fotografia de jorge pimenta
IEstou cansado de ser apenas homem.
Antonio Skármeta, O Carteiro de Pablo Neruda
abro-te estas mãos que não acabam no tempo.
serás tu quem me há de sepultar
assim que mirrem os crisântemos
e o homem esqueça toda a linguagem.
não sei quando, na verdade,
não sou deus
e a catequese está já à distância da memória
por isso espero pelo calendário que marca os dias até morrer
e uma cigana que adivinhe quantos soubemos viver
nos silêncios que esquecem todas as palavras
todas as bocas
e quase todos os beijos.
será que permanecerão em mim,
pelo lado de fora,
os ruídos lentos que me abandonaram,
essa máquina que separa os vivos dos vivos
e nos aproxima dos mortos?
jorge pimenta
fotografia de jorge pimenta
[…] e ninguém podia imaginar o mundo de palavras que levava comigo.
Morrer é estar absolutamente sozinho.
[…] na solidão, é-me impossível fugir de mim próprio.
José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos
parece que muros se erguem violando o céu sagrado
deixo que o grito se suma mudo
e a terra cubra quem tomba pelas valetas
se é no horizonte que se desenha o futuro,
ainda que a lápis, ainda que alguém o apague
eterno é tudo aquilo que nunca fui
no vasto rol de deuses que me fitam do alto,
com o dedo acusador
sei que há silêncio e gemidos ocultos na carne cansada
e olhos fechados sobre todos eles
eu sei que vou morrer
eu sei que vou, um dia, morrer
eu sei que as asas que me deram não me deixam voar
e eu sei que sei voar
e eu sei que vou voar, no dia que eu sei que vou morrer.
laura alberto
sigur rós, viorar vel til loftárása
Lindíssimo, mas os poetas – em minha opinião – já pertencem aos céus, tais como o albatroz de Baudelaire... Ninguém pode impedi-los de ganhá-los, nem a morte, nem o silêncio, muito menos o duelo inquirido pelo tempo que insiste em sempre querer vir nos devorar. Os poetas, com suas asas de harpias, voam e ainda lançam espinhos no empate com sigo próprio que no som calado os espreita... Morte? Vocês nos avivam com seus versos, nos dão carona pelos ares com seus suspiros e nos fazem esquecer os sentidos nas verdades vendidas de suas palavras...
ResponderEliminarAbração amigo poeta do além-mar!!!
:)!!!
ResponderEliminarAbraço, amigo dos olhos grandes!!!
Laura Alberto
Como pode ser que duas pessoas que escrevem tão bem assim e usando tão bem as palavras se encontrarem pela vida e escreverem juntas?
ResponderEliminarJorge e Laura... Puxa vida, que dupla de poetas!
Quanta sensibilidade existe nesses textos! Parabens!
Parceria linda os dois poemas parecem mais dois pássaros maravilhosos!
ResponderEliminarBeijos Jorge
Jorge, espero que os crisântemos, demorem uma eternidade para mirrar.
ResponderEliminarVocê está ficando um artista como fotógrafo
;-)
Laura, que tuas asas te permitam perseguir teus sonhos.
Abraço grandão envolvendo aos dois.
PAZ & LUZ!
Tenham um belíssimo e abençoado final de semana.
Cid@
Dois suspiros e a mesma inevitável direção. O que permenacerá pelo lado de fora, caro Jorge, é uma pergunta que sempre me faço. Geramos energia (fato). Energia transita (fato 2). Onde estaremos, onde está o que já fomos, onde estamos, posto que já passou? Também sei que vou voar, Laura, e neste dia só não saberei do voo, pois não mais estarei a voar.
ResponderEliminarInevitavel a admiração pelos escritos que tanto me tocaram.
Meus aplausos aos autores, Jorge e Laura.
Realmente são textos bastante sinceros. Deveras bem edificados. Muito bom (:
ResponderEliminarÓTIMO FIM DE SEMANA!
esse vôo será inesgotável, com um pouso suave e límpido dentro de um clarão afortunado.
ResponderEliminarbjs
é! a gente se cansa de ser apenas homem!
ResponderEliminar... e alma em carne viva, aqui, de cada um dos dois! poemas lindissimos, de ambos, Laura e Jorge!
Sigur Rós, que sempre tão bem falam das almas, dos silêncios, das verdades.
José Luís Peixoto em carne viva, sempre.
beijo aos dois.
adorei! belissimo.
Lindos textos, gosto de dizer que, a morte é o fenômeno anti-natural mais natural que existe, não sabemos quando vai se dar, não é bem vinda, mas está presente em nossas vidas de forma íntima e amedrontadora.
ResponderEliminarJorge e Laura, belíssimos textos, parabéns poetas.
"nascemos sozinhos e morremos sozinhos" António Lobo Antunes
ResponderEliminarAcordei com esta frase não podia estar mais certo. É sempre um prazer escrever contigo. Desta vez demorou...
Abraço!
P.S.: Obrigada a todos os comentários, meu obrigada sincero. Vamo-nos vendo por aí, entre as letras e as palavras!
Laura Alberto
Há entre os moirões de pedra dos alambrados e a abundância da simplicidade que floresce em belos crisântemos voos irrecusáveis de mediação entre a dição e a contradição, permeados por sensível linguagem poética, numa espécie de alegria farpada entre a vida sápida e a morte insípida, por nada menos que instantes partilhados, doces e vitais como suspiros, em vida real ou em poema verdadeiramente atemporal.
ResponderEliminarDeixo por aqui um abraço aos dois.
Não sabemos quando a morte chegará e já nos sentimos reféns dela. Se soubéssemos talvez a coisa fosse ainda pior.
ResponderEliminarNão sei lidar com a morte, Jorge, com a finitude das pessoas.
=\
Um beijo, moço querido, ótimo fds!
Maravilhoso!
ResponderEliminarIsso é o que eu consigo dizer!
Os olhares fotografados no tamanho da imensidão de palavras, cinzas, mas cheias de cores. Sentimentos que saltam do coração direto para o papel. Letras que parecem lágrimas num suspiro só. Imagens que transformam letras em pequenos detalhes...
Lindo demais!!! Perfeito!!!
Uma parceria maravilhosa!!!!
Beijos querido amigo!!!
Às vezes a triste realidade da morte pode se transformar en belos versos.
ResponderEliminarps. A porta não havia tombado ao vento, ela é mágica e fica aberta quando reconhece os passos no tempo.
Um abraço forte, amigo.
Jorge, meu Amigo, entre dois suspiros, suspirei, li e silenciei. De uma imensidão que toca as almas.
ResponderEliminarParabéns aos poetas, Jorge e Laura.
Abraço
oa.s
...graças à Deus os crisântemos
ResponderEliminarpossuem uma capacidade enorme
de renascer, e quando o fazem
renascem mais lindos ainda.
que dupla maravilhosa vejo aqui
neste tapete poéticamente urdido
com as mais finas linhas da
boa poesia.
Jorge vc é um lindo que eu adoro,
e a Laura merece estar pertinho
de tí.
bjokas de carinho aos dois!
Os vivos geralemte ficam distantes. Parabéns por tão profunda postagem.
ResponderEliminarComo bem disse uma vez Pessoa: "Quem não vê bem uma palavra, nao pode ver uma alma." Lindíssimas palavras que ambos poetas usaram para tocar nossas almas.
ResponderEliminarMARAVILHADA!
Beijo!
Òh morte onde está os teus grilhões?
ResponderEliminarEm que tempo hei de estar presa na tua eternidade?
A morte é um mistério e algo que embora não tenha medo dela, sou apavorada pelo pensamento de que as pessoas se vão e não mais as veremos. Freud diz que todos nós negamos a morte e quanto mais falamos que iremos morrer, mas negação há... Ela é um mistério!
Que os crisântemos ainda estejam por muito tempo desabrochados e você cada vez com mais vida em seus poemas. Adoro a profundidade metafórica que dá aos versos, e que faz a gente pensar e pensar. E a Laura? Tem asas sim, e nós pés, e sabe voar! Voa nos versos e plaina na poesia com suavidade e segurança.
Escrava Isaura?? Pois é eu também assisti a essa novela com a Lucélia Santos que nem sei por onde anda e o Rubéns Falcão que faleceu em 2008. E depois vi alguns capítulos que foram dublado em português Lusitano e achei muito lindo. Pois é, ela nao libertou os escravos, mas teve uma vida bem agitada diante dos desejos devassos do seu senhor.
Beijokas doces Jorge, muito bom te ler.
Dois poemas imensos de humanidade e sentidos, Jorge, daqueles que se leem com o coração batendo mais depressa. As imagens os complementam de um modo perfeito.
ResponderEliminarBeijo beijo, amigo poeta.
Eu me curvo ante ambos, para pronunciar meu encantamento. Esses versos podem ser lidos sem trazer cansaço. Provocam outros pensamentos e reflexões. A harmonia que vocês dois encontraram é especial. Só me resta, aplaudir: BRAVO!
ResponderEliminarBjs.
textos profundos e intensos como só os suspiros sabem ser...
ResponderEliminarBelíssimo, admiro-vos muito!
Beijos
p.s. Jorge! adorei as fotografias!
e sigur rós fica aqui tão bem
Já dizia Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver. A vida é tão boa! Não quero ir embora..."
ResponderEliminare outro poeta " as gaivotas abrem em mim as suas asas com vontade de ficar e de partir..."
que digo eu diante de suspiros tão pungentes?
minha alma se cala pra ouvi-los Jorge e Laura.
simplesmente extraordinários falando bonito sobre o banquete final.
visto que os poetas são imortais, ergo a taça e brindo a vida dos dois.
com afeto e admiração
Fotos em branco e preto mostram mais do que a imagem focada: revelam a alma do fotógrafo na hora de capturar aquele momento.
ResponderEliminarO mister de todo artista é tocar os limites da existência, equilibrar-se na borda dos sentidos e desafiar a morte com sua obra. Todos os dias são dias para morrer e há nisso uma beleza indelével e um silêncio tácito e sublimado. A poesia capta essa beleza sobrenatural e a revela, rompendo o silêncio sem rasgar a carne que o continha.
Parabéns aos dois!
Beijokas e um lindo fds.
Jorge e Laura,
ResponderEliminarnão creio na solidão do homem no momento de seu nascimento, nem na solidão no momento de sua morte.
Afinal, podemos nos assegurar que somos apenas um?
Muitas vezes não amamos por dois, não sofremos por muitos ou vivemos por vários?
E quem garante que ao início de nossa passagem, não haverá algum anjo a agarrar nossa mão ou acariciar nossos cabelos?
Além disso, não acredito existirem voos suicidas para quem cuja alma: “navega ao contrário”, desafiando a Lei da Gravidade e a Lei de todas convenções,
... a menos que a vida se acabe, voando para cima!
Laura,
aprecio muito sua escrita. Parece que você está a bordar um tecido fino, manipulando agulha e linha com cuidado e delicadeza.
Maravilhoso!
Jorge,
querido amigo, gosto muito de suas parcerias com a Laura, assim como gostaria de te parabenizar pela composição: fotos-suspiros poéticos-música.
Excelente!
Abraços aos dois.
Jorge,
ResponderEliminarpor curiosidade, se me permite:
alguns meses atrás, em momentos de insônia, estava pesquisando sobre rock progressivo, um dos ritmos que mais aprecio, e cheguei ao “post-rock”, que apareceu a partir dos anos 90 e também tem como vertente o jazz fusion. A grosso modo, poderia se dizer que o post rock é uma releitura do progressivo ou até mesmo uma evolução, e um dos nomes que encontrei em minha pesquisa foi justamente o da islandesa Sigur Rós, que naquele momento não a escutei.
Agora a ouço pelas tuas mãos, como se já o tivesse feito antes!
Beijinhos.
PS.: Apesar de vermelho, espero que o Benfica tenha se saído bem :).
Jorge, meu querido amigo, grande poeta!
ResponderEliminarVir aqui é um dos poucos regalos que a vida me aferece, mas o faz pela metade: não me permite, mais, comentários...
Entretanto, ainda assim, o poder vir já é tanto!!!
Lindíssima postagem!
Que dupla, você e Laura Alberto!!!
Beijos saudosos da
Zélia
Bom dia!
ResponderEliminarGostei tanto do clip que você postou(boat behind), que além de passar aos meus alunos na aula de Literatura, postei também em meu blog.
Espero que não se chateei. Como sempre ensino em minhas aulas é a influencia lusitana sob os poetas brasileiros.
Beijos!
Laura & Jorge: combinação perfeita.
ResponderEliminarFotografia & fotografia: também.
já coisas que me deixam extasiado, para elas não há verbo, mas a carne treme
ResponderEliminarabraço Jorge
beijo Laura
Jorgíssimo
ResponderEliminarO que importa a memória da catequese?
O quanto soubemos viver só saberemos quando nessa
máquina cessarem todos os ruídos.
As vezes não posso acessar os seus vídeos, depois
a página trava.
Mas tudo o que você escreve me instiga a voltar.
Beijos
o silêncio e as vozes
ResponderEliminarque não se vão nunca
...
forte abraço, grande poeta e amigo
beijo carinhoso, laura.
Jorge,querido amigo de-além-mar.
ResponderEliminarHoje aqui no Brasil comemoramos o Dia dos Professores, uma classe ao qual nutro especial respeito.
Estou passando em todos os bloggers que são professores, e não são poucos, para desejar-lhes um sincero "parabéns" pelo que fazem ao país e ao mundo, e aqui, a ti em especial.
Abraços em consideração, caro amigo!
há coisas tão profundas que, pensar sempre nos toma por completo.. momentos expressos aqui com maestria por vocês dois..
ResponderEliminarcomo sempre encantando..
beijos de carinho Laura e Jorge..
Parceria envolvente e segura a falar da morte.
ResponderEliminarA morte negra com seu manto e o cajado afiado,de repente descritas pelos dois se transformou num lindo anjo branco de mãos abertas esperando a nós mortais.
Bom fds aos dois,bjka
Encanto duplo...
ResponderEliminarvocês são dois alados...
Beijinho carinhoso, meu amigo!
Oi Jorge,
ResponderEliminarOi Laura,
Duo perfeito, mesmo sendo assunto ingrato, mesmo sendo inevitável, vocês deram vida no vôo que fizeram.
Beijos meu
Um blogue que, a partir de agora, vou visitar.
ResponderEliminarAbraço
Olá amigo jorge, tão belo quando dois poetas se completam até no voo da morte. Adorei. Beijos com carinho os dois poetas
ResponderEliminarMeu querido Poeta
ResponderEliminarComentar algo tão sublime...não estou à altura disso.
Senti...degustei e deixo o silêncio falar...a emoção voar nas vossas palavras.
Prendo o momento e vou como sempre desejando voltar.
Beijinho carinhoso para os dois
Sonhadora
caneco...este "bateu-me forte"!
ResponderEliminarEXCELENTE....................
Voltei a passear por aqui, sorte minha.
ResponderEliminarEsses outubros e novembros sempre reinauguram o tema da morte, não deixo de notar Coisas de Plutão e de outros astros, penso eu. =)
Belíssimos ambos os poemas, Jorge e Laura. Parabéns aos dois.
Quanta beleza no seu post.
ResponderEliminarBonita essa parceria, numa harmonia perfeita,
parece dois passaros de mãos dada voando aos céu das palavras. A imagem dá o toque especial.Parabéns, e meus aplausos a essa dupla de poeta.
Beijos e ótima semana.
Duas artes que se fundem perfeitamente - a ARTE da fotografia e da escrita.
ResponderEliminarMuito belo!
Os seus poemas trazem geralmente dentro deles as pessoas e, sobretudo, os seres desprotegidos e carregados de sinais, linhas de força que são já em si os itinerários para a construção poética, a que junta elementos das paisagens físicas, admitindo que há outras, que muito claramente o deslumbram e o servem.
ResponderEliminarO resto eu não digo dos seus poemas, sob "pena" de falar de mim. É com eles que os leitores deste blogue, que houver famintos de pessoas, de paisagens e de poesia, hão-de contemplar as estrelas que a solidão lhes aponta. Afinal..., às vezes, os poemas catapultam-nos para "sedes" antigas que algemaram as palavras que o silêncio não diz.
Grande Abraço
Paulo
PS: Obrigado pela visita.
a parceria de vocês é um casamento perfeito de versos, tão afins, tão complementares
ResponderEliminartão bom voar assim, de mãos dadas... ainda que não seja a morte, porque as minhas asas voam sempre e, às vezes,já nem tenho certeza se vivo
beijo imenso, querido amigo Jorge!
beijo também pra ti, talentosa Laura!
Voltando para reler e dizer: duas composições que seguem de mão dada...se continuando...
ResponderEliminarMe tocaram, sim...porque é nossa condição...
Excelente, repito.
BShell
Enquanto esse dia não chegar, continue a escrever amigo, desejo fazer um novo dueto com meu eu verdadeiro, essa que te escreve, e não como uma pseudomonácea!
ResponderEliminarSomos mortos vivos a cada dia que se passa, em nossas recordações, em nossas emoções, em nossas limitações.
ResponderEliminarParabéns a você, Jorge, e a Laura, pela feliz comunhão poética!!
Beijos,
maravilhosos os dois poemas...
ResponderEliminarE os poetas ( vós)já voam alto na senda das palavras.
beijinho
Desta vez consegui, meu querido amigo, grande poeta!!! Viva!!!
ResponderEliminarAbraço bem forte da
Zélia
Olá Jorge..
ResponderEliminarQue bela parceira sua e da Lauira.
Dois talentos!!
As fotos em preto e branco lindas..o video..o poema..
O que dizer então? Calar-me. Só apreciar.
Um beijo com carinho..
Me fez pensar de um dia em que eu subi um monte, há tempos. Estava precisando de solidão e de repente meus olhos avistaram a cidade inteira, ao longe. Sensação de vida e morte. Liberdade e Ausência. Fechei os olhos e imaginei as asas das minhas ilusões. Nunca soube se morri ou nasci naquele dia. Mas parte de mim se perdeu por todo o sempre.
ResponderEliminarGosto quando os poemas me fazem viajar em mim mesma.
bacio
Jorge, você e a Laura causam uma inquietude de tontear.
ResponderEliminarE a expressão da Laura é de tal forma tão profunda que fico de olhos ora arregalados ora apertados e vem um troço pela pele que muitas vezes não há o que dizer.
abraços e beijos pra você e Laura com respeito carinhoso e admiração