quarta-feira, 24 de agosto de 2011

canção para outonos sem estação e astrolábio

brejão, alentejo

os sonhos fazem-se combinando recordações
jorge luis borges

é sempre assim no outono:
há uma voz que canta
e me toca levemente no corpo
a exigir suspensão.
Nunca sei se planeia roubar a noite, as estrelas
ou mesmo a sombra dos homens
enquanto atravessa zéfiro
e semeia, rebenta, floresce
sobre a terra que me cobre as raízes.

acordo
[alguma vez estive a dormir?].
de repente
tudo se ilumina na lanterna do homem:
a porta
o quarto
a cama
e todos os nomes e rostos que ali respiram,
bem debaixo dos céus, quase acima dos olhos,
na melodia crepitante de uma rima.

espreito para dentro das veias
e para fora da roupa
mas já todo o tempo me habita
e os cavalos rubros anunciam abismos.

quem é que me procura?

a luz incandesce os caminhos
e os pés douram o sangue.
apenas a canção permanece fria.


sokratis sinopoulos, a the universe [from the film politiki kouzina, a touch of spice, o.s.t.]

45 comentários:

  1. jorgíssimo,

    se existe uma palavra bonita, esta palavra é astrolábio... duas em uma... significados tantos, jorgíssimo... pode quebrá-las em muitas...
    li no blog da daniela d'elias, noutro dia, uma belezura de poema com esse nome, dedicado ao nosso assis freitas...

    emocionado, mando por email a canção homônima. a mesma que mandei também pra daniela. aliás, a partir de agora, mandarei a canção pra todo aquele que tenha feito um poema contendo esta palavra, e que a queira receber.

    o moço que a canta tem uma voz de rubi.

    abração desde a terra que tremeu ontem, do seu amigo

    roberto.

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  2. Jorge..gosto de te visitar.. mesmo que seja só pra admirar seus versos...sua escrita..
    Fico quietinha lendo...

    Quanto a musica..linda! Não há como não senti-la..

    Bj

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  3. Jorge que coisa linda essa descrição que fizeste das sensações do outono.
    Fiquei embevecida com com essa canção outonal!
    Beijokas doces

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  4. Olá
    Que bela viagem em seus versos...
    Obrigada por transformar em versos suas inspiração
    Saudações poéticas!

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  5. Jorge, outono é a estação que mais prefiro, ela possui uma tonalidade única, suas nuances é de reflexão.
    Os dias correm num ritmo próprio, criando harmonias e melodias que adentram em meu ser, trazendo uma atmosfera de aconchego.
    O frio que dela nasce não me assusta e o céu me convida a pousar os olhos para além da esperança.
    Nela, sinto-me viva, com o sangue pulsando.
    Foi ótimo absorver o outono nessas linhas que seguiram...

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  6. o rumo da existência se entrelaça nas estações e o que sopra, melancólico ou não, acende os sentidos mas não modifica o indivíduo, que segue seu caminho inexorável.

    outonos me têm despertado melancolia.

    teu poema tem o canto da vida que não se mede e o espanto das palavras que não se calam.

    grande abraço!

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  7. os fantasmas reais habitam
    o sangue dos bardos
    ...


    Forte abraço,
    grande poeta
    e amigo.

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  8. Fico sem jeito sempre que leio um poema que me cala por ser imenso... minha voz se rende humilde... como comentar tanto esplendor?!

    Beijinho sempre encantado, Jorge amigo!

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  9. Jorge,
    este foi um daqueles post que me contagiou verdadeiramente os sentidos!
    O imenso das planícies, o outono das tuas palavras e a música belíssima! E hoje, sendo um dia que me sinto sem palavras,(quase anímica),preciso dizer, o quanto me fez tão bem estar aqui.

    Beijinho enorme, amigo!
    p.s. um dia levo esta música para o espaço lunar

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  10. Só você espreita para dentro das veias... Não, não: só você é veia e sangue...Só você ruboriza minha alma tantas vezes anêmica. O que você, Jorge Poeta, me dá são asas enormes, mas feitas de vento. Ah, como lamento não saber devolver em canção a chuva de delírios que vertem de ti pra mim...quando te leio!
    Beijos, querido poeta!

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  11. "Tu materia es el tiempo, el incesante
    Tiempo. Eres cada solitario instante."

    Jorge Luis Borges, "No eres los otros".


    Jorge, meu querido amigo de-além-mar!
    O outono da alma,
    momento de separar algumas peças de roupa,
    colocar a mochila nas costas.
    Preparar o cantil com água,
    para nos assegurarmos de manter as raízes fortes.
    Um calçado resistente,
    para nos assegurarmos de manter a terra por sobre essas raízes,
    e partirmos à busca de novas recordações.

    Grande beijo.

    PS.: Coincidentemente, ontem à noite estava lendo Borges(!!!)

    PS2.: Obrigada, querido amigo, por comentar minha crônica lá no site do Paulo.

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  12. olá querido!

    viajei em cada palavra,
    tão senti que acabei
    ficando sentida com as
    exigências que suspendi
    sem o porque.

    MARAVILHOSO!!!!

    Um abração!

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  13. Minha estação preferida é o inverno, principalmente quando vem com todos os requintes, como veio esse ano, mas o outono, que eu já achava charmoso, ficou ainda mais visto pelos teus olhos.

    Muito, muito bom.

    Um beijo grande.

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  14. "Outono" e "Astrolábio" são palavras belíssimas, né Jorginho? Inspiram por si só...que bonito o poema. Também acho,é sempre assim no outono...
    Bjo com carinho,
    Dani

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  15. Jorge!

    O outono é um momento de expectativas.

    Um beijo querido,
    Mih

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  16. Parabens Jorge, vc consegue num texto curto fazer a gente viajar e ter muitas imagens diferentes na cabeça! Isso só os mestres conseguem, a grande maioria só escreve o obvio vc não! Escreve o inesperado. Prabens!

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  17. Daqui em diante, meus outonos não serão mais os mesmos...=)

    Mais um poema cheio de encantamento e magia...

    Obrigada poeta, que sabe como ninguém, soprar pó de estrelas no cotidiano, e fazer de simples palavras, poesia.

    Sempre saio daqui mais rica.
    Obrigada por isso.

    Beijooooo,

    Cid@

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  18. os astros incitam passos, uma espécie de elevação que entrega aos homens um ímpeto de voo, os outonos bordam os atavios

    abraço

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  19. Jorge, teus versos tem o poder de silenciar a minha alma de maneira tão natural. Teus versos acalmam o meu ser num sentir poético que amadurece o meu sentir...

    P.s.: Depois de passo a resposta dos livros...

    Beijos

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  20. Jorginho,

    Nossos Outonos são memórias que se desprendem de nós e podem ganhar a eternidade guardadas em papel (como aquelas folhas que dormem no esquecimento de um livro na estante).
    Bob Dylan diz que devemos guardar bem nossas memórias, pois não podemos revivê-las. Será mesmo?
    Um beijo com todas as flores da primavera, meu querido!!!

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  21. sensações tuas de pele e transbordante intensidade na viagem de dentro..
    sempre lendo..relendo.. ouvindo..sentindo..
    carinhos de beijos querido Jorge..

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  22. Há neste teu outono, Jorge, a beleza plástica da conversão da energia eólica em luz, em quantidades só engendradas pelo tempo e pela subjetividade única que te habita. Emocionante!

    Mas confesso que não resisti em criar a imagem pueril de Zéfiro, desdobrando-se em ares pra oferecer-te flor em forma de rima. [como se fosse aqueles palhaços de circo mambembe a retirar do bolso flores que desabrocham instantaneamente] :)
    um abração pra ti

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  23. Nessa mistura de sonho e outono, é possível encontrar o que realmente importa e salvá-lo para a vigília. Lindo, seu poema.
    Beijo.

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  24. Boa tarde, Jorge.Lindíssimo o poema, feito com certeza com muita emoção e sensibilidade.
    Que bom que você sempre é tocado lindamente pela estação, retratando tudo em versos!
    Um beijo grande, e fique com Deus!

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  25. Jorge..
    passando pra desejar um excelente fi
    bjnal de semana..obrigada pelo carinho lá no meu cantinho!!

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  26. Meu querido Poeta

    Escrevi e apaguei...porque perante este dedilhar de sentimentos...calei-me...e as palavras voaram como folhas de Outono...fiquei sem rimas.
    E vou com uma folha no olhar e uma melodia na alma.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  27. É o tipo de poema que nos deixa em transe.

    Fan-tás-ti-co!

    Beijos, poeta precioso.

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  28. Jorge,
    Outoninvernimaverão você, bardo de Braga...
    Sempre uma alegria te ler, desde a Terra até aos astros...

    Abraço d'aquém mar,
    Pedro Ramúcio.

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  29. A melancolia do Outono ganha corpo, mas dizê-la desta forma é, de facto, só para alguns.

    "Nunca sei se planeia roubar a noite, as estrelas
    ou mesmo a sombra dos homens."
    Assim é essa "voz" do Outono que branda e lenta, parece querer levar-nos sempre algo

    Um beijo

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  30. Em todas as estações florescem teus poemas, e enfeitam nossas vidas...Bjos achocolatados

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  31. Zéfiro, Noto, Éolo, Bóreas... que todos esse ventos soprem em direção ao seu outono, pois para que serve um astrolábio se cada qual tem sua própria bússola sem ponteiros e uma Nal com velas que seguem todos os ventos do mundo?
    Adorei o poema, viajei com ele... Abração amigo!!!

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  32. Você deu beleza ao outono, que sempre me passa uma sensação de abandono. Tem talento para expor o que desejar, pois consegue tocar, inspirar sentimentos. Essa é muma das mais belas qualidades de quem escreve.

    Bjs.

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  33. Jorge, ainda assim, o seu outono é bonito de se sentir. A canção pode ser fria, mas entoam os seus pés, que caminham sem perder o seu rumo, mesmo sem o auxílio do astrolábio.

    Beijos,

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  34. ...poeta meu poeta querido,

    tuas escritas tiram-me do chão,
    principalmente quando elas se
    encaixam tão íntimas
    do sentir.

    você é um lindo!

    bjs de uma alma outonal!

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  35. As estações mexem com todos os nossos sentidos
    Pode-se sentir um trepidar de temperaturas
    Quiséramos os ventos, as folhas e as cores
    Daqueles que têm poderes para mudá-las
    Elevássemo-nos além do chão
    ou do profundo abismo...

    Beijos, querido Jorge!

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  36. "mas já todo o tempo me habita
    e os cavalos rubros anunciam abismos"

    e eu sinto meu estômago a se contrair e um calafrio que me percorre dos pés à espinha, percebo o vento frio que preenche os abismos e a quentura que o poema me traz...

    um beijos, querido poeta!

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  37. Eu visito seu blog muitas vezes, mas hoje é uma visita especial, porque o outono é minha estação favorita e seu poema é uma descripcão perfeita dessas sensações. Eu adoro o filme e a trilha sonora. A música e os versos fican uma combinação ideal. Parabéns.
    (Você desculpe meu portunhol :)

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  38. Muito mais vasto do que o Universo em que vivemos é o universo que vive em nós e desse vc extrai as sensações mais pungentes e, ao mesmo tempo, de sutileza que beira o insuspeitável, as visões mais exuberantes, as emoções mais idilicamente abstratas e faz delas versos que me situam "bem debaixo dos céus, quase acima dos olhos, na melodia crepitante de uma rima." Diz em palavras o que só sei sentir... "é sempre assim no outono: há uma voz que canta e me toca levemente no corpo a exigir suspensão...". A voz dos teus versos me proporciona essa suspensão.
    A música é lindíssima.
    Beijos, meu caro poeta, e uma semana linda.

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  39. fervura em verso, a música que escolheste curiosamente dá uma sensação de frieza. A música dos ventos. Ah, e que incrível essa palavra: zéfiro (não conhecia, mas parece abrigar a música dos ventos por si só). Belo, Jorge.

    Um beijo

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  40. Olá, Jorge, como vai?
    Vim aqui por indicação da Ana Cecília, do Humor em Conto, e devo dizer que sua poesia consegue atingir a alma de quem a lê.
    Obrigado por palavras tão belamente reunidas.

    Jacques Beduhn
    http://relativaseriedade.blogspot.com/

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  41. Amigo Jorge, é sempre assim em cada outono...vamos perdendo mais uma primavera e a saudade vai colorindo o sentir. Os campos da alma vão ficando mais sombrios e o sol do olhar mais fatigado. Benditas as searas de esperança, que o nosso sentir vai colhendo. Adorei o teu poema é lindo. Beijos com carinho e uma rosa do meu modesto jardim

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  42. Os outonos sempre serão mágicos.
    Abraços

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  43. Querido Jorge,
    Em xadrez, o último erro é derrota definitiva; e quando o jogo é a vida, a morte vencerá no final, ninguém é eterno. Mesmo com o Oriente de Caio Fernando Abreu, com ou sem astrolábio.
    um abraço

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  44. Jorge, meu querido amigo!
    Vim te avisar que estou com uma promoção lá no Humoremconto, para participantes de todos os países! :)
    Beijinhos.

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  45. O outono é inspirador! Como já disse: “telas de palavras”
    Beijos

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