domingo, 12 de dezembro de 2010

25 anos: Mão Morta no Theatro Circo

Não tinha sequer vinte anos quando assisti pela primeira vez a um concerto de Mão Morta, ao vivo. Recordo poucas coisas com nitidez e do flash difuso ocorrem-me imagens anónimas de um pavilhão em total desconcerto e caos.
Essa sempre foi, de resto, a imagem que Adolfo Luxúria Canibal passou. O retrato do ser fracturante, a roçar o anarquismo que, muito por força de uma personalidade com contornos definidos e de uma inteligência acima de média, surgia espontaneamente, sem qualquer tipo de artificialismo cultivado.
Hoje, com Adolfo já nos 50 anos, vê-lo a actuar é uma experiência totalmente diferente. O charme e o carisma estão lá, ainda que mais domados (até pela já proeminente barriga); os incitamentos rebeldes são velados e mais encenados do que genuínos; nas cadeiras, o cabedal negro cedeu lugar à miscigenação que caracteriza as tendências actuais, onde cetins se misturam com algodões de cores diversas. A música? ainda rock cru e duro, mas aqui e acolá pontuado por pormenores pop e até electrónicos. De inalterado, apenas as letras, onde os complexos humanos e as suas forças vitais (sexo e morte) determinam a linha maior (presentemente, muito marcadas pelas reflexões de J. G. Ballard).
O último álbum, “Pesadelo em Peluche”, tem sido aclamado pela crítica. Foi isso, para lá dos seus 25 anos de carreira, que fizeram regressar os Mão Morta ao palco da sua/minha cidade: o emblemático Theatro Circo. A noite escondeu-se por detrás da voz sussurrada do Canibal, durante quase duas inesquecíveis (nostálgicas, também) horas.


Mão Morta, Novelos de Paixão

12 comentários:

  1. sons claustrofóbicos, não conhecia a banda até então, vou ouvir mais coisas,


    abração

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  2. sabes, assis,
    mão morta é uma banda que começou por ser alternativa e meio underground. aos poucos foi conquistando o seu espaço e, hoje, sem surpresa, é das que exibem maior longevidade e genuinidade no seu trabalho. isso deve-se, em muito, à inteligência e ao carisma do adolfo luxúria canibal, vocalista, pessoa no mínimo curiosa. sabes que é advogado, escritor, poeta, investigador universitário, actor... para além de músico?
    um abraço!

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  3. Gostei Jorge.
    Existem tantas possibilidades que desconhecemos.
    A vida torna-se pequena.
    beijo.

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  4. Jorge,

    Coincidências ou não, mas hoje tenho sido brindada com música cujo ritmo é no mínimo tentador! Momentos em que é mesmo para esquecer um pouco alguma melancolia e tomar essa energia musical!
    É alimento para o corpo e... apetece-me dizer "o rock dá-te asas!!!" :)))

    Fascinante o que a música nos oferece e, claro, bela escolha que passa sempre pelas tuas mãos!

    Beijinho

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  5. ingrid,
    é justamente por essa razão que temos de manter sempre o espírito aberto face ao novo e ao desconhecido, verdade?
    mão morta é aquilo que, entre teenagers, cá em portugal, se designa de "uma pica" :)
    um beijinho!

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  6. o difícil foi aguentar todo o concerto sentado, em cadeiras de veludo, apenas agitando as cabeças e entoando as melodias conhecidas :) (na verdade, houve uma meia dúzia de aventureiros que se levantou nas cadeiras para dançar). acredita que é difícil, muito difícil, mesmo :)
    um beijinho, jb!

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  7. Olá Jorge!
    Nunca tinha ouvido!
    Como é boa as músicas!
    Autenticas !!
    Vou passar a ouvir rs
    Gostei da postagem, música boa nunca é demais ao meus ouvidos...^^
    Beijos na Alma

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  8. Ps: Dediquei seu blog no Selo de Blog Especial.
    Boa noite.

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  9. querida lili,
    eu gosto muito de mão morta, ainda que reconheça que têm um estilo musical demasiado próprio para ser imediato - o que até pode ser uma vantagem em arte, verdade?
    agradeço-te a amabilidade do selinho. vou a correr para lá :)
    um beijo e um abraço!

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  10. e como cabias neste concerto, laurita.
    um abraço!

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  11. É um prazer ler-te. Sinto essa sonoridade nas tuas palavras. Não sei se de propósito ou se são as tuas veias já baptizadas há séculos que se habituaram a filtrar a densidade - há quem dispa corpos, e há quem dispa e lamina as palavras - ... ou apenas um fantasma na minha cabeça que assim te lê em melodia!!

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