aprendíamos a amar, aprendíamos
a morrer.
Eugénio de Andrade
fotografia de jorge pimenta
é nas estações frias que o corpo dói – disseste-me.
a fortuna é um vento seco a crescer da terra
para nos segurar as mãos
inútil, excessivo, tardio,
como os pulsos cortados daquele sol de fim de calendário.
nunca soube o que aprendemos sobre o amor
o cântico aceso dos versos
ou todas as flores que nos desciam pela boca;
e estivemos sempre tão longe de adivinhar a morte.
o amor é um jornal velho sobre a voz – disseste-me.
um desperdício, um número, um acontecimento sem rosto
para os abismos do coração,
dos barcos a navegar em tinas de roupa suja.
quisera o homem não saber ler
não poder ver
[os olhos perderam os telhados do céu],
quisera ele,
esquecido, sobre a relva.
o café assobia na chama,
enquanto as mãos, cada vez mais pequenas,
se dobram de frio no oxigénio da respiração primeira.
o corpo? inerte, imóvel, fechado.
há chaves que se perdem para sempre.
catpower, wild is the wind
Oi Jorge,
ResponderEliminarEstou bebendo a sua poesia e procurando sentir os efeitos...
Então, para sempre, até a morte, porque uma chave se perdeu, a única que poderia abrir o corpo.
Meu lindo, há outros modos de se abrir o corpo e, assim, ele estará pronto para um amor ou mesmo este que pensa ter perdido, sem que a porta fique rangendo... Será mais fácil...
A vida não nos é ingrata...
Beijos...
Belíssimo!
ResponderEliminar[os olhos perderam o telhado do céu]
E como!!!!
Beijos, Jorge!
Mirze
Há vozes que se trancam pelo lado de dentro... ainda bem que a tua reverbera!
ResponderEliminarTua voz embalada por Cat power = delírio
Beijinho com todo o encanto do mundo, Jorge amigo!
Jorge, que bonito teu texto...intenso.
ResponderEliminarVim retirbuir a visita e carinho...gostei muito do que li.
Obrigada por seguir, fique a vontade e aproveite as leituras!
cada invisível cicatriz que carregamos para a morte é uma lembrança trancafiada em recônditos cofres da mente que perderam sua chave, mas continuam a existir. no frio elas doem. mas não calam o poeta.
ResponderEliminargrande abraço, meu amigo.
Ah, meu querido! Todas as vezes que venho até aqui ler as suas palavras, minha derme movimenta em letras que seguem em calendários bem contados... É saudoso alimentar versos que se consertam em meu sentir num emaranhado entardecer de versos que traduzem verdades inteiras de mim.
ResponderEliminarEntro, falo, ou as vezes, saio calada por não saber o que compartilhar. Pois o meu sentir é muito maior do que qualquer palavra que eu venha a proferir...
Lindo demais, meu amigo.
O silêncio grita em minha derme...
Beijos e lindo final de semana!!!^^
Perde-se muitas chaves ao longo do caminho
ResponderEliminaralgumas, para sempre. E não há como encontrá-las, os caminhos modificam-se numa rapidez impressionante.
Devem ficar todas nalgum lugar... Incerto, não sabido.
Lindo!
A imagem completa lindamente.
Afetuoso abraço, Jorge!
Na verdade, às vezes a fortuna é um vento seco e feridor, mas se o amor é um jornal velho, eu pregunto-me: qué pode se ler nas páginas necrológicas? Tal vez os nomes das ilusões mortas?
ResponderEliminarA tramóia das tuas palavras sempre fica uma surpresa nos sentidos, um desafio no labirinto das metáforas, onde se podem perder as chaves mas também podem se reencontrar todos os caminhos. Ler-te é uma aventura e sempre é um prazer.
Um abraço forte,querido amigo, e um bom fim de semana.
As chaves se perdem ganhando nas palavra da voz negada em paradoxo por aqui, pois o que seria do ganho sem a entrega do poeta a sua poesia e a do leitor na viagem perdida em gastar tempo em um outro que se ganha no olhar polidimensional e prolífero do poeta?
ResponderEliminarAmei seu poema!!!
Abração poeta do além-mar!!!
"há chaves que se perdem para sempre"
ResponderEliminare há também portas que nunca se fecham, por mais que nos dobremos sobre elas...
beijinho com afeto, querido Jorge!
Como a chaleira assobiando no fogo assim são seus versos, que avisam o ebolir das palavras, das metáforas tão densas quanto o que poetiza. "como os pulsos cortados daquele sol de fim de calendário." Encantei-me com essa descrição do por do sol, como se ele estivesse morrendo, agonizando, vermelho (em sangue) no fim do horizonte. Sempre belo você Jorge.
ResponderEliminarBeijokas doces e um bom fim de semana.
sempre profundo quando se remete à solidão da escrita. solidão cheia, de imagens, sabores, viagens... tudo se toca... e fica a vertigem que em si a morte e a vida é apenas uma passagem que permite com que a sua voz jamais fique no silencio...
ResponderEliminarprazer tanto na luz quanto na sombra!!!
um beijo
Todas as chaves que descobri, encontrei ou resgatei até hoje, todas, o fiz durante o frio, fosse o do clima de fato ou o meu particular, interno.
ResponderEliminarNão funciono no "calor" da hora.
É...eu vivo na contramão.
Um beijo, moço querido.
Jorge, queridíssimo amigo!
ResponderEliminarNunca soube se o amor se sustenta no desalinho, ou ele próprio é o desalinho entre o que queremos e o que queremos com tanta intensidade que isso é capaz de multiplicar em muitas vezes o tamanho de nossa alma, e a torná-la infinitamente maior que nosso corpo.
Falta o ar para alma imensa e o jornal não se torna velho sobre a voz, nem a boca.
O amor, sim, é uma publicação mensal com muitas fotos, textos inquietantes, instigantes e que não oferecem resposta alguma, apenas nos convidam a uma exploração silenciosa do nada e do tudo.
É a gorda alma, repleta de café e literatura, a grande viagem!
Beijinhos imensos!
PS.: Já estou de volta em Terras Brasilis.
Falar ou definir o que seja amor é algo difícil, um desafio hercúleo, mas amei teu texto, uma definição maravilhosa sobre o amor eu encontro e gosto da passagem bíblica em 1 Corintios 13, é maravilhosa Jorge, quem sabe vc não dá uma lida nela e te inspira para um novo texto?
ResponderEliminarJorge, gostaria de propor algo a ti, será que se eu te convidasse para fazer um texto para o meu blog vc aceitaria? Pode ser sobre qualquer tema, sempre gosto de postar textos de outros blogueiros de vez em quando no meu, se vc aceitar o desafio fico muito grato, sou um admirador de sua escrita, qualquer coisa, caso aceite, é só me falar, o meu e-mail é:
paulocheng@paulocheng.com
Abração pra ti.
"...o cântico aceso dos versos ou todas as flores que nos desciam pela boca"... Lindo, Jorginho! E ainda fico a pensar em chaves para sempre perdidas, dói.
ResponderEliminarBeijos,
Há portas que não possuem chaves e chaves que, infelizmente, não descerram porta alguma nesse mundo!
ResponderEliminarAbraço!
Uma bela postagem, de um simbolismo incrível.
ResponderEliminarObrigado pela visita. Quero ver a foto da capela pequenina que saiste para fotografar.
Um abraço
Roberto, Rio de Janeiro
As suas palavras estão sempre alinhadas, independente dos desalinhos da vida e das emoções. Elas são bálsamo, independente de estarem as portas abertas ou fechadas. As chaves? Você as tem, porque faz de qualquer momento uma eternidade maravilhosa, em forma de versos.
ResponderEliminarA foto ficou ótima!
Não me canso de dizer que ler você é um presente.
Bjs.
O que dizer do poema?...
ResponderEliminarLindo?!?!
Talvez seja pouco, mas talvez o defina um pouco.
:)
Parabéns amigo, poeta e fotógrafo, dos melhores (entre tantas outras coisas com certeza).
Te desejo uma semana luminosa.
PAZ & BEM!
Beijinhos,
Cid@
Jorge, queridíssimo amigo!
ResponderEliminarRetornei para te agradecer as palavras carinhosas no Humoremconto, em função do primeiro ano.
Percebi que o objetivo primeiro, que era a divulgação do meu trabalho, foi superado pela surpreendente felicidade, neste um ano, de desenvolver algumas verdadeiras amizades, no que te incluo em especial, querido amigo.
Muito obrigada por tudo.
Beijinhos imensos!
eu imagino esta balada blues, sobre amores e descaminhos, estradas e veredas que se nos abrem e nos perdem sem bússola, mapa extraviado
ResponderEliminarabraço
Limito-me a ficar entre as palavras, ouvindo a voz do "vento seco a crescer da terra
ResponderEliminarpara nos segurar as mãos" e a acreditar que só se perdem as chaves que já não nos servem, porque as outras sempre as encontraremos.
Um beijo
PS: Grata pelas palavras deixadas nas "searas".
Seu texto é belo e inteligente, a cada linha que lemos entendemos coisas diferentes, imagens diferentes, sentimentos diferentes! Parabens Jorginho!
ResponderEliminarJorge,
ResponderEliminaraquecer-nos com teus versos..
chaves de encantamento sempre que te leio querido poeta..
beijos de carinho..
Sempre um poema delicioso de ler, Jorge.
ResponderEliminarAbraço e votos de um bom domingo.
adorei a fotografia. e o poema dá uma sensação
ResponderEliminarde musgo.
esta sensação deve ser alguma chave perdida por aqui.
difícil ler sem chorar, os seus poemas.
(tem um tempo que leio, nunca comento, mas sempre me toca)
um abraço.
Permita-me, Jorge, não me ater aos versos de tinta diante deste laço de luz a que tu nos remete nesta imagem. Literalmente, uma viagem de memórias em luz e sombra, posto que ali "repete as sílabas onde a luz é feliz e se demora" - simples - posto que ali há uma única sílaba a defender do frio em qualquer estação, num ofício de paciência original. "Música, levai-me: Onde estão as barcas? Onde são as ilhas?"
ResponderEliminarDeixo-te um abraço, querido Jorge.
“o café assobia na chama” [que metáfora linda, bem como a metáfora da imagem]
ResponderEliminare há um brilho naquele nó iluminado e indissolúvel.
“há chaves que se perdem para sempre” nos lugares em que as portas são apenas leves batentes…
Teu olhar é o próprio céu poeta, o céu não tem telhados.
Maravilhoso esse som de vento, tão selvagem quanto doce.
E o corpo…, como Fénix!
belíssima postagem.
Beijo, encanto meu.
Perfeito, tudo...
ResponderEliminarE o amor...é isso mesmo...ou nada disso...depende!
Bj
BS
… Tentame no provocar do desejo, gume entre o gesto e o poema . o taedium vitae do beijo silente duma profecia tumultuosa, sem vontade no ir e do ficar.
ResponderEliminarO silencio é-te hoje o eco de dois Amantes ocultos p’la tentação…
Beijo Meu Poeta
p.s musica indescritível
Tantas imagens intensas...fiquei aqui pensando no amor, um acontecimento sem rosto para os abismos do coração. É belíssimo. Te ler é sempre tão bom...
ResponderEliminarBjo, com carinho,
Dani
Jorge, boa noite.
ResponderEliminarSuas metáforas são realmente incríveis e verdadeiras.
E acho que, não importa o quanto tentemos definir o que é o amor, as palavras fatalmente nos escaparão.
Agradeço aos elogios aos meus textos, e acredito que todo escritor é único e original, o que torna o trabalho de cada um de nós incomparável, de uma forma ou outra.
Abraço e uma ótima semana, meu caro.
P.S. Acho que o detestado Corínthians será Campeão brasileiro novamente, mas enquanto os juízes da Libertadores forem de fora do Brasil, ele não a vencerá nunca.
Meu querido Poeta
ResponderEliminarLer-te é ultrapassar fronteiras e romper espaços...uma viagem alucinante entre esperas e ausências...trilhos inquietos que atravessam o tempo...palavras que sobrevivem à morte dos espinhos que atravessam a carne...talvez a última morada da memória soletrando o silêncio da alma...prendendo na mão a eternidade de um instante...morrendo e nascendo tanta vez.
E...tu és o poema...e eu tua admiradora.
Um beijinho carinhoso
Sonhadora
Jorge, gosto do seu estilo, mesmo que , às vezes, minha perspicácia não atinja o cerne de suas idéias...Um beijo no coração!
ResponderEliminarJorge,
ResponderEliminarde perder o fôlego e apenas o silêncio a ensurdecer o peito... belíssimo!
e neste vento selvagem de Cat Power, as palavras dançam...e dançam.
Beijinho,
querido amigo!
Profundas palavras, Jorge Manuel...
ResponderEliminarDe se ler aos poucos, na intensidade pedida pelas estações frias. Poesia também é dor!
Um beijinho!
Só o amor nos ensina a morrer; despedimo-nos de Eros, em um último passo, para gerar o eterno desejo: uma vez satisfeito, novamente é desejo. Uma vez frio, novamente é quente, se as chaves não estiverem perdidas.
ResponderEliminarLer-te é sempre uma bela experiência, Jorge!
Beijos de carinho.
Sempre me perco por aqui, em tuas palavras, sem pressa de voltar...
ResponderEliminarbeijinho
oa.s
Dói nas quentes também...
ResponderEliminarObrigada Jorge! Aproveita: tem promoção no meu blog pra todos que seguem e me dedicam carinho! =)
ResponderEliminarestás a ficar um fotografo do caraças, porque escritor já o és
ResponderEliminarabraço
LauraAlberto
há chaves que se perdem para sempre, mas o amor é capaz de arrombar portais. assim como as (suas)metáforas são tessituras próprias de quem se faz poesia.
ResponderEliminar"o amor é um jornal velho sobre a voz – disseste-me."
ResponderEliminargrande poeta,
essa imagem é de enlouquecer.
forte abraço.
dizem que o mistério de tudo é uma chave, repito isto quando não acho as chaves, e tanto elas trancam quanto abrem
ResponderEliminarentão penso nos trincos e nas tramelas
e o que dizer do amor?
é alegria, dor, prazer, entregas, recebimentos e tanto tanto mais
da foto
cabo de aço argola e fechos de ferro presos no concreto
beijo pra ti Jorge