jorge molder
não sei quando nasci
[a memória dormia ainda na ponta dos pés de uma bailarina].
sei que as manhãs já sacralizavam o tempo
com candeias de bruma pela estrada.
nada mudou;
apenas depuseram o orvalho
sobre o nome
e abriram a cortina para a cidade adormecida.
nem um porto
nem um lírio
nem um cavalo selvagem.
e a primavera louca se fizera
como os pássaros que se desprendem das asas
aceitando dividir a casa
com coágulos do nevoeiro.
talvez já não saibam delimitar as estrelas com a mão
neste hospício de cal branca
onde as vísceras e os ossos
aquecem a noite e os silêncios.
perdeu o manto
e deixou de sonhar
e todo o tempo se fez velho.
não sei quando nasci.
como ontem,
hoje o nome estremece no arquivo
ao lado de anagramas e estações do ano.
como ontem,
hoje o rosto no espelho
assobia lugares estranhos.
hoje,
ao contrário de ontem,
esta carne mascara-se de cera
e despede os músculos e a alma
numa ejaculação que engravida a terra e o vinho
[tenho-os secretamente guardados num frasco de vidro
com uma etiqueta perfumada.
creio que tem escrito “coração”…
ou “coroação”?...].
toda a mão que rasga o útero merece aprender a morrer.
mas foi ela um dia
[talvez o de aniversário]
que mordeu os lábios do vento
e cuspiu a terra para as sementes
[a desilusão nidifica em árvores tão estranhas].
e a morte escondeu-se no alfabeto.
e a primavera voltou a ser uma estação do ano.
e a mão solitária costurou todo o corpo,
com a paciência magra que denunciou o crucifixo.
aprendeu a sorrir para a lua
com os dentes brancos de margaridas
que caíam lentamente sobre o perdão.
não sei quando nasci…
sei que todos os homens são loucos.
muse, unintended
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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é esse o caminho da poesia
ResponderEliminar...
forte abraço,
irmão
...
rapaz que poema, fico em silencio contemplando - assistindo esse fervor de palavras,
ResponderEliminarabração
de caminhos nos [re]fazemos, amigo domingos, verdade?
ResponderEliminarabraço com dedos em chama!
assis, poeta de mil e um traços, chovem bilhetes, escasseiam as identidades. mas entre uns e outros, sente-se um leve perfume a poesia. e é nesse reencontro que a pele sente, por fim, as impressões digitais na combustão das linhas.
ResponderEliminarum abraço, poeta incandescente!
"Toda a mão que rasga o útero merece aprender a morrer"...
ResponderEliminarNão nos ensinam a nascer, e tampouco a morrer...
Talvez seja melhor assim...
Por falar em morte, as pessoas morrendo às centenas, esses dias no Estado do Rio de Janeiro (não sinto que é culpa da chuva, sinto mais como uma incompetência do governo, pois era uma tragédia mais que anunciada, e nada foi feito para evitar), deixou-me num estado... enfim...toca a ajudar no que for possível (aos sobreviventes que ficaram sem nada) pois o mal já está feito.
É realmente muito triste!!!
Abraço pra você, amigo
Cid@
Olá Jorge,
ResponderEliminarfiquei emocionada
li uma vez e lerei mais
grande abraço e tudo de bom
Ca...ramba!!!! Você consgue ficar melhor ainda a cada dia! Que digo? Digo...? Não, apenas que vc foi perfeito!!!
ResponderEliminarBeijos
o teu poema entra em forma de música e fica a pulsar nas arterias mais profundas, belíssimo amigo!
ResponderEliminarp.s. não conhecia esta música dos muse, adoro-os!
que poema, putz! ganhei meu dia...
ResponderEliminarpreciso inventar novos adjetivos para qualificar sua lira.
meus aplausos, precioso!
beijo cristal.
amig@ cid@,
ResponderEliminarde nascimentos e morte ninguém saberá tanto como o ser humano, verdade? como se não bastasse, ele faz pactos e alianças com deuses menores, com deuses maiores, com forças sem voz mas com sangue no peito que, quando atiçadas, pegam na cartilha e revisionam toda a matéria no quadro negro de giz a que chamamos vida. e na avaliação, lá estão: nascer e morrer. inevitavelmente. e como consegue ser o melhor aluno da turma, esse tal de ser humano...
beijos!
p.s. os ecos da tragédia brasileira fazem-se sentir aqui também. arrepiante...
querida vais,
ResponderEliminarobrigado. saiu assim num assomo de loucura semi-sombria... sei lá.
beijos!
taninha, perfeito?
ResponderEliminarsenti-o feito ontem, quando o postei. hoje, ao relê-lo, já me parecia susceptível de novas pinceladas de cores branca e negra. é por isso que gostamos tanto da arte, em geral, e da poesia, em especial: como nós, jamais se torna produto e ainda menos produto acabado :)
beijinho com ternura luminosa!
querida amiga andy,
ResponderEliminaro mérito não está no poema; está nas tuas artérias que entumecem, abrem e despedem as máscaras, num grito que rejeita condenar-se ao silêncio do asfalto. e todas as palavras se tornam no mais profundo dos poemas; e no peito nos reinventamos em poesia.
beijos, amiga!
amiga de cris.tal,
ResponderEliminaro meu dia é que começa bem, sentindo-me junto de pessoas que estimo e guardo, bem em torno da escrita. aqui, ali, acolá...
um beijinho!
p.s. a ver se hoje consigo esboçar e enviar um primeiro esquisso de mais um estudo a duas mãos :)
Jorge,
ResponderEliminarsão versos saídos da alma em um nascer e morrer inquieto..
palavras que sinto ansiosas a me tocarem..
ler e reler.. e muse!...
sempre me encantando..
beijos de carinho..
Jorgito,
ResponderEliminarEsses dias ando a flor da pele, com as 500 mortes, pelo menos,pelas chuvas no Rio, mais um descaso das autoridades que não repassaram verbas.
Essa tua poesia me arrastou como nossas próprias enchentes, ainda tenho terra na boca e penso: é assim, o que temos, nascimento, morte e no meio a vida, tudo tão sem saber, mas como os cegos, ainda encontramos uma linguagem maior, que nos leva a loucura de viver.
Amo tuas letras, profundamente, meu poeta querido.
Bjs e belo fds
Ah, alado poeta...
ResponderEliminarDeves ter nascido no dia em que alguma estrela sussurou para outra assim: veja só... nasceu mais uma chance de não esquecerem que estamos aqui em cima...
;)
Beijinho de Luz e um estrelado fim de semana!
querida ingrid,
ResponderEliminarnascer e morrer. duas faces de um mesmo rosto sentadas diante do rosto de cada um sem proferir palavra. é neste grito silencioso que o poema rompe a noite.
muse é poesia em pauta de ouro!
um beijinho terno!
doce ira,
ResponderEliminarcomo entendo o teu/nosso estarrecimento face ao sucedido no rio. os ecos chegam-nos de bocas que interromperam a queda sob lava de terra incandescente. e os gritos aprenderam a matar e a morrer despedindo os pólos com que se constroem berço e esquife; o que os enche já só é o espectro de uma saudade sem nome...
um abraço solidário, amiga!
aninha-de-luz,
ResponderEliminarqual o quê? mal me viram, as estrelas ensinaram-me a dizer "não sei quando nasci". e riam, riam desalmadamente, enquanto escondiam as máscaras de uma noite mal dormida, atrás das quais escondiam todas as frustrações e incompletudes que levaram deus - o deus maior - a fazer delas apenas estrelas... diferentes entre si, mas que, à distância de biliões de sonhos, têm o mesmo brilho, a mesma forma, o mesmo bocejo, o mesmo sangue e o mesmo desejo que empalidecer.
beijinho com luz, querida amiga!
Olá Grande Jorge!!
ResponderEliminarVou ser sincera contigo meu amigo...
Como você mesmo disse...
"Não sei quando nasci...
Só sei que todos os homens são loucos...
Esse texto pra mim é de louco mesmo...
Por isso que gosto de sua escrita, por vir da alma, não apenas da boca pra fora!!
Beijos na sua Alma
Parabéns
lidi,
ResponderEliminarum agradecimento sem nome e um beijo louco :)
OBRIGADA!
ResponderEliminarBeijo
Laura
Novo talho nas minhas vistas. Antigo gosto na minha rota talhando ardência nos olhos. morte e vida escondendo-se no teu alfabeto, costurando todo o corpo do verso, Lindo e lindo e o que, Mãe de Deus? Lindo, São Jorge, lindo.)condensando as prometidas nuvens e esperando a carona numa boa rajada de saudosos sopros duns pássaros da colônia aqui.(
ResponderEliminarforça aí, laura amiga!
ResponderEliminarbeijos!
é o cutelo que espreita nas mãos, di(v)acov. o cabo repousa serenamente sob a pele quente enquanto as veias dilatam numa respiração sanguínea que espreita o ponto de ruptura. estica, range tensa, rebenta, escorre e tinge de encarnado a corda que nos prende pelas mangas. e a vida e a morte deixam de ser anagramas para se escreverem, da esquerda para a direita, com todos os nomes, à vez e em fila indiana, que esperam pacatamente a sua vez nos arquivos da conservatória do registo nominal.
ResponderEliminarbeijos!
p.s. há nuvens do lado de cá da ex-metrópole; mas nenhuma condensada. talvez a rajada de vento não tenha chegado, ainda...
beijos!
Jorge!!! nada te posso dizer que seja à altura deste poema. E que poema...já um dos meus preferidos e melhores que já li.
ResponderEliminarsuspiro, silêncio e arrepio...
beijo, querido poeta!
A gente não sabe o óbvio, mas a essência das coisas transbordam ao nosso olhar.
ResponderEliminarBeijo, poeta!
você sempre se faz novo e renova minha loucura...
ResponderEliminarOlá Jorge!!
ResponderEliminarTambém não sei quando nasci, e nem lembro, só sei a data porque me contaram e registraram...
Quantas outras coisas esquecemos e quantas incertezas nos esperam pela vida até o último suspiro?
Beijinhos!!
querida andrea,
ResponderEliminarhá silêncios que cavalgam sobre as crinas do dizer. obrigado pelo teu hiato verbal. ainda suspiro com os pulmões do arrepio.
beijinho!
larinha,
ResponderEliminare pensar que temos olhos... quantas vezes são apenas adereço de rímel e cor... quantas vezes adormecem sobre o horizonte divisado... quantas vezes comem e bebem o que existe dentro do estômago... quantas vezes...
as gotas que transbordam na indiferença do olhar seriam o bastante para chegar ao mais íntimo lugar de cada um de nós. e o bilhete de identidade deixaria de ser uma mera formalidade social.
beijinho!
aninha,
ResponderEliminarreitero a tirada final: todos os homens são [se fazem] loucos!
um beijinho com ternura!
lívia, querida,
ResponderEliminaressa resposta escapa-nos às linhas da mão, verdade? ainda agora, com a tragédia em teresóplois, percebemos como tudo escapa... tudo nos escapa...
beijos com [moderada] identidade! :)
Não posso dizer que o vi nascer, mas digo-te, cheguei no momento em que ele acabava de abrir os olhos pela primeira vez, ouvi o primeiro choro de fascínio, … vi-o fechar de novo os olhos, que a luz brilhava tanto, mas tanto que não aguentou…, eu quis perceber esse brilho, também me fascinei, levei a luz comigo… até hoje não me cansei de olha-la e dissecá-la, tentando absorver o todo dela, não consegui, então, para meu alívio e prazer, o exercício continua, e venho aqui para te dizer que, “bilhete de identidade” é dos poemas mais fascinantes que eu li até hoje.
ResponderEliminarE sim, muitos homens são loucos (não todos), e por vezes a alguns deles acontece não saber sequer se já nasceram…
Fico feliz de poder partilhar tesouros assim. Obrigada.
Beijo.
Amei a imagem, as palavras e o vídeo. Não sei ser erudita quando fico admirada demais.
ResponderEliminarjorgíssimo,
ResponderEliminaro bom poema é aquele que costura (com a mão solitária do seu fiador... o poeta), palavra, imagem e emoção.
este seu poema se encaixa nesta categoria.
tocou-me no fundo.
morderam-me, estes "dentes de margarida".
ficou até marca.
abração,
roberto.
amiga dos encantos,
ResponderEliminarsubitamente, pegas-nos na mão e deambulas por entre os labirintos da voz, entre luzes que escandalosamente anunciam ascensões e quedas. nunca se tem a plena noção do diâmetro dos olhos e ainda menos da profundidade do olhar. e nessa indefinição, o prazer e alívio são álcool silencioso que viaja no cérebro, de mãos dadas, lábios colados, sexos fundidos, num delírio inconsciente que nunca se sabe se é sorte se morte. até porque ainda não sabemos onde deus vive...
beijos!
andressa,
ResponderEliminarobrigado pela tua presença. fico feliz que tenhas gostado do que encontraste.
um beijo!
robertílimo,
ResponderEliminarainda sinto a tendinite de tanto segurar a agulha e o dedal :)
sabes, os poetas plantam sonhos, acendem cidades, iluminam bocas e dão vida aos moribundos. depois, há os aprendizes de feiticeiros, que têm de agarrar na picareta, no cinzel, no martelo, na agulha e, com mãos calosas, escavam dentro e fora do peito, até o sangue jorrar no delírio despedaçado de uma pepita faiscante (mas que, com o tempo e os olhares, se vem a descobrir ser apenas reflexo do filão que o poeta, o genuíno, foi capaz de tragar). resta-lhe lamber as feridas, estancar o golpe e escarrar o sangue para, de novo e de novo, recomeçar. é neste carrossel de começos e jamais-desfechos que vou redescobrindo a identidade (sem bilhete :)).
um abraço, querido amigo de minas, states e, sobretudo, do mundo!
De facto Jorge, essa noção de olhares e profundidade de sentires ultrapassa muitas vezes o entendimento do leitor, assim como o entendimento do poeta não define exactamente o sentir do leitor. Era suposto que a luz que cega saia do peito, porque a luz que se acende nos cérebros pertence aos sábios e, segundo a tua perspectiva viaja de mãos dadas com um monte de coisas a que também chamas de alivio e prazer.
ResponderEliminarAqui o meu prazer foi ler-te, um poeta grande,
e o alívio a oportunidade de poder continuar a reler, tentar entrar no poema, logo em quem o escreveu e entender…
Pena que seja possível dar significados tão diferentes a palavras tão simples. Só pode dar-se a mão a quem queira pegar nela. Dar a mão é gesto de carinho. Lamento imenso o mal entendido.
Beijo.
Caríssimo Jorge, poeta.
ResponderEliminarCompreendo e subscrevo o teu comentário ao Roberto mas este teu poema é mesmo um grande poema. Para ler e ler e ler...
Abraço
E só os loucos sabem de certas coisas.
ResponderEliminaramiga dos encantos,
ResponderEliminarquando as palavras tiverem um só sentido e todas as leituras forem referenciais, acabam-se a literatura, a hermenêutica e, provavelmente, o gozo em ser-se humano :)
desculpa a interpretação transviada do teu comentário.
beijos!
amigo jad,
ResponderEliminarlá isso é bem verdade! é dos maiores textos que já escrevi, hehe!
já mais a sério, penso exactamente aquilo que aqui dizia ao roberto. sei que me entendes.
um abraço!
quais os limites da lucidez e da loucura? (já nem me atrevo a perguntar, sequer, pelos limites do conhecimento...)...
ResponderEliminarum abraço, vanessa!
Ah, maravilha, Jorge querido!
ResponderEliminarTodo o poema extraordinário, com o fecho que resume tudo: todos os homens são loucos...
E não são?
Quem ousaria dizê-lo?
Abraço apertado da
Zélia
Palavras de quem tem em cada letra o que senti..
ResponderEliminarentende compreender.
bjs
Insana
Meu querido
ResponderEliminarMais uma ode à poesia...em silêncio te li e te admirei...a tua alma rasgou-se para dar à luz esta maravilha.
Toda a mão que rasga o útero merece aprender a morrer...
Entre a vida e a morte...as nossas incertezas...o dia a noite...louco ou poeta...sonho e realidade...enfim, apenas nós.
Deixo o meu beijinho de admiração e muito carinho.
Sonhadora
zelita,
ResponderEliminarsão, sim. até porque, na sua tacanhez, não vêem para além do óbvio. não acreditam nem sentem o que não vêem. são uma bússola sem íman e sem norte. e, o pior de tudo, julgam-se o ser mais perfeito da criação.
haverá loucura maior do que achar que a loucura é tudo aquilo que veste os outros e que não entendemos?...
um beijinho!
amiga insana,
ResponderEliminaras palavras que melhor despem o invólucro da sua frágil materialidade são as que nos falam através da linguagem das sensações. fico imensamente feliz pelo que dizes.
beijinho!
Jorge,
ResponderEliminarNo milagre da vida nascemos sem pedir e o nome que nos dão é palavra que gostamos de ouvir…
Na estrada da vida, vivemos a pedir, ganhamos e perdemos as formas do corpo, os sentires da alma e entre primaveras e nevoeiros o tempo veste-nos com “roupas” frágeis numa identidade que tentamos construir...
É um poema forte, diria sem identidade, pois a todos nos faz questionar sobre o nosso nascer, o porquê/como do nosso viver...
Consigo facilmente detectar nas entrelinhas as tuas impressões digitais, marcas ímpares no nascimento desta tua poesia! :)
Beijinho, poeta!
Não tens de que te desculpar Jorge, na verdade sou eu que sempre me excedo, não sei dizer as coisas de outra forma que não seja a queimar na pele, que é como quem diz, na alma e no coração...
ResponderEliminare sim, tens razão absoluta no comentário que me deixaste :))
Beijos.
amiga sonhadora,
ResponderEliminaros silêncios, como o choro, são todas as vozes que efervescem na lava do dizer. por isso se nos impõem nas horas que nos atropelam as emoções.
é sempre tão bom poder ter-te por aqui.
um beijo terno!
querida jb,
ResponderEliminar... e eu nas entrelinhas a agudeza que sempre caracteriza as tuas intervenções poéticas.
um beijo!
:)
ResponderEliminarbeijos, amiga-de-encantos!
Jorge,
ResponderEliminardo nulo saber a pergunta alinhada à busca que, afina-se nas cordas de olhos quanto mais a resposta. no chão das palavras, a memória sem freio, recorrido a ponta dos pés da bailarina na periferia que corre, o centro das manhãs sem mover. deserto e mais deserto de bruma nos sinais, muda no ponteiro que não ata nem desata. a aragem com voracidade numa pressa amarga do lá primaveril desfeito, 'como os pássaros que se desprendem das asas'. o vazio aniquilante faceado de coágulos rompidos, com estrelas no mecânico e, ingeri-se fezes por visão mutilada às noites e ecos do silêncio. Viagens sem expressões num sorriso falecido, que pela perca do manto a flecha cumpre o papel – mata o cordeiro, e o tempo se faz no antigo, que destroça como residir em desalento. da pedra no caminho ante o íntimo da morte, de sabor rasga o útero de largar para aprender a morrer fazendo a travessia, que cospe ‘a terra para as sementes’. no alfabeto com monção anti-serena, escondida nos labirintos do versar que não se permeia pelos loucos racionais de língua solitária, costurando um outono atípico. de dentro para fora com tremer da hipotermia; o musgo no fundo da alma que lentamente de luz e sombras, a ânsia de liberdade – o bilhete da identidade.
Abraços
Priscila Cáliga
priscila,
ResponderEliminarsão nomes que rutilam, que rangem, que vociferam e que rasgam todas as coisas que nos prendem, quais etiquetas no forro da identidade. chorei antes do nome; gritei antes da fala; descobri o ar antes de morrer. e tudo sem costuras, marcas ou cicatrizes. e no afã da escalada a uma babel de pó, tudo aprendi... e tudo perdi. ah, falsa essência aquela que se nos impõe no chip social que nos costura. e a mão, aos poucos, atrofia na letargia existencial, como se o murro fosse argumento mínimo para os pugilistas e maior para os poetas. quem é louco? quem tem identidade? sobra o bilhete... para onde, pergunto eu...
beijinho!
Jorge.
ResponderEliminarCom sinais de um dia límpido a garrafa atirada ao mar num quente fim de tarde, alguns minutos antes das gotas terem começado a regar o solo para cumprimento. De flutuar sob o efeito de furações e tempestades tropicais, que chorado no outrora do nome; grita o abrigo ideal desejável para o que dentro perfuma e não exala. Como todas as garrafas que de núncio ao bilhete, frágil em essência e quebrar-se-á quando cair a alguns metros do sangue em foro íntimo, mesmo devidamente selada e atirada ao oceano, assim acometido com as etiquetas no forro da identidade que, torna-se mais navegáveis de que o racional tem conhecimento e 'de balouçar-se no topo das mais perigosas e turbulentas marés', descobri o ar na morte que aborta o capricho fronte a lados opostos do globo.
Para onde uma garrafa poderá viajar? e isso faz parte do seu mistério.
Abraços
Priscila Cáliga
a garrafa engana o corpo. é barco de mensagens sem voz que hão-de desabrochar nos olhos do náufrago incauto. delícias e prazeres ou tormentas e aflições?
ResponderEliminaras ondas batem no vidro - toc toc toc - enquanto espreitam o sol matizado na janela verde. não há resposta. do bilhete, apenas o papel (agora amarelecido pelos malmequeres do verão). nunca soube se a tinta que fecha a urgência é indelével ou transitória. ainda assim, sou capaz de adivinhar: aquilo que um dia juraste caber dentro de mim já nem cabe sequer dentro de ti. é apenas um resíduo plantado no fundo fosco da garrafa. sonhos ou quimera? desejos ou desenhos de uma realidade que mudou juntamente com a maré? juras ou mentiras? que importa? a garrafa é, hoje, toda e a única realidade.
beijinho, amiga-musa!