porque escrevo,
sei
como a chuva te abre
e a mim apenas encharca.
porque escrevo,
decidi:
hoje canto o azul
num aparo sem tinta.
albufeira de vilarinho das furnas (gerês)
II. metamorfose regressiva
vá,
as águas verdes
que desprendem a língua
enquanto permaneces só,
sentado à porta,
jamais serão tuas.
vá,
varre as pedras da cabeça
e sai.
entre mundos (gerês)
III. anagrama
escondeu o seu nome
debaixo da pele.
não imaginava que um dia perdesse
a memória…
e o vinho perdeu
os lábios.
trilho na geira romana (gerês)
IV. colírio azul
enquanto deus
castiga os olhos
a fogueira arde
nas linhas do nome.
apenas colírio azul
entre sombras.
albufeira de vilarinho das furnas (gerês)
uma tetralogia poética desesperada. o verde e o azul sabem a tinto amargo.
ResponderEliminarabraço, poeta!
Belíssimo Jorge.
ResponderEliminarEstabeleceu-se uma sinergia perfeita entre poesia e imagens.
Convidativas a uma trilha digna de aclamarmos como mágica e percorrida por palavras de extremo encanto.
Me senti enfeitiçada!
Um beijo!
Amanheci com as "etiquetas" presas na minha retina...
ResponderEliminarFico imaginando o que se passa na alma do poeta para escrever essas coisas que sinto como tão tangente à pele.
A memória dos meus olhos guardará por um bom tempo o encanto por ler estes versos agora.
Um cheiro, querido!
P.S. As imagens são lindas.
inspiradíssimas as suas etiquetas, poeta. reverberam lirismo e também melancolia, como um dia vestido de nuvens e sombras sob o sol. a força da escrita está na sua morte anunciada, que nunca se realiza por completo por força dialética entre o que finda carrega o germén do renascimento,
ResponderEliminargrande abraço
na espera do arco-íris, até o tinto perdeu a melanina e secou na base do copo. desesperadamente...
ResponderEliminarum abraço, ribeiro!
lívia,
ResponderEliminaro gerês é uma das serras de parque natural/nacional peneda/gerês, aqui no norte de portugal. há dias estive lá com colegas de escola a preparar uma actividade. não resisti a uns cliques fotográficos. poesia, feitiço, encantamento são apenas alguns dos seus atributos.
um beijinho!
pólen,
ResponderEliminarestas etiquetas eram apenas apontamentos que estavam presos à roupa, do lado de dentro da pele. juntei-lhes o encanto do que está do lado de fora: o gerês. fico sensibilizado que tenhas gostado e, sobretudo, que digas que as guardarás na memória ocular.
um forte abraço!
olá, assis,
ResponderEliminarainda estou com a morte anunciada da escrita a bailar-me na cabeça. mortes, talvez, num corropio em torno do relógio que perdeu os ponteiros como se apenas o que pomos no interior do círculo seja passível de ser vivido... ou de ter de morrer. a escrita, por exemplo, em carrosséis de viagens que recomeçam antes mesmo de terminarem...
sempre especial a tua visita, amigo assis!
um forte abraço!
Colírio é tua poesia para minha alma.
ResponderEliminarEm qualquer nuance, seus versos sempre me deixam em transe...
Beijos degradê, amigo/amado/parceiro/poeta!
(Com ph)
querida cris,
ResponderEliminarque dizer então da tua presença aqui, das parcerias poéticas, do teu carinho e amizade? isso, sim, colírio a que olhos nenhuns sabem resistir.
um beijinho!
Meu poeta amigo,
ResponderEliminarem cada poema
há extrema beleza
(imagens, ritmo
e sobretudo aquele vasto
tom da tua alma)
Forte abraço,
(ainda me deleitando
aos clarins dos teus versos)
domingos,
ResponderEliminarpoeta das mil e uma sensações, que bom ter-te por aqui.
um forte abraço!
jorgíssimo,
ResponderEliminarpostei duas vezes no seu ultimo post, mas o "guga" parece ter sequestrado minhas palavras.
vmos lá, ver se desta vez consigo tatuar alguma coisa aqui.
no que leio que " o vinho perdeu
os lábios", remeto minha memória àquela belissima canção "memórias de um beijo", no exato momento em que o compositor dá a saber:
(...)
Quem foi, que matou o desejo
E arrancou o lábio ao beijo
E amainou os vendavais (...)
bonito, né?
como seus poemas.
abraço dominical deste seu amigo, o
r.
querido amigo,
ResponderEliminareste "guga" anda biruta (esta palavra do léxico do português do brasil é uma delícia, verdade? :))! deixa para lá. tu estás sempre presente (eu é que nem por isso; este recomeço lectivo tem sido de arrancar a pele).
nem de propósito: sabes o que estou a escutar neste exacto momento? trovante. ora aí está o polígrafo (transcrito directamente): "não nos venham pedir contas, não venham pôr-nos regras, sabemos que os nossos dias não vão ser gastos assim"!
um forte abraço!
Jorge, ave rara em palco, sempre numa pré-estreia, suas asas são lâminas a arriscar este meu olhar, para uma investigação aos quatro elementos que atinge o âmago em fases de lua. Assim, exposta a carga elétrica e a perder em ganho todas as minhas malas com suas iniciais gravadas de voz narrativa vibrante e arrebatador; corpo, alma e espírito, a perceber-me na arte mais claramente do processo de forma ajoelhada e do ciclo da vida em chamado.
ResponderEliminarFabuloso o campo que percorres.
Abraços
Priscila Cáliga
querido amigo, etiquetas perfeitas com fotos que dizem tanto [ou seria o contrário?]...ah, os dois ;)
ResponderEliminarmas a morte da escrita ficou em mim:
"porque escrevo,
sei
como a chuva te abre
e a mim apenas encharca"
e hoje, que chove aqui, e não sei se a chuva me abre ou apenas me encharca, mas sei que minha pele arde, desprovida de qualquer barreira que a proteja.
e tua poesia é sempre alento e encanto para minha alma.
beijo, amado poeta!
priscila,
ResponderEliminaro encantamento mora aqui sempre que me visitas. percorres os textos com a mão nua, como se a navegação poética fosse sempre assim, distante da costa mas perto das estrelas.
admirável a tua leitura; admirável o modo como a poetizas; admirável a tua escrita poética que, em comentários certeiros, subalternizam os textos que lhes servem de mote.
um abraço!
jorge
querida amiga andrea,
ResponderEliminarbelíssima observação a tua; é o texto a etiqueta da imagem ou o contrário? sempre que temos ambivalências, ou correspondências, é sempre tão difícil encontrar o ponto de partida e a chegada... as etiquetas surgiram enquanto esperava num consultório médico; as imagens apareceram depois de uma viagem com colegas ao gerês, a fim de prepararmos uma actividade escolar de âmbito internacional. aparentemente, não existe relação entre umas e outras, mas na essência consegui perceber o que as ligava (e devo admitir que, num precesso de reafinação textual, procurei a sua aproximação às imagens).
a morte da escrita é apenas uma reflexão matizada pelo estado de espírito; a escrita pode matar, como pode ferir, aniquilar, mas também alentar, afagar e até redimir. a chuva não cai sobre nós eternamente, verdade, querida amiga?
um beijinho com saudades!
Olá, Jorge.
ResponderEliminarQue sequência magnífica de poemas! Não dá pra escolher um... estão todos belíssimos! Parabéns!
Abraço,
Patrícia Lara
patrícia,
ResponderEliminarainda bem que gostaste; são apenas etiquetas verbais :)
um beijinho!
Jorge, sua pena levava ao olhar de águia, banho profundo, à foz do lamber-me os dedos e com alacridade saltar da cama e folhear na cabeceira o que está no diário de uma paixão o manuscrito permanente do pano preparado para pintura. A visão do azul atrelado como a cor do sangue em pauta à taça no envolvimento em novas construções e abstrações intelectuais da recomposição. Da primeira luz do amanhecer para extração do sagrado, do profético e do sistematizado o que fora arrazoado e entregar os resultados na tela do que voejado se captura em sabor e habilidade do desabrochar de uma gardênia, da menina-mulher quando a lua não negou existência ao campo surreal: receptividade à música em pele, com a mão nua, pétala por pétala despida no chão com a voz de trovão do universo letrativo em forma de asas, o reino do vomitado o que luta a favor do mar rubro não separar, mas remodelação como as estrelas do céu, que longe, sempre incansável retorna à porta da espera para recriar novas partituras, ideias à escultura firmada em sonhos e desejos chegados e realizados, pois o ato de teia no telhado cintila-se pelo doce poema em imagem para o tempo, ao fundo da história contada, da consciência tramitar e correlatar o instinto e visualizar a essência do versejar em olhos que se tocam o olhar de maio que rasga a pele em releituras indeléveis.
ResponderEliminarAbraços ave raríssima.
Priscila Cáliga
priscila,
ResponderEliminarsão códigos supralinguísticos aqueles que aproximam e apartam aquele que escreve do que lê; para lá das palavras, há rasgos, empurrões, suor, saturação, cansaço... que saltam dos contornos de tinta para assumirem as cores que se desprendem da gramática dos homens - aquelas que se restauram na gramática que um deus, quase analfabeto, conseguiu invocar, talvez porque no gesto se escondia a ternura pueril. e o homem fez-se homem e esqueceu-se do que é ser menino. a palavra fez-se ordem e perdeu a noção da poesia. a vida fez-se imortalidade... e acabou por morrer sem nunca conhecer o frio da cova escura.
um beijinho, canteiro de viço raro!
Querido Jorge...às vezes reclamamos tanto do que perdemos com o advento da internet, principalmente em se tratando da relações íntimas. Mas não há como não se render à benção do encontro de tantos poetas, concedida justamente por essa ferramenta...estou aqui lendo outra vez o teu verso "hoje canto o azul num aparo sem tinta", e me vejo arrebatada. E isso é lindo. A morte da escrita aqui retratada trará outros tantos versos, meus e de todos nós que te lemos maravilhados, esteja certo...Bjos, muito carinho.
ResponderEliminarcris,
ResponderEliminaracabo de passar no teu trem da lira (http://tremdalira.blogspot.com/) onde me reencontrei com um universo verbal acima dos demais que, ainda para mais, associas ao meu nome: "ode ao poeta".
um agradecimento especialíssimo, ninfa da poesia!
um beijinho com admiração!
daniela,
ResponderEliminarimpossível não concordar contigo. apesar de alguns inconvenientes a que a internet (como tudo) necessariamente nos induz, só a possibilidade de patrocinar o encontro de tanta gente que se sente ligada pela forma mais próxima da idealização genesíaca (a verbal e, especialmente, a poética) é motivo bastante para a ela nos rendermos incondicionalmente.
obrigado pelas palavras sempre tão gentis!
um beijinho azul em aparo sem tinta!
Nossa, essa postagem toda (etiquetas e imagens), ficou tão linda, amigo!
ResponderEliminarA primeira, me remeteu à Clarice Lispector, e te deixo aqui, algo que talvez já conheças, mas que sempre é bom relembrar:
"Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio.
Escrevo por acrobáticas e aéreas piruetas.
Escrevo por profundamente querer falar.
Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio."
Tenha uma ótima e iluminada semana.
3 beijinhos mineiros prá você: Um do lado direito, um do lado esquerdo, e o terceiro novamente do lado direito (para dar sorte).
Se a pessoa não é casada, o mineiro diz "que é prá casar"...rs
Direto de Minas Gerais,
Cid@
Jorge, poetíssimo!
ResponderEliminarEssas fotos me lembraram uma cidade do estado do Rio de Janeiro chamada Penedo, um lugar bucólico, até de beleza melancólica, mas e tão próxima a tua poesia.
Eu, que não tenho teu verbo sinto-me constrangida a pequenos dizeres, mas arrisco sempre, pois me tocas o coração.
Diante desse verde tão azul a gente perde a memória, o vinho dos lábios e será que somos sombras? ou parte ínfima dessa paisagem?
Adoro-te na mais linda lígua. A do coração!
P.S. mais uma sintonia, o vinho.
Bjs e boa semana, meu poeta amigo
"hoje canto o azul
ResponderEliminarnum aparo sem tinta"
Porque o que vejo é mais convincente que
qualquer traço que o entendimento me permita.
"não imaginava que um dia perdesse
a memória…
e o vinho perdeu
os lábios"
Por entre os caminhos quando cais e no entorno das costas...
Não canso de ler isto!
Beijos e cheiros, Jorge.
Etiqueta, pequena ética, aforismo, cápsula de salvação medicamentosa... etiquetas, aqui, são poemas de gente grande... se "o vinho perdeu os lábios", não sei bem, mas marcou...
ResponderEliminarForte abraço, Jorge Pimenta! :)
Escreves porque, mesmo com todas as palavras que já usaram, tens uma sentimento novo, uma forma nova de me rasgar, enquanto tu só te arranhas.
ResponderEliminarLindos, todos!
Beijo.
olá, querida amig@ cid@,
ResponderEliminardesculpa só agora replicar, mas os dias têm sido tão absorventes... fico sempre encantado com a tua visita, mas ainda mais desta vez, pois trazes contigo ilustre companhia: lispector. espero que ela não se sinta mal com a pobreza do registo que por aqui paira :)
claro que aceito os teus beijinhos mineiros; de resto, replico-os da mesma forma; se na vida já há tantos revezes, há que nos batermos pela sorte, verdade? :)
querida ira,
ResponderEliminaresse mundo que é nosso (embora tantas vezes não nos sintamos seus) tem paisagens admiráveis que, todavia, só fazem sentido se ligadas às telas dos afectos humanos. por isso se ligam de modo indelével à palavra e, em especial, à palavra poética, aquela que nos arranca da voz os gemidos tímidos que, como o bom vinho, escorregam em direcção às mãos que os saibam segurar... e são tão poucas...
um beijinho, doce amiga!
p.s. falavas da tua poesia em tom menor; crê-me que a sinto verbo polido pela plaina do coração. ler-te é obrigatório, para mim (e para tantos mais).
pólen,
ResponderEliminare como me sinto bem por saber que as etiquetas, aqui pousadas, ainda com cheiro a nafta e os olhos cansados da escuridão de um qualquer roupeiro, ainda têm algum préstimo. obrigado por este carinho especialíssimo!
um beijo sentido!
na minha terra diz-se que o vinho que marca/pinta é o carrascão, aquele que é forte como o bagaço, mas ao qual falta o travo refinado. espero que não seja o caso destes poemas no impacto com o teu universo leitor, hehe!
ResponderEliminarum forte abraço, francisco!
oh, larinha,
ResponderEliminarpor vezes a escrita também me marca, por sobre e sob a pele. in.evitável, verdade?
um beijinho!
jorge, meu precioso,
ResponderEliminarentão, emocionamo-nos.... sua poética é um referencial pra mim. tome esta ode, como parte pequena, da grande admiração e afeição que lhe tenho.
um beijo mitológico!
cris-tal.
querida amiga cris, a tal,
ResponderEliminaremocionei-me ao ler o teu texto, sim, não há como (tão pouco por que) escondê-lo. as palavras que me dedicas estão muito para lá do merecimento; ainda assim, se a poesia que por vezes me foge das mãos tocar alguns dos que a leiam, não poderei sentir-me poeticamente mais realizado.
um beijinho, amiga e companheira de versos e reversos!
Jorge
ResponderEliminarVou daqui emocionado com a excelência do poema, bem doseado com as fotos do nosso Gerês.
Abraço,
António
Senti cada poema mais doloroso que o outro.
ResponderEliminarA mim, tua caneta (sem tinta) rasga, e teu poema encharca.
...
bj
Rossana
caro antónio,
ResponderEliminara excelência é mesmo a do nosso gerês e a da tua agradável passagem por aqui. quanto aos poemas, apenas desabafos sob a forma de etiquetas.
um abraço!
rossana,
ResponderEliminara poesia não tem de ser dolorosa, mas não raras vezes agarra-se àquilo que nos marca seja favorável, seja negativamente, assim se convertendo em espaço de sensações agridoces de vida (sublinho o eufemismo).
independentemente disso, aquilo que a torna genuína e válida é a capacidade de suscitar reacções nos outros, particularmente se estas forem extremadas. sempre que a poesia rasga e encharca, o poeta sorri.
um beijinho!
Amigo, bebi tanto das palavras como das fotografias, tudo belíssimo!
ResponderEliminarainda não conheço o Gerês...
é sempre repousante ler-te!
Beijinho
Jorge,
ResponderEliminarFrestas e estações [ou viagens de luz e sombra, bem etiquetadas]: porque escreves.
Abração.
Nossa, Jorge,
ResponderEliminarque lugar!!!!
maravilhosas as fotos
E dos poemas, das poesias
etiquetas que se nos grudam à pele
aos olhos, aos sentires
parabéns!
um abraço prati
Um conjunto de fotos magnificas...onde reina a belaza das tuas palavras...
ResponderEliminarBeijo d'anjo
Boa tarde, Jorge.
ResponderEliminarHoje, no meu regresso à escrita (não há leitura que essa continuou), apenas para dizer do encanto de te ler e de mergulhar nas ruinas afogadas nas lágrimas da memória choradas em Vilarinho das Furnas através do teu olhar.
Abraço
ola sabia maneira,
ResponderEliminarde enriquecer um poema ,
em belas imagens descritas com
sentimento e subtileza
beijos adorei
boa quinta
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAh, isto é pura inspiração!!! Que homem tão bafejado com as letras!! ''qualquer peça de roupa cai bem no corpo da tua mente!''
ResponderEliminarQue dizer? Basta-me silencio ou o silencio por hoje...
beijo
Que possamos seguir, em tons de azuis e verdes, fazendo poesia. Que beleza, Jorge! beijos.
ResponderEliminarqueridos amigos e nautas de todas as viagens,
ResponderEliminara todos agradeço a presença e o carinho. prometo retribuir assim que a nau retome o curso que lhe está destinado.
um forte abraço para todos!
p.s. jad, é um prazer renovado saber-te de volta.