preciso cuidar, regar intenso e olhar de detalhes.

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  47. Sentir com os olhos fechados, com o tato do outro, e tudo numa mesma voz.

    Belíssimo!

    Beijo.

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  48. Jorge
    Me encanta tua escrita, tão humana, doente, sangrenta, doce e mágica....assim como nós, estes seres....

    Em fevereiro o sangue..... esse amor que não tem nome nem lugar..... o grito nunca mais ouvido....e pedaços do amante que se despedaça a cada despedida.
    De ler chorando

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  49. Recolhi as pistas que deixaste no meu corpo...
    Nossa, amei isso, Jorginho!!! Tua poesia borbulha e nos queima a pele: é vertiginoso te ler.
    beijos,

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  50. "vejo que não perdeste
    os olhos
    onde fiz a minha biblioteca
    e os lábios
    que tornam todas as águas lentas"

    todas as imagens e sensações profundas que aqui nos deixas de alguns dedos da tua mão...

    belissíssimo :-), amigo!
    Beijinho

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  51. jorgíssimo,
    acho que ém portugal també existe o "velho deitado"(rs) de que, pra quem sabe ler, um pingo é letra.

    acabo de ler seu poema e conto os dedos de minha mão. acho que sumiu-me um olho...rs

    belo poema, poeta da cidade dos arcebispos.

    abração,

    roberto.

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  52. Ah Jorge!!
    No silêncio da madrugada, leio um dos seus poemas, que porem, são ótimos!
    Pude ler um fim nessa história, mas o coração não se cicatriza rapidamente como o nosso exterior.
    O amor nos faz julgarmos certos por linhas dos nossos desejos e anseios...
    e os caminhos para a mesma estrada hoje,estão borradas com as nossas consequências,talvez assim outras mãos poderemos encontrar e fazer uma nova leitura ...
    Parabéns!!
    Excelente Texto, muito bem escrito!!
    Beijos na sua Alma

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  53. priscila,
    arrepiante o teu depoimento que encerra com chave d'ouro: "Repenso nos meus dias: O óleo jamais faltar e o fogo jamais apagar, com isso, preciso cuidar, regar intenso e olhar de detalhes."
    nesta reafirmação da fragilidade humana e da sua superação por via de gestos que se esgotam na sua própria [aparente] insignificância, anunciemo-nos homens (com as respectivas fragilidades, insuficiências e incoerências), mas reafirmemo-nos como muito mais do que isso: projectos de humanidade. e é aqui, entre o que nos limita e o que nos engrandece, que encontramos a babilónia existencial, sem torres, linguagem ou serpentes malígnas: o amor. essa peça arquetipal onde assentam os músculos e os demais tecidos que nos cosem. no dizer de cesariny, o amor, aquilo que "nos resta do sagrado".
    um abraço!

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  54. larinha,
    e de voz como tu sabes...
    um beijo afinado!

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  55. walkiria,
    há fevereiros a cobrirem os calendários que trazemos no peito. inevitavelmente. os dias são cinzentos, a chuva cobre o olhar, o frio encarquilha a pele e dos relâmpagos... nada sobra senão a saudade do estio. mas o março será maior, mais quente e soalheiro; o abril? uma festa; o maio? uma flor; o junho? os projectos; o julho? o mar; o agosto?...
    beijos em ciclo!

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  56. taninha,
    a poesia é mesmo a pele que arde, verdade? tudo o mais é apenas as palavras que a atiçam.
    um beijinho, poeta-querida!

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  57. querida amiga andy,
    após ler-te, tive o reflexo condicionado de olhar para as mãos. felizmente os dedos continuam lá :) (acho que nem o poema, depois de os tragar, os quis digerir :)).
    um beijinho!

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  58. robertílimo,
    não conheço esse provérbio, mas sou capaz de lhe adivinhar o sentido.
    quanto ao olho: estou em crer que ficas a perder, porque dedos tens 10 (só nas mãos!!!) e olhos apenas dois :)
    um abraço, querido amigo!

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  59. lidi,
    de quanto aqui dizes, retenho como particularmente bonito que "o amor nos faz julgarmos certos por linhas dos nossos desejos e anseios...".
    talvez seja dessa soberba que nasçam todos os fevereiros...
    beijinho!

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  60. Saudações Jorge,
    Linda a fotografia da cabana!

    Na falta das minhas para comentar este seu poema e mais o Gumes de parceria com a Laura e Ode de toda a urgência, me vieram estes do Mário Quintana.

    "Os fantasmas não fumam porque poderiam acabar fumando-se a si mesmos "

    “Olho as minhas mãos
    Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
    Porque são minhas.
    Mas é tão esquisito distendê-las
    Assim, lentamente, como essas anêmonas do
    fundo do mar...
    Fechá-las, de repente,
    Os dedos como pétalas carnívoras!
    Só apanho, porém, com elas, esse alimento
    impalpável do tempo,
    Que me sustenta, e mata, e que vai secretando
    o pensamento
    Como tecem as teias as aranhas.
    A que mundo
    Pertenço?
    No mundo há pedras, baobás, panteras,
    Águas cantarolantes, o vento ventando
    E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
    Mas nada, disso tudo, diz: “existo”.
    Porque apenas existem...
    Enquanto isto,
    O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
    E, cheios de esperança e medo,
    Oficiamos rituais, inventamos
    Palavras mágicas,
    Fazemos
    Poemas, pobres poemas
    Que o vento
    Mistura, confunde e dispersa no ar...
    Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
    Foi este o fim da Criação!
    Mas, então,
    Quem urde eternamente a trama de tão velhos
    sonhos?
    Quem faz – em mim – esta interrogação?”

    Grande Abraço e muitas criações

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  61. pois.
    afinal, tudo passa... menos o tempo.
    um abraço, amiga dos cabelos compridos!

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  62. Jorge, deixei-lhe uma perguntinha, em resposta ao comentário que ontem me deixou. Se puder, dê lá um saltinho novamente, por favor.
    Beijinho.

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  63. já lá estive cristina.
    diálogos em torno do grande cesariny :)
    beijos!

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  64. Porque é o poeta filho da Melancolia?? Porque sempre que lhe veste o terno, escreve mergulhado até à exaustão da palavra e de si mesmo; e nem sempre, controla a mão que lhe escreve embora lhe empreste a vontade para a fluidez do poema!!

    Amei este poema!!!

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  65. haverá poesia que não seja inteira, e não se consuma nos limites que ela própria abre e fecha? é por isso que só ela nos arrebata.
    um abraço, não-sou-eu-é-a-outra!

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  66. ... e todo sentimento do mundo.

    beijo tuas mãos!

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  67. pelo menos, aquele que nos cabe no interior das mãos.
    um beijo do mundo, doce amiga de cris.tal especial!

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  68. Meu querido, voltando agora(que estava eu sem computador) corri para te ler e matar um pouco da imensa saudade que senti de adentrar por tuas portas.
    Leio este poema e poderia te escrever centenas de palavras sobre o que ele me traz, mas não, não posso. Teu poema tem a força de um punho fechado de encontro ao meu estômago. Emudeço. Dentro de mim até o ar se encolhe e minhas entranhas se agitam em reconhecimento. Por hora não posso ler mais nada, porque meu corpo ainda sente cada uma das tuas palavras e o arrepio que me percorre me traz espanto, pranto e encanto misturados.
    que falta senti dos teus versos invadindo assim a sala da minha alma, sem que eu sequer os possa pesar.

    beijos, amigo poeta!

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  69. querida amiga andrea,
    como as saudades são mais que sons difusos que se escondem nas formas convencionadas. é tão bom sentir-te por aqui... apenas com um lamento: o de que as minhas palavras magoem mais do que confortem...
    um beijinho com um sorriso por te reler!

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