domingo, 31 de janeiro de 2010

rebentação


todo o aroma do corpo
senti-o dentro de mim
quando aquele suspiro de sangue e sonho
se projectou sobre a janela
onde escondemos o sono da derrota
e rejubilámos com a vigília da ilusão

sonâmbulo de afecto e luz
o dia recém-chegado
flutuou
ébrio de uma serena melancolia
sobre a imensa transparência
do sangue e da pele

para trás a noite
e as margens sinuosas
junto de escarpas salgadas
onde o mar
rugindo furioso
batera na rocha dois corpos em carne viva

entre a noite esventrada
e o dia esquecido
apenas destroços de pele
flutuando sobre águas
que perderam a voz
nos fiordes do silêncio

5 comentários:

  1. Jorge,
    Rebentei-me aqui e dou-me de cara com esse teu poema denso de metáforas e anfractuosidades.
    Vou de lê-lo a relê-lo e sei, jamais chegarei ao último fio do novelo...
    A arte em carne viva é assim.

    Abraço mineiro,
    Pedro Ramúcio.

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  2. Dos destroços se fará a fogueira que te aquecerá nos dias longos, nas noites frias.
    Queimados os destroços, sai!
    Beijinho

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  3. Caro Amigo e poeta Ramúcio, pois não é a poesia a arte das sensações supremas? Pois não é o verso a galeria de imagens de carne, sangue e pele, tantas vezes aquém e além da palavra que os enforma e lhes concede/rouba a vida?
    A metáfora "Rebentação" nasceu de vivências que, como as ondas da tempestade, quase nos fazem tocar o céu, quando se esticam acima do seu pescoço, para no instante seguinte baterem com estrépito no fundo irregular do mar.
    Obrigado pelas tuas palavras!
    Um abraço lusitano!

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  4. Sinestésico! Forte e belo de sentir poder perceber as imagens na rebentação do teu poema.
    Abraços.

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  5. A noite esventrada, fiordes do silêncio. Teu poema evoca em liquidos presságios as flores abissais da memória dos corpos. Sonoramente flui e se esparrama sobre os nossos olhos. Abraços.

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