terça-feira, 7 de agosto de 2012

o exercício tátil da distância


Quando […] acordou, manhã alta, sentiu na casa uma presença, talvez não fosse ainda a solidão, era o silêncio, meio-irmão dela.
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis


fotografia de jorge pimenta


trazem uma história nas pontas dos cabelos
e o mirante no olhar,
gota sobre gota,
a recordar estradas de alcatrão e anéis
onde morrem as aves.
nos ombros
tatuaram conversas
e todas as palavras clandestinas
que já não sobem pelas frestas da voz
(agora desabitada
a enterrar bocas
e conclusões suspensas).

sabem que não têm todo o tempo
mas a esperança continua a ser deus
que não sabe a cor do céu
ou de que massa se compõe o silêncio.

remanesce o corpo
tombado sobre o movimento
e todas as mortes que os habitam;
na vida
nenhum deles ousa confiar.

spider, whitesnake