sexta-feira, 17 de junho de 2011

timidamente como quem espreita

fortaleza de sagres, igreja de nossa senhora da graça


e depois
os fusíveis estouram
e pernoito na tela
de um clássico a preto e branco

e depois
os amantes suicidam-se
e adormeço na língua de água
que não é rio e jamais será mar

e depois
todo o corpo se ateia fogo
e morro lentamente
no vapor de estrelas pressentidas

tudo
porque aprendi que a semente germina
para morrer duas vezes:
antes e depois do fruto.
e todos somos o livro escrito com gás,
o livro que volatilizou a história
com a palidez sombria das palavras.

interpol, not even jail

43 comentários:

  1. Uma imagem que vale todas as palavras do mundo..quando não são ditas.

    ...

    Abraço

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  2. Depois?
    Depois, fica a vontade de ler de novo!
    Gostei! Como sempre!

    Bjs dos Alpes

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  3. Muito bo Jorge, seu poema nos remete a várias imagens e idéias e pensamentos desconexos, isso sim é um poema, pois aqueles poemas muito explicadinhos e óbvios sinceramente (pra meu gosto), não são legais. Eu prefiro esses escritos que nos fazem pensar em "sobre o que o autor está querendo falar", e não chegamos a conclusões unânimes... Parabens amigo!

    Te espero lá no blog!
    Um abração e fica com Deus!

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  4. Somos livros pálidos escritos a letras douradas que imitam o fogo de saudade. Somos livros e letras que grafitam sentimentos ardentes de nós...

    Vc é incrível em suas poesias...

    Beijos meu amigo!!

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  5. Jorge, ateias fogo à alma de quem te lê, com as palavras escreves sentimentos e transportas-nos para a tela, onde permanecemos, absortos na imagem poetica.
    um beijinho
    oa.s

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  6. a gás e fogo se consomem as palavras manchadas de história, os frutos já não apodrecem volatizam-se em sementes, somente o tempo avança sobre tudo e espreita o ar de interrogativo dos girassóis,

    abraço poeta

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  7. Linda sua poesia Jorge! A porque a semente germina para morrer duas vezes... Assim somos nós!
    Beijos e um dia de paz.

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  8. Alucinante, as figuras jorram no tom sombrio de palavras em preto e branco que pressentem estrelas no vapor da lírica, na semente do poema, no gás que nos despe. Arrebatador, é o adjetivo que me veio. Brilhante como as pressentidas estrelas.

    Abraço grande, meu amigo!

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  9. Ah, Jorge, meu querido, esses fusíveis queimados,e a vida saídada da falsidade do caleidoscópio para a verdade do preto e branco...
    Lindo demais, demais!
    Beijinhos da
    Zélia

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  10. Meu Deus!!!...

    Hoje, realmente, você conseguiu me deixar engasgada...

    Só consigo dizer:

    BELÍSSIMO!!!

    E mais nada...:)

    Jorge, amigo, aquela pequenina amostra de fotos, de quando estive por aí, realmente só me retrata mais pelo sul de Portugal, pois, infelizmente, não cheguei a conhecer o norte (que sei, pelo meu caçula, que é deslumbrante). Quem sabe numa próxima oportunidade, né? ;-)

    Beijão pra você, e tenha um lindo e iluminado final de semana.

    Cid@

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  11. Ler a vida em Noir por vezes camufla as manchas que a História empresta às palavras...

    Que bom te ter de volta com a intensidade de sempre... não exagero quando digo que já estava em vias de asfixiar-me... = )

    Beijinho aliviado, amigo Jorge... e um tranquilo fim de semana!

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  12. Querido poeta-de-além-mar,
    somos concebidos de uma "pequena morte", não é mesmo?
    Diariamente, nascemos e morremos em circulos imprecisos, não-programados,surpreendentes na maioria das vezes, e quase nunca definitivos.
    Nem sempre os nascimentos são felizes, ou as mortes tristes. Apenas ciclos que se cumprem com nosso livre arbítrio, ou não; mas testemunho vivo.
    O preto e o branco que nos traz a essência de tudo o mais sagrado, o Bem maior: a vida.

    Jorge, meu amigo, espero que esteja tudo bem contigo. Bons ventos te trazem de volta!

    Grande beijo, Cecília.

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  13. Jorge..promete que fica só entre nós!
    Acho lindo o que escreves. até os comentários são poéticos..
    Mas acho que ja escrevi isso pra vc..admiro sua poesia como admiro um quadro surrealista.
    Gosto..tento interpretar..mas nem sempre consigo.
    Mas mesmo sem interpretar..gosto.
    Ficou confuso..mas acredito que vc entendeu.
    Ontem, quarta, postei Africana - Africa. Por ser um dos meu trabalhos preferidos, te convido a dar uma passainha no meu blog e aprecia-lo.
    Um beijo..bom final de semana, querido poeta!
    Ma Ferreira

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  14. Somente uma palavra...Fascinada! beijos achocolatados

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  15. Me perdi aqui, em suas palavras e sei que agora vai demorar para que eu consiga me encontrar. É sempre assim. A poesia me leva para dentro e me deixa por lá abraçando as ilusões que se desenham a partir do teu sentir...

    bacio

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  16. "timidamente [um santuário] como quem espreita"

    que título doce, no contraste da "morte" que aqui se anuncia tão plena de vida e sangue em ebulição.
    cada poema teu, [já disse isto algures...] é para mim um viajar alucinante.
    na penumbra dum altar de vidas as palavras voláteis viajam [também] num livro de luz.
    que poesia linda, a que transpira deste teu poema:)

    interpol :) voz fabulosa, música fabulosa, poema magistral!

    adorei, encanto de amigo:)
    ['tava com saudade]
    beijinho meu.

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  17. Quantas sementes se fazem e quantas mortes duplamente se manifestam em nossas vidas?! Assim também são os pontos finais de cada linha, morremos e renascemos em novas letras até a página final...

    Belíssimo e impactante, querido Jorge!

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  18. e depois
    todo o corpo se ateia fogo
    e morro lentamente
    no vapor de estrelas pressentidas

    Versos estes que ateiam fogo ao corpo: poeta amado, tão bom morrer nesse vapor de estrelas pressentidas! Vou levar ao facebook e os poetas lá estão à sua espera, vai? :-)
    Beijos,

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  19. Passando pra matar a saudade...me vi na teia de sentimentos fortes, arrastada de um lado pra outro, turbilhão de sensações e incompreensão desse nó que se fez...ainda assim, adorei esse emaranhado...

    Um beijo, bom fim de semana!

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  20. A Fortaleza de Sagres [ouvi dizer que tem uma enorme rosa-dos-ventos marcada no chão], um filete de céu e Interpol em letra, guitarras e baixo - composição impressionante no apoio aos navegantes em pressentido descobrimento - que lindas escolhas, Jorge.

    Timidamente como quem espreita leva-nos aos confins do estado imaginário em pingo e luz... na aceitação de um sempre ou jamais, na palidez das palavras que volatiliza cores de livros e historias impressas, e na possibilidade de convencer a semente de que dentro dela não dorme um pomar inteiro que morre e nasce diariamente.
    Em tudo nos conduz ao filete d'água, no toque de vida, na gota de compreensão que, em parte, sacia. Eis um poeta a vaporizar sensibilidade e delicadeza no trato das coisas belas... eis a pluralidade do Jorge.

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  21. Morrer duas vezes para o poeta é pouco.
    Aqui renasço toda vez.

    Excelente!
    Beijo.

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  22. Como você consegue nos provocar e nos tirar o solo dos pés?! Seus poemas são magníficos e totalmente bem arquitetados... Fui transportado, raptado para o lugar abstrato e metafísico que criou; virei uma poeira, um gás através/junto das palavras que tão bem organizou para chegar ao ápice de dizer tudo e criar espaços longínquos e coloridos no âmago do paradoxo do preto e do branco. Adorei!!! Abraço do amigo do além-mar!!!

    http://cronutopia.blogspot.com/

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  23. Jorge,
    morrer, viver,renascer..
    ..."antes e depois do fruto"..
    beijos querido poeta..

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  24. Oi Jorge,
    Essa evolução que até chega a mudar uma história, donde as palavras já não nos mostram mais imortais, nesse contexto. A ciência, a religião, mergulham em suas pesquisas e, de repente, nos jogam uma surpresa. Muitas das vezes, ficamos alarmados, quando não incrédulos ou confusos. Quiçá séculos posteriores, em que outras histórias serão contadas para o definhar das palavras que foram sustentadas. Eis o "livro que volatilizou a história com a palidez sombria das palavras."

    Beijos e um bom domingo,
    Ana Lúcia.

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  25. Timidamente como quem espreita? Ousadamente como quem comprime esse gás para provar sua resistência, ou seja, sua existência.

    Abraço, Jorge.

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  26. olá querido!

    E depois...?
    troco os fusíveis
    só para então ler-te...
    amado muito bom!
    um abraço!

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  27. Já tinha saudades de o ler e de renascer em cada poema... «tudo/ porque aprendi que a semente germina/ para morrer duas vezes:/ antes e depois do fruto.. Suponho, em todo o caso, saber os motivos do seu 'silêncio'.
    Beijinho e obrigada por mais um bonito poema! :)
    Cristina.

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  28. Olá, Jorge!

    Timidamente como quem espreita e sente o faro da boa poesia, cheguei ao teu espaço e por aqui fascinou-se a riqueza das tuas percepções. Li inúmeros textos teus nesta última madrugada e reúno neste as minhas observações. A começar pelos títulos, a abrangência de cada um deles, que por si já nos remetem ao propósito de sentir a essência do que e onde as palavras podem nos conduzir. As imagens são impressionantes, tal como esta do Santuário, simples e solitário, como se a esmo espreitasse a quietude à sua volta e dela esperasse respostas, tal como o poeta que vive de suas tão internas indagações. Os vídeos, alguns aos quais assisti, são de extremo bom gosto. Enfim, tornei-me seguidora com prazer.

    Percebi também a tua presença em meu espaço, pelo que agradeço, que seja muito bem vindo e que permaneça caso o agrade.
    Um abraço,
    Celêdian

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  29. seus poemas são viscerais. cheio de harmonia como uma dança, um bailado, entrelaçam-se como um mosaico.adorei...
    um lugar magico, encanta e desperta a imaginação.voltarei sempre.

    um ótimo domingo, fiquei curiosa depois de vê-lo no blog "primeira pessoa" e foi ótimo ter vindo aqui.

    beijinhos

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  30. Meu querido poeta, já temia sua ausência acreditando em mais um surto do Blogger, mas fico feliz por vê-lo de volta e melhor do que nunca, com a história feita por palavras e as palavras mentem e os pés continuam o caminho interrogativo.
    Bj de saudade matada, doce Jorge

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  31. Querido poeta, fico tranquila ao ver que nao foi uma das vítimas do blogger (como eu).
    Bem dizem que poesia nao é pra ser interpretada, mas me deleito com suas palavras.

    Beijokas de cá!

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  32. Jorge, mais um poema de tirar o fôlego.
    Somos uma página em branco, assim o ditou a morte da semente...
    beijinho

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  33. ‘A vida é uma estação de comboios feita de separações
    e encontros.
    Nós somos viajantes em constante movimento,
    Transportando nas mãos a nossa inseparável bagagem,
    Uma pequena mala
    Cheia de contendas, fúrias e memórias.’ Fatos Arapi

    ‘A vida é uma estação de comboios feita de separações
    e encontros.
    Nós somos viajantes em constante movimento,
    Transportando nas mãos dos olhos a imensa bagagem,
    Um pequenino link
    que num só clique, leva-nos ao campo de pimentas, luz e sombra.’ Eu

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  34. Jorge,

    No espreitar da escuridão das florestas, caindo o crepúsculo, senti-se tremor e temor vestido infinito. Após, timidamente, penas brancas brilharem ao sol, o negro vem à tona com núncios de humanidade, especialmente, às vésperas do inverno. Com o clássico da ave ferida, na tela manchada por personalidades devastadoras, a beira da carruagem celestial, os pinceis em cachecóis tomam chás e com costuras dando sentido a escrivaninha, até a boca do fusível que resguarda em sua vigília. Duas faces que se dialogam, para que se encaixem adormecidas e seladas no pensar da perfeição. Enquanto ao redor rio e mar por dentro gritam, estouram defronte a língua: Lembrar-se-á ? As bocas que escorrem a água negra transformada, como indeléveis misturas aos passos da linhagem. De/salvar como, a repartida para a coroa ? O corpo ateado no fogo e geleira que no embalar de dezembros, maios lentamente em estrelas pressentidas, faz a história o que sempre sinalizou aposentos: corações quentes na primeira morte. A cômoda na segunda morte no lago que se observa o reflexo do que não sabia ler em doses diferenciadas. Tudo por um nado intenso das muitas imagens, entretidos rascunhos coloridos de pássaros e borboletas. Dos vazamentos e buracos – mal iluminados, um nada num tudo enfiado - precisas na farinha.

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  35. Jorge...voltando pra agradecer a visita, volte sempre.
    é um prazer tê-lo lá no meu blog,poderia deixar de ser, ainda, e verdadeiramente que pelo blog da primeira pessoa.
    o que já é um excelente começo. e entras como o "inesperado" e ao mesmo tempo esperado inusitado e intempestivo...
    distribuís a tuas ilusões franca e tão sã.driblas os meus abismo, e voas sereno...
    vã são as palavras sobra apenas as ilusões soltas, frouxas ao vento...
    bem vindo mais uma vez, e volte.

    beijinhos ate breve.

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  36. e depois eu volto pra te desejar uma linda semana.beijos achocolatados

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  37. Poeta inspirando poeta! :-) Hoje seus versos inspiraram o Assis: bacana!
    Beijos,

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  38. Leio-te como quem sente fome, e de presente ganhar um banquete!

    A semente germina pra morrer outra vez, e na morte acontece a multiplicação, a transformação final e natural de todos nós.

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  39. gostei da fotografia. ampliei e li e reli as linhas. ao construírem as igrejas, fica-me a sensação de que, eles estudavam o lugar da cruz. a verdade, é que a maioria é sem corpo humano crucificado, tal como essa, nua, linhas lisas. daí a minha pergunta vezes sem conta, se tivessem um Cristo crucificado no topo da igreja, para que lugar ele olharia?

    »aprendi que a semente germina
    para morrer duas vezes:
    antes e depois do fruto.», eu acho que ela Vive, porque aos nossos olhos é sempre igual!! morrer se vai para sempre, mas transmutar-se, ela retorna!! (eu sei o que quer dizer. mas preciso de atravessar o conceito da frase, o sentido das palavras... torná-las apenas sons e depois matéria viva...)

    um beijo

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  40. Jorge..
    Passei para te dar um Oi!
    Gosto de ler-te!
    Bj..
    Ma Ferreia

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  41. magnífico!

    admiro agora, e depois e depois e depois...

    beijão, jorgíssimo.

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  42. Olá, Jorge,
    timidamente sempre chego tentando traduzir o que me vem das leituras destas viagens, mas não me importo de às vezes colocar os de sempre elogios
    belo, profundo, forte, encantador, instigantes, doídos, bonitos, bonitos...
    a fotografia dá o que imaginar, solidão, beleza, abandono e o céu e as nuvens...

    E 'do lado de lá e do lado de cá', uma imagem de luzes e sombras que me parece uma explosão, que coisa!
    e pode ser que meus entendimentos sigam confusos e tentando e tentando, porém num estado de apreciação destas suas parcerias, neste poema com a Michelle, muito bacana, e destas escolhas de imagens e sons.

    Parabéns e beijo grande e sempre agradecida o carinho e presença

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