I. verbicídio
um dia hei-de escrever a tua história
(logo após ter matado todas as palavras)
um dia hei-de escrever a tua história
(logo após ter matado todas as palavras)
II. (in)confidência
falei-te de mares que dormem
e de pássaros escondidos atrás do peito
respondeste com a mudez marinha
de canções que perderam a letra.
acreditas que a morte saiba guardar segredo?
(pssssst…
quero que saibas
que mesmo entre rostos de neblina,
há sempre alguém
que não nos deixa morrer).
falei-te de mares que dormem
e de pássaros escondidos atrás do peito
respondeste com a mudez marinha
de canções que perderam a letra.
acreditas que a morte saiba guardar segredo?
(pssssst…
quero que saibas
que mesmo entre rostos de neblina,
há sempre alguém
que não nos deixa morrer).
III. fractura
deixaste de invocar versos
e já não sabes ler ou escrever.
para quê a poesia, então?
ruíram todas as escadas
estendidas sobre os rios.
deixaste de invocar versos
e já não sabes ler ou escrever.
para quê a poesia, então?
ruíram todas as escadas
estendidas sobre os rios.
thom yorke, analyse
acho que somos um bando de verbicidas inconfidentes e náufragos - muito além dos rios. estamos em pleno mar. :) lindos os poemas, jorge. beijo!
ResponderEliminar"...Há sempre alguém que não nos deixa morrer..." Mesmo que seja apenas uma presença/ausência, mesmo que seja uma saudade que se transforma em mil palavras, há sempre alguém.
ResponderEliminarE você abusa da emoção quando fala dos vazios ocupados por um corpo de mulher.
beijos,
Maravilha esse conjunto.
nydia,
ResponderEliminartinha-me escapado a tua leitura intertitular; ao naufrágio do ser e das palavras colamos à falência dos rios que deixam de desejar o mar. mordidez? vejo apenas lucidez...
um abraço!
mai,
ResponderEliminarpara mim o corpo é muito mais do que matéria. não sou tomé, mas acredito naquilo que os sentidos e a inteligência alcançam. é nesse corpo que refunde a matéria e o espírito que se joga o trilho da humanidade. nunca é demais a emoção...
um beijo!
p.s. bom ter-te, de novo, por aqui.
Nossa, Jorge!
ResponderEliminarComo comentar versos assim? rs
...
Me fogem todos os adjetivos compatíveis ao seu poetar.
Tem a minha admiração, Poeta!
Beijos
Amigo Jorge!
ResponderEliminarApsar de não comentar as vezes que deveria, quero lhe dizer que gosto imensso do que escreve. Lindo!!!
Um abração
coleccionemos silêncios, querida amiga! quase sempre ganhamos mais com isso do que nas asas do mais perfeito dos versos, verdade?
ResponderEliminarum beijinho com gratidão e amizade!
caro josé,
ResponderEliminarcomo te entendo... pudesse eu poder permanecer nos blogues interagindo com pessoas que pensam, sentem e escrevem numa mesma linha... ainda assim é sempre um privilégio ter-te por aqui.
um abraço!
Estão mortas todas as palavras, todas as pontes ruíram...
ResponderEliminarSó o que resta é o silêncio que alguma vez fala mais alto, ecoando mesmo além do ruído ensurdecedor de águas revoltas.
Imenso abraço, meu grande poeta e querido amigo Jorge.
querida amiga zélia,
ResponderEliminaresse silêncio que remanesce das palavras e das pontes em ruptura é o adn com que nos reconstruímos. afinal, em cada palavra há o respectivo silêncio; em cada escada a consecutiva queda... e cada um de nós se agarra à corda que estica, deixando gotas de suor escorrer pela tensão, num eco que repercute a própria vida.
um beijinho carinhoso!
Jorge Pimenta, meu amigo e grande poeta, nem vou citar os versos... todos (cada palavra juntamente com o silêncio) é de um esplendor tátil... que fico cá com meus olhos brilhando e a respiração baqueada...
ResponderEliminarForte abraço,
com o chapéu
(faz tempo) na mão.
amigo domingos,
ResponderEliminarchovem palavras... mirram os silêncios... reflorescemos com cada gota que nos cai sobre os pés silentes.
um abraço, almocreve da palavra!
Jorge, eu pouco tenho a dizer agora lendo seus versos. O silêncio, esse sim, diria melhor. Tenho cá meus poetas prediletos, como não poderia deixar de ser. De um modo geral, traduzem eles o meu intraduzível...Taí...você "me diz" tanto...e assim procuro ouvir-me... Você não é apenas um poeta, mas um grande poeta!
ResponderEliminarBeijos,
Como é belo esse "verbicídio", e uma suprema contradição que ele se faça com palavras, essas pontes que não suplantam o rio do devir. Sei que nossa ânsia de expressão é bem maior do que as palavras: há algo que só se diz com febre corporal, com o ar que volta sem fonemas dos pulmões inflamados de dúvidas, com o silêncio que eriça os cabelos da nuca, com sobras de unhas, com as bandeiras brancas desesperadas que os olhos agitam para um céu sem entradas .
ResponderEliminarNão sei; creio que esse alguém que não nos deixa morrer não é mais que outra onda que beija a praia em que pisamos e retorna de costas para o oceano da indistinção.
Reafirmo a beleza algo dolorida das suas etiquetas!
Grande abraço, Jorge.
Jorge,
ResponderEliminarEm primeiro lugar, vou comentar a imagem:
Como mulher, bibliotecária, e amante dos livros, tenho prá mim, que o espaço na parede estaria bem melhor, sendo preenchido por bons livros... Mas, enfim, cada um tem um gosto, não é? Quem sou eu prá discutir com Jean S. Monzani...:)))
Então vamos às etiquetas... (quem ve, até pensa que eu tenho capacidade prá comentar qualquer escrito de Jorge Pimenta...) mas... vamos lá...
Creio, que no fim de tudo, haverá sempre alguém que não nos deixará morrer (ser esquecidos). Pessoas que nos guardam "em pássaros escondidos atrás do peito".
Quanto à escrever a história... Impossível, amigo, nem a nossa somos capaz, pois o cérebro nos trai, e nunca sabemos se aquilo de fato aconteceu, ou se o imaginamos =)
"Para que a poesia, então"? A minha resposta é: Para que a vida consiga se revestir de magia, e a gente possa penetrar em um mundo onde tudo é possível.
Fique bem.
Cid@
Jorge, meu poeta amigo,
ResponderEliminarQuando acabam as palavras, ainda nos restam as falas do corpo, tão fortes como a água.
Um grande beijo
amiga tânia,
ResponderEliminardizer o inefável, tocar o intocável, ver o invísivel e viver além do sofrível são desafios que se nos colocam a cada instante. como superá-los senão pela palavra, mesmo que frágil e tantas vezes mesquinha? o desejo de ser há-de elevar o dizer a um estado de conjugação plena de corpos: o das palavras com o dos homens. será daí que nasce a poesia?
é um privilégio ter-te por cá.
um beijinho!
marcantónio,
ResponderEliminaro teu olhar sobre o texto não deixa nunca de demonstrar o quão débeis as palavras são: desnudam-nos, quando supúnhamos que nos escondiam... a contradição maior é justamente essa: fundarmos a redenção do homem no verbo, mesmo sabendo da sua falência pré-existencial. o mito vive fora da realidade; a sua única verdade é ser... por palavras. é o tempo do dizer a sobrepor-se ao do ser e, nesse caso, desfaça-se a contradição: matemos as palavras... mesmo que com palavras.
p.s. estou à procura da praia, porque nem a onda que vai e vem, não nos deixando morrer, permanece escondida...
um abraço, druída do dizer!
amiga cid@,
ResponderEliminaresta imagem agarrou-me. talvez por conjugar o belo com o belo, ainda que com papéis invertidos. ler a mulher e viver os livros... como seria? :-)
nestas etiquetas os papéis nem sempre estão pregados nas peças certas... é a tua presença (tal como a daqueles que por aqui passam) que mas ajuda a reencaixá-las no devido lugar.
um abraço!
querida ira,
ResponderEliminarpor certo falas do corpo, o que se desprende do oráculo que, com palavras, fica roxo e morre; falas do corpo que, à margem dos sentidos verbais, incendia vontades, como a tempestade arranca o bojo ao barco. e eis, por fim, que emerge em trilhos de água que não sabem morrer... ao contrário das palavras e das bocas que as cospem e sujam...
um abraço!
Jorginho,
ResponderEliminarPor agora, um beijo mudo.
A neblina ainda confunde minha visão... E ainda não sei dizer que cheiro tem o passado e tampouco qual o gosto de um retrato.
Mais tarde volto... quando minhas palavras deixarem de ser homicidas.
Esse verbicídio é um espetáculo, e os demais, acompanham o espanto da obra.
ResponderEliminarDevoro teus atos com a fome dos bárbaros.
Beijo, poeta de grau maior!
pólen,
ResponderEliminaro passado tem o cheiro dos rostos que emoldurámos nos retratos do peito. o seu paladar é doce, dulcíssimo, mesmo...
um beijinho!
cris, amiga,
ResponderEliminaré apenas nas tuas palavras que me sinto distinto. e porque as desejo liquidar, afogo-me na sede dos bárbaros...
um beijinho com muito cris-tal e alguma poesia!
A história "dos outros" muitas vezes é a nossa.
ResponderEliminarna mouche, vanessa :)
ResponderEliminarJorge, amei aqui.
ResponderEliminarJá estou te seguindo.
olá, michele,
ResponderEliminarque bom que estas viagens te assentam no pé :)
sê bem-vinda!
um beijo!
Belíssimas...
ResponderEliminar"...que mesmo entre rostos de neblina,
há sempre alguém
que não nos deixa morrer"
que haja sempre qualquer coisa que não nos deixe morrer, quanto mais não seja o sol, a música, um sorriso, uma palavra...
o corpo na estante e os livros descansam no sofá... :-)
beijinho!
...Jorge querido,
ResponderEliminaré engraçado que as tuas palavras
permitem-me ouvir meu silêncio
feito emoções, e é claro,
emoções não se traduzem
em letras.
então deixo beijos encantados!
Jorge,
ResponderEliminarÉ curioso, mesmo depois de referires como nascem estas tuas etiquetas, continuo a sentir que entre elas há uma ligação implicítamente deliciosa (nem sei bem explicar-te)!
E...
é quando as palavras morrem
é quando os versos se despem dos segredos
que a poesia emerge sustendo-nos na nudez da pele em que só a alma poderá ler a história que um dia será escrita no silêncio dos pássaros.
A tua imagem é... um livro aberto! :)
E como é difícil por vezes nos lermos, a nós e aos outros!
Beijinho!
andy, amiga,
ResponderEliminaré, talvez, preferível deixarmos de procurar porque o equilíbrio do universo encarregar-se-á de no-la trazer. mesmo que seja sob a forma de um livro, do sol, de uma música, de um sorriso...
um beijinho!
vivian,
ResponderEliminaras emoções vozeadas ficam, tantas vezes, arredias do epicentro que as gerou. optemos pelo silêncio, pois...
um beijinho!
jb,
ResponderEliminara minha imagem é um livro aberto e... a tua leitura, os olhos e o cérebro que o actualizam. falavas em nudez e pele... oh, se não ísso que sucede quando o poema baila nas mãos daqueles que o refundem, como tu... é a leitura-espelho, a leitura-reflexo, com simentrias e assimetrias apenas apuradas no compasso da vida, de cada uma das vidas.
um abraço!
Preciso dizer que sua (in)confidência me deixou muda. Em silêncio, passo por aqui flutuando, lendo-te em segredo.
ResponderEliminarBeijo, grande poeta.
Há sempre coisas e pessoas que não deixamos morrer. Por isso gostamos de poesia e contamos tantas histórias.
ResponderEliminarBelíssimo poema!
Jorge, querido
ResponderEliminarainda tenho em mim um imenso silêncio
mas, lendo-te, percebo que:
apesar de ruírem
as escadas sobre os rios,
e em suas margens
afogarmos palavras
que nos dizem nada
(ou seria tanto?)
há sempre alguém, uma voz
que não nos deixa morrer
ainda que entre rostos de neblina,
ainda que entre corpos de fumaça...
tua poesia sempre me alimenta!
um beijo com saudades, amigo poeta!
larinha,
ResponderEliminarqual é a in.confidência que não nos surpreende, verdade? :)
um brinde às palavras e um outro ainda maior aos silêncios!
ana f,
ResponderEliminarquem dera que a poesia gostasse um pouco de nós, também... há momentos em que tenho as minhas dúvidas. refiro-me à poesia que brota do lado de fora das palavras e do bordo de dentro da vida...
um abraço!
andrea, querida,
ResponderEliminarque bom saber-te de volta... justamente porque há escadas que se desmoronam, mas rostos que nos seguram a mão, a vida faz-se de entradas e saídas de cena, de aparições e pausas. o continuum fluido é mera ficção ou utopia genética. :)
um beijinho!
Jorginho, me apropriei de tuas letras para o último verso... Espero que não se importe.
ResponderEliminarPara Jorge Pimenta:
Dizem que à morte dos signos, lembrar-te- hei com os sentidos
E nossas cartas hão de queimar entre os dedos febris...
Que cheiro minha memória guardará até o fim?
Há um presente plantado nas horas do passado
A paixão perdeu minha sorte num jogo de dados
Aqui, as recordações não são cálculos de um porvir
Quando deixares de existir na acidez da saliva
E teu nome não mais confundir as noites e os dias
Direi sem metáforas: “Parem o tempo. Quero sair!!!”
Um beijo,
Adriana.
Vim dizer-te que o teu comentário lá no azul abrilhantou o meu olhar. Lindíssimo, obrigada, jorge!
ResponderEliminar"entre olhares" é o título que procurava e que tu encontraste! Queria pedir-te se o posso utilizar substituindo o "espelho do olhar".
Um grande beijinho!
adriana,
ResponderEliminaros dois versos finais acabam de ganhar sentido no corpo que lhes vestes, corpo de escopo fino e olhar certeiro.
por que razão os signos moribundos sempre estendem os dedos para aqueles que os não já sabem dizer? por que não sabem morrer de olhos fechados e pele seca? talvez porque as bocas tenham o seu tempo e o dizer se inscreva num permanente devir...
belíssimo! lisonjeias-me com esta dedicatória.
um beijinho!
jb,
ResponderEliminarentre sorrisos e no meio de silêncios, considera todos os olhares teus :)
um beijinho!
Muitas vezes verborrágicos,somos,os homens,vivos apenas quando lembrados.O silêncio faz parte da lembrança,no entanto penso que as palavras nunca morrem;mesmo entre resquícios e flagelos.
ResponderEliminarAbraço
rívia,
ResponderEliminarhá quem diga que a capacidade de nomear nos garante a existência. estou convencido de que, à esquina das palavras, é nos silêncios que conquistamos o traço mais próximo daquele que o arquitecto do ser um dia idealizou. só nos silêncios os sonhos se desprendem das amarras da memória...
um beijo!
Andei meio ausente por vários motivos, mas aos poucos estou voltando
ResponderEliminarImenso abraço meu caro!
caro juan,
ResponderEliminarcomo te entendo... eu próprio também já tive a minha pausa sabática :). feliz por te sentir de regresso, tu e o teu rembrandt.
um abraço!
Olá Jorge... aqui cheguei em marés de versos e atraquei no teu porto de palavras que me encantaram. Voltarei para sentir a brisas dos versos e banhar-me na luz dos seus significados.
ResponderEliminarUm beijo de mar
princesa do mar,
ResponderEliminarquem resiste às marés de versos? foi justamente a corrente da poesia que me fez navegar até à tua ilha encantada. do que vi/li, faço uma dedução porventura abusiva:
parece que ambos estamos em permanente viagem e, em ambos os casos, tendo o mar por referente maior.
agradeço a tua presença, bem como das tuas palavras líquidas.
um beijinho!
durante uns tempos, ainda agora, abominei os parentesis, mas aqui eles caem muito, muito bem.
ResponderEliminarPerfeito!
Beijo
Laura
Ah, cai de joelhos ao ler isto!!!
ResponderEliminarDivino!
sabes, laurita,
ResponderEliminarem se tratando dos parênteses, tenho aprendido às minhas custas uma verdade: é dentro deles que se esconde o essencial e raramente o acessório :).
um abraço!
Ahn Ahn!
ResponderEliminar"que mesmo entre rostos de neblina,
há sempre alguém
que não nos deixa morrer"
É por isso que vale a pena extravasar o sentir...
Encantada!
que dizer-te, ana, senão silenciar a voz anuindo como que em dogmática oração...
ResponderEliminarum abraço!
caríssimo, não sei porque raios eu não estive aqui antes. o que perdi o tempo já sangrou com suas unhas afiadas. para que a poesia então? sempre me pergunto e de não encontrar respostas cultivo o ócio dos versos. a tua voz não silencia sobre a palavra, ao contrário converte-a: cápsula sonora de epigramas, desconcerto de pretéritos todos conjungados e amalgamados nestas etiquetas,
ResponderEliminarabração
assis,
ResponderEliminartodo o tempo é nosso, quando o queiramos nosso. nessa medida, jamais é tarde ou cedo e cada hora é a hora e o momento. tanto na poesia, como na vida.
ter-te aqui é um luxo que não dispenso :)
um forte abraço!