Inventarei outra escrita entre os muros
António Ramos Rosa
fotografia de jorge pimenta
as luzes
extinguem-se por cima do nevoeiro e a voz
somente som desprendido
da boca
encarcerado
no espaço que é de tantos
mas que
nenhum entende.
nos dedos, anéis sem
cordas nem violinos
apenas nuvens
abafadas em gavetas
abafadas em gavetas
como mapas de
tesouro que
já de costas
inventam o X
sem léxico ou pontuação.
disseram-me
que a palavra é sempre uma morada
mesmo que no
anonimato de cidades
que nunca conheci
por serem
mais rápidas
do que as
decisões anavalhadas.
nunca quis
saber
e ainda recordo o dia em que lhe pousei a mão no ombro,
distante da
mão – ela
esquecido do
corpo – eu,
enquanto do
outro lado da rua
as luzes se
apagaram
e a janela recolheu
as flores
com medo do
orvalho do meu silêncio.
hoje sei que
as cidades e as palavras se escrevem à noite
com a máquina
dos lábios,
bailado de
saliva a escorrer na sílaba tónica
enquanto o
poeta, analfabeto,
se afasta da
luz
e dorme o
que ainda não sonhou:
o esquecimento
em monólogo.
placebo, blind
As cidades e as palavras escrevem-se à noite na orla crepúscular dos dias que morrem sem terem nascido nas mãos cansadas e surdas dos poetas.
ResponderEliminarBelo!
Um beijo
...e a noite não tem hora para acontecer!
ResponderEliminaro quanto vale aprender a língua do tempo!?
Beijinho, meu amigo poeta de voz oportuna e mágica!
Oi Jorge,
ResponderEliminarBom dia!
Texto perfeito! Pensei em um conto chamado cidade dos homens que não dormem que li há poucos dias. Achei essa associação dos homens, cidade e sonhos semelhante a uma morada dentro de si.
Bom final de semana!
Lu
o poeta nunca se sabe à palavra seu doce, terno e sutil enigma, não se saber eis tudo: mesmo no rio das sílabas,
ResponderEliminarabraço
Oi Jorge
ResponderEliminarMais um lindo texto, para se ler com calma e se deliciar, acho que vou me acostumar a passar por aqui (kkkkkkk).
Bjos.
E as cidades se erguem muitas vezes para dentro, onde podemos ver e nem sempre somos vistos.
ResponderEliminarHá tanto para juntar, recolher, assear em nossas nuvens... Neste poema vc acolhe com doçura a melancolia, as noites que atravessam janelas serenadas. Tão, tão bonito...
ResponderEliminarBeijo.
Encontrei-me em teu verso "as cidades e as palavras se escrevem à noite...".
ResponderEliminarNa verdade, sempre me encontro aqui.
Lindo, Jorginho.
Bjo
Jorge, querido PoetAmigo!
ResponderEliminarSabes quando temos tanto a dizer, tantas palavras que nem temos por onde começar?
Achei muito belo o teu poema e me fez viajar em muitos pensamentos, provavelmente, teria que fazer uns vinte comentários, apenas para começar...:)
E também me identifiquei de alguma forma com estes teus escritos, então fico por enquanto com esta frase:
Nunca deixemos a verdadeira poesia morrer de realidade.
Retorno, com toda a certeza, para dizer mais.
Parabéns!
Fico surpreendentemente feliz com esta postagem.
Beijão!
Há tempos não leio nada tão lindo e singular.
ResponderEliminar"enquanto o poeta, analfabeto,
se afasta da luz
e dorme o que ainda não sonhou:"
Esta linguagem própria do poeta, cala no peito vazio como o meu.
Parabéns, Jorge!
Belíssimo!
Um beijo
Mirze
Olá Jorginho!
ResponderEliminarMuito bom esse poema! Nos remete aos personagens anônimos da noite.
Imaginei vários e várias paisagens escuras das ruelas da cidade.
Como sempre vc é o cara meu amigo!
Parabens.
Jorge as lihas transcritas me fez refletir: Se um olhar vale mais do que mil palavras,
ResponderEliminarQuantas palavras eu já devo ter dito em um pensar olhando a cidade?
Não saberia lhe responder.
Linda postagem. Beijos!!
Ser poeta é um ofício belo, porém difícil, pois as palavras sempre são restritas para expor tudo aquilo que vemos ou sentimos, admiro muito teu jeito de escrever, porém, tudo aquilo que você Jorge põe em tuas palavras, é algo particular, sua, uma ótica somente sua, e por mais que possamos fazer nossa interpretação, nunca adentraremos no real sentido de 'tuas palavras'.
ResponderEliminarMais um lindo texto, e te parabenizo por isso, abração e ótimo fim de semana Jorge.
Jorge,
ResponderEliminarA noite acontece a qualquer hora,
o poeta é um lugar sem fim, cabem todas as cidades do mundo e o tempo...
O tempo escorre singular, pleno a cada ínfimo segundo!
Extasiada fico, sorvendo palavra por palavra, a cada poema teu. O tempo aqui neste instante, perdeu as horas: lindo, lindo.
Parabens, poeta!
Não à toa que a noite é dita ser a dos amantes...
ResponderEliminarO término de um dia, é o resumo dele próprio, onde um beijo de amor o lapida.
Beijos,
as palavras são estes passos rectos, abafadas em gavetas, envelhecidas até, esquecidas do quando..do como..e onde chegar!
ResponderEliminarbeijinho poeta e bom fim de semana
Linda poesia, amigo. Refúgios, tentativas de se in_corporar, o corpo um casulo. Abraços
ResponderEliminarAmigo Jorge,
ResponderEliminarTeus neologismos me fascinam e as imagens me encantam.
Ainda que a luz não alumbre, os verbetes se percam no anonimato e o poeta seja ágrafo, a poesia ainda subsistirá pela sua grandeza e onipresença.
Poema de grande beleza e ótima logopeia.
Estás de parabéns pelo alumbramento.
E para fechar com chave de ouro, esse vídeo espetacular.
Abraços e ótimo fim de semana para ti e família.
Bom final de semana
ResponderEliminarAgradecer aos amigos pela visita
me deixa mais feliz, pq adoro ver
tudo que de bom vc tem aqui.
Deixo um abraço
Desejando sempre o melhor
Abraços
Rita!!!!
OI JORGE!
ResponderEliminarAS PALAVRAS DE UM POETA MUITAS VEZES DIZEM COISAS, MAS O QUE ELE REALMENTE QUER DIZER, SÓ É LIDO NAS ENTRELINHAS...
LINDO POEMA!
ABRÇS
zilanicelia.blogspot.com.br/
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guardar nuvens nos dedos faz o céu se entregar,
ResponderEliminare o que se quer é entrega no lado de dentro, no de fora, do lado de lá, no de cá.
sofisticado poema, Jorge.
sofisticada a sua escrita.
beijoss
Jorge, querido amigo,
ResponderEliminareu sabia que voltaria, pois de fato teu poema me remeteu a uma série de passagens.
Recordo-me da última vez em que minha escrita se fez noite, e ao tentar colocar palavras nela, depois de muito tentar, consegui escrever uma pequena prosa, justamente sobre isso, e assim o que era noite, transformou-se na madrugada que tudo sabe.
Deixo-te aqui, pois encontrei o papel, escrito em 1994, quando do falecimento de um ente querido:
Ela sentou-se na mesma cadeira, colocou os braços sobre a mesma mesa, pegou os dois livros de sempre. Com inércia no corpo e compaixão de si, rabiscou as primeiras palavras. Naquele momento, fez-se poesia e espirrava como a alma.
Beijos!
O poeta tenta a palavra e ela não cabe na voz. Ele a espreme, a estica, a torce e por fim a mata, depois inaugura um novo nascimento. a boca pari, os dedos amparam, mas tudo que ele sabe é muito do nada. O poema escreve o poeta.
ResponderEliminarO viagem é meu refúgio.
bj imenso, Jorgito querido
Saudade de vim aqui e devorar seus versos sentindo a alma sendo descrita, sendo desenhada por tuas palavras...
ResponderEliminarGrata por essa (re)leitura de mim mesma.
Bacio
As palavras não têm sabor definível mas tudo constroem. As suas despertam emoção e encantamento, ainda que, nas entrelinhas de seus versos, estejam outros dizeres. Bjs.
ResponderEliminar"enquanto do outro lado da rua
ResponderEliminaras luzes se apagaram
e a janela recolheu as flores
com medo do orvalho do meu silêncio."
fico e demoro-me por aqui, quanta beleza as tuas palavras, amigo!
tão pleno de emoções este post, fazes magia...
beijos!
"...e a janela recolheu as flores
ResponderEliminarcom medo do orvalho do meu silêncio."
LINDO ISSO!
Você tece palavras de maneira peculiar e linda.
Belo texto poético!
Imagem muito interessante.
Beijo.
Oi Jorge
ResponderEliminarEu já passei por aqui, estou passando novamente para te convidar a visitar o meu último post, normalmente eu não faço isso, sinceramente acho que a pessoa deve fazê-lo por livre e espontânea vontade, é que no Brasil se comemora no dia 12 de junho o dia dos Namorados e fiz um post homenageando os poetas e tomei a liberdade de incluir você, espero que não se importe, dá uma passadinha lá para ver a poesia sua que escolhi, ficarei honrada.
Bjos. e um ótimo domingo.
http://ashistoriasdeumabipolar.blogspot.com.br/2012/06/dia-12-de-junho-poesia-esta-no-ar.html
Conjunto maravilhoso:
ResponderEliminarfoto+texto+video= viagem ao encontro do Belo.
Adorei me embrenhar neste refugio de palavras, cidades, homens :)
ResponderEliminarBeijinhos
"e a janela recolheu as flores
ResponderEliminarcom medo do orvalho do meu silêncio."
Um poema adorável, Jorge, e esses dois versos me encantaram especialmente
Beijos!
nalgum lugar dorme:
ResponderEliminarpalavra
pálpebras escondidas
nos cinturões de flores
crepúsculos. de guerras.
belo, como sempre! A fotografia me chamou a atenção...um muro pintado. como inventamos muros e neles algo mais, conflitos quem sabe ou amor ou algo diferente.
ResponderEliminarum beijo Jorginho
Oi Jorge,
ResponderEliminarquisera eu saber o que sente um poeta, só sei o que um poeta como você, me faz sentir: Encantamento.
Beijos
Muito estimado Jorge, boa noite!
ResponderEliminarCada vez que pouso meus olhos em seu weblog, desfruto de uma leitura de excelência. Muito de seus poemas(e esse que acabei de ler é um deles) lembram-me as canções de Bob Dylan com suas imagens incríveis em cada verso!
Belíssimo poema, meu caro amigo!
Jorgíssimo
ResponderEliminarPoema esculpido de magistral beleza do mais requintado diamante: Seu dom da palavra.
Uma linda tarde.
Beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarOlá, Jorge.
ResponderEliminarÉ sempre revigorante ao intelecto e saboroso para as emoções ler seus magistrais escritos.
Certamente, o silêncio da noite molda o mundo, todos os dias.
Abraço, meu caro.
Jorgíssimo
ResponderEliminarVoltei.Para te desejar um bom final de semana.
Eu tinha mudado de configuração. Mas acho que agora consegui retornar ao antigo.
Bjs
"disseram-me que a palavra é sempre uma morada"
ResponderEliminarAssim é. E o Verbo Faz-se.
Um abraço assim____