segunda-feira, 18 de julho de 2011

verso branco para árvore em tons de corpo amnésico

jean sebastien monzani, memórias

deixei o poema na tua mão.

para que mo pediste
se te demoras em pontes inquietas
aguardando a passagem dos rios?
eu sei, não queres correr
e todas as decisões
são apenas poeiras inúteis na superfície do ar.
que tudo passe, que tudo leve e transforme
diante das orbes frágeis dos olhos,
desejas,
mas nem isso consegues dizer mais alto do que o medo
porque todas as palavras vivem dos segredos
e do que não deixas entender.
há em ti um modo secreto de tudo dizer
e um instrumento barroco a dourar-te o silêncio
como se respirassem nele as verdades da escrita.

deixei o poema na tua mão.

enlouqueço na apatia das letras
e estremeço na letargia dos sons
porque esqueci de que cor é o lírio da tua voz.
 já não sei escrever
e os meus lábios adoeceram no frio da canção
enquanto o mel da criação
funde os sexos numa massa mole
que se desprendeu da árvore
e apodreceu na mão do criador.
até os deuses parecem figuras menores
com existência digital
entretidos a pôr laços pretos nos pescoços dos homens.

mas, olha, não desisti de saber
onde escondes o pêssego maduro
que atravessa os ossos esquecidos
enquanto o corpo treme
acendendo a poeira e todas as promessas sem roupa.
porque a vida é a minha sentença,
rejeito as pálpebras do mundo
e as cortinas onde se escondem os desejos transparentes.

the national, vanderlyle crybaby geeks

45 comentários:

  1. O poema é fantastico e le-lo ouvindo essa musica ainda...Fica perfeito.
    Bjos achocolatados

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  2. Gosto muito desse jeito de escrever, deixando um emaranhado pelo ar.Parabéns

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  3. Que lindo! deixas-e o poema nas minhas mãos...
    Não ousei e peguei-os
    vivi a sensação do meu avesso
    escrevo ainda esses versos ainda que guardo memórias..
    Michelle Crístal
    escrivaninhadamichellecristal.blogspot.com

    Mais uma vez o google, me deixando na mão!

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  4. o pó do silêncio
    tremeluzem notas de orvalho
    no espectro da noite

    esse é pra ti querido...e o que me fez sentir
    um beijo

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  5. esse poema é uma frondosa macieira
    com toda a sua languidez e volúpia
    ...


    forte abraço,
    grande poeta e amigo.

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  6. Saudações, querido Jorge,
    bem que tentei buscar outras palavras para descrever este verso branco, mas não rolou, então fico em LINDO! LINDO! MUITO LINDO! EXTREMAMENTE EMOCIONANTE!

    beijo pra ti

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  7. Sua poesia tem essa característica sinestésica a nos t(d)omar.

    Beijo.

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  8. Mas olha desisti de saber
    onde escondes o pessego maduro

    Puxa! Que legal essa frase! E que legal o poema inteiro! Parabens amigo Jorge! Vc é dos melhores!

    Um abração! Passa lá depois.

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  9. para que pouparmos os olhos, se nos resta o som, e os ouvidos, se nos resta a pele, e o tato, se nos resta o gosto, e saliva, se nos resta a língua com suas palavras que martelam a memória.

    que valia teria um poema tão belo (absurdamente belo) quanto este não fosse assim?

    e a música do The National ficou perfeita aí...

    grande abraço, meu amigo! com toda minha admiração.

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  10. Tristeza tão bela
    só em tua voz...

    Maravilhoso retorno, Jorge...

    Beijinho com saudade!

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  11. jorge querido,
    a retórica é verdadeira, o poema segue o compasso da pulsação, segue seus caminhos em harmonia, cria vida, nos tira do serio, poetando a palma da mão, teus versos são lindos adoro, "porque todas as palavras vivem dos segredos" dos nossos segredos mais secretos e das nossas magias transformadoras. lindo...

    deixando um beijo e uma linda madrugada pra ti querido...

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  12. Brevidade e um certo mistério.
    O não saber, mas a procura.
    Será a vida?
    O amor?
    Ou simplesmente o caminho?
    Um abraço, querido.
    K.

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  13. não desisti de saber
    onde escondes o pêssego maduro
    que atravessa os ossos esquecidos
    (...)porque a vida é a minha sentença,
    rejeito as pálpebras do mundo
    e as cortinas onde se escondem os desejos transparentes

    excelente final este!!!
    (eu que como tanto pêssego, não esqueço dos ossos, e a vida é a minha ANIMA... ) loucuras doces...

    / é bom deixar o poema na mão, porque sentimos que a solidão se torna mais amistosa na companhia das letras)

    um beijo

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  14. memórias, como num filme...

    ... e um poema largado em uma mão, suspenso no tempo, tremulo no desejo...

    poema poderoso, particularmente a última estrofe,
    o acto, a realização, o concreto!
    a finitude...
    da ansia!
    magnifico!

    e... "the national", à beira mar!...
    tudo perfeito, como só podia, de ti!

    beijo, encanto de amigo.

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  15. Querido Jorge,
    A vida é a tua sentença - é lindo isso! ...e a poesia também!
    Há nos teus versos a beleza translúcida do instrumento barroco, que tudo diz numa transparência possível; não raras vezes sente-se o pulsar no melhor de nós mesmos, num acesso ao intenso brilho da sombra mais espessa, como se a cortina rejeitada não quisesse correr nem rasgar-se. Neste verso branco, mas não sem rima, há uma parte deste tanto. E com a tinta que tu escreves sopram-se poeiras - as sensações sabem disso e esparramam-se nos galhos, aonde quer que se procure, há outro mar.
    E por aqui, numa sentença vagante, bebo brilho em contracapa em cálice transbordando.
    Imenso abraço.

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  16. Ei, Jorge,
    se não tiver impedimentos com prazer levei este verso branco, mas se tiver é só dizer
    beijo pra você

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  17. olá querido!

    magnifico e tocante!

    seus post são sempre
    uma surpresa agradável!
    um abração!

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  18. o mundo é a sentença para os olhos, demasiadamente humanos. penso no imbróglio das retinas formar tantas imagens,


    abraço

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  19. Muito lindo poema! Gostei demais!

    Ao me deparar com a frase: "já não sei escrever", me lembrei de Carlos Drummond de Andrade, que dizia: "o verso é uma vitória sobre os limites da linguagem."

    Parabéns pra você, querido amigo vitorioso.
    :)

    Beijos,

    Cid@

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  20. Querido Jorge de-além-mar,

    as corriqueiras reticências (...), que nos produzem interrogações (???), quando desejamos ardentemente por exclamações (!!!).

    Creio que precisaria de uns dez comentários, para começar a fazer justiça a este poema, tamanha a riqueza e a amplitude de significados em figuras de linguagem que se entrelaçam.
    Ou recorrer a matemática, pois o poema em tuas mãos me conduz em projeção geométrica; não aritmética.

    !!!!!!!!

    Espero que esteja tudo bem contigo.
    Grande beijo,
    Cecília.

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  21. Muito bom!
    Gostei daqui, excelente!

    Espero ver-te em meu blog. (Obrigado)

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  22. Mergulhei no poema e ainda não consegui voltar à superfície: bárbaro!!!!
    Beijos,

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  23. Seu poema em princípio parece que desliza rio abaixo e na sinuosidade das margens estremece na
    letargia dos sons? enlouquece na apatia das letras? Você deixou os versos removagueando em minhas mãos.Tenho que voltar a descer o rio.

    Um abraço

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  24. amigo querido,
    poeta avassalador..
    vontade de adentrar teus versos e sorver cada letra alimentando minha alma..
    são perguntas e respostas tão ocultas em nós..
    um beijo de carinho sempre.

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  25. Linda sua postagem.
    De um lirísmo e encantamento apaixonante.
    É minha primeira visita ao seu blog mas com certeza voltarei pela sensibilidade e beleza encontrada aqui.
    Convido-lhe a conhecer meu espaço poético.
    Beijos na alma.

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  26. Poeta Maior

    Como sempre as tuas palavras são um rio imenso, que me deixa à deriva...sem te saber comentar e então deixo-te o que senti ao ler-te:

    As palavras são domadoras de tempestades...desbravadoras de sentimentos...navegantes de sonhos...são o desaguar da dor...os (des)enganos...amores e(des)amores.
    Uma tela pintada de mil cores...por vezes a gargalhada da vida...silêncios apenas penetrados pelo olhar do poeta...um infinito de (in)certezas...rodopio de palavras promessa...enrodilhadas no próprio corpo...aguardando a passagem dos rios...nas mãos ansiosas do tempo que rasgou os últimos murmúrios e arrastou o último sorriso...deixando nas mãos vazias...apenas um poema silenciando todos os segredos...palavras cruzadas dentro da pele...emaranhadas pelo destino...um salto no escuro.

    E assim vou andando...como sempre cheia de poesia.

    Beijinho com carinho
    Rosa

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  27. nossa, jorge, a cada verso se supera... sabes o quanto te admiro.

    beijos cristais, poeta precioso!

    dica: saudades de ti e de nossas liras.

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  28. Jorginho, já te comentei, mas deu vontade de reler. Você é febril, delirante, amo isso!
    Beijos,

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  29. Boa noite, Jorge!
    Como sempre digo, parabéns pelo poema... Ficou perfeito!
    Achei um pouco diferente dos outros, um pouco mais obscuro talvez, mas igualmente incrível.

    Um ótimo restinho de semana para ti,
    beijo! :)

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  30. Jorge,
    ...sem palavras de tão belo!

    E... deixo a escrita na tua mão, porque estou indo de férias, quando voltar, preciso ler-te de novo!
    Abraço, amigo

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  31. Jorge, deixaste o poema em nós, em nosso sentir. Linda musica em complemento.

    Parabéns poeta, soberbo!
    beijos
    oa.s

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  32. Se isso é não saber escrever, eu não sei respirar, Jorge querido.

    Feliz de quem tem um poema deste nas mãos, e ainda terás muita alegria se com ele vencer o medo. Espero que lembre logo da cor do lírio dessa doce voz com a serenidade e a força das ondas do mar.

    Um beijo.

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  33. Obrigada pela carinhosa visita e comentário.
    Fiquei impressionada ao ler seu perfil. Quanta semelhança!
    Obrigada por seguir meu blog.
    Volte sempre!
    Beijo na alma
    Saudações poéticas!
    PS;Fico feliz por minha postagem tê-lo emocionado.

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  34. É verdade, Jorge! Exceto Júlio Diniz. Estão estampados José de Alencar, Eça de Queiroz, Luiz Vaz de Camões, Graciliano Ramos, Castro Alves, Monteiro Lobato, Machado de Assis, José de Alencar, Willian Shakespeare e Graciliano Ramos.

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  35. Jorge..

    Primeiro vou comentar da sua foto.
    Ficaste um gato! rs Com todo respeito é claro..rs

    Fico encantada com a maneira com que vc usa as palavras.

    Fico até timida em comentar..só aprecio...

    Um beijo..

    Ma

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  36. gostei do poema,adoro ler poemas mas infelizmente não tenho criatividade para comentar. por isso aqui te deixo um grande beijinho aguardando que passes no meu cantinho. Bom fim-de-semana!!

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  37. ..sem palavras..

    perfect music to..

    abrç Jorge

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  38. Estava lendo seu poema e pensando... Daqui a alguns anos (se o mundo for justo) estaremos estudando as imagens que produzes por aqui, então vou ter o prazer de dizer a meus filhos: eu bebi na fonte dessa ideias, no âmago do espírito de nosso Jorge Pimenta. Adorei companheiro! Cordialmente, receba minhas reverências!!!
    Um abraço do amigo do além-mar!!!

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  39. Não consigo dizer nada, além de que li, reli e não me senti satisfeita. Seu poema é de um encantamento sublime, daqueles que nos levam a ler cada vez mais.

    Bjs.

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  40. Poema rico de imagens, lindíssimo. Simplesmente adorei! Beijos!

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  41. Olá!
    Passei por aqui a pedido da minha amiga Cissa, do blog Humor em Conto.
    E que bela indicação que ela me fez!
    Realmente, encontro aqui a mais inebriante poesia. Daquela que desliza pela pele, acordando os vazios adormecidos da alma. Poesia viva, dançante, que de contraponto acalma.
    És dom de poeta deixar-nos sem palavras, porque parece que qualquer delas que se use para expressar tamanha beleza, não se aproveitará nada. Mas, ouso mesmo assim a dizer que a sua poesia residiu dentro de mim!

    Grande beijo e volto!

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  42. Belíssimo poema, Jorge!
    Tomo a liberdade de o levar comigo, já que nos foi deixado nas mãos. Ou não fosse a poesia de todos... :)
    Beijos!

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  43. Jorge, meu amigo, grande poeta!
    Ah, sendo a vida, sentença, de nada vale entrar em desvença com ela, mas que dá vontade, dá... Mormente em momentos tensos.
    Intensos, lindíssimos os teus versos, como sói acontecer.
    Beijos da
    Zélia

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