sexta-feira, 28 de outubro de 2011

epopeia de pores-do-sol

salvador dali, la esfinge de azúcar


sei-te num retrato
que inaugura pores-do-sol,
pequeno, gasto
como os olhos de um gato adormecido

na moldura chovem refúgios e castigos:
calafrios sustêm o andar
num esquecimento musical,
pedaços de vidro engolem a voz
numa sinfonia despovoada.

sei-te num retrato
que imatura pores-do-sol,
perdido, bardo
como os olhos de um gato amanhecido

na mensura trovem respingos e perigos:
arrepios sorvem o andar
num espaçamento musical,
pedaços de vela encobrem a voz
numa sintonia desnorteada.

e enquanto sorris,
com olhos negros e dentes brancos
e todos os encantos de lume e terra,
roubas-me os passos tortos
com que despia as flores.

algures entre a saudade e o lábio
aprendemos a morrer
na distância um do outro.

e enquanto sentis,
com olhos negros e dentes bastos
e todos os recantos de lira e esfera,
roubas-me os passos tolos
com que desvio as flores.

algures entre a saudade e o astrolábio
aprendemos a morar
na distância um do outro.

(Cris de Souza & Jorge Pimenta)

smog, rock bottom reiser

53 comentários:

  1. eis o oitavo, o nosso olhar aponta para o infinito.

    beijo, parceiro precioso!

    ResponderEliminar
  2. Terça feira eu ví um debate num programa de tv onde o entrevistado falava que em poucos anos os poetas da língua portuguesa iriam acabar, ele falou que o que se fz hoje e se chama de poesia é o que meninos do primário faziam a anos atrás, ele falou que o vocabulário que se usa hoje em poemas é muito pobre e que esse estilo de literatura merece um vocabulario mais elaborado e por fim ele falou que os versos e rimas de hoje em dia são muito obvios...
    Sabe Jorge eu acho que realmente os bons poetas estão mesmo em extinção porque eu visito vários blogs de amigos entre os quais vários escrevem poesias, mas assim iguais as suas eu não conheço ninguém...
    Seu texto e sua postagem estão perfeitos!

    ResponderEliminar
  3. Ah... essa parceria de vcs é maravilhosa!!

    Uma saudade que envolve em versos e tece sentimentos...

    Lindo demais.

    Beijos

    ResponderEliminar
  4. "algures entre a saudade e o lábio
    aprendemos a morrer
    na distância um do outro."

    bem verdade isto, meu amigo Jorge...bem verdade!

    Tu e Cris arrasam... provocam rebuliço nos pelos e uma agonia boa no peito...mas podem mandar sempre dessas... eu aguento!

    Beijinho carinhoso, meu amigo!

    p.s: O Luz voltou...

    ResponderEliminar
  5. oito estrelas em sinfonia lírica que já tem marca registrada. a musicalidade e o lirismo da Cris de Souza com a genialidade em trabalhar palavras de Jorge Pimenta. e o resultado está aí, a deliciar-me os olhos a mastigar os versos para alimentar-me a alma.

    beijo, Cris.
    grande abraço, Jorge.

    ResponderEliminar
  6. Adorei a leitura! Parabéns!
    Um beijo e um abraço de brisa marinha*

    ResponderEliminar
  7. Maravilha!

    "algures entre a saudade e o astrolábio
    aprendemos a morar
    na distância um do outro."

    Soa como canção em meus ouvidos todo o poema e estes versos, ecoam, peito adentro!

    Parabéns aos poetas!

    Beijos, beijos

    ResponderEliminar
  8. Uma dupla para arrasar corações abandonados, adorei Cris e Jorge. Vocês formam um belíssimo par em versos. A ousadia de um é o canto solene do outro.

    Beijos

    ResponderEliminar
  9. Todos os versos são de uma riqueza metafórica imensa. E achei até meu sobrenome ai "bastos" que não sei bem o significado. Haja riqueza vocabular e beleza nos versos.
    "algures entre a saudade e o lábio
    aprendemos a morrer
    na distância um do outro."

    "algures entre a saudade e o astrolábio
    aprendemos a morar
    na distância um do outro."
    Parabéns à dupla de poetas! Lindo, lindo!
    Beijokas doces e uma boa sexta-feira.

    ResponderEliminar
  10. Onde um termina, onde o outro começa, sempre me pergunto quando os leio em parceria, e quase adivinho, e não porque a parceria não seja um espetáculo, mas por conhecer o tipo de febre que acomete a ambos, por ser fã de ambos, por adorar as luzes e sombras da lira!
    Beijos,

    ResponderEliminar
  11. Uma verdadeira epopeia, delineada por mentes poéticas que, além dos sentimentos, têm a capacidade de desenhá-la em versos.
    Sempre um encantamento ler você, Jorge! E uma alegria quando nos traz a participação da Cris, outro talento.
    Nesse seu espaço, só nos resta aplaudir.

    Bjs a ambos

    ResponderEliminar
  12. Apreciadora dos gatos, como sou, consigo, com essa metáfora, perceber claramente e sentir a intensidade do que escreveram, Jorge.

    Bela parceria, funcionou muito bem.

    Um beijo, moço querido.

    ResponderEliminar
  13. sempre que os leio
    é como se juntassem
    n'alma ossos e nas palavras
    outro som como se estivesse
    eu fora e vocês dentro
    ...

    forte abraço, Jorge
    grande poeta
    e amigo.

    ResponderEliminar
  14. Que dupla!!!

    Parecem tão felizes e à vontade, quanto um filhote de gato se espreguiçando na relva fresca, enquanto sauda os primeiros raios de sol da manhã...

    Perfeito!
    Parabéns aos dois queridos poetas.

    Aplausos e beijinhos,

    Cid@

    ResponderEliminar
  15. Pungente! Consegui vislumbrar a pessoa do retrato...

    Sempre gostei de fotografia, penso que elas falam tanto acerca das pessoas!

    Belíssimo escrito! Beijinho...

    ResponderEliminar
  16. À sintonia dos poetas
    Em tons de duas gargantas
    Que se acham sobre as cordas
    E sopram a nós as músicas que cantam
    E ao andar de nossas rodas
    Um espaço sempre sobra das andanças
    Para apreciar ao por-do-sol
    Na verve que da pintura imóvel balança...

    Grande poema!!! Abraço amigos do além-mar e espero que tenham gostado de meu poema pobre a poetas tão ricos. Abraço!!!

    ResponderEliminar
  17. ahhh...um suspiro! Foi o que me causou ao terminar de ler essa lindeza repelta de poesia!
    Vim conhecer o blog e gostei!
    Parabéns aos autores!

    ResponderEliminar
  18. Morrer ou morar na distância é um oficio muito difícil para aprender, até os mais sofisticados astrolábios podem nos extraviar. A saudade é um mar cheio de perigos.
    Perfeita música compassada a quatro mãos e dois corações, onde as líricas se acoplam sem fissuras. Parabéns.
    Abraço forte e sempre renovado na distância, querido amigo.

    ResponderEliminar
  19. a poesia tem essas antenas que irradiam e se fazem captar além das geografias e dos mapas, me comovo, deliro e me alumbro em vários tons, há ainda os sóis e seus bemóis que se (im)põem,



    abraço e beijo

    ResponderEliminar
  20. Quanta beleza Jorge ,uma dádiva!
    um poema a duas mãos delicado como um "gato adormecido"
    sei bem como senti-lo, assim doce , sensual , tímido como um pôr do sol.
    me encanta a forma elegante com que usam as palavras transformando-as em poesia e emoção.
    Parabéns aos dois amigos.
    com abraços meus

    ResponderEliminar
  21. Lindo texto Jorge, e essa pintura do Dali casou perfeitamente com o teu poema, e vejo que vc fez em parceria com a Cris de Souza, excelente parceria, dois talentosos poetas. Parabéns pelo texto.

    Abração pra ti.

    ResponderEliminar
  22. eu já tinha lido no blog da Cris, mas vale mais um comentário: "aprendemos a morrer
    na distância um do outro." o estar longe sempre nos torna mais tristes, silentes...uma morte aos poucos que chamaos de saudade.

    ResponderEliminar
  23. Jorge e Cris,
    a distância é igual ao tempo multiplicado pela velocidade.
    Considerando que cada pessoa tem seu próprio tempo e velocidade, eu diria que, até mesmo num movimento retilíneo uniforme, a distância é imensurável.

    Longe a um centímetro; ou perto em quilômetros, morremos um pouquinho cada vez que o tempo e a velocidade não se afinam com a do outro.

    Abraços aos dois!

    ResponderEliminar
  24. aprendemos, mas por que? http://www.youtube.com/watch?v=iJO3BPJXlLg&feature=player_embedded

    ResponderEliminar
  25. Que desenvoltura perfeita.

    No próximo mês irei postar fragmentos dos meus amigos avatares (blogueiros escritores) como forma de carinho e reconhecimento. Caso tenha algum especial me enviei, senão escolherei ;)

    Beijos

    ResponderEliminar
  26. Genial!...
    Dois dos poetas que muito admiro, neste universo, juntam palavras e criam encantos.

    Parabéns aos dois.

    L.B.

    ResponderEliminar
  27. Adoro ler essa mistura de vocês, renda tão bem tecida em versos que tentamos reconhecer.
    e que coisa tão linda essa de morar na distância um do outro...

    lindo lindo!
    beijo nos dois, queridos!

    ResponderEliminar
  28. Precioso, o que encontro aqui, aliás como sempre...
    Esta escrita a dois toca-me sempre muito, palavras para sentir... juntamente com esta escolha musica, parabéns aos dois!

    abraço
    oa.s

    ResponderEliminar
  29. Jorgíssimo

    Acho que minha alma estremeceu de tanto encanto
    É linda essa parceria com Cris de Souza. Já li
    reli e ouvi.

    I love my brother too

    ResponderEliminar
  30. Olá, Jorge,
    moço, vou deixar aqui o que deixei lá na Cris.

    o título, o quadro, o vídeo e a parceira de vocês neste emocionante poema, muito, muito tocante.

    e este verso:
    "algures entre a saudade e o lábio
    aprendemos a morrer
    na distância um do outro."

    são aqueles momentos em que a dor da distância física é tão forte que parece morremos vivos e nada alivia, nem palavras, nem acordes, as lembranças e as saudades são como uma lâmina fervendo rasgando e queimando a pele e a carne, e vem o alívio quando somos enterrados para depois surgirmos novamente.

    UM PARABÉNS ENCANTADOR

    beijos grandes pra vocês

    ResponderEliminar
  31. Meu querido Jorge e Cris

    Uma dança a dois corpos...uma tela pintada a duas almas...um poema talhado por dentro do tempo...dois corações que se abraçam na poesia...um dedilhar de emoções.
    E eu como sempre vou rendida ao vosso talento e deixando um beijinho com carinho para os dois.

    Sonhadora

    ResponderEliminar
  32. nunca aprendo.
    pois é, o fausto me entende.

    http://www.youtube.com/watch?v=wGxxWg-ScIY

    ResponderEliminar
  33. Oi Jorge
    Andava com muitas saudades daqui.
    As vezes nos perdemos pelos caminhos...

    Já quase consigo distinguir no poema, o que é Cris e o que é Jorge.

    Esse dueto é para assistir na primeira fila.

    bjs pros dois
    Rossana

    ResponderEliminar
  34. Olá Jorge, um poema talhado à medida da alma de dois poetas. É fascinante como duas almas por vezes se completam tão bem. Parabéns aos dois poetas e claro beijos com muito carinho também para os dois

    ResponderEliminar
  35. Sim Jorge, é no ideal 'que inscrevemos cada um dos passos da nossa recorrente caminhada'. Afinal, nossa natureza humana, com conduta moral pincelada no ideal, apesar de curvas, atreve-se jogar do penhasco pelo 'ideal'. Mas, em contrapartida, a cada amanhecer, percebe-se abolição do ideal. Ele se torna cada vez mais distante, atribuo ao fantasioso. E no vazio creio que descobrimos luas, aprendemos a leitura minuciosa do dito e das muitas mordaçado, como a linha tênue da voz singular e ímpar.

    Agora, ao escrito, é evidente uma sintonia em ambos. Obra que retrata beleza e alma.
    Parabenizo-os, pois lê-los a quatro mãos causa admiração, e enamoramento por parcerias. E, quão pleno é, não saber onde um começa e o outro termina. Isso é lindo demais em tempos atuais.

    Abraços aos doies em um!

    Priscila Cáliga

    ResponderEliminar
  36. Parabéns a vocês dois, poetas que além de queridos são afins, dançam divinamente e nos presenteiam com tanta beleza e harmonia.

    Vocês vão longe, já estão a caminho.

    Beijos pros dois.

    ResponderEliminar
  37. mais uma obra de sensibilidade à quatro mãos..
    sempre ler e reler...ouvir.. sentir..
    e me emocionar!
    beijos aos dois cheios de carinho.

    ResponderEliminar
  38. ´boa tarde!

    magnifica parceria!
    comparo esse poster com aquela canção
    que traz um arrepio e te faz parar no
    tempo,o barulho fica fora de sua mente enquanto você ouve e sente a canção.
    assim fiquei ao ler epopeia de pores-do-sol

    ResponderEliminar
  39. boa parceria, Jorge e Cris, as vossas palavras levam-nos longe, ainda que a distância seja a morte, ela precisa de se fazer sentir!
    beijos aos dois
    LauraAlberto

    ResponderEliminar
  40. "...a morar na distância um do outro". Como mesmo um retrato a apreciar.

    Parabéns aos dois!! Retrataram com maestria a distância sentida pela saudade.

    Beijos,

    ResponderEliminar
  41. ...adoro entrar aqui e me perder
    no labirinto de tantos encantos.

    beijos fartos aos dois poetas
    que se doam em amor em
    qqr tempo!

    poeta querido,
    cobraste-me um post.

    está lá para seu
    deleite.

    mais bjs

    ResponderEliminar
  42. em cada pôr-do-sol a melancolia no infinito horizonte do coração...

    inebriante retrato,
    belíssimos os vossos versos!
    Beijinhos

    p.s. adorei o contraste entre as cores quentes da pintura e a melancolia da música e versos

    ResponderEliminar
  43. Perfeita essa dupla.
    Lindo demais!
    "algures entre a saudade e o astrolábio
    aprendemos a morar
    na distância um do outro."
    Parece uma canção para os ouvidos.
    Beijos e ótima semana Jorge.

    ResponderEliminar
  44. Boa Noite, Fiz uma postagem em meu blog e gostaria de convidá-lo a conferir. No clipe, há versos de Eça de Queiros.

    Beijão!

    ResponderEliminar
  45. A poesia é uma forma de expressão de grande consolo. Sua poesia é forte. Cheia de formas.
    E a saudade faz belas poesias.

    Abs

    ResponderEliminar
  46. Olá, Jorge

    algures entre a saudade e o lábio
    aprendemos a morrer
    na distância um do outro
    .



    A saudade pode render uma belíssima sinfonia quando se deixa captar por olhares apurados com os de vocês!
    Bravo! Bravíssimo!!!


    Reconheço a pauta da Cris aqui preenchida pelas tuas notas poéticas! Harmonia perfeita.

    Bjs aos dois

    ResponderEliminar
  47. Poesia muito rica Jorge, talento puro, são ótimas suas obras!
    Grande abraço e sucesso!

    ResponderEliminar
  48. Pra que serve uma moldura senão pra tentar enquadrar conforme convém ao espaço, à leitura?, aqui é assim, pena que risca, rasga a linha e flui solta. Aqui, quer chova, quer faça sol, há amanhecimento verbal.
    Deixo um abraço aos dois.

    ResponderEliminar
  49. maravilhoso o poema, coisas ditas das profundezas da alma.
    Sua maneira de escrever é muito bonita mesmo.
    Bjos achocolatados

    ResponderEliminar
  50. Saio daqui sempre com os pensamentos sacudidos por tão bela e rica poesia.Adoro!Parabéns aos dois.Bjs

    ResponderEliminar
  51. Acredito que uma das coisas mais necessárias e difíceis da vida é conseguir enxergar as necessidades do próximo para, assim, nos tornarmos melhores do que somos.
    O mesmo vale para se construir uma belíssima obra como esta ao lado de alguém cujo talento é imensurável.
    Melhor do que escrever é fazer isso com quem reflete nossas expectativas e ideias.
    Une-se assim o prazeroso ao construtivo.
    Abraço, meu digníssimo escultor de frase de além mar.

    ResponderEliminar
  52. Jorginho, fiquei sabendo que fecharam por lá um barzinho, não foi?
    Vi até uma fotinho dos dois...só fiquei um pouco em dúvida se estavam assim tão enxutos por dentro...rsrsrs...brincadeirinha ;) lindos os dois e moram no meu coração.

    p.s: mas, cuida lá, que a reputação sr. Lima anda meio duvidosa desde que ele chegou aí...rsrsrs

    beijinho, querido amigo

    ResponderEliminar