sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

como nos poemas


                                          jorge molder


e eis como os dias não se fazem apenas dias:
meteorológicos, mitológicos, ontológicos e ilógicos
[e tudo o mais que o silêncio aborte da boca do mundo]
são resina a escorrer à beira-dor
em passo lento
devastador, cirúrgico, operário
consumindo a língua dos segredos
cinzelados por mãos que se desprenderam do corpo.

sobrevivem os dias.
e sou manhã, tarde e noite dentro do dia.
sobrevive o corpo.
e sou o que não morre mas que agride mais do que afaga.

longe do silêncio dos dias e do corpo
as mãos escarnecem
como se a vida começasse naquele hiato
sem sermão, pregador, ofício ou deus.
falsa liberdade esta, a retinir nos tímpanos
[as sereias ainda são todo o canto que engana o mar].
mas já sem mar
e a léguas do sonho,
as mãos enrijecem, apodrecem, quebram na areia
que lhes prometera
o voo sem órbita e a viagem sem voo.

e o corpo tem a saudade tatuada
e o corpo amordaça a boca
e o corpo perde o tacto
no motim das mãos que impõem a despedida dos dias.
e os dias são fábulas
e os dias são narrativas sem prosa
e os dias são personagens  de ficção
sobre a geografia das mãos sem capital.

oh, se eu conhecesse a fundo as lendas dos dias
os episódios do corpo,
as estórias insulares das mãos
restauraria a língua que nos trouxe o arrepio
sem calendário:
amarmo-nos como nos poemas.

[saberão os homens viver
como os dias?]

a touch of spice [ost] up at the attic

73 comentários:

  1. Que "língua" nos trouxe o arrepio livre do tempo? É essa que quero tatuar no corpo da vida...

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  2. há quem diga que sim, há quem diga que não. quem sabe de algo verdadeiramente? o homem experimenta a poesia, vive o que der e vier, o que permitir :)

    beijos

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  3. Saberia a Poesia viver
    sem a tua companhia?

    (os teus olhos aguçados
    o olhar que se debruça)

    Creio que não.

    Pois ela (a Poesia) também
    se faz corpo na tua alma
    para que tu cantes
    todo o abismo florido.

    Jorge Pimenta,
    imenso sempre o deleite
    em ouvir tuas pegadas
    e ver tuas sombras.

    Forte abraço,
    irmão.

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  4. "Que "língua" nos trouxe o arrepio livre do tempo?"
    aquela que se há-de tornar eterna... pois tem a condescendência do tempo.
    beijos como nos poemas!

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  5. perdido entre nãos e sins, o homem experimenta a poesia e o que mais venha, luíza. falta-lhe experimentar nascer, viver, amar e morrer como os dias. talvez assim caiba nos dias.
    beijos!

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  6. amigo domingos,
    seguramente a poesia sabe, pode e quer viver sem a minha companhia. já eu sem a dela... é a poesia a morfina para dormir [mesmo que de olhos por fechar].
    abraço, camarada-amigo!
    p.s. insisto: tenho-te lido lá no "lacaio", mas por um qualquer problema técnico (ao que parece no teu blogue, porque a laura alberto também o sentiu) não me é possível aceder à área dos comentários. revê isso, por favor.
    abraço reiterado!

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  7. Viver como os dias?
    Se não tivéssemos a ânsia de atravessar as horas quando a saudade nos agonia. Se pudéssemos aceitar, sem sofrer, que aquela noite durou apenas uma parte de um só dia (e que cada um daqueles segundos jamais se repetirá, embora o relógio sempre os tente imitar todos os dias)... Os dias são bem sábios, não são, Jorginho? Não têm memória que atrapalhe o seu caminhar.

    "amarmo-nos como nos poemas."
    Essa ideia anima e aterroriza todos os meus dias, querido.

    Beijos cheios de muita saudade e poesia.
    E um cheiro,
    Adriana

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  8. Amigo Jorge Pimenta... os seus poemas arrepiam! Quanto ao mar, ele é mesmo enganado, pois "as sereias ainda são todo o canto que engana o mar". Elas não existem mas o mar, sempre, sonha com elas.

    Um abração e tenha um bom fim de semana.

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  9. Ei não posso nem me imaginar vivendo como os dias, Jorge. Minha fase ainda é a de tentar (sem nenhum sucesso por enquanto) viver como os segundos.

    Que seguidora mais relapsa e tola que eu sou. Há meses não vinha aqui me brindar com a sua deliciosa poesia.

    Beijos

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  10. "amarmo-nos como nos poemas."

    O amor jamais será prosaico... Quem ama, ama em versos...

    Domingos disse a ti: Saberia a Poesia viver
    sem a tua companhia?

    Eu já digo: Que bom que escolheste a poesia como companhia... porque pessoas como eu e Domingos jamais se sentirão sozinhas...

    Beijinho de Luz sempre, Jorge alado...

    p.s: Como em tudo na vida, sou de fases... Joan Baez está rouca de tanto que canta a meus ouvidos... e esta fase está difícil de passar...

    ; )

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  11. por enquanto vou continuar a ler, mais uma vez. é que as vezes ergues edifícios tão altos que meus olhos se demoram a enxergar a completude, mas tento

    abração poeta

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  12. Não quero outra coisa a não ser repetir e repetir os teus versos: "e o corpo tem a saudade tatuada
    e o corpo amordaça a boca e o corpo perde o tacto
    no motim das mãos que impõem a despedida dos dias". Há esses poemas assim, que arrebatam a gente! Um bjo cheio de carinho!

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  13. amar como nos poemas e viver como os dias:
    é o corpo que atrapalha. ele sempre nos lembra dos afagos, das dores, das angústias...

    mais uma vez, um belo poema!

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  14. "sobrevive o corpo.
    e sou o que não morre mas que agride mais do que afaga."

    Há várias corpos, há várias caixas, há vários receptáculos guardando os dias para as noites, e as noites para os dias. Há sempre carapaças que se interiorizam de toda a matéria alheia e guardam a própria para um dia que nunca chega.

    Poeta, sua poesia é sempre auge, atinge-me sempre num ponto diferente. Ai! =)

    Beijo.

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  15. não, os homens não vivem, têm medo, como se os mares subitamente fossem tantos, e o monstro Adamastor se multiplicasse em outros tantos e espreitasse em cada foz. e os dias “são resina a escorrer à beira-dor” consumindo-se lentamente sob o cutelo “devastador e cirúrgico” de outras mãos, outras línguas, outros desafectos. e a liberdade é uma ilusão. e as sereias agonizam no seu próprio mar que lhes será tumulo. os homens querem amar-se como os poetas nos poemas, por isso por vezes as mãos se desprendem e viajam sozinhas, silenciosas, transparentes sem conhecerem propriamente o seu destino.
    e os dias…, esses seguirão sendo “resina a escorrer à beira-dor”…

    já não me surpreendo contigo poeta, viciei-me neste espaço de alimento, como quem tem fome, sede e frio. será que devo agradecer-te?! penso que não quererias, penso ainda que a necessidade de dar do poeta é directamente proporcional à necessidade de quem dele se alimenta, são cúmplices. beijo.

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  16. "e o corpo tem a saudade tatuada".

    "Quero ficar no teu corpo
    Feito tatuagem
    Que é prá te dar coragem
    Prá seguir viagem
    Quando a noite vem..." (Chico Buarque)

    Beijos.

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  17. querida adriana,
    mesmo que durando um só segundo, aquela noite eternizar-se-á na brevidade que a consumiu e.terna. e o segundo é o dia. e o corpo é o dia. e a memória... é o dia.
    sabes? estou convencido de que no dia em que soubermos amar como nos poemas, já não viveremos de sonhos; seremos a própria poesia.
    beijos com saudades do teu pólen!

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  18. amigo josé,
    arrepio-me só de pensar que o mar existe.
    arrepio-mme só de imaginar que o mar escuta.
    arrepio-me só de acreditar que ele se entrega a todas as melodias que lhe afagam as rochas, que lhe agitam as ondas, que lhe excitam a areia explodindo em espuma branca. e as sereias? apenas silhuetas difusas sobre o estado líquido [que não aprendeu a nadar], espectros que fazem dele água sem copo, que o desenham oceano de ilusões.
    abraço!

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  19. elza,
    todos os segundos são os dias. e todos os dias somos nós.
    é óptimo ter-te por cá, de novo :)
    beijos!

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  20. aninha-de-luz,
    quem ama, ama em versos. e a pessoa amada converte-se no mais perfeito dos poemas.
    escutei john baez quando menino; era das cantoras-poetas que o meu pai mais apreciava. creci a escutar as suas melodias pungentes regadas com umas letras de arrancar o coração. a voz? ai, a voz é a de toda a gente.
    um beijinho terno, agradecendo todo o carinho das tuas palavras que, como as do camarada domingos, são a confirmação de que a amizade vive mais na boca da emotividade e não tanto da da racionalidade, hihihi!

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  21. amigo, assis,
    ai esta torre que projecto olimpo, mas que acaba sempre em babel.
    como dizem os mais velhos, cá em portugal: quanto mais alto, maior é o tombo. e logo eu que voo raso ou não tivesse apenas braços no lugar das asas que algumas aves da poesia ostentam, sempre reverberantes como a sua verve. tu, por exemplo.
    um abraço!

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  22. querida daniela,
    sabes o que confidenciava eu à amiga-poeta laura alberto a propósito deste texto? não sei se consigo deixar lá entrar o fogo que o gerou, pelas entranhas, porque sinto... o corpo frio... e os dias - que arrancam a cabeça - seriam mesmo dias, ou apenas fragmentos de tempo?...
    o teu comentário deixa-me mais aliviado :)
    beijinho com ternura!

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  23. oh, se às vezes o corpo atrapalha... é que a pele é um tecido menos perene que o dos dias, sendo, por isso, mais débil, mais frágil...
    um beijinho, querida ana f.!

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  24. larinha,
    e o dia que nunca chega é, ainda assim, também, o dia. esperar por ele talvez seja o erro maior; fazê-lo real, material - mesmo que abismo - é a derradeira solução [ou devastação].
    quem mora na cabeça dos dias? e quem mora na nossa cabeça?...
    beijinho imenso!

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  25. amiga-dos-encantos,
    deixa-me perguntar-te:
    quem agarra no poema, o veste, o despe, o espalha pelo corpo como o mais sensual dos cremes, e o arremessa contra o espelho, estourando com as máscaras e todos os objectos não poéticos e fazendo emergir "apenas" isto:

    "não, os homens não vivem, têm medo, como se os mares subitamente fossem tantos, e o monstro Adamastor se multiplicasse em outros tantos e espreitasse em cada foz. e os dias “são resina a escorrer à beira-dor” consumindo-se lentamente sob o cutelo “devastador e cirúrgico” de outras mãos, outras línguas, outros desafectos. e a liberdade é uma ilusão. e as sereias agonizam no seu próprio mar que lhes será tumulo. os homens querem amar-se como os poetas nos poemas, por isso por vezes as mãos se desprendem e viajam sozinhas, silenciosas, transparentes sem conhecerem propriamente o seu destino.
    e os dias…, esses seguirão sendo “resina a escorrer à beira-dor”…"

    esse, que acende uma vela por cada verso náufrago, amordaçado pelas vozes que vivem perto do silêncio, esse que ensina a dormir e a morrer, esse que afasta o corpo, mas não o olhar, esse que tudo lava nos dias para nos oferecer apenas... poesia. a tua poesia.
    esse... tem de agradecer?
    beijos na alma!

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  26. vanessa,
    e a viagem prossegue. ao ritmo dos dias.
    beijos!

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  27. Senti agora uma emergência e encontro-me numa sala cirurgica... Empresta-me um pouco da sua morfina?

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  28. Jorgito, doce amigo!
    O amor é o poema, onde os amantes convertem-se em poetas bordando no mais precioso papiro, a pele, seus devaneios, versos e memórias dos dias. Lamentavelmente, o papiro perece definitivamente e os dias não, esses apenas renascem a cada morte.

    Bj grande, meu poeta de todos os dias.

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  29. ..."falsa liberdade esta, a retinir nos tímpanos
    [as sereias ainda são todo o canto que engana o mar].
    mas já sem mar
    e a léguas do sonho,
    as mãos enrijecem, apodrecem, quebram na areia
    que lhes prometera
    o voo sem órbita e a viagem sem voo."
    ...

    salientei estas frases mas todos os momentos do teu poema são... ...
    as palavras faltam-me perante a grandiosidade do que sinto, só um mar poderia explicar...

    belíssimo amigo!

    p.s. esta música faz dançar a alma

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  30. um dia venho aqui e não saio mais
    morro de comoção
    ficas responsável, quero ser cremada e que as minhas cinzas sejam espalhadas pelo mar e que se misturem no sal e nos sargaços e ao se espraiarem nas areias que escrevam lindos versos de amor como os que escrevem os poetas amantes
    que pagina maravilhosa esta
    M :)

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  31. Os homens não vivem como os dias, sobrevivem às narrativas sem prosa, tentando pintar-lhe um pouco de poesia
    É sempre um prazer ler-te.
    beijos

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  32. Jorge, vim e voltei aqui desde ontem umas três vezes...

    Consola-me ver que até o Assis vai continuar a ler (risos).

    Outro dia, quando terminei a leitura de um livro do Lobo Antunes, revelei a amiga que me presenteou que preciso deixar esse meu costume de “olhar para uma pedra e ver apenas uma pedra”!!

    Rubem Alves costuma fazer referências à Adélia Prado com frequência, numa delas citou: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

    Resta-me dizer que vir aqui é uma nobre experiência para ampliar o olhar e buscar enxergar para além da visão...

    Beijos, querido Jorge!

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  33. Jorge,

    Só os poetas conseguem “viver como os dias” pois só eles vêem a “manhã, tarde, e noite dentro do dia”… sabem fazê-lo porque sabem ser fábula, narrativa sem prosa, personagem de ficção… vestindo as palavras, despindo as mãos, amando as sereias e viajando na espuma do coração… o homem vive o tempo, numa saudade dos dias. Semeia sonhos nas horas, na esperança que perdurem, e quando tenta viver o dia é a noite que o agride quebrando estrelas e rasgando a lenda até aos ossos... e é na alma que muitas vezes tatua a "falsa liberdade"...
    Utopia ou a verdadeira liberdade de amar ao alcance de um passo, de um verso "como nos poemas"?...

    Beijo poético!

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  34. michelle,
    a morfina que aqui escorre é matéria elíptica por detrás da metáfora. e essa é toda tua.
    beijos!

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  35. querida ira,
    haverá vida para além do papiro e de toda a loucura que nele se inscreve fugazmente? se lá couberem os dias, renasceremos sobre as suas cinzas. renasceremos sem a urgência da morte prévia, da morte anunciada, da morte breve que lava os ossos de toda a matéria espúria do corpo. e connosco eternizam-se os dias. sem cinzas ou chamas.
    beijos, doce poeta-amiga!

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  36. querida amiga andy,
    esta relação nem sempre luminosa entre os dias e o corpo que tantas vezes assusta os membros que desistem da porfia e se entregam a um calvário sem retorno é aquilo que me movia quando apalpei a mão a este texto. não sei se o consegui... não sei se ele mo deu... ainda hoje tenho dúvidas...
    esta é a terceira música que publico no blogue de uma das mais belas composições que conheci em 2009: a banda sonora de "a taste of spice" (cortesia de eleni, uma amiga grega com um gosto musical absolutamente irresistível).
    beijinho doce!

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  37. sandra,
    julgo entender-te. da subtração daquilo que rejeitas, sobra a prosa poética como bandeira dos homens que não compreendem [assim não sabendo viver] os dias. e não é que tenho de te dar inteira razão? :)
    um prazer ter-te por aqui.
    um beijo!

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  38. querida lívia,
    suspeito, sempre das pedras. raramente ali vejo o sólido geológico por inteiro. sabes que guardo pedras de quase todos os lugares que me marcam? atenas, havana, esposende, lille... e tenho-as como tesouros de segredos escondidos que aprendi a respeitar. no silêncio do musgo, na exuberância da superfície polida, no brilho do canto queimado, nas vozes que as tocaram, nas colinas que as rejeitaram, ou, simplesmente, na cor esquecida. por vezes olho-as e lembro-me que também ali estão as pedras :)
    beijos!
    p.s. ainda não aprendi a ler lobo-antunes :)

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  39. amiga jb,
    corro o sério risco de me repetir... impossível replicar quando o texto, como que metapoeticamente se eleva na ponta dos pés e espreita sobre o muro que julguei existir entre si e todo o tecido de significações. e o campo minado da semântica estende-se para lá dos olhos, bem acima das sensações que lhe deram origem. outro texto. mas o mesmo. apenas mais forte, mais viril e mais seguro de poder gritar a voz que julgava embargada nas caves da garganta. e o mundo torna-se pequeno para o som que engrandece, ensurdece e enlouquece nos contornos frios do dizer.
    agradeço-te humildemente o martelo e o cinzel do teu escopo poético.
    um abraço!

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  40. um anónimo é alguém que existe acima do seu nome.
    lamentavelmente, ao ler os comentários na vertical, um a um, para poder replicar, apercebi-me de que, por lapso, passara o teu.
    procuro desfazer o equívoco, aqui, agradecendo-te as cordas de violino com que [imerecidamente] me distingues.
    beijos para ti!

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  41. Olá Jorge,
    esta parte
    "sobrevivem os dias.
    e sou manhã, tarde e noite dentro do dia.
    sobrevive o corpo.
    e sou o que não morre mas que agride mais do que afaga."

    o poema tanto pode ser uma leve pluma que nos toca carinhosamente como pode ser uma descarga de 'trocentos' volts e nos dar um tremendo choque.

    grande abraço

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  42. Viver como os dias...
    Eu não saberia, meu relogio do tempo não respeita os segundos, o dia seria breve e completamente desastroso.rsrs.
    Colho dos dias, horas curtas e segundos disparados.
    Você escreve com maestria. Bjos querido, lindo domingo pra ti.

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  43. querida vais,
    e então quando o poema se torna, simultaneamente, a tal pluma com 300 volts? :)
    beijinho imenso!

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  44. querida sandra,
    como te entendo. isto de viver na esteira dos dias é, provavelmente, um desafio que se nos impõe para lá das nossas capacidades.
    sentimos que os dias ora sorriem, ora esquartejam, ora arrastam os passos, ora saem a voar, ora se põem doces e tegatés, ora arreganham a dentuça e ferem... sentimos, porque na essência eles são so mesmos de sempre. e nós? nós é que não.
    beijos!

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  45. Encontro aqui uma poesia luminosa a tocar a realidade dos dias, aos mãos dos quais vamos perecendo, indubitavelmente.
    Maravilhoso dizer!

    L.B.

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  46. "oh, se eu conhecesse a fundo as lendas dos dias
    os episódios do corpo,
    as estórias insulares das mãos
    restauraria a língua que nos trouxe o arrepio
    sem calendário:
    amarmo-nos como nos poemas."


    Que bom que encontrei teu blog, tuas palavras me arrepiaram.Virei mais vezes.Bjs

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  47. lídia, querida,
    as mãos perecem.
    o corpo aparece.
    o dia? a prece!
    beijinhos!

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  48. amiga-dos-encanttos,
    também sei que sabes :)
    beijos e um agradecimento especial pelo teu carinho!

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  49. ninfa da parole,
    já estive no teu recanto. não resisti a uma visita demorada. as telas dispersas abriram em galeria.
    beijos!

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  50. Passamos os dias a perder os sentidos, respiramos sem viver e morremos sem amar. Talvez o canto das sereias seja o encantamento que nos falte (para ainda que enganados) irmos além do respirar.

    Abraços!

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  51. O dia tem a vantagem de sempre saber a sua duração.
    Quanto a nós (pobres mortais), quem saberá dizer?...

    Um grande abraço pra ti [Jorge Poeta Pimenta], e tenha uma semana do jeitinho que te fará feliz :)

    Direto do calor abrasador desse meu Brasil,

    Cid@

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  52. ...Jorge poeta querido,

    os dias não sofrem 'trancos'
    porque sabem adaptar-se aos
    comandos da natureza, enquanto
    o homem, esta alma aprendiz,
    mascara-se com o giz das
    ilusões que poemam a vida!

    bj da boca vermelha...rs

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  53. Grata pela visita e comentários.Será sempre um prazer lhe receber.Bjs

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  54. júlia e vinícius,
    haverá primaveras num mar que perca a navegabilidade no cântico das sereias? ulisses regressou de ítaca. os dias acompanharam-no, o peito resistiu, penélope fez-se poema. ainda assim, não resisto a responder ao enigma que levantais agarrando na dúvida final: talvez...
    um abraço!

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  55. cid@, amiga,
    a nossa mortalidade é o que nos torna capazes de valorizar pequenas coisas, como... os dias :), não os desejados, os sonhados, não aqueles que têm um bilhete de identidade em sânscrito ou os que têm a face de um programa de tv; apenas os dias: os que, como os frutos vermelhos, soubermos roer e saborear. com-sentidos. mais do que com-pensados. :)
    beijinhos e uma óptima semana para ti!

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  56. boca vermelha [:)], digo, querida vivian,
    não poderia estar mais de acordo contigo. a minha réplica no comentário da cid@ encaixa que nem luva aqui.
    beijos-carmim!

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  57. obrigado, parole.
    retribuo a gentileza.
    beijos!

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  58. Jorge.

    O manto da noite à casa de janelas falantes ao banho demorado; pela garganta declarações sob o sagrado cantarolando, como nos poemas ? O som de limpeza da alma com o aroma do café, e se traz em pinturas nobres que ilumina o pensamento - caledoscópica ? A vinda do estrelar que traz saudade em dosagem de reflexão para filosofar. Da mutação fascinante a salvar os registros, e com ar de mistérios toma conta do céu ou o céu toma conta do dentro ? O segredo do cofre, de grão em grão para progredir, livro, lápis e caderno de esperança anticalar tão palavra, não há receio do ridículo - loucura no amor ou razão na loucura ?

    p.s.: Tu tens o dom de me arrebatar! Perco o preparo da janta universal que se refaz sutilmente fronte as misturas, tais como: geografia das mãos com capital - incomum, vejo-me remetida no divã - análise.

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  59. Jorge,
    e sobrevive o corpo que tem "a saudade tatuada" em pele que nunca vai esmaecer em versos..
    nunca viver sem as palavras .. e nunca sem as tuas!
    beijos meu querido encantador das letras..

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  60. querida priscila,
    a tua presença aqui é sempre um desafio renovado. não conheço muitas pessoas como tu para quem a palavra é a gruta subterrânea de galerias intercomunicantes que apenas projectam sombras verbais sobre os labirintos do dizer, ampliando gritos e aniquilando silêncios. e, na tua voz, a metáfora é o homem; e, na tua boca, a alegoria é o deus que ama o homem. e, pela tua mão, o homem ousa amar o deus, despido das metáforas mas investido dos artifícios de prazer que o hão-de tornar homem-deus [que não deus-homem].
    a sua nisa sagrada? o papel onde luxuriante se reescreve a cada movimento lascivo das letras, a cada sussurro da alma, a cada insinuação do corpo, a cada espasmo do sexo.
    e ali, a pedra é apenas gemido.
    e ali, a água é apenas canção.
    ali, as árvores são apenas baloiços.
    ali, as aves são apenas bandeiras.
    mas, ali, o homem é muito mais do que um homem... e do que um deus.
    beijinho!

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  61. querida ingrid,
    o corpo e as palavras...
    a voz e a poesia...
    nós e os outros.
    assim se sintetiza a nossa admirável maldição :)
    beijinho!

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  62. mais logo passa no Mimos, tem carinho para ti.
    beijo.

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  63. como não passar, amiga-dos-encantos :)
    beijo!

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  64. O que não morre sempre agride a memória.

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  65. a agressão é a maior aliada da memória: enquanto a maltrata, ela permanece viva.
    beijos, andressa!

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  66. Jorge, como escrevinhei no matutino de forma em que não houvesse reservas, para o dentro tão dentro, na perca de cada leão, assim com o aval - entrega - vencer os muros que assolam, no âpice proximal em banho demorado, juntamente os olhos perdidos em ganhos enamorando Lorca:

    Alma,
    põe-te cor de laranja!
    Alma,
    põe-te da cor do amor!

    E nesta somatória, com multiplicar permanente, a suavidade das pálpebras que se sentar residindo nas alturas com manhã verde, muda a visão, adentra-se no curso das muitas águas. Da chuva na face em mãos sussurrar com calma o hálito que acalma na beira mar do constelado de brancas gardênias; as sombras contemporâneas do dentro ao sol se abrindo para receber o agasalho à alma. E nos longes, ante uma tarde desvergonhada o tranquilo lembrar as páginas, abrigando pipas telando o arco-íris. O fores do caule dançante pautados nas promessas, que ao som de flor não há silêncio bastante nas sapatilhas pintadas de azul. Lá estará o céu, que com sorriso diferencial colhe o arrepio nos eis que renascer por sede intensa, quanto o mar nas cores da madrugada rumo à casa de pedido vinho tinto.

    Abraços

    Priscila Cáliga

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  67. Meu poeta que põe pérolas nos olhos dos pássaros....com atraso, chego e leio o post do momento: grandioso! Mas tenho mesmo é relido o Jorge. Versos de antes, palavras suas que me deixaram marcas e me fazem voltar sempre lá e reler. Ando passeando por elas. Enfim, deixo-lhe um beijo.

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  68. querida priscila,
    quantas cores se exibem no arco-íris? e quantas se escondem dele, por incapacidade de se projectarem além da sua respiração frágil e quase-humana? curiosamente, agarramo-nos ao vigor quente daquelas que cruzam as telas dos artífices da glória e tantas vezes perdemos a singeleza das menores: a cor do amor, a cor da solidão, a cor da velhice, a cor da espera, a cor que não espera, a cor pedra, a cor morte...
    e o vinho faz-se químico na garrafa, orgânico no copo, vegetal no ventre. mas, quem ousa contestar? as cores primárias dominam o ser e o não ser; o leão ruge sempre mais alto que o rato e o farol incendeia sempre mais do que a lanterna. e neste arco-íris hierárquico, os homens nem sempre são homens. porque as cores que os pintam não resultam do arco-íris que desabrocha, qual flor em primavera de anis, dentro de si.
    e a espera faz-se longa; e as certezas se põem breves...
    beijinho!

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  69. taninha,
    as palavras de ontem saberão agitar as madrugadas de amanhã? sei lá...
    obrigado pela gentileza dos teus comentários. invariavelmente.
    um abraço!

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  70. Meu Poeta Maior

    amarmo-nos como nos poemas.(palavras tuas)

    abraço-me na poesia...sou corpo...sou desejo...sou mar...perco-me nas ondas de cada verso...beijo-me em cada silaba...sou pele...sou espera...sou ausência...sou noite...sou dia...sou sombras...sou abismo...sou EU...sou poesia.(palavras minhas)

    Foi isto que senti a ler-te...fico desconcertada com a força que deixas em cada letra...e depois fico sem palavras.

    Deixo-te apenas um beijinho carinhoso
    Sonhadora

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  71. amiga-do-sonho,
    e eu o que sou, ao ler-te? apenas silêncio a olear as engrenagens da voz perante a mariposa de sensações que connosco aqui partilhas. em arrepio ziguazagueante por entre os canais subcutâneos onde moram as palavras ausentes.
    beijinho com carinho infinito!

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  72. Amei Up in the Attic...(surripiei)

    Muitas amêndoas...

    Um Beijinho
    da
    Blimunda

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