sábado, 6 de agosto de 2011

trilogia a duas mãos

william blake, urizen

I.

as tuas cicatrizes
ainda me soletram o corpo
neste colapso virgem de violinos

o contacto com as sombras
atira-me o olhar sobre a janela
em trilhos de lírios azuis
que a treva silencia

as tuas cicatrizes
ainda me sofismam o corpo
neste contralto virgem de violinos    

o correlato com as sombras   
atina-me o olhar sobre a janela
em  ladrilhos de lírios azuis
que a treva sentencia


II.

do outro lado de mim
há canteiros secos
vozes mortas
copos e lábios inebriados
como índicos sem oriente

tudo é refluxo de vento
sem tempo e alento

do outro lado de mim
há candeeiros cegos
vozes tortas
copos e lábios incendiados
como imagens  sem oriente

tudo é rajada de vento     
sem templo e acento


III.

no fundo de rostos inexistentes
deponho as pálpebras
sem medo da erosão:
quero eternizar este mito
em rimas febris de cal branco

mas, mesmo em verso,
continuo sem saber
onde esconder-me

no filme de rostos inexistentes
decomponho as pálpebras
sem medo de expressão:
quero edificar este mito         
em rimas ardis de sal brando

mas, mesmo em verso,
continuo sem saber
onde exorcizar-me

por cris de souza & jorge pimenta

rodrigo leão, ruínas

35 comentários:

  1. O prazer só se renova a cada poema que tecemos juntos. Sabes o quanto me inspiras, honra-me a nossa eterna parceria! Que venha o oitavo, o nono e tantos mais duetos.

    Beijos cristais, meu grande parceiro e precioso amigo!

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  2. Muito bom o poema de vcs! Ou melhor, os poemas né?
    Nos faz viajar em pensamentos e pensar sobre o que vc está querendo falar! Porque as imagens não são claras, mas são belas e intrigantes!
    Parabens Jorge, parabens Cris! "Poemistas de primeira".

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  3. e continuo sem vontade de daqui sair...
    leio,releio,sinto cada verso..
    e a música penetra na alma juntamente com violinos, cicatrizes,ventos e alentos..
    bravíssimo!.. e meu carinho aos dois.. Cris e Jorge.
    perfeição!

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  4. Já conheço tanto o modo de "poemar" desses meus queridos, que só de bater o olho, já adivinhei que era de vocês dois!...:)

    Jorge, Jorge, Jorge...
    Cris, Cris, Cris...

    Vocês são mesmo demais!

    Que Deus conserve o dom dessa dupla que eu amo tanto.

    E que venha mais inspiração, e mais parceria, para o deleite dos amigos.

    Beijão procês :)

    Cid@

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  5. ou se comenta, ou se sente, ou se senta e se contenta. nesta trilogia a duas mãos as outras duas seriam asas? quando se encontram mãos que conhecem como ninguém os atalhos inusitados das palavras mixando-as de forma a resultar numa musicalidade absurda com mãos que sabem, como a de um maestro, organizar essa musicalidade de cada verso e torná-las belas canções, aí o resultado não poderia ser outro: dói a beleza que exala do poema! cris de souza & jorge pimenta são poetas completos, mas ainda assim conseguem se completar.

    espetáculo de poema, meus queridos amigos!

    agora posso festejar a noite de sábado...

    beijos, Cris.
    grande abraço, Jorge.

    meus aplauso!

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  6. Leio vocês procurando a fronteira, onde começa um, onde termina o outro. A harmonia é perfeita, mas algo de cada um me salta sutilmente aos olhos. Sou fã de Cris poeta, fã de Jorge Pimenta. Separadamente, são ímpar. Juntos é embriaguez dupla: eu adoro o giro que me vem à cabeça!
    Beijos,

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  7. Trilogia a duas mãos. Três estudos para duas mãos talentosas e um espirito livre (total três) na prisão libertadora das páginas de Blake. Perfeito!!!

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  8. Boa noite meu amigo Jorge!
    Entrei para ler o seu poema e lhe desejar um belo Domingo.
    Um abraço.

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  9. Mas exorcizada fico com vcs dois, sempre um banho de lirismo. Belíssimo!

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  10. Trilogias e versos "que vagueavam vastos no peito da noite", sem tempo - sem presente, passado ou futuro.
    O poema passa por Todos os caminhos.
    um abraço Cris e Jorge.

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  11. Não há palavras, há apenas contemplação diante de tamanha beleza...

    Beijos

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  12. repito o que disse o Celso, digo e assino

    abraço

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  13. Como se todas as máscaras se diluíssem no momento das… ruínas
    Como do mar a espuma…, rendilhando cada grão de areia.

    Como uma profecia… “uzerin” de blake

    Os canteiros, a vozes, os copos e os lábios
    E os mares em desassossego

    Sabe-me a quase nada dizer simplesmente que este trabalho a duas mãos [dadas] porque as outras duas, tal como diz Celso, são asas, são livres, voam com nós mas sem amarras, é belo.
    Há uma cumplicidade latente, una, perfeita, indecifrável [como se ambas, as mãos, escrevessem no mesmo compasso com o mesmo intrumento, a mesma tinta/sangue, o mesmo sentimento, os dedos entrelaçados não sendo possível saber o quê… de quem…]

    Parabéns Cris e Jorge
    Adorei!

    beijos!

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  14. Parabéns Cris de Souza e Jorge Pimenta, magnifico poema, lemos, sentimos e silenciamos... tudo ao som do excelente Rodrigo Leão, de quem sou fã incondicional. Perfeito!

    Um grande abraço
    oa.s

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  15. Cris e Jorge!

    Sempre que os leio em parceria, causa um impacto! Muito difícil no escrito distinguir pedaços de um ou outro, absorvo um entrelaçar fenomenal [unidade], casamento entre a escrita - pensamento de ambos. O famoso 'dois em um' que aprecio em grandiosidade.

    A imagem escolhida é apreciada por mim; particularmente, gosto muito de Blake. Portanto, vós deixo: 'Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito.'

    Abraços,
    Priscila Cáliga

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  16. Este é para sentir, Jorge alado...

    Beijinho carinhoso, poeta amigo!

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  17. Hoje eu vou ficar aqui a imaginar as linhas sendo desenhadas as quatro mãos. Delicioso ritmo e a imagem acima de Blake é uma pintura, como se nos preparasse para as linhas a seguir.
    Fez arder aqui...

    bacio

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  18. Sempre essa sinfonia de violinos a acompanhar as cicatrizes, a alma, o viver.
    Lindo poema!
    Parabéns aos autores!

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  19. Jorge e Cris, belíssima homenagem em parceria.

    Bijosssss, Jorge.

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  20. Cris e Jorge,
    A dor e o encantamento das cicatrizes, que criam cascas, depois nos caem em pedaços.
    "Decompor as pálpebras"?
    Melhor que costurá-las, como ilustrou Dante.
    Quando as trevas estão dentro de nós mesmos.

    Parabéns!

    Abraços aos dois!
    Cecília

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  21. Meu querido Jorge e Cris

    O que escrever...se os poetas já escreveram tudo...o que dizer se as palavras se vestiram de silêncio...se os dedos se vestiram de violetas...se os braços são o silêncio onde os corpos se afundam...se as mãos carregam pedaços de sonhos...se as asas já não alçam vôo...se o tempo esvaziou as bocas e os rostos são as sombras dos dias...as cinzas das noites...a insónia do verso.
    E meus queridos...por mais que diga...o poema aconteceu...as palavras esqueceram-se de ser sombra...lembraram-se de ser pele...e FALARAM...um traço que soletrou em tinta permanente duas estações...duas almas envoltas num breve murmúrio...e aconteceu poesia.
    E como sempre...repetindo-me...vou saciada e deixo o meu beijinho carinhoso.

    Rosa

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  22. Sozinho, você já encanta . Com sua brilhante parceira, fez um poema digno de ser guardado com carinho.
    Bjs.

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  23. ...dizem que somos todos um,
    mas 'uns' se igualam mais,
    tanto que vejo aqui duas
    almas em um só pensamento,
    e deste encontro perfeito
    resta a poesia que enleva,
    encanta, e seduz.

    Jorge, meu poeta querido,
    o Alma está aberto para
    que navegues por lá,
    quando quiseres.

    bjs aos dois poetas
    lindos!

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  24. Ao iniciar o dia pensei nas sombras, e ei-las.
    Pensei em folhas secas, não em canteiros.
    As vezes, sombras e folhas falam-me acerca da mesma coisa: de passado, marcas.
    Mas não sei se desejo que as folhas sequem, não aprecio perder-me dessas marcas, não quero exorcizar-me. Aprender a conviver com estes anjos e demonios é uma das melhores coisas, mesmo que seja doloroso...

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  25. Cicatrizes do corpo transpostas na alma ao som do violino.

    Encantador encontro de mãos...

    Beijos e carinhos!

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  26. Olá, Jorge!

    Que belo! Um poema que fala sobre as lembranças, tranformadas em cicatrizes... Estando ali, presentes, para lembrar-nos alguém. Sim, e como exorcizar o passado? Uma resposta tão difícil. Li teu poema ao som de Sam Cooke - Bring It On Home To Me.

    T.S. Frank
    www.cafequenteesherlock.blogspot.com

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  27. Que lindo, só enxergam as cicatrizes cujos direitos se deu em conhecer o mapa da alma feminina!

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  28. Bem como vocês escreveram em dupla, eu li o poema como um só texto e contexto.
    Creio que essa cicatriz, se ainda pulsa, não é cicatriz, mas ferida...
    E fiquei imaginando a extensão dos sentimentos dentro do ser, pois nem os versos e nem a poesia é capaz de melhorar o estado da alma.
    Jorge e Cris, parabéns pela poesia pois ficou lindíssima!
    Beijokas doces pros dois.

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  29. Cris e Jorge,
    gostei muitíssimo das vossas vozes juntas!
    Parabéns e beijinhos

    p.s. amigo, há um desafio no meu blogue, pensei em ti, mas só se puderes...tranquilo :-)
    grande beijinho

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  30. Bom dia, Jorge.Antes, quero dizer que só soube hoje que você estava me seguindo, pois não aparece a sua foto, só o seu nome.Fiquei muito feliz, em tê-lo como seguidor, e espero a sua presença nos comentários, sendo esses livres, ficando você sempre à vontade.
    Te pedirei que se puder, coloque a sua foto, pois dará para eu identificar. Por "acaso", fiquei sabendo só agora.
    Quanto ao poema, lindíssimo, parabéns aos dois que criaram uma obra tão bela, e de uma profundidade imensamente igual.
    Eu gostaria que você desse a sua opinião em "PÁSSARO APRISIONADO", é uma postagem que não está agora em evidência, mas gostaria de ver se você sentiu o que eu quis passar!
    Se quiser, pode deixar comentário na atual, e logo mais irei postar!
    Obrigada.
    Um beijo grande, e fique com Deus!

    OBS:eu gostei de todos os versos do poema de vocês,contudo, achei o último interessantíssimo!

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  31. jorgíssimo,
    acho que o verso exorcisa, sim.
    uma vitóris do benfica sobre o porto (e nem precisa ser em final de campeonato), exorcisa...
    um porre de bom vinho, se não tem ressaca no dia seguinte, já exorcisou.

    o amor, a amizade, o carinho, a gentileza, a generosidade, o bem-querer... tudo isso exorcisa a alma humana.

    vir aqui, neste cantinho de afetos, me exorcisa.
    me faz imenso bem.

    abraço grande deste seu amigo, o


    roberto.

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  32. ...exorciza-te Poeta na pele da tua carne e procura dentro da esfinge de teu corpo o arcano das quatro cordas!
    Notável concórdia beijando a anáfora nua das tuas viagens de luz e sombra.

    ...pois!



    ah!

    Trago-te um sorriso no meu regaço...

    Assiria

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  33. Cris e Jorge, gostei da vossa “trilogia a duas mãos”.
    Desta vez, é verdadeiramente difícil “descobrir” o que é de um e do outro. Este poema é, sem dúvida, uma bela fusão de palavras e melodia.
    Beijos para ambos, com dois versos “as tuas cicatrizes/ ainda me soletram o corpo”…

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  34. Profundo!!!!
    E infinito...me perdi em palavras da su'alma.
    Uma bela noite.
    Um grande abraço.

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