evan leavitt, no more passengers
“[…] daí é que nos veio a única certeza que temos […]
em uma noite tão profunda como aquela nos perderemos.”
José Saramago, Todos os Nomes
é hoje o dia
equinócio, outono, setembro
e todo o tempo que se desprende do que há de morrer.
o meu espanto é maior do que a boca
porque caibo numa folha seca
e no fruto vermelho que se estende na erva
depois de rejeitado pela mão que o desejou.
é hoje o dia
e as manhãs despedem olhares
sobre um vento a endurecer os rostos
e luzes de cais a anunciar partidas,
apenas o perfume das orquídeas permanece
como derradeira verdade dos sentidos.
e deixamos de confiar no poema
no poeta
na metáfora
e em todas as mentiras
neste equinócio
com pronúncia de outono
e voz de setembro esquecido
[de repente parece que o mundo murchou
para os que amam por acaso
nestes dias lentos].
é hoje o dia:
já asfixiei alguns sonhos
e deixei de responder à saudade;
é que o coração não tem estações
e seria criminoso deixá-lo morrer de frio.
radiohead, weired fishes
Olá amigo Jorge meu encantador de palavras e de sentires, criminoso será matar-lhe os sonhos...aí ele acaba por se entregar ao vazio. Adoro demais ler-te meu amigo e hoje confesso que li e reli várias vezes. Não que não entendesse, mas talvez pela quimera de uma saudade perdida em mim. Beijos com carinho sempre
ResponderEliminarO coração de um poeta
Nunca vai morrer de frio
Porque a alma pateta
Aquece-lhe esse vazio.
"com pronúncia de outono
ResponderEliminare voz de setembro esquecido", e um Radiohead em pico, esses tempos mordazes nos atingem do cerne para fora.
Abraços, Jorge.
e no hemisfério sul, começa a primavera...
ResponderEliminaradorei texto, vídeo e música...
Beijimho melancólico, poeta amigo!
Saudações, Jorge
ResponderEliminaraqui estamos no início da primavera e quero te desejar muitas flores perfumadas, felicidades e alegrias com muito carinho, muitas delícias e vida longa.
Parabéns, moço!
É certo que o coração não tem estações, mas mesmo assim fazemos com que chegue até ele as percepções dos perfumes, dos arrepios, da quentura, dos sabores, das sensações de folhas caindo e tantas outras sensações que nosso externo sente, vê, apalpa, ouve, saboreia.
beijo grande e abraços
e é hoje o dia
tudo de bom
Teria de vir aqui, Jorge P.
ResponderEliminarO ponto onde tudo se vai para voltar mais tarde. Remetem-se à terra as folhas, que viram adubo natural. Surge o pequeno colapso, por isso são os dias tão mais lentos. Há quem goste, mas os dias são curtos!!!
Sempre bom te ler...
Um abraço
Esta noite sabe-me a ar. Reconheço este “ai” vivo. Esta musica. Esta dança das pernas dos ramos de face alaranjada que se mexem irredutíveis sobre canções-do-nada.
ResponderEliminarAqui estou eu, sentido o cheiro suave das folhas maduras. As mesmas, que (se) encolhem agora nos [meus] ombros da saudade do azul-escuro do céu.
Bem sei. Bem sei que receiam o eco longo das noites dançarinas nos salões que são já ali…na evidência do prodígio instalado nas cores da terra-viva.
- Adormecem agora as noites mansas, imemoriais dos equinócios nus e amarelos à luz do meu Outono -
[pausa]
Tão bom entrar neste novo Outono Contigo Poeta de minha Eleição...
[pausa]
Escrevo(te) não ao som de Radiohead mas ao ritmo de Ayo - How Many Times...
Abraço-te com admiração,
Assiria
Já agora o Link ..penso que irás gostar...
ResponderEliminarhttp://youtu.be/0FuvX0vz9mA
Agora sim fui...
Bom fim de semana
esse coração sem estações, mas com paradas obrigatórias, como se diz gare, e o inferno a nos queimar em cada pouso, estamos no porvir de sempre e no agora sem tato,
ResponderEliminarabraço
Deste meu hemisfério sul, onde a luminosidade do equinócio é contrária à tua, percebo que tuas palavras não têm estações, não perdem o brilho e jamais morreriam de frio.
ResponderEliminarGrande abraço, amigo Jorge!
ei, ei,grande poeta
ResponderEliminarapós ler um poema de tamanha lucidez
então me cabe sair do quarto de rosto
entregue ao vento
...
forte abraço,
meu amigo.
"[de repente parece que o mundo murchou
ResponderEliminarpara os que amam por acaso
nestes dias lentos]."
Primavera por aqui, talvez outono na intrínseca estação.
Mas do cheiro do quintal, vem o apelo maior.
Muitos perfumes daqui pra ti e este belo poema!
Amei!
Beijo, amigo!
É hoje e sempre que me fascina as suas liras!
ResponderEliminarBeijo de quem muito te admira!
Em algumas épocas, e isso independe da estação do ano, ficamos mais frios, sombrios, ventosos, chuvosos até, né, Jorge? É então que desacreditamos da beleza, da doçura...
ResponderEliminarMas a vida é cíclica, por sorte.
Excelente post, como sempre aliás.
Beijo grande.
Esqueceram-se dos poetas, das imagens, das palavras e, em consequência, de si mesmo no solitário equinócio de todos os iguais que passam vestindo as mesmas máscaras; esquecer das metáforas no pedido metalinguístico da própria metáfora, sim, é criar a oportunidade de uma ironia que vale todo o poema do poeta: tudo regido por nosso maestro das sinfonias incomuns, sob o veículo, das palavras de nosso grande lusitano, Jorge Pimenta.
ResponderEliminarAdoro te visitar por aqui!!!!
Querido Jorge,
ResponderEliminarOutono aí, primavera aqui
Sentidos aflorados em nós
O coração não tem estação
Ele é a estação
Das folhas e cores
Adorei a música e o clip onírico.
Beijos de primavera e flores!
Pois, pois amigo Jorge!
ResponderEliminarO poema está lindissimo, eu é que já não estou a gostar nada deste frio!
Um abraço bem grande e bom fim de semana.
A imagem que desarruma toda a visão de perfeito, sem receio de levantar a poeira por debaixo do pé - a desorganização profunda.
ResponderEliminar------ a clave do gênero palavriado, de mistura letal e mistério que se chama de amor/paixão.
Findou o inverno, findaram as noites geladas a beira da lareira. As folhas começam a nascer entre as árvores que estavam adormecidas. O jardim daqui está florido e recepciona as folhas caídas dai. O pôr-do-sol daqui encontra um céu de cores alanrajadas por ai, pelo seu porto. E ainda fica mim a saudade de tantos outros portos...
ResponderEliminarChega aqui a primavera que abraça o seu outono daí...
P.s.: (correios aqui em greve, isso atrasa as nossas correspondências, rs...)
Beijos querido
Ei, Jorge,
ResponderEliminarolha só, levei seu 'bilhete de identidade' lá pro aosabor :)
beijinhos pra ti
Jorge, querido amigo de todas estações!
ResponderEliminarNão somos pecilotérmicos, apenas animais de sangue frio o são.
Nós, pequenos humanos, sentimos o calor vermelho a pulsar nas veias.
Nosso coração, doce coração que vaga o mundo, tem quatro estações, ainda interrompidas por intercineses assimétricas que falam por si, em descompasso de movimento.
Asfixiar sonhos, deixar de responder às saudades? (non sense...)
Perante o que foi escrito pelo Divino, seria comparado a carregarmos todos os dias, até o fim de nossos dias: um casaco de lã, protetor solar, óculos de sol, cachecol, capa de chuva, chapéu...
Céus! Que vida previsível!
Nos singelos poemas, as grandes verdades que não se dizem aos homens de sangue quente.
Estão ali, espalhadas nas linhas brancas que poucos vêem.
Não confiar no poeta, nem no poema ou nas metáforas?
É "colocar uma mentira nos lábios da própria vida", como um dia Wilde disse.
Enquanto isso, o vermelho quente está a pulsar nas veias.
Maravilhoso, amigo!
Grande beijo.
PS: Amigo maravilhoso, também! :)
Jorge,
ResponderEliminarfelizmente desembarco neste porto com pronúncia de outono, que me acalma e embala com perfumes de vida.
(neste meu outono tão ansiado)
Beijinho grande, amigo!
p.s. depois de um inicio de outono conturbado e em chamas bem perto de onde moro. um verdadeiro susto!
Aqui começou a Primavera, mas eu me encontro, poeta querido, na tua estação, sempre que aqui venho.
ResponderEliminarJorginho, és um POETA...e amo te ler, muito!
Beijos,
hoje é o dia, foi ontem o dia!
ResponderEliminarum presente - o presente - feliz em qualquer idade, feliz em qualquer cidade.
pra ti, no plural, felicidades!
não creio que a felicidade seja uma mentira, querido Jorge, é que ela é fracionada, não cabe sempre, nem em todos, nem com todos.
sinta-se abraçado desde o lado de cá deste hemisfério.
o jogo? eu acompanhei, foi incrível.
Meu caro, senti cada movimento desse verso na minha pele. Sem dúvida é o melhor de todos que li aqui até agora. Nunca se sabe como será o amanhã. Será que posso levá-lo comigo? Meus dias querem tê-lo...
ResponderEliminarbacio e grazie por esse instante de setembro. belissimo
Que saudade tinha destes poemas maravilhosos, tecidos com a emoção de um coração sem estações mas rico em sensibilidade .
ResponderEliminarBeijinho
Amigo Jorge,
ResponderEliminarParabéns pelo seu dom de escrever tão belos poemas.
Eu nem me sinto a altura para comenta-lo.
Apenas leio..encantada!!
O coração não segue, realmente, as estações da natureza. Seu alimento não depende das flores que chegam e do perfume que inebria. Vivemos setembros no frio do inverno, quando nos sentimos por ele agasalhados. E trememos no calor do verão, quando nos traz saudade e melancolia.
ResponderEliminarBjs.
Como é bom ler-te e ver que ainda existem os bons poetas. Poetas com sensibilidade e maestria no lido com as palavras! Parabens poeta!
ResponderEliminarnovas estações em teus versos me animam sempre querido poeta..
ResponderEliminaraqui a primavera se inicia com frio e chuva..
o calor dos poetas nos aquece..
beijos perfumados de carinho..
Além da nossa desconfiança nos poemas e nas metáforas, o equinócio é o momento real da renovação. Os sonhos secos ficam adubo pelas novas ilusões.
ResponderEliminarNão há folha caindo em vão nem palavras esquecidas, sempre há um sendeiro aguardando a folha caída e um ouvido atento a os ecos do verão. O outono prepara a morte que fará retornar a vida.
Querido Jorge, o teu poema é uma pintura, cheia de detalhes que só é possível apreciar voltando uma e outra vez a os versos. Igual que as cores do bosque no outono.
Um forte abrazo.
...ainda ao som de ayo...use and abuse ... (we) are free...
ResponderEliminarBeijinhos Expectantes pela poesia que daí irá brotar...
Poeta És..
És dos "nossos"...pois!
Não conhecia e fui buscar o poema que mencionou. É maravilhoso!
ResponderEliminar... "palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos ..."
..."Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar".
Obrigada pela indicação.
Bjs.
Meu querido Poeta
ResponderEliminarO tempo guarda o perfume de todas as flores...mas o perfume dos sonhos vai ficar para sempre no fundo dos nosso olhar...nas feridas que se colam na pele...numa aurora silenciosa onde recolhemos as folhas que um dia nos atapetaram o corpo...num intervalo entre as estações adormecemos as recordações e deixaremos que no absinto dos nossos lábios pouse uma borboleta que nos leva as folhas vermelhas de um sonho.
A palavra meu querido Poeta, só tu a sabes atravessar em versos inquietos entre o sol e a escuridão.
Deixo o meu beijinho com carinho
Sonhadora
Jorge, a ver-me na estação fria, agasalhada por dores que estão por dentro, mas que a pele senti, e sem inspiração, gozo pelas letras - escrever, ler-te sempre causa uma comoção. Impossível não ser tocada! Desde a imagem ao escrito, provocas quebrantamento.
ResponderEliminarAbraços
Priscila Cáliga
Oi meu querido amigo, Jorge,
ResponderEliminarEmbora as estações sejam adversas nesses lados opostos em que o oceano nos separa, uma assertiva nos uni e nos é igual, a de que os nossos corações precisam permanecer aquecidos em quaisquer das estações.
Amei essa sua poesia...!!
Beijos e boa semana,
Lindo poema, excelente talento vc tem Jorge, não que não queira comentar à fundo o poema, mas às vezes não consigo esmiuçar em palavras algo tão belo, e agora é um momento desses, parabéns pelo poema, excelente arquiteto das palavras.
ResponderEliminarAbração pra ti.
Passeando por blogs amigos encontrei seu link e venho espreitar... rs
ResponderEliminarAdoro poesias e como nao sei faze-las transcrevo os poetas queridos. Voce é um show com as palavras. Me perdi a horas por aqui .
Se permitires,vez ou outra ,levo comigo poemas para outros amigos.É um pecado deixá-los sem conhecer tanta forma bonita de brincar com as palavas, colorindo-as e iluminado-as.
Parabéns .Adorei.
deixo abraços
"O mundo murchou"...mas o amor não...
ResponderEliminarFiquei por aqui a reler o poema...Nem sei o que dizer, meu querido...é sublime. Sim, os dias passam demorados e lentos, em setembro...e eu entristeço ainda mais...
Um beijo,
e boas aulas...(não sei se disse mas também só dou português); se não tivesse o cuiddao de ler algumas coisas em inglês já tinha perdido tudo...a pronúncia...treino-a falando com minhas plantas e meus dois cães! ( a esta altura deves estar a pensar: "esta fulana é louca"...LOL)...e daí...
Beijo, outro.
Que lindo o teu outono aí. Apesar da partida você deixou seu perfume de primavera das orquídeas que se foram, dos poemas dos poetas. Já fui e voltei e depois fiquei no equinócio para poder voltar. O perfume me chama nas chamas dos seus poemas.
ResponderEliminarO vídeo,uma fagulha que diz muito de Saramago,a ilustração,tudo ,tudo perfeito.
beijos
Outono, renovação dum tempo, de sentires. Que os sonhos antigos se asfixiem e deixem respirar os novos para que em tons castanho mel, voltemos a acreditar no poema e nos poetas de sangue vivo e quente [eu nunca deixei de acreditar].
ResponderEliminarJorge, o teu talento é enorme.
beijinhos
oa.s
Seus comentários, por si só, fazem a apresentação (dispensável para mim) do grande escritor que é. Basta lê-los para perceber que vieram de um homem que conhece e sabe lidar, maravilhosamente, com as palavras.
ResponderEliminarObrigada! Suas visitas são motivo de grande bem estar.
Bjs.
Jorge, sou incipiente por aqui no teu blog, gosto de poesias, poemas, até tem uma colaboradora em meu blog que faz poesias, a Margarida Alves, que mora em Olinda, Pe. mas quando me deparo com poemas como os teus, não é por preguiça, mas só consigo admirar e tecer o necessário em termos de comentários, são belos demais os teus poemas, já tentei até escrever alguns, mas isso é um dom, acho que não tenho.
ResponderEliminarParabéns pelo teu talento, já virei fã.
As vezes o coração padece das artimanhas do amor...E chora. Bjos achocolatados
ResponderEliminarA saudade tem me encontrado de portas escancaradas. Isso é verdade. Um dia trancarei minhas portas (e também as janelas: precaução). É certo também: jogar as chaves fora.
ResponderEliminarQuero dividir um poema de Manuel Bandeira contigo:
Todas as manhãs o aeroporto em frente
me dá lições de partir.
Hei-de aprender com ele
A partir de uma vez
- Sem medo,
Sem remorso,
Sem saudade.
A saudade tem me encontrado de portas escancaradas. Isso é verdade. Um dia trancarei minhas portas (e também as janelas: precaução). É certo também: jogar as chaves fora.
ResponderEliminarQuero dividir um poema de Manuel Bandeira contigo:
Todas as manhãs o aeroporto em frente
me dá lições de partir.
Hei-de aprender com ele
A partir de uma vez
- Sem medo,
Sem remorso,
Sem saudade.
Li todo o poema com uma certa tristeza, não acreditar no poeta, asfixiar sonhos... Até o momento final, quando não deixar o coração morrer de frio renova todas as esperanças, assim como a primavera. E lembrei-me de um trecho de Wisnik que diz: "Primavera é quando ninguém espera e tudo se desespera em flor."
ResponderEliminarUm beijo!
Cada vez que leio um poema seu me surpreendo com seu talento e com a sua escrita! Lindo demais seu poema. Na verdade todos os seus poemas tem a capacidade de me tocar de verdade. Alguns mais que outros.
ResponderEliminar"e as manhãs despedem olhares
sobre um vento a endurecer os rostos
e luzes de cais a anunciar partidas,"
esse trecho em particular me emocionou. perfeito!
[por causa do] amor, deixamos [a] saudade.
ResponderEliminar"já asfixiei alguns sonhos
ResponderEliminare deixei de responder à saudade;
é que o coração não tem estações
e seria criminoso deixá-lo morrer de frio."
Lindo e triste...
Epígrafe espetacular!