A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não acabarem).
Manuel Pina
fotografia de Jorge Pimenta
boca incompleta.
os cabelos caem sobre a fronte
alagados em silêncio.
há copos, risos
dentes brancos, dentes escuros
lábios menstruados
e todas as formas,
mesmo as mais complexas,
perdem sanidade, ímpeto
em suserano servilismo.
boca
[silêncio na página]
palimpsesto
[cântico na terra]
com a mão, agita-se
oceanos negros e veias,
navios anónimos e invernos,
uns e outros noturnos, curvados, quase vencidos
pela morte que ousaram combater
em verso – esse álcool louco do poeta
adormecido em cada tulipa das estepes.
boca incompleta.
o cachecol é levantado para o pescoço
acaricia a garganta
atravessa o inverno
e ressuscita o cadáver
na única forma humana que não tarda: o poema.
com a poesia se constrói o homem e as suas cidades.
com a poesia toda a boca é incompleta.
david bowie, wild is the wind
o poema, paradoxalmente, ganha essa dimensão do inefável,
ResponderEliminarabraço
p.s. e a poesia inaugura o intangível
a poesia está sempre inacabada. é uma eterna espera que ressuscita o poeta. a esperança fica, ao menos enquanto os pássaros não acabarem, cortando de palavras o vento selvagem dos invernos.
ResponderEliminaro impacto de tuas palavras sempre calam, Jorge.
grande abraço.
Com a poesia, a nação constrói dentro de si versos que sobrevivem numa alma inteira.
ResponderEliminarSeus versos sobrevivem em mim num festejar sem fim.
Beijos meu querido poet'amigo
toda boca é incompleta porque a voz é nômade...
ResponderEliminare sempre certeira é a tua, que chega aqui na hora exata em que a minha voz pede companhia...
Beijinho com o carinho de sempre, Jorge meu amigo!
acaricia cantos recôndidos da infinitude, da mortalidade, beijo Jorge. Tua poesia é uma descoberta!
ResponderEliminarJorge, abençoada é essa sua boca, assim sendo...
ResponderEliminarBeijos,
Jorginho, tudo bem aí?
ResponderEliminarAmigo outro magnifico poema! Você é "o poeta" da blogsfera viu! Parabens!
Incompletude. Um poema é feito do que nos falta. É da ausência, dos fios dourados da impossibilidade que emerge a poesia. O que fazes com as palavras é algo que beira magia. É mesmo abençoada a tua boca...
ResponderEliminarBeijos,e obrigada: ler-te é sempre ir além.
Um poema espectacular!
ResponderEliminarE não, a poesia não pode nem nunca irá acabar.
Bom fim de semana Sr. Poeta!
Jorge, querido PoetAmigo!
ResponderEliminarDifícil comentar num post que dispensaria qualquer comentário.
Uma perfeita comunhão de poema (divino!); foto, muito boa; e áudio com o melhor cantor ainda vivo, David Bowie, que sou muito fã.
Vou tentar...
...
Sempre haverá uma boca incompleta enquanto os olhos estiverem voltados ao Céu.
A Poesia é sentir o cheiro numa flor sem perfume, é colocar no Olimpo alguém de carne, osso e entranhas, ou olhar para uma Estrela e acharmos que está piscando para nós, quando na verdade apenas dorme e acendeu a luz por medo do escuro.
Poesia é o divino que escorre pelos dedos parecendo mel, o infinito, (im)possível e incompleto, fingindo ser tudo isso e é.
Sim, a Poesia é a Estrela aparentemente mais frágil de todo o Céu, pois carrega em seu corpo a luz mais intensa, e tem a estranha mania de ser a última a apagar-se.
Ufa!
Beijos, muitos!
PS.: Seria maravilhoso ver uma publicação tua em livro com fotos/poemas teus.
A boca do poeta, graças a Deus, sempre incompleta, nos premia com suas formas mágicas de fazer poesia...
ResponderEliminarMuito lindo, Jorge.
Estava com saudade daqui...
Um beijo!
Das muitas bocas, das muitas vozes, dos muitos espíritos é que a poesia é/será feita. Tomando proporções na medida de seu leitor, ela será do tamanho da sensibilidade e capacidade de imaginar de cada um...
ResponderEliminarAdorei, como sempre...
Um abraço aqui do Brasil!!!
Não morrerá a poesia porque estará sempre incompleta. Da boca do poeta jorram palavras para torná-la eterna. Não importa a mesmice dos dias, a lua com suas quatro fases imutáveis, as estrelas com lugar certo no firmamento. Quando a voz do poeta se faz ouvir, tudo se transforma por magia, a nos enfeitiçar. Como faz você.
ResponderEliminarBjs.
A "morte" combate-se em verso...e no verso se erguem cidades!
ResponderEliminarMeu caro!
Tens toda a razão: hoje o "folclore" nas escolas dá "cartas"!!! E digo isto porque com os meus 27 aos de serviço nunca precisei das novas tecnologias para dar uma belíssima aula, para me fazer entender, para criar empatia comigo/ com o autor/ obra que se está a estudar! Infelizmente....ser-se bom...não é avaliado! Tem de se dar "nas vistas"- isso irrita-me "solenemente"!Aliás tudo quanto se faz deixou de ser pela única razão válida: os alunos - e apassou a ser feito com um fim
último_- a avaliação!!! Outra coisa que me irrita "solenemente"!
Um abraço amigo , meu querido colega-poeta!
Tomara que não se cumpra nunca, a profecia de Manuel Pina!...
ResponderEliminarAfinal, uma vida sem pássaros e sem poesias (principalmente essas do meu amigo), é difícil, e impossível de se imaginar.
:)
Forte abraço, amigo poeta.
Tenha lindos e felizes dias.
Maria Apare[cid@]
A vida se erige em poemas, a vida é incompleta por definição.
ResponderEliminarBeijo, Jorge.
Com a mão...até cala-se a boca.
ResponderEliminarSábias, profundas e bonitas palavras, querido Jorge, como de costume.
Sou tua fã, tu sabe.
=)
Um beijo.
"boca
ResponderEliminar[silêncio na página]
...
verso - esse álcool louco do poeta
...
com a poesia toda a boca é incompleta"
só as tuas palavras podem servir para te replicar.
beijo, encanto.
esqueci de dizer:
ResponderEliminar"adoro" graffitis [um dos lados do silêncio]
muitos são excelentes obras de arte.
quero ver a tua galeria de fotos poeta das letras e dos olhares :)
beijooo.
estamos sempre a completar bocas e medos..
ResponderEliminargritos e amores..
mas nunca seremos o suficiente!
beijos perfumados poeta querido..
Jorge, mais uma obra de grande qualidade, enobrecendo esse espaço e nos ensinando um pouco mais.
ResponderEliminarGrande abraço e sucesso!
Amigo Jorge..
ResponderEliminarO que seria da humanidade sem o olhar e o sentir de um poeta?
Toda viagem sem poesia perde a graça.
Parabéns pelo encantamento do teu amor pela arte da escrita.
Cada post é um presente!
Obrigada Poeta!!
Semana de paz pra ti! bj
Oi Jorge!
ResponderEliminarExcelente poema! E finalizou com uma música do inigualável David Bowie, o qual sou fã tanto como cantor, ator e como revolucionário musical rs.
Opa valeu pelo comentário em meu blog! Fiquei lisonjeada! Embora você tenha visto um post sobre cinema vou confessar que ele não é o maior foco de meu blog. Sou cinéfila mas também uma otaku fã de animes e cosplays e se você notar verá muito desse segundo tema no blog.
Bom claro..sempre que vermos um filme de exorcismo tenderemos a compará-lo com o clássico Exorcista. Porém, gostei de Ritual por ver novamente Hopkins e porque achei a maquiagem da posessão realista e não forçada. Mas talvez o filmne pudesse ousar mais.
Esse filme "Anônimo" eu reconheço que não vi. Mas acaso já viu o premiado Cisne Negro?
bjs e espero poder contar com seus comments em meu blog =)
"com a poesia se constrói o homem e as suas cidades.
ResponderEliminarcom a poesia toda a boca é incompleta".
e porque a poesia não tem a função de explicar mas de implicar, aqui deixo a minha boca/voz incompleta mas maravilhada com tudo o que se passa do lado de dentro dela.
Um beijo
Interessante o dialogismo com António Manuel Pina.
JORGÍSSIMO
ResponderEliminarNa incompletude do meu poema me agarro a sua in(COMPLETUDE)que incansável e sabiamente como
(VERDADEIRO MESTRE) faz ressuscitar o homem através da sua poesia.
A figura.A mancha representando a ressurreição do poema:.. boca- silêncio na página-palimpsesto-cântico na terra? Maravilha.
Bjs
talvez por isso exista a poesia, para que gritemos essa incompletude,
ResponderEliminarporque ainda quando a boca se cala, o verso insiste em se dizer, ainda que tudo seja silêncio, ainda que os ouvidos todos estejam surdos...
que os teus versos nunca se calem e que nossos ouvidos jamais se ensurdeçam a eles.
beijinho, querido Jorge!
Jorge,
ResponderEliminarGosto muito desse tipo de foto em que a textura é valorizada. Fotografar o banal, que está ao alcance de todos e, apenas, alguns observam é um ato artístico e para poucos. Gostei muito.
Um abraço,
Roberto
olhar inteiro um nada
ResponderEliminardizer dele
aquilo que atravessou os lábios
tu estás a ficar um POETA...
ResponderEliminarbela escolha musical, bela frase do Manuel Pina
abraço
LauraAlberto
Olá, querido Jorge Pimenta!
ResponderEliminarQue experiência sublime é ler seus poemas com a música que sempre tens no final. Essa do David Bowie é tão magnífica...
Poema, a única forma humana que nunca tarda... Sintetiza bem... Uma das ferramentas de comunicação humana mais transcendentais. Seus poemas tem uma leveza... Como se dançassem através dos meus olhos... Cores, formas, palavras... em harmonia...
T.S. Frank
www.cafequenteesherlock.blogspot.com
Jorgito, poeta que meus olhos guardam saudade, aqui estou, com boca aberta, pouca fala e salivando os versos teus, tão meus, tão nossos, tão de todos. Bom voltar!
ResponderEliminarAméns aos poemas incompletos como as almas penduradas nos olhos.
Beijo na tuas mãos, amigo poeta querido
...um dia ainda ei de escrever
ResponderEliminarcomo você!
um dia...
por hora contento-me em ficar
embasbacada com teus versos.
beijos, muitos, meu doce poeta!
Oi Jorge, é sempre bom vir revisitar tua poesia!
ResponderEliminarObrigada pelo carinho em emu blog! Fiquei feliz em recebê-lo!
Bjs
vim trazer-te meu beijo e um carinho :))
ResponderEliminaraté logo.
Meu querido Poeta
ResponderEliminarComo dizer-te que as tuas palavras são eternas...são a tua alma tatuada no tempo...são o útero do pensamento...dos teus poemas desprendem-se luares de Outono...sedes acesas nas bocas...sonhos escorrendo das mãos...entre o corpo e o gesto...o tempo e as memórias eternizando os instantes.
Como diria Manoel de Barros “Fazes a pedra dar flores”...e eu vou com o perfume das flores palavra que tão bem soletras.
Deixo a minha admiração e um beijinho com carinho
Sonhadora
Alguém disse-me um dia que um poema nunca fica completo, porque cada vez que abrimos a boca dizemos os versos com um sentimento diferente, num tom desconhecido. Pode seja isso porque sempre há alguma coisa que fica incompleta na vida?
ResponderEliminarMas o prazer de ler a tua poesía sempre é completo.
Um abraço, querido Jorge.
Jorge,
ResponderEliminargostaria muito que você conhecesse essa foto (não costumo fazer isso, mas essa eu acho que você gostaria de ver).
http://clicksderoberto.blogspot.com/2011/12/nao-me-pergunte-quem-sou-e-nao-me-diga.html
Um abraço
Roberto
entre palavras escassas, as minhas, é sempre reconfortante beber deste mar...
ResponderEliminarbeijinho, amigo!