alessandro bavari
diz ele:
o destino mudou
mas as pedras permanecem intocadas.
ainda sou capaz de segurar o teu nome nos lábios
sem anagramas interrompendo a brevidade do verso.
sabes? eu sou a escrita!
diz ela:
o caminho é invisível
e da breve travessia dos corpos recordo apenas pegadas.
são gretas de noite a secar-me os lábios
e o nome? tão-só a memória do poema.
sabes? eu nunca soube ler…
digo eu:
os olhos dele e dela recuaram para o interior das estrelas.
as mãos tocam-se na meteorologia do desejo
mas os dedos desprendem-se
do movimento elíptico do mundo.
cospem o beijo na saliva de pétalas
que um dia quis ser jardim sem morte
mas a terra estremeceu e interrompeu o monólogo
dele
dela.
as bocas fecharam-se num silêncio de árvores
e dos corpos (dele e dela) restou apenas o calor
adormecido no aquário da linguagem.
nick cave, jesus of the moon
terça-feira, 5 de outubro de 2010
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Jorge Pimenta,
ResponderEliminarperturbador poeta
e amigo, eis um poema
para ser posto sobre a escrivaninha
e destrinchá-lo com os firmes olhos.
Sem recuos,
sem brevidades.
Forte abraço.
domingos,
ResponderEliminarque honraria maior senão deixá-lo ali, na mesinha-de-cabeceira, a estalar o tecido enquanto aguarda pelos olhos que se desprendem do sono?
obrigado, amigo-poeta!
ufa! é tão lindo o que escreveste neste diálogo de emoções.
ResponderEliminarBeijinho amigo!
levo o "jesus of the moon" a caminho da almofada :-))
querida amiga andy,
ResponderEliminarna verdade este texto é uma espécie de triálogo :), em que há uma voz que parece mediar as outras duas. no final, a pulverização vocal e tudo se transforma em mero monólogo.
creio que também vou deitar o meu jesus of the moon, também. :)
beijinho grande!
De tudo, fica um pouco. Fica a linguagem e a lembrança dela. Fagulha eterna...
ResponderEliminarBelo poema! Vozes várias, é do que se faz a memória e também a literatura.
Te sigo!
As coisas mudam e não mudam. Sempre me abismo com isso.
ResponderEliminar"cospem o beijo na saliva de pétalas
ResponderEliminarque um dia quis ser jardim sem morte"
que coisa linda isso, Jorge!
e a terceira voz, que enxerga além da pedra, que entende além do poema, que ouve além do silêncio...
palavras para serem lidas e relidas.
beijinho, querido!
Não importa se a uma, duas, ou tres vozes...
ResponderEliminarNo final, a voz maior, aquela que rompe até o silêncio das árvores, é a do poeta.
É esta que nos transpassa como lança o coração.
Ainda bem que só no sentido figurado :)
Beijossssss da Cid@
olá, ana,
ResponderEliminarde permanências e esquecimentos todos sabemos um pouco. no mais que tudo, saber-se que restamos nós, cada um, com a sua própria dose de fagulha em noite escura.
um beijo!
vanessa,
ResponderEliminaras coisas são o que queremos que elas sejam. se as circunstâncias mudam e com elas os circunstantes, tudo se torna circunstancialidade, verdade? ainda assim, e concordando contigo, por vezes a mudança é apenas... visão turva.
um beijo!
andrea, querida,
ResponderEliminara terceira voz é a que consegue filtrar as outras duas, com o olhar semi-distanciado dos que têm o privilégio de se não magoarem com as quedas nas abordagens às curvas mal calculadas, mas que também nunca chegam a sentir a plenitude da estrada.
um beijinho!
olá, amig@ cid@,
ResponderEliminartodos os que viajam nesta nossa blogosfera têm-na (a terceira voz) em tom bem afinado :)
um beijinho terno!
As vozes mudam de lugar...
ResponderEliminarEsse diálogo é digno de partitura.
Beijo de bom dia!
cris, amiga,
ResponderEliminaras vozes... são os lugares.
um beijinho!
Jorge, amigo tão querido,
ResponderEliminarEnquanto dois conjugam palavras e silêncios, cada qual com seu suor, um terceiro rasga o véu. Olha e não toca. Faz chover pétalas.
Após o êxtase da trilogia, o poeta se derrama em versos.
Fascinação, não é lê-lo, mas sentí-lo.
Bj com monólogo
Perdoe-me a viagem, mas fui até o Crátilo - diálogo de Platão - que pensava que fosse impossível dar um nome às coisas pois, estando elas em constante devir, não seriam mais aquelas. Limitava-se somente a apontá-las.
ResponderEliminargrande abraço poeta
ira, querida poeta,
ResponderEliminara tua leitura desnuda as diferentes vozes que efabulam suspiros. uma é a da escrita; a outra não sabe ler. talvez lhes tenha escapado um detalhe que faz toda a diferença: mais que ler e escrever, a voz constrói-se no sentir. e tudo seria diferente...
um beijinho!
platão e o devir; gadamer e o já acontecido. em ambos os casos, nada na existência real permanece intocado. e nos sentidos?...
ResponderEliminarum abraço, poeta sempre inspirado!
a propósito... não é com crátilo que se molda a matriz do cepticismo?... ora, aí está!
ResponderEliminarum redobrado abraço, assis!
Boa tarde, Jorge.
ResponderEliminarDa qualidade da tua escrita já não falo. É uma evidência que se nos impõe, não pela óbvia transparência da beleza da tua escrita mas justamente porque dizes excelentemente a complexidade do que dizes. E, por isso, te (re)lemos. Por isso, regressamos às palavras que nos interpelam na sua opacidade. É que, sabe-lo bem, a poesia não mostra a realidade tornando-a clara, transparente, sem problemas ou dificuldades na sua compreensão. A poesia diz a polissemia da realidade na plurivocidade da palavra e, neste dizer plurívoco, o mundo e a vida encantam-se na sua complexidade significante. E nós, seus leitores, buscamos o sentido cosmogónico que dê sentido à multiplicidade caótica da transparência vazia do quotidiano.
Falo do angustiado desencanto dos dias sombrios e da centelha de esperança que habitam tua poesia. E habitam bem porque quando a realidade se esgotar no constante devir do efémero sentir humano resta o inefável silêncio donde colhemos os sons com que construímos os mundos que habitamos uns com os outros nas palavras que dizemos, na música que sentimos, nos porquês que pensamos. E é por aí que seguimos atormentados e esperançosos na leitura de quem escreve bem o que pensa bem. E é também por isso que aqui vimos.
Abraço
amigo jad,
ResponderEliminarpois que eternizas a poesia numa definição que conjuga o que de melhor o pensador, o literato, o professor, mas, sobretudo, o homem lhe tributam. do jogo de significantes ao de significados, onde palavras e referentes se (con)fundem nos diferentes jogos vozeados, ora acenando um trilho real, ora iludindo justamente essa realidade. associar toda a grandeza da definição à minha escrita é um elogio desmedido que a pequenez da obra teme aceitar. agarra-se, isso sim, ao calor da tua amizade.
um forte abraço!
Tenho para mim, caro Jorge, que a humildade não é necessariamente a virtude, embora a arrogância seja sempre um "defectum".
ResponderEliminarEscreves muito bem, sabe-lo bem, todos o sabemos justamente porque usas a música das palavras para dizer bem o nosso modo humano de ser. Não és único, claro que não, felizmente para ti e para nós. Mas que és um dos que melhor diz, ai disso não te livras.
Abraço forte também para ti.
:)
ResponderEliminar(o sorriso é de embaraço, pois claro).
um abraço, amigo jad!
Às vezes penso que se as coisas fossem eternas, como tantas vezes desejamos, não seriam tão vivas nem tão perfeitas como podem ser em sua fugacidade. A poesia mora na impermanência.
ResponderEliminarBeijo, Jorge.
Jorge,
ResponderEliminarAs pedras intocadas (dele) são essenciais para que a tinta do verso possa escorrer...
O caminho invisível (dela) é o leito onde correrá essa tinta...
Cabe ao "eu" vazar a tinta do coração! E como o fazes de forma admirável!
Aos meus olhos sinto esse corpo (dele e dela) numa única forma - a da poesia, que se alimenta no "interior das [tuas] estrelas" caindo até nós em chuva de pétalas no diálogo das bocas fechadas entre poeta e o leitor.
"restou apenas o calor
adormecido no aquário da linguagem."
O que restou é simplesmente o que se entornou e transbordou... POESIA.
Gostava de ser sereia e nadar nesse aquário! :)
Beijinho, com admiração!
dade,
ResponderEliminaro teu comentário é a verdade da poesia. a impermanência, a atracção abissal, a euforia disfórica concorrem para uma certa (des)ordem que é, em si mesma, o habitat natural do poema. daí que o poeta seja, não raras vezes, o equilibrista sem vara sobre um tanque de tubarões.
um beijo!
jb,
ResponderEliminarquem te lê (e são muitos e, merecidamente, cada vez mais) sabe bem que és sereia não no aquário, mas no oceano da poesia.
obrigado pela tua leitura sempre tão viva, quase operando uma reescrita do próprio texto, assim o fazendo viver duas vezes. essa sim, a magia que arde nas mãos de quem escreve e lê, reescrevendo.
um beijo!
...fico quietinha degustando as
ResponderEliminarpalavras que escorrem pela emoção,
e me perguntando também:
de onde vem,
de que fonte nasce tanta inspiração?
beijo na poesia que é você!
querida vivian,
ResponderEliminara única inspiração de quem escreve... é a própria vida.
obrigado pelas palavras-carinho que aqui deixas.
um beijinho!
Jorge,
ResponderEliminarSua poesia é pura perdição, a linguagem provocativa e doce que você utiliza remete-nos a introspectivas e abismais interpretações. Seus versos representam a complexidade de amar e viver...
O amigo Jad foi muito feliz ao descrever as sensações que suas palavras provocam e compartilho do mesmo relato.
"...por isso, te (re)lemos..."
Um beijo!
lívia,
ResponderEliminaro que aqui me deixas não é um elogio (ler); é um duplo elogio (reler)! recordo, ainda assim, que para que as palavras toquem as portas do céu tem de haver olhos que as saibam ver. os teus, por exemplo.
obrigado pelas palavras tão ternas!
um abraço!
Um poema que cega os olhos. è tao dificil ver o sentimento assim, vendo os dois lados, das duas formas, de quem o sente.
ResponderEliminarbjs
Insana
Belíssimo, Jorge , meu querido!
ResponderEliminarVersos escritos com a alma, vê-se perfeitamente.
Para ler, reler e permanecer lendo...
É o que estou a fazer!
Abraço bem apertado, amigo!
Querido Jorge...
ResponderEliminar"Silêncio de arvores"... quantas coisas se revelam nesse momento!
A palavra silêncio atrai-me fortemente, me instiga a pensar e sentir... sendo somente o que me resta...
Beijo-te silenciosamente... como o silêncio que existe entre as raízes dessas mesmas árvores...
Sil
Apaixonadamente aqui
as bocas fecharam-se num silêncio de árvores
ResponderEliminare dos corpos (dele e dela) restou apenas o calor
adormecido no aquário da linguagem.
Querido, Jorge...Dizer o quê, heim? Que coisa mais linda, meu amigo. Mas é sempre. E sempre mais e mais. Impressiono-me...
Beijos
Olá Jorge,
ResponderEliminar"O aquário da linguagem"
as bocas, as mãos, os corpos
nas bocas, nas mãos, nos corpos
o silêncio, dos aparelhos, do vento, da noite, do dia deserto, do sussurro
saliva e suores do silêncio úmido adormecido
ou então
no aquário faz adormecer em escaldante cansaço
as glândulas sêcas
as linhas rachadas
os membros inertes
da imagem, (re)construção, fios, teias, pedra por pedaço, recompondo... uma imagem
Muito bacana!
O som, também
Um beijo prati e grata pelo exercício
PARABÉNS!!!
insana,
ResponderEliminarque o poema nos cegue... mas que também saiba guiar.
um beijinho!
zélia amiga,
ResponderEliminarobrigado pelo carinho!
um beijo!
silene,
ResponderEliminarde silêncios ninguém melhor que o homem entenderá. aqueles que alimentam, os que alentam, os que convidam à reflexão, os que inquietam, os que arrasam, os que matam... denominador comum a todos: a palavra (dita ou suspensa).
um beijinho!
tânia,
ResponderEliminarobrigado pela tua sensibilidade sempre presente neste cantinho de silêncios vozeados.
um beijo!
vais,
ResponderEliminarnas tuas mãos "dele e dela" refundiram-se e reapareceram com outra roupagem. belo exercício, sem dúvida. grato por isso.
um beijinho!
Sabes, Jorge...
ResponderEliminarEle me parece ser uma escrita teimosa. Daquelas que quanto mais empoeirado e amarelo o papel, mais se quer presa à Historia (seja ela do que for). Para os historiadores, essas são as melhores...
A linguagem dela parece ser de outras artes. Absorve o pulso do agora. A cegueira se alimenta do que foi ontem. Dele, ela só consegue enxergar os rastros dispersos em tantas outras paisagens...
Quanto ao outro... Fincou os pés e plantou os olhos nas Mil e uma Noites... E assim viverá até o final dos tempos...
Um beijo, querido!!!
Lindo, lindo, lindo!!!!
olá, pólen,
ResponderEliminarcuriosa a leitura que fazes deste diálogo emparedado. psicologista, é verdade, mas com a sensibilidade daqueles que, a partir das palavras e das acções, lêem para lá das evidências. curiosamente faltou a interpretação da terceira voz :)
um beijinho!
A terceira voz é o "outro", Jorginho. O que está nas Mil e uma Noites...
ResponderEliminarMais beijinhos...
pois, tens razão. fiz uma tresleitura, associando "o outro" ao "ele".
ResponderEliminaresta terceira voz, este "eu" não tem rosto nem sexo; é apenas uma voz que percepciona sem ser detectado. acabou por sê-lo por ti :)
pergunto-me qual dos três estará em melhor situação... talvez nenhum... (e tão-pouco estou seguro de que eles não sejam um só...).
um beijinho, pólen!
sempre estimulantes as tuas interpretações.
Para quem não sabe ler, o toque; para quem o sabe, redescobrir a sentir... o tocar.
ResponderEliminarJorge, tão lindo o seu escrito, estou nas nuvens.
Beijo.
absolutamente verdade, larinha. quando a escrita e a leitura se confundirem com as sensações epidérmicas, estaremos, seguramente, mais próximo da felicidade (o que quer que isso seja e onde quer que se esconda...).
ResponderEliminarum beijinho com admiração!
Não tenho nem palavras! Está lindo!
ResponderEliminarAbraços !
paulo,
ResponderEliminaragradeço-te! a poesia tem mais sentido se/quando partilhada.
um abraço!
Jorge,
ResponderEliminarvoltei e continuo sem comentar!
Adiante!
Beijos
Laura
adiante, laurita. sempre sem parar.
ResponderEliminarum abraço!