Expulsara o seu corpo
para longe de si,
não queria assumir
nenhuma responsabilidade sobre ele.
Milan Kundera, A
insustentável leveza do ser
fotografia de jorge pimenta
todas
as ruas sobrevivem à morte.
caem, nómadas,
no interior do corpo
como se foram
poeta
– desses poetas
de cabelo desgrenhado
a desprender
versos de loucura sobre ninhos
cantando
todos os que amam
os que perdem
o alfabeto
e a tinta
molhada das veias.
todas
as ruas permanecem intactas.
cantam,
silentes, na pauta de pedra,
enquanto o
amor, com guelras,
esquece as
asas e o voo
por isso cai,
cai com a noite
perdida a pele
o sabor do sexo e os oceanos de dor
que agasalham
a travessia dos lábios
e o escorbuto
do beijo.
todas
as ruas inauguram palavras.
arremessam,
cegas, versos para os nomes
por já não
saberem viver sós
por não
lembrarem a cor da terra queimada
– só a
canção do poeta louco
é reminiscência
da vida quase toda:
mas de olhos
fechados
quanto é
verdade?
apenas
as ruas sobrevivem à morte,
nada pedem em troca.
e o poeta? canta
ou finge viver?
our broken garden, seven wild horses