zbigniew reszka
manifesto anti-figurões [e figurinhas]
há-os aos montes os figurões
[já ouviste falar dos figurinhas?]
colam-se na sola dos sapatos, mal-cheirosos
[não sabem andar descalços]
sobem pelas caleiras dos lares
espreitam nas janelas, das casas
[deitam-se no chão
à espera da respiração das rosas]
fervilham em caldeirões gastos
em sangue brando, fedendo.
[ah, druidas do fogo
já nem as rosas sabem que são rosas].
há-os aos montes os figurões
espeto-lhes o garfo, o tridente
deixá-los berrar na noite
[já ouviste falar dos figurinhas?
perderam a coluna vertebral
e passaram a viver em hortos sem luar]
felizmente a morte
escorre sempre pelo tecto.
[e aquece a terra
já com as flores desmentidas].
(laura alberto & jorge Pimenta)
david bowye, the heart's filthy lesson
três escarros
– olha aquele coração que ali vai.
– sabes, passei a odiar esses gajos, caretas previsíveis, sempre com bocejos nas palavras. uma vez tentei agarrar um deles, gritar-lhe para lhe suster o passo. o gajo olhou com desdém e prosseguiu. Não tem noção da grandeza e que só por ela se pode afastar os mortos. filho-da-puta!
– acorda, não estarás a sonhar? espera, não o digas já, acabaste de adormecer. não é o sonho que aparece, são só dentes podres que te sorriem. acorda.
– já acordei. e sabes porquê? porque quanto mais perto do sonho, mais longe da utopia. e eu que sempre acreditei na leveza que escorre da im.possibilidade…
– sou o teu despertador, não te esqueças de lhe dar corda.
– sou a tua corda. de que te serve teres os ponteiros se a máquina não funciona?
– ouvi dizer que há o silêncio, nesse teu cemitério de estátuas.
– o silêncio?... schiu.
(laura alberto & jorge pimenta)
einstürzende neubauten, sabrina
manifesto anti-figurões [e figurinhas]
há-os aos montes os figurões
[já ouviste falar dos figurinhas?]
colam-se na sola dos sapatos, mal-cheirosos
[não sabem andar descalços]
sobem pelas caleiras dos lares
espreitam nas janelas, das casas
[deitam-se no chão
à espera da respiração das rosas]
fervilham em caldeirões gastos
em sangue brando, fedendo.
[ah, druidas do fogo
já nem as rosas sabem que são rosas].
há-os aos montes os figurões
espeto-lhes o garfo, o tridente
deixá-los berrar na noite
[já ouviste falar dos figurinhas?
perderam a coluna vertebral
e passaram a viver em hortos sem luar]
felizmente a morte
escorre sempre pelo tecto.
[e aquece a terra
já com as flores desmentidas].
(laura alberto & jorge Pimenta)
david bowye, the heart's filthy lesson
três escarros
– olha aquele coração que ali vai.
– sabes, passei a odiar esses gajos, caretas previsíveis, sempre com bocejos nas palavras. uma vez tentei agarrar um deles, gritar-lhe para lhe suster o passo. o gajo olhou com desdém e prosseguiu. Não tem noção da grandeza e que só por ela se pode afastar os mortos. filho-da-puta!
– acorda, não estarás a sonhar? espera, não o digas já, acabaste de adormecer. não é o sonho que aparece, são só dentes podres que te sorriem. acorda.
– já acordei. e sabes porquê? porque quanto mais perto do sonho, mais longe da utopia. e eu que sempre acreditei na leveza que escorre da im.possibilidade…
– sou o teu despertador, não te esqueças de lhe dar corda.
– sou a tua corda. de que te serve teres os ponteiros se a máquina não funciona?
– ouvi dizer que há o silêncio, nesse teu cemitério de estátuas.
– o silêncio?... schiu.
(laura alberto & jorge pimenta)
einstürzende neubauten, sabrina
Nossa, Jorge! Adorei... tristes tempos em que nem as rosas se sabem rosas.
ResponderEliminarUAU! Que combinação bombástica! rs Amei os duetos... vcs são perfeitos juntos!
ResponderEliminarBeijos aos dois. :)
mesmo sem se saber rosa, uma rosa será sempre uma rosa. eu espero... :) bom ler vocês. abraços.
ResponderEliminarjá disse à Laura, isto fez-me bem, quase como uma terapia, um dia tenho de experimentar!
ResponderEliminar...e apanhei umas barrigadas de riso.
decididamente há coisas que jamais poderão apodrecer na boca, há que libertá-las!
tenho de fazer o mesmo.
Beijinhos aos dois
ah e os videos...
"Parceria é par, é divisão irmã
ResponderEliminarÉ mais que dois colóquios, incestos ou manhãs
É mais que dois abraços em pedras esculpidas
Estranhos confidentes ou feras escondidas"
Zé Ramalho
a canção diz tudo
abraço
ana,
ResponderEliminarhá quem espere as rosas; há quem nem delas se recorde. tristes dias, estes, de facto.
um beijinho com pétalas vivas!
coleccionadora de silêncios,
ResponderEliminarcada parceria com a laura é mais do que escrita; é a amizade a romper a pele e os dedos. a escrita flui para onde a loucura aponta e os rostos, desprendendo sorrisos, disparam contra monstros de nevoeiro e ninfas que anunciam a claridade.
um beijo!
nydia,
ResponderEliminar"uma rosa será sempre uma rosa", do mesmo modo que as coisas são o que são (quando queremos que o sejam). e quantas são as vezes em que distintos olhares sobre o mesmo objecto originam partos diferentes?... não sei... por vezes as flores outrora anunciadas são desmentidas. reinventem-se as rosas e os seus tratadores.
um beijinho!
amiga andy,
ResponderEliminaré mesmo isso: terapia, libertação, catarse sobre a esfera que ameaça fartar-se com o pus dos dias e estourar logo após o primeiro grito. daí que tudo soe a apocalíptico, pareça caótico, desorganizado e desestruturado, sobre uma linha quase invisível de ordem, um código imperceptível que respira fundo após a explosão dos contrários. bowie e neubauten, em vídeos que considero do melhor alguma vez feito, dão o toque final.
um abraço!
e nós, aqui, a cantá-la em rotação contínua, assis...
ResponderEliminarum abraço, poeta!
magníficos!..
ResponderEliminare os vídeos,perfeitos.
são voracidades e contestações existentes..
Gostas de Rammstein?
beijos.
ingrid,
ResponderEliminarse gosto de rammstein? na fase voraz, como resistir-lhes? (confesso que nas demais também, hehe).
beijos!
A beleza da rosa é tão fascinante que, mesmo ela não sabendo que é rosa, será sempre rosa e sempre fascinara alguém.
ResponderEliminarBjossss
jorge e laura,
ResponderEliminarfico daqui, olhos de contemplaçação, vendo-os brincar com as palavras.
aplaudo, orgulhoso, os amigos que tenho.
beijao,
r.
há coisas que precisam de ser feitas
ResponderEliminarhá lanças que precisam retalhar as visceras
ResponderEliminarhá sangue que precisa de sangrar, sangue podre
ResponderEliminarhá mortes que é preciso morrer
ResponderEliminartum
ResponderEliminartum
tum
Vocês me tomaram aqui da sala e me fizerem mergulhar nas palavras. Tudo parou e docemente me rendi. Tenho andado angustiada também com o fazer e executar, muitos remetem estranhamento e recusa, qual é o lugar do ser e do estar?
ResponderEliminarBeijinhos para você e para Laura, ficou lindo!
giomara,
ResponderEliminarquantas vezes somos nós, rosas, que nos vemos apenas espinhos ou raiz sem terra?... e, no entanto, continuamos a ser nós, rosas...
um beijinho sem espinhos!
querido amigo roberto,
ResponderEliminaracaso haverá jogo maior que o de palavras? brincar com os signos, recriar referentes, esconder significados, trocar e renovar significantes, construir e destruir ao som da esfera de tinta que só sabe perder-se no final (da carga, que não do papel). e tu o sabes melhor que ninguém, cronista de apolo, verdade?
um abraço!
em síntese, laura:
ResponderEliminarhá coisas que precisam de ser feitas
há lanças que precisam de retalhar as vísceras
há sangue podre para sangrar
há mortes por morrer
e enquanto o caos só couber na ordem do poema, convoco os tambores e o seu rufar felino: tum tum tum. haja poesia, pois!
um abraço!
Parceria perfeita!
ResponderEliminarPrincípio e fim: entre os dois, a trilha, por onde caminham os maravilhosos, e oportunos versos...
Encantei-me com estes escritos!
Parabéns, meu amigo Jorge!
Parabéns, Laura!
Abraços
Jorge e Laura,
ResponderEliminarparabéns pela parceria.
Pois é....tantos andam adormecidos.
Cegos. Não conseguem enxergar a beleza
das rosas.
De vez em quando, é preciso acordá-los com a
sutileza da poesia.
Beijos
Jorge, meu querido.
ResponderEliminarCompartilhar signos e ainda esses, tão vorazes, os tornam luz aos olhos de contemplação.
Parabéns ao dois!
Bjs e boa semana, meu poeta
"e eu que sempre acreditei na leveza que escorre da im.possibilidade…"
ResponderEliminarHmmm. Impossibilidade rende alta literatura. Para além dos livros, rende noites a olhar o teto, nó na garganta, um gosto amargo de: E SE?
Olá Jorge,
ResponderEliminarótimas parcerias que fazem, e que delas surgem versos cheios de sentidos,
o tempo, as rosas, os sangues, manifestos, sonhos,...
Parabéns pra você e pra Laura
e que venha sempre mais
abraços
Se dúvidas houvesse...
ResponderEliminarContudo, nunca estamos sós no silêncio e o sonho, aquela força que nos projecta além do tempo, é o chão em que semeamos as utopias que somos capazes de inventar.
Abraço
Parabéns aos dois, muito apreciei!
ResponderEliminarBeijos.
que estranha mania, a dos inquietos, esta: procurar as linhas das mãos nas palavras, como se os carrosséis existenciais girassem (apenas) em torno da escrita... ainda assim, é seguro que os fantasmas, através dela, se afastem, fazendo-nos ganhar tempo. mas... ainda falta tanto caminho para se ganhar o tempo...
ResponderEliminarum beijinho com lábios de utopia, lívia!
zelita,
ResponderEliminarsão trilhos espontâneos e de pouca preparação, estes. escrever com a laura é justamente isso: exercício não controlado por imperativo de espécie nenhuma. por isso é tão gratificante para mim.
um beijinho!
celamar,
ResponderEliminarno dia em que as flores regressarem ao solo com a corola voltada para a terra, a utopia sairá vergada à sua maior derrota: deixar de nos guiar. por mim, cá estarei, "no meu posto a lutar" (manuel da fonseca)
beijinho!
ira, querida amiga e poeta,
ResponderEliminartocaste na palavra-chave: signo.
não são apenas palavras; são-no na sua significância, significado, mas, sobretudo, referente (aquele que as justifica e pelo qual todos os escritos sabem morrer).
um beijinho com ternura!
vanessa,
ResponderEliminara im.possibilidade é, tão-somente, as duas faces do ser humano. o pior é quando ele as cristaliza num dos rostos, apenas...
um beijo!
vais, amiga,
ResponderEliminaré verdade. admito que este escrito é assim meio cru, como as sensações que lhe deram a gestação primeira...
um beijinho!
jad, amigo,
ResponderEliminarah, a utopia!
e é justamente esse território umas vezes desenhado nos dedos, outras vezes bem longe dos dedos, que nos tornam vivos antes e após todas as quedas. mesmo que com o corpo exangue e os membros quebrados sobre a flacidez serôdia dos músculos. por dentro, a neve há-de continuar a cobrir os mantos (mitos) existenciais.
um abraço, poeta-filósofo!
larinha,
ResponderEliminarum obrigado dos dois :)
dois beijos!
Adorei Parabéns!!
ResponderEliminarboa semana pra vc!!
se cuida bjo
" cemitério de estátuas..."
ResponderEliminaressa imagem é tão sonora!
nem pisquei os olhos ao ler...
bela parceria!
beijo, estimado.
Algo que pudesse me concretizar, e foi andando, dei a volta, parei como estátua tentando te decifrar, neste decifrar, foi então que me perdi. Como saber quem era eu? Pois eu finjo tantas coisas para te amar? Já não sei?
ResponderEliminarju,
ResponderEliminarobrigado!
um beijo e uma óptima semana para ti, também!
cris, amiga e parceira,
ResponderEliminarsempre grande na gentileza!
um abraço!
michelle,
ResponderEliminaros textos nunca ficam órfãos de mãos e olhos que os desejem. é do entrecruzar das linhas (da mãos) com os horizontes (do olhar) que os textos se erguem, estendem os braços e tocam renovadas emoções, em tinta e em fibra, bem para lá do papel que lhes serviu de berço.
um beijinho!
Dose dupla em todos os sentidos... do lado de lá e do de cá... Emocionei-me duas vezes...
ResponderEliminarAbraço, poeta!
ana de luz,
ResponderEliminarsão assim, as rosas; não deixam cair nunca uma só pétala.
um beijinho de veludo!